Classe C já está no Facebook, dizem analistas de mercado

Usuários falam de possibilidade de `orkutização´ do Facebook

A classe C já começa a fazer parte dos usuários brasileiros do Facebook, de acordo com analistas do mercado de mídias sociais. Atualmente, o site de rede social americano tem cerca de 21 milhões de usuários brasileiros, número que cresceu 133% nos últimos seis meses.

[Camilla Costa, BBC Brasil, 7 jul 11] “O Facebook já foi uma rede social de classe A, mas hoje está acessível a todas as classes. As pessoas estão entrando porque seus amigos estão indo para lá”, disse Rosário de Pompéia, diretora executiva da consultoria de estratégia em mídias sociais le Fil, à BBC Brasil.

Segundo os especialistas, o site, que ainda é associado a usuários de maior poder aquisitivo, ganhou mais força entre as classes mais baixas a partir do lançamento de sua versão em português, em 2008. A novidade trouxe, além de mais usuários, mais oportunidades de negócios para a empresa de Mark Zuckerberg, que abriu seu primeiro escritório no Brasil no último mês de março.

“Quando a versão em português entrou, muito mais gente aderiu (ao Facebook). Algumas empresas que pretendem se dirigir à classe C já estão indo direto para o Facebook e para o Twitter, sem passar pelo Orkut”, afirmou Gustavo Pereira, gerente de operações da Bites, consultoria especializada em redes sociais.

Desde a chegada do Facebook no Brasil, o Orkut, que é a rede social online mais usada do país e é tida como um dos principais instrumentos de inclusão digital dos brasileiros, é considerado reduto das classes C e D, informação negada pela empresa.

“Na verdade o Orkut no Brasil é atualmente a rede social com maior diversidade entre classes sociais. Podemos comparar a audiência do Orkut, em território nacional, com a novela do horário nobre, já que atinge todas as classes sociais do país”, disse Valdir Leme, gerente de marketing do Orkut, à BBC Brasil

‘Orkutização’

Segundo a pesquisadora de mídias sociais e autora do livro Redes Sociais na Internet Raquel Recuero, a simplicidade da interface do Orkut facilitou a adesão rápida dos brasileiros de diversas classes sociais. No entanto, ela pode ter contribuído para uma segmentação de classes após a chegada Facebook no Brasil.

“O Facebook parece estar atraindo primeiro mais pessoas das classes mais altas, especialmente porque sua interface não é muito simples. Eu já observei vários comentários preconceituosos com relação a entrada de classes mais baixas no Orkut em minhas entrevistas”, diz.

“O termo ‘orkutização’, por exemplo, passou a ter uma conotação negativa para muitos usuários, associado a adoção do sistema por pessoas de classes C e D, por exemplo.”

Nos últimos meses, usuários brasileiros do Facebook se manifestaram contra o que chamam de ‘orkutização’ do site. O termo associa entrada de mais usuários brasileiros de classes populares a práticas que consideram ruins, como erros de digitação e envio de spam.

Mas a presença de diferentes classes sociais no Orkut, que tem 57% dos seus usuários no Brasil, é um dos principais motivos pelos quais ele ainda é considerado relevante no mercado, segundo Gustavo Pereira.

“O Orkut foi a porta de entrada de praticamente todos os brasileiros nas redes sociais. As empresas ainda o procuram porque podem conseguir informações valiosas sobre os consumidores”, diz.

Silvio Meira, cientista-chefe do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (Cesar), acredita que as manifestações de elitismo não têm influência direta na migração de usuários de um serviço para o outro.

“O preconceito existe, mas é bobo, em minha opinião. As pessoas não estão deixando de usar o Orkut por isso, e, sim, porque apareceram outros sites que oferecem mais possibilidades de conexões, como o Facebook”, diz.

Convivência

A ascensão do Facebook e o lançamento, na última semana, de uma nova rede social do Google, o Google+, aumentaram as especulações sobre um declínio e eventual fim do Orkut, que vem sofrendo constantes quedas no número de acessos e tem baixos índices de crescimento mensais.

No entanto, os especialistas apostam que o Orkut manterá sua presença no Brasil, mesmo após uma eventual perda a hegemonia para o Facebook.

“Hoje em dia as pessoas mantém vários grupos sociais separados em sites diferentes. Enquanto o Orkut é um site de conhecidos, o Facebook é interessante por causa dos aplicativos e o Twitter é o ‘jornal particular’ com comentários. A tendência é dividir a atenção das pessoas, mas isso não deve acarretar imediatamente no abandono total de um por conta do outro”, avalia Raquel Recuero.

Criado em 2004 como um projeto paralelo do funcionário do Google Orkut Büyükkökten, o site tem cerca de 85 milhões de usuários em todo o mundo. A maior parte deles se concentra atualmente no Brasil e na Índia.

Após o lançamento do Google+, na última semana, o Google garantiu que não acabará com o Orkut e deu indicações de que pode estar planejando uma união gradual dos dois sites.

“Nosso objetivo é estender os novos recursos do Google+ para os usuários do Orkut conforme eles se tornam disponíveis”, disse Valdir Leme.

 

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