Os registros de estupros cresceram mais no interior de São Paulo do que na capital nos últimos dez anos –o número mais do que triplicou no interior, enquanto não chegou nem a dobrar na capital.
[MarÃlia Rocha, Folha SP, 4 mai 12] O crescimento da população sem um aumento proporcional de polÃticas públicas e a maior disposição das vÃtimas para a denúncia são possÃveis explicações para o Ãndice.
Dados da Secretaria da Segurança Pública mostram que a concentração de denúncias no interior (que inclui também o litoral) vem crescendo.
Do total de ocorrências registradas no Estado em 2001, 46% estavam no interior, porcentagem que subiu para 56% no ano passado. A capital tinha 33% dos casos, Ãndice que caiu para 23%. Já a Grande SP passou de 22% para 21%.
Para a delegada responsável pela Delegacia de Defesa da Mulher de Campinas (93 km de SP), Cássia Afonso, as vÃtimas estão denunciando mais e os órgãos têm atuado em conjunto (entidades de saúde que identificam estupros podem registrar ocorrências, por exemplo).
A socióloga Eva Blay, professora da USP e militante feminista, destaca a mudança no comportamento das vÃtimas. “Antes, o interior escondia mais a violência, o estupro. A coragem de denunciar chegou a essas cidades.”
A pesquisadora Angelina Lettiere, mestre pela USP de Ribeirão Preto (313 km de SP) em violência contra a mulher, concorda que as mulheres estão “mais pró-ativas” na busca por ajuda.
Outro fator é o crescimento populacional comparativamente menor na capital, que também pode gerar essa “desproporção”, diz Afonso.
Segundo o último censo do IBGE, em 2010, a população de São Paulo cresceu 7,8% em relação a 2000, menos do que em cidades como Campinas (11,5%) e Sorocaba (18,8%).
POLÃCIA
Em nota, a Coordenadoria das Delegacias de Defesa da Mulher informou que as ações da PolÃcia Civil são as mesmas em “qualquer municÃpio”. Há mais denúncias, segundo a coordenadoria, quando se tem mais acesso a informação e redes de apoio.
Mesmo com a concentração dos registros de estupros fora da capital, a capitão Glauce Cavalli, porta-voz de um dos comandos da PolÃcia Militar no interior, avalia que o trabalho da PM é “suficiente”, já que o comandante de cada área redimensiona o policiamento de acordo com os Ãndices criminais do local.
Desde agosto de 2009, “ato libidinoso” é considerado estupro. Com a alteração, mais gente pode ser considerada vÃtima de estupro (inclusive homens), aumentando a abrangência de casos.