O ataque que matou dois jornalistas estrangeiros nesta quarta-feira no bairro de Bab Amro, em Homs foi planejado pelas forças do regime sÃrio, de acordo com informações do jornal britânico “Daily Telegraphâ€.
[O Globo, 22 fev 12] A casa onde estavam a repórter americana do “Sunday Times†Marie Colvin e o fotógrafo francês Remi Ochlik estava sendo usada como uma espécie de centro de imprensa, organizado por ativistas e rebeldes. De acordo com o jornal, a inteligência libanesa interceptou comunicações entre autoridades do Exército sÃrio que revelam ordens diretas para atacar o local.
A Cruz Vermelha Internacional pediu nesta quarta-feira que as autoridades e rebeldes sÃrios entrem em acordo para um cessar-fogo diário de duas horas que permita a chegada de suprimentos a civis e a retirada de feridos dos locais de conflito. O presidente francês, Nicolas Sarkozy, foi além e classificou a morte dos jornalistas de “assassinatoâ€, dizendo que o regime sÃrio deve deixar o poder imediatamente.
— Agora basta. Esse regime deve partir e não há razão para que os sÃrios não tenham o direito de viver suas vidas e escolher seus destinos livremente. Se os jornalistas não estivessem lá, os massacres seriam muito piores — afirmou Sarkozy.
As conversas sÃrias via rádio revelam ainda que se a operação corresse como o planejado e os jornalistas fossem mortos, o governo diria que eles morreram acidentalmente durante confrontos com grupos terroristas.
Após a divulgação da morte dos jornalistas, autoridades sÃrias afirmaram que não tinham conhecimento de que eles estavam no paÃs. O Ministério da Informação sÃrio pediu que todos os jornalistas estrangeiros que estão ilegalmente no paÃs se apresentem ao governo.
“O Ministério pede que todos os jornalistas estrangeiros que entraram ilegalmente na SÃria vão até o centro de imigração e passaportes mais próximo para resolver sua situação de acordo com as leis em vigor†diz um comunicado veiculado na TV estatal.
Testemunhas confirmaram o bombardeio que matou os jornalistas. Além de Marie e Ochlik, pelo menos outros três repórteres estrangeiros ficaram feridos no ataque. Entre eles, o fotógrafo britânico Paul Conroy, a francesa Edith Bouvier que teria machucado as pernas e uma americana ainda não identificada que estaria em estado grave. Em entrevista à Reuters, um morador disse que bombas atingiram a casa onde os dois estavam hospedados e um foguete caiu perto deles quando tentavam escapar. Segundo testemunhas, as vÃtimas ainda não tiveram como ser socorridas nem os corpos puderam ser retirados da casa porque o bombardeio continua. O chanceler francês, Alain Juppé, pediu uma trégua imediata para que médicos possam atender as vÃtimas no centro de imprensa improvisado.
— A outra jornalista americana está em condições muito graves, ela precisa de tratamento urgente — disse um ativista identificado apenas como Omar. — A casa foi atingida por mais de dez foguetes.
Jornalistas tinham larga experiência em conflitos
Tanto Marie Colvin quanto Remi Ochlink eram repórteres de guerra veteranos e já tinham trabalhado em vários conflitos no Oriente Médio. A americana chegou até a perder um olho enquanto cobria o conflito no Sri Lanka, em 2001, e aparecia em público sempre com um tapa olho. Aos 28 anos, Ochlink já era experiente. Ele começou a cobrir conflitos no Haiti, quando tinha apenas 20 anos.
Em uma reportagem divulgada pela rede britânica ITN nesta terça-feira, Marie fala sobre a situação do bairro de Bab Amro. “Os sÃrios não estão permitindo que os civis saiam daqui. Qualquer um que sai à s ruas, se não for atingido por um bombardeio, é atingido por atiradoresâ€, relatou. “Há atiradores em todo o bairro de Bab Amro, nos prédios altos. Acho que a coisa mais repugnante é a natureza completamente impiedosa… Eles estão atingindo prédios civis absolutamente sem piedade, sem cuidado. A escala disso é simplesmente chocanteâ€, descreveu Marie.
Jean-Pierre Perin, repórter do jornal parisiense “Libérationâ€, esteve com Marie em Homs na última semana e revelou que eles foram avisados de que o Exército sÃrio iria atacar “deliberadamente†o centro de imprensa. Eles receberam o conselho para deixar a cidade urgentemente e ouviram que caso o Exército os encontrasse, os mataria.
— Então, deixei a cidade com a jornalista do “Sunday Times†(Marie), mas ela quis voltar quando viu que as maiores ofensivas ainda não tinham acontecido — relatou Perin, que está agora em Beirute, de acordo com o “Daily Telegraphâ€. — O Exército sÃrio deu ordens para matar qualquer jornalista que pisasse em solo sÃrio.
Jovens são executados em Idlib; oposição pede boicote a referendo
Mais cedo, tropas e milicianos leais ao presidente Bashar al-Assad mataram 27 jovens ao invadirem vilarejos em uma provÃncia no norte da SÃria, informou um grupo de ativistas da oposição.
Os jovens, todos civis, levaram tiros principalmente na cabeça ou no peito em suas casas e nas ruas das aldeias de Idita, Iblin e Balshon na provÃncia de Idlib, perto da fronteira com a Turquia, informou a Rede SÃria para Direitos Humanos.
“Forças militares perseguiram civis nestes povoados, os prenderam e os mataram sem qualquer hesitação. Eles se concentraram em homens jovens e quem não conseguiu escapar foi mortoâ€, disse a organização em um comunicado.
Vários vÃdeos do You Tube postados por ativistas locais em Idlib, que não puderam ser confirmados de forma independente, mostraram corpos de homens jovens com ferimentos de bala deitados em ruas e casas.
O Comitê de Coordenação Local, um dos principais grupos opositores da SÃria, convocou um boicote ao referendo de uma nova Constituição proposto por Assad, previsto para o próximo domingo. Para o comitê, a ação é uma manobra do presidente para encobrir a violenta repressão do governo.
“O regime está usando essa proposta para encobrir seus massacres. Uma Constituição não pode ser preparada a menos que todos os poderes polÃticos e grupos sociais da SÃria participem de sua elaboração através de uma assembleia eleitaâ€, afirma o grupo em um comunicado.