A nota do Brasil no Ãndice de Percepção de Corrupção, divulgado nesta quarta-feira pela ONG Transparência Internacional, evoluiu ligeiramente, de 3,7 para 3,8, na comparação com o ano passado.
[MaurÃcio Moraes, BBC Brasil, 30 nov 11] A nota, no entanto, ainda é baixa na escala que vai de 0 (muito corrupto) a 10 (muito limpo). Apesar da leve melhora, o Brasil caiu na listagem, de 69º lugar em 2010 para 73º lugar neste ano, entre os 182 paÃses pesquisados.
A queda no Ãndice se explica pela melhora mais acentuada de outros paÃses no último ano e pela entrada de outros na medição, como as Bahamas e Santa Lúcia, cuja colocação é melhor que a brasileira.
Na escala de 0 a 10, o Brasil obteve nota 3,8, ficando em 73º lugar entre os 182 paÃses pesquisados pela organização Trasparência internacional. A situação é praticamente estável em relação à lista do ano passado, quando o paÃs obteve nota 3,7, ficando em 69º lugar.
O paÃs mais bem colocado no ranking geral é a Nova Zelândia (9,5), seguida pela Dinamarca (9,4). Nos últimos lugares estão Somália e Coreia do Norte (ambos com 1,0).
Para o mexicano Alejandro Salas, diretor da Transparência Internacional para as Américas, a situação do Brasil é “estável” e deve servir como alerta para o paÃs avançar no ranking, já que a nota brasileira ainda reflete uma grande percepção de corrupção.
Segundo ele, paÃses como o Brasil e a Colômbia têm avançado muito no Ãndice nos últimos dez anos, mas ainda é preciso melhorar.
“No Brasil, fala-se que há uma tolerância sobre corrupção. Eu vejo que à s vezes o tema é colocado em segundo plano, dentro de um contexto de muito otimismo dos brasileiros em relação ao crescimento econômico e do novo papel que o paÃs ocupa no mundo. Por outro lado, há iniciativas muito importantes da sociedade, como a lei da Ficha Lima”, diz.
Metodologia
O Ãndice é construÃdo com base em dados de 13 instituições, como o Banco Mundial e o Fórum Econômico Mundial, que medem a percepção entre empresários, investidores e a população.
Salas explica que não é possÃvel mensurar o nÃvel de corrupção em si, uma vez que apenas parte das irregularidades veem à tona por meio de escândalos na imprensa, por exemplo.
São consideradas na medição propina a autoridades, desvio de dinheiro público e a efetividade das lei anticorrupção no paÃs.
“No Brasil, fala-se que há uma tolerância sobre corrupção. Eu vejo que as vezes o tema é colocado em segundo plano, dentro de um contexto de muito otimismo dos brasileiros em relação ao crescimento econômico e do novo papel que o paÃs ocupa no mundo. Por outro lado, há iniciativas muito importantes da sociedade como a lei da Ficha Lima” - Alejandro Salas, diretor da Transparência Internacional para as Américas
No levantamento, dois terços de todos os paÃses tiveram pontuação abaixo de cinco, o que indica alta percepção de corrupção nestes lugares.
Apesar das denúncias de corrupção no governo Dilma Rousseff e da saÃda de cinco ministros sob suspeitas de irregularidades, o Ãndice praticamente não reflete variações na percepção de corrupção.
Segundo Salas, “o Ãndice é feito principalmente a partir de pesquisa com empresários e investidores, sobre a relação do setor priviado com o setor públicoâ€, que não necessariamente reflete mudanças na cúpula governamental.
“Se fizéssemos uma pesquisa diretamente junto à população, a percepção seria maior”, disse.
América Latina
Apesar de estar no mesmo patamar da maioria dos paÃses latino-americanos, a percepção da corrupção do Brasil é bem maior do que em vizinhos como o Chile (7,2, em 22º lugar) ou o Uruguai (7,0, em 25º lugar).
Segundo Salas, a boa performance do Chile se dá por um histórico de instituições fortes e respeitadas. “Eles têm uma Justiça profissional, com juÃzes de alta qualidade, e a polÃcia é respeitada pela população”, diz.
“Em paÃses como o México e o Brasil, temos instituições modernas e muita inovação. Há um setor privado que joga sob as regras interacionais. Ao mesmo tempo, temos outras instituições muito frágeis e práticas de décadas atrás, como a compra de votos e a distribuição de cargos públicos para parentes”, diz.
No relatório, a Transparência Internacional ressalta que os protestos que vêm ocorrendo ao redor do mundo, em boa parte impulsionados pelo alto nÃvel de corrupção, mostram a necessidade de os governos serem mais transparentes.
Na região, os paÃses piores colocados são o Haiti (1,8, em 175º) e a Venezuela (1,9, em 173º).
O Brasil também é o paÃs com a menor percepção de corrupção entres as quatro potências emergentes que formam originalmente o Bric (com Rússia, Ãndia e China).
O acrônimo pensando em 2001 pelo economista britânico Jim O’Neill, do banco Goldman Sachs, acabou virando um fórum institucionalizado, com a adesão da Ãfrica do Sul no último ano (chamado então de Brics).
A situação do Brasil é melhor que a da China (3,6, em 75º lugar), Ãndia (3,1, em 95º) e Rússia, (2,4, em 173º).
“Mas o Brasil não deve se orgulhar por isso. Deve ver que há muito a avançar para alcançar o nÃvel dos paÃses desenvolvidos”, alerta Salas.