É a primeira vez em 33 anos que um presidente é convocado para depor no parlamento.
[Estadão, 14 mar 2012] TEERà– O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, negou nesta quarta-feira, 14, no Parlamento ter demonstrado insubmissão ao lÃder supremo do paÃs, o aiatolá Ali Khamenei, que no ano passado restituiu o ministro de Inteligência a seu posto depois de ter sido demitido pelo governante.
No interrogatório desta terça, o primeiro a convocar um presidente nos 33 anos de história do paÃs, um grupo de deputados ultraconservadores que se opõem a Ahmadinejad o questionou sobre supostas irregularidades em seu governo e sua hipotética insubmissão ao poder religioso no regime teocrático.
O deputado Ali Motahari, um ultraconservador islâmico que é feroz oponente de Ahmadinejad, leu as dez perguntas que o presidente deveria responder e pelas quais pode receber uma moção de censura caso seus argumentos não convençam a Câmara.
Os deputados perguntaram sobre os 11 dias nos quais Ahmadinejad ficou ausente da vida pública, entre abril e maio do ano passado, o que foi entendido como uma ousadia após uma disputa pelo poder com Khamenei, máxima autoridade do paÃs, que o advertiu para não superestimar suas capacidades.
Ahmadinejad respondeu que não ficou inativo: “Nesses 11 dias não fiquei descansando, fiquei trabalhando, pois isso (deixar a função pública) não é possÃvel para o governo”.
O estopim da crise foi o confronto de Ahmadinejad com o ministro de Inteligência, Heydar Moslehi, um clérigo xiita ultraconservador próximo a Khamenei, que o presidente demitiu e o aiatolá restituiu a seu posto.
Os ultraconservadores “principalistas”, que dominam o Parlamento e que no inÃcio da legislatura apoiaram Ahmadinejad, se tornaram seus maiores inimigos, pois consideram que ele e seus aliados põem em questão o controle polÃtico e social pelo poder religioso, personificado no lÃder supremo.
Ahmadinejad voltou a defender nesta quarta-feira que o sistema “não deve pressionar tanto as meninas e os meninos, pois são nossos próprios filhos”, em referência ao estrito código de vestuário e a obrigação de cobrir a cabeça imposta à s mulheres, além da perseguição de festas e reuniões juvenis.
Por meio de um conhecido poema, Ahmadinejad disse aos deputados, e por extensão ao poder clerical, que eles não fazem dentro de suas casas o que pedem que os demais façam: “Os que predicam no púlpito, quando sabem que não são vistos no deserto, fazem o mesmo que os demais”, recitou o presidente.
O chefe de governo defendeu a eliminação de subsÃdios devido à s “sanções (internacionais que pesam sobre o Irã) e a crise mundial” e indicou que favoreceram a economia do paÃs e especialmente o setor produtivo essencial, que cresceu em uma situação difÃcil, apesar das fortes altas de preços.
Apesar da retirada dos subsÃdios dos setores energético e de alimentos básicos em março do ano passado, o que provocou a multiplicação do preço, Ahmadinejad garantiu que o paÃs cresceu mais no último ano iraniano, que terminará em 20 de março, do que no ano anterior.
Sobre a escassez de meios e divisas para o desenvolvimento de cidades grandes, que os deputados atribuem ao governo, o presidente contestou que em seu mandato intensificou a ajuda para setores como o transporte, tanto ônibus como o metrô de Teerã, e a construção.
Em alguns momentos, o interrogatório de Ahmadinejad se tornou tenso, especialmente quando um deputado, Mohammed Khabbaz, o acusou de “insultar o Parlamento”, ao responder em tom aparentemente jocoso algumas das perguntas.
A luta pelo poder entre Ahmadinejad e Khamenei, que veio à público em abril do ano passado, se espalhou claramente pelo setor mais clerical, que se agrupa em torno do lÃder, nas legislativas de 2 de março.
Esta correlação de forças poderia ocasionar em graves dificuldades para Ahmadinejad no ano e meio que lhe resta na presidência, para a qual não pode ser reeleito ao ter completado dois mandatos de quatro anos.
Publicado originalmente aqui.