Do Observatório da Imprensa, por DeonÃsio da Silva – 16/2/2010
Os perigos do Google ainda não foram detectados no Brasil. Seus mecanismos de busca percorrem o mundo e digitalizam tudo o que está disponÃvel. E se daqui a pouco o Google resolver cobrar pela informação, hoje grátis, ou impor restrições ao acesso, hoje livre para todos? DaÃ, sim, veremos o que significa de verdade o Big Brother monstruoso que as letras já anteviram.
Por enquanto desfruta-se apenas de suas facilidades. Sem pagar mais do que o acesso à internet, pode-se perguntar qualquer coisa ao pitoniso do nosso tempo, que, semana passada, informou que prepara o lançamento de uma conexão para a internet quinhentas vezes mais veloz do que a mais rápida que utilizamos no Brasil.
Trafegando a 1 gigabit por segundo – 100 vezes mais rápida do que as melhores conexões por fibra óptica utilizadas hoje nos EUA –, os dados chegarão a uma elite de até 500 mil pessoas, que, segundo o coordenador do projeto, James Kelly, pagarão um “preço competitivo”, sabe-se lá o que significa isso. Se ninguém terá este serviço, ele competirá com quem?
Desrespeito como norma
A internet mais rápida do mundo é a da Coreia do Sul. Ainda assim, para baixar um filme de 120 minutos, de alta definição, é necessário o dobro do tempo. É muito, mas de todo modo é bem menos do que as 49 horas que se gasta ou se gastaria no Brasil. Pois o Google promete baixar todo o arquivo em seis minutos. Com qualidade de devedê, seriam gastos apenas quarenta segundos. Na Coreia do Sul, hoje são despendidos para a tarefa trinta minutos e no Brasil, cinco horas e trinta minutos.
A Veja deu chamada de capa à matéria assinada por Benedito Sverberi e Renata Betti. Será bom para os leitores se a mÃdia especializada, repercutindo o noticiado pela revista, ajustar um pouco o foco de suas reportagens sobre informática e tratar também dos senões desses avanços, que os há e são muitos, pois parecem obcecadas apenas com os benefÃcios.
No Brasil, para o pobre a internet rápida ainda é uma festa da qual ele não pode participar. As tarifas das operadoras de telefonia estão entre as mais caras do mundo. As felizardas anunciam velocidades que não entregam. Se o usuário reclama, ouve que “naturalmente” aquela velocidade é para determinadas regiões, convocam o cliente infeliz à resignação e tudo fica mais ou menos por isso mesmo.
Biblioteca babélica
Entre os perigos estrategicamente ignorados há um que ronda o nosso convÃvio e está prestes a acontecer: é o apagão da internet. A empresa de consultoria americana Nemertes Research tem um estudo que fixa a catástrofe para 2014, mas esse ano é lembrado apenas como o da Copa do Mundo no Brasil.
Por enquanto, o Google é visto no Brasil como uma ferramenta de pesquisa. Mas, com tal velocidade de internet, ele será muito mais do que isso. Pequeno exemplo: um sábio renascentista tinha uma biblioteca de cerca de cem livros. Com tais recursos eletrônicos, qualquer cidadão poderá ter uma de milhares de volumes, buscados não mais nas livrarias, mas na rede mundial.