Arquivo da categoria: Educação

Sensibilidade, arte e cultura na contemporaneidade

[Valério Cruz Brittos e Jonathan Reis, Observatório de Imprensa, 30 nov 2010]

Atualmente, grande parcela da sociedade não tem condições plenas para analisar obras de arte profundamente, reconhecendo seus referentes e possibilidades de interpretação. Prevalecem olhares sem a sensibilidade e o senso crítico necessários para avaliar um trabalho artístico em seu todo. Isto é comprovado ante a popularização de músicas com diversos tipos de apelo fácil, impulsionadas midiaticamente, embora cada sujeito tenha o direito de absorver artisticamente o que desejar (ou puder). Contudo, muito se perde neste processo.

Já ensinou o sociólogo francês Pierre Bourdieu, no livro A distinção: crítica social do julgamento (São Paulo: Edusp, 2007), que a competência artística significa apreciar obras de arte legítimas de maneira legítima. É produto de educação e origem social, numa sociedade de classes. A classe social tem relação com o consumo cultural, pois o gosto, construído a partir de um processo educativo, serve como forma de distinção. O indivíduo que não viveu tal experiência e deleite no plano familiar pode buscar o saber erudito com o estudo da arte, necessária nesta relação cultural. Nesta dinâmica, a mídia poderia contribuir, difundindo conhecimentos e experiência profundas, o que não acontece. Continue lendo

O desafio da educação

Executivos contam como lidam com o apagão de profissionais e apontam possíveis soluções para o problema

[Texto de Luis de França, publicado na Você S/A, 28 out 2010]

O medo de um apagão de profissionais provocado pelos gargalos da educação, que não consegue formar mão de obra qualificada na quantidade que o mercado demanda, preocupa 63% dos presidentes de empresa no Brasil. Uma pesquisa realizada pela consultoria PricewaterhouseCoopers com 1 150 executivos de grandes corporações no mundo (70 deles brasileiros) mostra que essa inquietação supera outras ameaças ao desenvolvimento, como os custos de energia, as mudanças climáticas e até mesmo a escassez de recursos naturais. Em ano de eleição presidencial, essa deveria ser a bandeira dos candidatos, mas até o fechamento desta edição os três primeiros colocados na corrida presidencial ainda não tinham apresentado um plano de governo que contemple o assunto. Não por acaso, os brasileiros são os mais céticos em relação à capacidade do governo de resolver o problema. Enquanto na China, 52% dos CEOs acreditam que o governo está combatendo o mal da falta de mão de obra qualificada, na Holanda essa confiança no governo é de 37%, na Índia é de 33% e no Brasil é de apenas 10%.

Uma das alternativas para resolver a questão é o maior investimento na formação técnica. “O Brasil tem de investir em cursos técnicos, que é uma qualificação rápida e em dois anos o profissional consegue entrar no mercado de trabalho”, diz Juan Quiró, presidente do Grupo Advento e vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). “Mas, para isso, é necessário mapear o país e verificar as vocações produtivas de cada região e focar em cursos específicos para cada habilidade.” Continue lendo

Em crise, magistério atrai cada vez menos

[Texto de Alessandra Duarte e Carolina Benevides, O Globo, 20 nov 2010]

RIO – Com a professora de História doente, e sem que a escola conseguisse substituto, o jeito foi os alunos fazerem as vezes de professor: em julho de 2009, três alunos do 3º ano do ensino médio da Escola Estadual Ernesto Faria deram aula dessa disciplina para colegas que estavam no 1º e no 2º ano. A falta de professores que atinge os ensinos fundamental e médio é um problema que começa nos bancos das universidades, onde os alunos não querem mais se formar como professor.

Um levantamento dos últimos censos escolares do Inep mostra que, de 2005 a 2008, caiu 12,4% o número de concluintes de cursos superiores de “formação de professores de matérias específicas” – o item, no censo escolar, que abriga licenciaturas como as de Português, Matemática, Química e Física. Se eram 77.749 em 2005, foram para 68.128 em 2008 – ano que viu 817 alunos concluírem cursos de “formação de professores em Português”, enquanto o de Direito formou 85 mil, e cursos de Administração, 103 mil.

O dado vai ao encontro de números da Fundação Carlos Chagas que dão conta de que, em média, 70% dos alunos que entram em cursos de licenciatura desistem antes de completá-lo. Continue lendo

Maioria dos jovens está fora do ensino superior

Em 2009, apenas 14,4% da população de 18 a 24 anos – faixa etária esperada para o ingresso na educação superior – estava matriculada nessa etapa de ensino. É o que aponta a análise do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) a partir dos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad/IBGE).

De acordo com o estudo, esse fato se deve “aos entraves observados no fluxo escolar do ensino fundamental e médio, que têm elevada taxa de evasão e baixa taxa média esperada de conclusão”. Isso significa que o estudante termina o ensino médio após a idade esperada – 17 anos – e ingressa na universidade com atraso. Considerando a taxa de frequência bruta, 30,3% dos jovens de 18 a 24 anos estavam estudando em 2009.

O acesso é diferente em cada região. Enquanto no Sul, 19,2% dos jovens na faixa etária analisada frequentavam o ensino superior em 2009, no Nordeste o índice era inferior a 10%. Entre os jovens de 18 a 24 anos da zona rural, apenas 4,3% tinham acesso a cursos superiores, contra 18,2% da população que vive na cidade. Também há desigualdade no acesso entre negros (8,3%) e brancos (21,3%).

Ainda levará cinco anos para que a população brasileira atinja a escolaridade mínima prevista originalmente na Constituição Federal – ensino fundamental completo ou oito anos de estudo. É o que aponta a análise do Ipea. Continue lendo

O escasso capital humano

solitary moment at the beach

O Brasil, oitava maior economia do mundo, empata com o Zimbábue quando se compara a escolaridade média – 7,2 anos – das pessoas com 25 anos ou mais. Há 30 anos sob uma ditadura, devastado pela violência e com uma taxa astronômica de inflação, o país africano aparece no último lugar, numa lista de 169 países classificados com base no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), elaborado pela Organização das Nações Unidas (ONU). No 73.º posto, o Brasil avançou quatro posições desde o ano passado, ingressando no grupo das nações consideradas com IDH elevado. Mas essa mudança é insuficiente. O País continua a exibir péssimos indicadores de educação e saneamento, condições essenciais para o progresso individual e para a formação de um capital humano de alta qualidade. São condições essenciais para a consolidação de qualquer país como potência econômica, isto é, como economia moderna, competitiva e capaz de fazer diferença no quadro mundial. Continue lendo

Angola: uma escola construída sobre o infortúnio

Nem a temperatura amena do inverno angolano – muito parecida com a de algumas cidades do litoral nordestino brasileiro na mesma estação -, nem o ar condicionado do carro ajudam a minimizar o desconforto que sinto ao adentrar o Mussende, bairro no município de Viana, nos arredores de Luanda, capital do país. É um mal-estar embebido de curiosidade, misturado à poeira do chão de terra e às imagens de crianças que brincam em meio ao lixo e a alguns animais.

Estou em uma comunidade de refugiados de guerra, gente que em 1981 abandonou a província Kwanza Sul para preservar a vida do conflito civil que começou em 1975, logo depois da independência da nação, e só terminou no início do século 21. As famílias, depois de ficarem por cerca de 11 anos nas províncias de Malange e Kwanza Norte, foram instaladas em Viana em 1993 pelo Ministério de Reinserção Social. Em 2002, mesmo estimulados a voltar para a terra natal, esses angolanos resolveram ficar por lá, muitos mesmo sem ter emprego. Continue lendo

O mel, as cabras, a farinha e a avó

Quem vê o senhor sentado na varanda do seu sítio em Gravatá (a duas horas do Recife) a discorrer sobre as pimentas que cultiva e com as quais produz um molho aromático e marcante não imagina o quanto ele contribui para mudar a paisagem do Semiárido pernambucano. A história de vida do educador Abdalaziz de Moura, hoje com 67 anos, é genuína. O semblante de avô dedicado esconde um espírito aguerrido e incansável, cevado nos tempos de seminarista em Olinda e Camaragibe no começo dos anos 60. Da igreja progressista herdou a indignação ante a injustiça social. Em 1989, decidido a intervir na realidade, Moura criou o Serviço de Tecnologia Alternativa (Serta), com o intuito de apoiar a autonomia do homem do campo.

O Serta desenvolveu uma metodologia internacionalmente premiada de ensino, a Proposta Educacional de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável (Peads).- Trata-se de um conjunto de técnicas de educação contextualizada. Ou seja, os professores, com apoio das comunidades, usam a realidade local para ensinar as crianças. “O cara é um sonhador, acredita num mundo melhor e sabe que a utopia se realiza aos poucos, com recursos técnicos e diálogo em todas as instâncias”, afirma o secretário de Comunicação da Prefeitura de Olinda, Inácio França, que conheceu Moura no tempo em que trabalhava no Unicef-Recife.

O Unicef firmou contratos com o Serta para implementar nas cidades do Semiárido políticas que visam à melhora nas condições de vida de crianças e adolescentes. Os municípios que conseguem avançar recebem o selo do organismo. Levantamentos preliminares mostram que as escolas que adotaram a Peads têm obtido desempenhos melhores no Índice de Desenvolvimento de Ensino Básico (Ideb).

O segredo da metodologia é a “ressignificação” da vida no campo a partir de atividades práticas e da valorização de todos os saberes: seja ele o tradicional – a avó perita em ervas medicinais, por exemplo, é levada para a sala de aula –, seja o inédito, como a adoção de técnicas de cultivo menos agressivas ao meio ambiente. A Peads eleva a ciência do aprendizado a um patamar integrador, ao libertar as disciplinas dos compartimentos estanques de sempre. Geografia, história, português e matemática se interpenetram, conversam entre si, reproduzem os hábitos rurais, ganham concretude e razão de ser para o aluno.

Outro ponto essencial é a construção conjunta do conhecimento: professora, alunos, pais, comerciantes, criadores de cabras, verdureiros, apicultores, todos colaboram. Uma aula típica pode começar com uma visita à casa de farinha da cidade para a coleta de dados sobre o processo de produção ou trabalhar cálculos decimais a partir da quantidade de mel contida numa lata ou do lucro obtido com a venda das cabras.

“Quanto mais o exercício estiver inserido no cotidiano do aluno, mais seguro é seu aprendizado”, ensina Moura no livro Peads, lançado pelo Serta em 2003 e no qual a metodologia, até então intuitiva e dispersa em artigos, anotações e registros de discussões em grupo, foi sistematizada. Ao ler o relato percebe-se que a Peads é a síntese de um caldeirão filosófico, com lugar para a pedagogia de Paulo Freire e outros educadores, para os princípios de economistas de cunho socio-ecológico (como o polonês Ignacy Sachs, o Prêmio Nobel Armatya Sem, a americana futurista Hazel Henderson) e para a física quântica de Fritjof Capra, autor do best seller O Ponto de Mutação.

O desenvolvimento sustentável permeia toda a didática. “Na Peads as disciplinas são ambientais, porque a educação tem de levar em conta a pluralidade. Tudo na escola deve estimular a cooperação: os textos, os cálculos, a distribuição de tarefas, os valores transmitidos”, diz o ex-seminarista, graduado em Teologia em Roma, com especialização em Genebra.

Foi no início dos anos 70 e no auge da ditadura que Moura voltou da Europa e passou a atuar ao lado de dom Helder Câmara, arcebispo emérito do Recife e de Olinda, morto em 1999, um dos fundadores da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e único brasileiro indicado quatro vezes ao Nobel da Paz. Defensor dos direitos humanos e da máxima- cristã de que fé sem ação é nula, dom Helder fez parte de um numeroso grupo de religiosos e leigos progressistas precursor da Teologia da Libertação, favorável a uma prática religiosa mais simples, humilde, não violenta, voltada para os pobres e movida pela ação social.

Ao semear informações e cidadania no campo, o grupo de Moura teve de enfrentar a ira de coronéis e políticos, além do descrédito dos próprios trabalhadores, muitas vezes contaminados por boa-tos de que os técnicos eram terroristas, delinquentes ou, no mínimo, espertalhões dispostos a enganá-los. “Conheci Moura nessa época, como participante do movimento Encontro de Irmãos, em que pessoas pobres, de periferia, se reuniam à luz do Evangelho”, recorda a pedagoga Maria Conceição da Silva, 55 anos, casada com o ex-seminarista e mãe de três dos quatro filhos dele.

Ceiça, como é conhecida, recorda que, até meados dos anos 80, a Igreja era um grande guarda-chuva sob o qual se abrigavam movimentos de mulheres, de operários, de negros. “Foi-se o tempo em que a Igreja era progressista e suas ações pautavam o movimento sindical rural e parte dos movimentos sociais”, reflete Moura, que hoje não assiste nem à missa. Na opinião dele, atualmente, a educação rural, da qual o Serta virou expoente na América Latina, é que pauta e agenda parte desses movimentos. “Está claro que o conhecimento é, hoje, instrumento privilegiado de
intervenção e que é agregado a valores, à ética.”

Referência especialmente na formação de jovens, o Serta oferece há dez anos o curso de Agente de Desenvolvimento Local, superdisputado por egressos do ensino fundamental. A formação sacode as convicções da maioria dos jovens, como conta o jornalista Everaldo Costa, pais agricultores e, antes do Serta, convicto, assim como os 16 irmãos, de que a única saída para uma vida melhor era a estrada para São Paulo. “No Serta, ao contrário da escola formal, trabalhávamos com os conhecimentos que a gente já tinha e construíamos projetos de intervenção em nossa comunidade. Fazíamos pesquisas, seminários e festivais que valorizavam nosso povo, e passamos a gostar do lugar onde vivemos”, diz ele, que faz mestrado em Comunicação e continua a morar em Glória do Goitá.

Fonte: Denise Ribeiro, Carta Capital, 9 set 2010

Analfabetismo atinge 3 milhões de jovens trabalhadores rurais no Brasil

Cerca de 40% das pessoas entre 16 e 32 anos que moram e trabalham no campo são analfabetas. O analfabetismo atinge 3 milhões dos quase 8 milhões de trabalhadores rurais do país nesta faixa etária, de acordo com a secretária de Jovens Trabalhadores Rurais da Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura), Maria Elenice Anastácio.

Se forem considerados os habitantes de pequenas cidades que sobrevivem da economia rural, os números podem ser ainda mais preocupantes.

Para Maria Elenice, as condições atuais do ensino obrigam o jovem a escolher entre o estudo e o trabalho. “O trabalhador rural tem que buscar a cidade para ter acesso à saúde, à informação e à escola. Mas como vão pegar um transporte precário para estudar na cidade se estão cansados do trabalho exaustivo?”, questionou.

A coordenadora do curso de licenciatura em Educação no Campo da Universidade de Brasília, Mônica Molina, também apontou a pouca oferta de escolas no campo como responsável pelas altas taxas de analfabetismo. “O interesse em estudar existe. Hoje, o trabalhador dá mais importância ao estudo do que em gerações anteriores, mas quando o aluno chega à 5ª série, dificilmente encontra turmas no meio rural. Então ele precisa ir estudar na cidade mais próxima e acaba desistindo”.

Em pesquisa feita em assentamentos de reforma agrária, Molina constatou que, aproximadamente 70% das escolas rurais, são de 1ª a 4 série, enquanto 25% atendem os alunos de 5ª a 8ª e apenas 4% têm turma de ensino médio.

A consequência é que poucos alunos vão além dos primeiros anos de escolaridade. Este fator, somado às faltas, repetição de séries, professores despreparados e recursos didáticos escassos, leva ao analfabetismo funcional. “Sem acesso á escolarização correta na idade apropriada, o jovem acaba perdendo a condição de ler e interpretar após alguns anos”, afirmou Mônica.

Como solução, Mônica e Maria Elenice defendem a ampliação do número de escolas no campo. “De 2005 a 2007 foram fechadas 8 mil escolas rurais e agora temos que garantir as que já existem”, disse Molina.

“Não adianta investir em transporte das pessoas para cidades próximas. Poucos vão arriscar a vida em pau de arara para terminar o ensino médio”, completou Maria Elenice.

Fonte: Folha SP, 28 jul 2010

Novo índice da ONU aponta menos pobres no Brasil do que o governo

Um novo índice de medição da pobreza, que não leva em consideração direta a renda, indica que o Brasil tem menos pessoas pobres do que aponta a medição oficial do governo.

O novo Índice de Pobreza Multidimensional (MPI, na sigla em inglês), divulgado nesta quarta-feira, diz que 8,5% da população brasileira pode ser considerada pobre.

A avaliação leva em conta o acesso da população a dez itens relacionados à saúde, à educação e ao padrão de vida.

A porcentagem de pobres apontada pelo MPI é maior do que a enxergada pelo Banco Mundial (Bird), que diz que 5% dos brasileiros vivem abaixo da linha da pobreza absoluta (têm renda inferior a US$ 1,25 por dia, de acordo com a regra adotada pelo Bird).

Mas ela é bem menor de que a proporção de brasileiros em pobreza absoluta divulgada pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, órgão ligado ao governo), que é de 28,8%. Segundo a regra adotada pelo Ipea, estão em pobreza absoluta os membros de famílias com rendimento médio por pessoa de até meio salário mínimo mensal.

O MPI foi desenvolvido pelo centro de pesquisas britânico The Oxford Poverty and Human Development Initiative (OPHI), com o apoio das Nações Unidas, e deverá ser utilizado pela ONU em seu relatório anual de desenvolvimento humano.

Para os criadores do novo índice, ele apresenta um quadro mais preciso da pobreza do que a simples medição do nível de renda.

Números absolutos

A nova medição, que no caso do Brasil toma como base dados coletados em 2003, indica um total de 16,2 milhões de pessoas consideradas pobres no país – o 13º maior número absoluto entre os 104 países em desenvolvimento incluídos na pesquisa.

No mundo todo, esse total chega a 1,7 bilhão de pessoas, 400 milhões a mais do que na medição da pobreza absoluta pelos critérios do Banco Mundial.

A medição indica que somente na Índia há 645 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza, quantidade superior à soma de todos os países da África subsaariana. Apesar disso, a Índia tem a 31ª maior proporção de pobres (55,4% da população) entre os países avaliados.

O Níger é o país com a maior proporção de pobres no mundo, segundo o novo índice (92,7%), seguido de Etiópia (90%), Mali (87,1%) e República Centro-Africana (86,4%).

Os países com a menor proporção de pobres são Eslováquia e Eslovênia (próximo a 0%), República Checa (0,01%), Belarus (0,02%) e Letônia (0,3%).

A China, país mais populoso do mundo, com 1,3 bilhão de habitantes, tem um índice de pobreza pelo MPI de 12,5%.

Entre os países da América Latina, o Uruguai é o que tem a menor proporção de pobres pelo novo índice (1,7%), seguido de Equador (2,2%), Argentina (3%) e México (4%).

Ponto fraco

Entre os itens medidos pelo novo índice, a educação aparece como o ponto fraco do Brasil.

Segundo o relatório do OPHI, 20,2% da população brasileira tem algum tipo de privação nessa área, contra 5,2% no setor de saúde e 2,8% nos itens de padrão de vida.

Para efeito de comparação, na China a proporção de pessoas com privações é bem menor do que no Brasil na área de educação (10,9%), mas superior nos setores de saúde (11,3%) e de padrão de vida (12,4%).

O estudo da OPHI também mede a intensidade da pobreza, ao analisar a proporção das pessoas consideradas pobres em relação à quantidade de itens nos quais têm privações.

O MPI considera pobres aqueles que têm privações em três ou mais dos dez itens considerados, o que engloba 8,5% da população.

Mas apenas 2,3% da população tem privações em quatro ou mais itens, 0,9% em cinco ou mais e 0,3% em seis ou mais itens. A proporção de pessoas com privações em mais de sete itens é próxima de zero.

No Níger, país com a maior proporção de pobres no mundo, segundo o estudo, 7% da população não tem acesso a nenhum dos dez itens considerados.

Fonte: BBC Brasil, 14 jul 2010

Poder y libertad en la sociedad del conocimiento

Todos los progresos humanos van acompañados de una sombra en donde se cultiva el imaginario de los desastres. A medida que avanza el saber no disminuye el temor a una secreta amenaza que se aloja, precisamente, emboscada tras ese saber. Cada vez tenemos más poder para viajar, comunicarnos, conocer, hacer valer nuestra opinión, pero cada vez resulta más fascinante la sospecha de que ese poder es ilusorio y más grato a nuestros oídos el discurso que denuncia medidas represivas de poderosas instituciones contra el individuo desvalido. Todavía hoy es convincente el discurso contra la opresión de instituciones más grandes y más poderosas (estado, educación, medios de comunicación o medicina) contra el individuo, representado como una persona inerme (ciudadano, trabajador, elector, alumno, paciente). Las descripciones apocalípticas de la sociedad contemporánea nos han acostumbrado a imaginar víctimas impotentes, consumidores manipulados, turistas engañados, votantes confusos y trabajadores ignorantes. En este panorama la ciencia y la técnica son desenmascaradas como cómplices de los poderosos o como instrumento de una clase que ejerce una nueva represión. Si estas denuncias, además de fascinantes fueran verdaderas, se daría la paradoja de que cuanto más racional es la sociedad, más irracional es la política.

La noción de la sociedad del conocimiento que aquí voy a esbozar es incompatible con aquella credibilidad o ingenuidad científica que consideraba el saber científico como algo ilimitado, tanto como las posibilidades de manipulación de la realidad social. No comparto la utopía —para unos positiva, para otros terrorífica— de la racionalización completa de la irracionalidad, de la desaparición de las identidades locales, de la destrucción de otras formas de saber que podríamos considerar no científicas o tradicionales. Es cierto que no hay apenas realidad social, económica o cultural que sea inmune frente al saber científico y técnico. Pero la significación sin precedentes del saber científico en nuestras sociedades no supone la supresión de todas las otras formas de vida y actitudes.

Trataré de defender una opinión que sin ser muy grata a los traficantes de grandes expectativas —en versión optimista o pesimista— me parece más razonable que su contraria: la sociedad del conocimiento encierra más posibilidades de libertad personal que todas las formas sociales precedentes. Esa libertad es, en buena medida, el reverso del hecho de que, por fortuna o por desgracia, los hombres no podamos hacer mucho bien ni causar mucho mal. Y es que hay un exceso de confianza en la ciencia y en la técnica tanto en quienes esperan de ellas la solución de todos los problemas como en quienes les atribuyen la responsabilidad de todas las desgracias, aun de las hipotéticas. La vida no es fácilmente maleable, no se adapta tan bien a la técnica como desean sus entusiastas y temen sus detractores. Existen muchos límites y obstáculos para la aplicación de la ciencia a la realidad, algunos superables y otros que afortunadamente no parecen condenados a desaparecer. De hecho, el crecimiento y la expansión de la ciencia no están necesariamente acompañados de una reducción de la incertidumbre, del riesgo y la imprevisibilidad. Por eso, en las sociedades actuales, el problema es más bien la gobernabilidad de entramados tan complejos, la antítesis más rotunda de esa sociedad manejable de manera conspirativa en la que se desarrolla la nueva ciber-épica.

a. La crítica de la civilización tecnológica y científica

En los años sesenta, teóricos de la sociedad de muy diversa orientación política —desde conservadores hasta neo-marxistas, desde Schelsky (1961) a Marcuse [1964]— llevaron a cabo una crítica implacable de la civilización tecnológica y científica, denunciando el despliegue inminente de una cultura regida por la ciencia y el peligro de un estado técnico. En todos ellos se lamentaba la pérdida de individualidad del hombre moderno. El tono general de estas críticas consistía en ver la racionalidad instrumental como origen de manipulación y control social. Eran tiempos muy propicios para diseñar futuros escenarios sombríos: la ciencia parecía haber transformado la pesadilla apocalíptica de una destrucción del mundo en una posibilidad concreta. Se presagiaban leyes evolutivas de diferenciación imparable, disminución de la capacidad operativa de los actores individuales, de elaborar su propia opinión y defender su identidad, motivos conspirativos de élites que ocultan sistemáticamente sus intereses, amenaza de la autonomía personal, estructuras represivas, descomposición de la esfera privada, control extremadamente eficiente sobre todos los ámbitos de la vida, introducción de prescripciones cada vez más numerosas y detalladas, reglamentación creciente…

Desde entonces quedó inaugurada la ocupación tópica de criticar el poder creciente de la ciencia y la técnica. La competición por el epíteto más atinado daba por supuesto un destinatario identificable. Los discursos más imaginativos lograron fórmulas como el imperialismo amenazante de la razón instrumental (Weizenbaum), el peligro de una agresiva colonización del mundo de la vida (Habermas) o la inevitabilidad de una nueva taylorización del mundo del trabajo (Volpert). En este contexto se desarrollaron tesis como la de Bell (1960) del final de las ideologías o el pronóstico de Robert Lane (1966) de que nos encontrábamos al comienzo de una nueva era en que los conocimientos científicos reducirían la significación de lo político. Al mismo tiempo se anunciaba la constitución de un tipo de formaciones sociales que fueron denunciadas como “Estado técnico” o “civilización científico-técnica” (Mumford 1962; Schelsky 1961), y que posteriormente sería denominada con mayor sutilidad como “sociedad registradora” (G. Böhme 1984, 15) en la que el poder dispone de una enorme cantidad de datos sobre los ciudadanos.

Estos y otros análisis similares de la misma época padecían una equivocada confianza en la eficacia práctica de la técnica y de la ciencia. Mirando hacia atrás puede hoy decirse que después de veinticinco años de teoría de la sociedad postindustrial nos hemos hecho más precavidos y escépticos. No se han cumplido ni las expectativas tecnocráticas ni las esperanzas humanistas. Quizás sea cierta la observación de Jean Jacques Salomon (1973, 60) y el mito del progreso humano a través del progreso de la ciencia sea superado paradójicamente por ese mismo progreso.

La crítica de la ciencia que se ha hecho ya tópica merece alguna revisión, entre otras cosas porque surge en buena medida de una ciencia malentendida. El poder social de la ciencia y de la técnica no determina causalmente todos los aspectos y fases de la vida humana, como temen o esperan quienes ven en esta determinación un destino inexorable de la modernidad. Esta suposición se apoya en una equivocada comprensión del poder social del conocimiento científico; no tiene en cuenta que también en las sociedades modernas hay límites para el saber científico. Ya Max Weber y Karl Manheim llamaron la atención sobre el hecho de que el proceso capitalista-racionalista tenía sus límites y sólo era capaz de imponerse en determinadas dimensiones.

Los efectos dramáticos de la ciencia sobre el mundo de la vida no implican necesariamente que todos interioricen una visión científica del mundo, que el sentido común sea sustituido por el pensar científico, que el poder político sea ejercido de una manera central y autoritaria, que no existan límites para la realización e implementación del saber científico o que esas realizaciones estén exentas de riesgo. La planificación también podría conducir a un aumento de flexibilidad, de acciones alternativas, de consecuencias prácticas no anticipables, etc. que no justifican los temores frente a un tipo de control calculador.

Por otra parte, el concepto de técnica aquí manejado contiene algunas premisas cuestionables. En primer lugar, se da por supuesto que los procesos sociales tienen una especie de ilimitada elasticidad y maleabilidad frente a la lógica de la técnica. Esta idea se basa en la dudosa tesis de una radical disponibilidad de la historia que obedeciera dócilmente a nuestros objetivos técnicos. En segundo lugar, el desarrollo técnico es concebido como un proceso autónomo, que se sostiene por sí mismo. Pero es muy improbable, a mi juicio, que el desarrollo de la técnica esté impulsado exclusivamente por una singular lógica autorreferencial de crecimiento, a saber, la de la mejor o más eficiente solución de un problema concreto. Más bien ocurre que preferencias que no son de carácter técnico hacen posible la mejora de un proceso, por ejemplo, que una de las soluciones técnicas posibles sea considerada como la mejor y llevada así a la práctica (Krohn y Rammert 1985). La introducción de nuevas tecnologías o la renuncia a nuevos desarrollos técnicos no se decide exclusivamente según criterios técnicos. La técnica no se impone absolutamente cuando los criterios para preferir una determinada solución técnica están en otras esferas de la vida, lo que parece ocurrir cuando la decisión se adopta conforme a oportunidades políticas, estéticas o morales.

Uno de los principales presupuestos de la ciencia moderna era su capacidad sustitutoria de los demás saberes. Los partidarios y los enemigos de la ciencia y la técnica modernas compartían el convencimiento de que el saber científico eliminaba el saber de cualquier otro tipo (Marcuse [1964]; Schelsky 1965; Bell 1973). Consideraban que las convicciones tradicionales o irracionales serían disueltas por una racionalización de la acción social. También las primeras teorías de la sociedad del conocimiento estaban marcadas por el peso de la concepción positivista de la ciencia. Lane (1966) reflejaba el optimismo de comienzos de los años sesenta cuando expresaba su convencimiento de que el pensamiento científico disolvería y sustituiría radicalmente al saber anterior, declarándolo inapropiado o incluso irracional. Pero esta supuesta eliminación gradual de las seguridades, identidades, ideologías y expectativas tradicionales es más un deseo o un temor que una realidad efectiva. La ciencia y la técnica aseguran también la supervivencia de formas de acción existentes; en cierto sentido podría incluso decirse que son responsables de que muchos modos convencionales de pensar y actuar no pierdan su validez. Cuando se analizan las cosas con menos entusiasmo o temor, el conocimiento científico pierde su vinculación con el determinismo positivista y aquella lógica que podríamos llamar “sustituista”.

Otro de los lugares comunes de la crítica a la civilización técnica y científica es la supuestamente imparable concentración de poder, que se hace patente en la sofisticación del control sobre la sociedad. En última instancia, las nuevas tecnologías vendrían a fortalecer las condiciones de aquel panopticum ensalzado por Bentham en 1791 como instancia de control (Foucault 1975). Es indudable que con las nuevas tecnologías de la información la vigilancia puede ser organizada de manera mucho más eficiente que en las sociedades premodernas (Giddens 1990, 22). Pero queda abierta la cuestión de si la sociedad actual derivará hacia un estado autoritario perfectamente organizado o si más bien esa misma evolución establecerá la posibilidad de una democratización radical. Por un lado, determinadas técnicas pueden poner en marcha un desarrollo alarmante porque, como muchos temen, posibilitan una vigilancia centralizada y perfecta. Y simultáneamente ese desarrollo técnico es el que permite un alto grado de descentralización, iniciativas locales, estancias flexibles e incluso una vigilancia efectiva y asequible sobre los vigilantes.

Las constricciones sociales específicas de una sociedad del conocimiento no son las mismas que las analizadas por las teorías tradicionales de las relaciones de poder en general y del poder político en particular. En el concepto tradicional de poder su posesión y su uso son conscientemente pretendidos; las responsabilidades pueden ser asignadas, las utilidades o los costes del ejercicio del poder están por lo general claramente repartidos y resultan calculables. Pero cualquier investigación acerca del ejercicio del poder en una sociedad del conocimiento ha de tomar como punto de partida una difuminación de los centros de decisión en nuestras sociedades, así como el hecho de que ha cambiado sustancialmente el tipo de poder que proporciona el conocimiento, si se lo compara con el que se esperaba de la ciencia y la técnica en los orígenes de la modernidad.

En las sociedades del conocimiento la acción humana está fuertemente condicionada por las circunstancias que se siguen del saber científico y de los artefactos técnicos. Pero, al mismo tiempo, también ocurre que las formas de pensar y de actuar en esa sociedad pueden ser más efectivamente protegidas frente al influjo de la ciencia, en la medida en que se mejoran decisivamente las condiciones de posibilidad para dicha resistencia. La influencia creciente de la ciencia y de la técnica discurre al mismo tiempo que una elevada contingencia y fragilidad de la acción social, y no conduce en absoluto a una superación definitiva de la “irracionalidad” en virtud de la “racionalidad” producida por la ciencia.

Lo que caracteriza principalmente a la sociedad del conocimiento es el hecho de que la ciencia y la técnica proporcionan posibilidades de acción para un número creciente de autores, que incluso perfeccionan decisivamente la resistencia contra una homogeneización del comportamiento en esa sociedad. La ciencia y la técnica multiplican e intensifican las posibilidades de oposición frente a las evoluciones que ellas mismas han desatado. No solamente configuran poderes que limitan las posibilidades de elección, despliegan controles más eficaces y solidifican las relaciones de dominación y desigualdades existentes; gracias a ese mismo saber es posible ampliar las posibilidades de acción, influir sobre los poderosos, desmitificar autoridades, configurar nuevos grupos y autores. Por lo que se refiere al poder, no debería considerarse el saber sólo como un medio de coerción —tal como aparece al menos implícitamente en muchas concepciones del poder— sino también como una posibilidad de defenderse frente a él, de organizar oposición o de eludirlo. Por eso no es contradictorio afirmar que en las sociedades del conocimiento hay un aumento de estabilidad y constancia paralelo al incremento de inseguridad y fragilidad.

Las dificultades que resisten a la concentración del saber tienen mucho que ver con la desaparición de un punto central autoritario de la sociedad. Utilizando una metáfora de Alain Touraine (1984), en la sociedad del conocimiento los actores no se relacionan con un punto central sino más bien con centros separados de decisión que forman un mosaico en lugar de una pirámide. Pese al discurso que denuncia la homogeneización, la sociedad actual ya no tiene unos pocos influyentes (o monolíticos) partidos políticos, estructuras familiares, sindicatos, comunidades religiosas, grupos étnicos, estratos sociales o clases. En cada una de esas formas de organización social se observa un proceso de descentramiento o relajamiento. Y la razón de ese proceso ha de buscarse en la naturaleza misma de ese saber que se ha constituido en el paradigma para entender la sociedad actual, en el tipo de poder que proporciona y en la debilidad que le es propia.

b. Poder y debilidad del conocimiento

Es ya un lugar común entre sus teóricos la afirmación de que en la sociedad del conocimiento la influencia colectiva, el ejercicio del poder y del dominio están mediatizados de manera creciente por el saber. El saber adopta cada vez más la función de los clásicos factores de producción, como la propiedad, el trabajo y la tierra. La aplicación de saber y no del tradicional aparato de poder se ha convertido en el medio de poder dominante y preferente de la acción social. Este cambio obliga a repensar la organización social examinando las características de un saber que tampoco es el mismo que el saber que tenían a la vista los sociólogos clásicos. Las teorías clásicas de la sociedad dependían excesivamente de una concepción más bien determinista de la evolución social y no habían reflexionado suficientemente sobre el poder y la impotencia del conocimiento científico.

El saber de las sociedades del conocimiento es un saber fundamentalmente disperso. La competencia que confiere el saber está tan diversificada y es tan sustituible y combinable que las distinciones sociales concretas en la sociedad del conocimiento son menos coherentes, unidimensionales y homogéneas que las de la sociedad industrial. El saber resulta cada vez más accesible, directa o indirectamente, a cada vez mayores sectores de la población.

La flexibilidad del saber se pone también de manifiesto en el hecho de que sus aplicaciones prácticas son menos evidentes, indiscutidas y explícitas que en las sociedades tradicionales. El saber está menos vinculado a estructuras sociales definitivas. Los cambios más recientes de la estructura social dependen de que la construcción social del saber se ha modificado. Me refiero a la importancia creciente de la (re)interpretación del saber y, en consecuencia, la pérdida de sus atributos típicos: seguro, fiable, definitivo, no controvertido, etc. La interpretación del saber y la reproducción del saber se han convertido en tareas sociales decisivas.

Por esa misma razón el progreso de la ciencia no significa que se facilite la planificación, la predicción y el control políticos. En determinadas circunstancias el progreso científico va unido a los desarrollos opuestos en la línea de una creciente fragilidad de la sociedad, a una mayor conciencia de los límites que acompañan necesariamente a todo saber. Los límites a los que me refiero son de carácter epistemológico; son límites puestos por el conocimiento científico mismo. La propia maquinaria de la ciencia —observaba Gehlen (1949, 12)— ejerce una coacción sobre el científico. No me parece acertado entender los límites del poder de la ciencia como una irracionalidad irreductible, como una carencia de ilustración de determinados grupos sociales o incluso como resultado de un empeño consciente de la ciencia para mantener a la población en la oscuridad con el fin de asegurar su propio poder. Lo más relevante para entender la sociedad en que vivimos sería descubrir las cualidades cognitivas y sociales que explican por qué el saber no científico tiene un nicho social significativo en las sociedades modernas.

Esta supuesta dinámica de sustitución de toda forma de racionalidad no científica fue cuestionada hace tiempo. Ya Durkheim no compartía la opinión de Comte de que las verdades científicas fueran a disolver radicalmente las expresiones mitológicas. En las verdades mitológicas se trata de expresiones que son aceptadas sin mayor comprobación, mientras que las científicas estarían sometidas a la verificación. Ahora bien, la acción social está continuamente bajo la presión del tiempo y no puede esperar a que los problemas sociales sean solucionados científicamente. Entre las condiciones de producción del saber científico está la suspensión de la escasez de tiempo y de la imperiosidad de actuar. El saber científico ha surgido generalmente bajo las condiciones de demora, distancia, examen y suspensión de las constricciones de la vida e incluso ha hecho de este retraimiento una característica esencial para la validez de esa forma de saber. Pero la vida no puede esperar (Durkheim [1912] 1994). La sociedad debe trabajar con determinadas concepciones acerca de ella misma. La inseguridad en la que trabaja la ciencia no es apropiada para la vida misma. Por decirlo con Pierre Bourdieu: se debe asignar a la praxis una lógica que plantee exigencias lógicas menos severas que la lógica de la lógica. La peculiaridad de la praxis consiste en que no permite una consideración teórica, pues la verdad de la praxis consiste en su ceguera respecto de su propia verdad (Bourdieu 1980). El hecho de que los sociólogos vayan siempre por detrás, el retraso del desarrollo científico permite a juicio de Durkheim la supervivencia de expresiones que podríamos llamar mitológicas. En las sociedades en que domina el conocimiento científico las verdades mitológicas no pierden su función social.

La idea de una marcha triunfante del saber científico y la consiguiente decadencia del saber tradicional supone al menos de modo implícito que, propiamente, sólo el saber científico progresa y que el saber no científico carece de toda dinámica progresiva. La impotencia del saber no científico encuentra su paralelo en la suposición de que la ciencia reduce continuamente el ámbito del saber tradicional, pero en absoluto lo acrecienta o incluso enriquece. Ahora bien, el saber científico remite a otras formas de saber, especialmente al saber común, al que no puede sustituir (Luckmann 1981). Y además, la ciencia misma es una fuente de crecimiento y de evolución del saber no científico (Brzezinski 1970). Mientras que nuestro conocimiento continúa incrementándose exponencialmente, nuestra ignorancia relevante lo hace incluso con mayor rapidez. Esta es la ignorancia generada por la ciencia (J. Ravetz 1987, 100). El progreso del conocimiento científico y sobre todo su aplicación práctica llevan consigo nuevos problemas irresueltos, efectos secundarios y riesgos. Desde este punto de vista, el discurso científico produce ignorancia, aunque sea certified ignorance.

La expansión del saber no está necesariamente acompañada por una reducción paralela del no saber y por un mejoramiento de la abarcabilidad. Al contrario, un crecimiento del saber puede muy bien suponer una explosión de confusión, inseguridad y una escasez de previsibilidad de la acción futura. La ciencia inaugura una pluralidad de posibilidades; pero con cada satisfacción, con cada conocimiento la ciencia produce una masa de nuevas preguntas, toda una nueva corriente de insatisfacción humana (Richta 1972, 249).

Entre las nuevas ignorancias una de las más evidentes es la que se sigue de la impredecibilidad de los movimientos iniciados. Muchos de los cambios que tienen su origen en causas científicas se sustraen paradójicamente del control racional, la planificación, la programación o la previsión. Consecuencias azarosas, no anticipadas, riesgos difícilmente reconocibles juegan ahora un papel más relevante que en las llamadas sociedades industriales. Me parece muy atinada la observación de Hermann Lübbe (1987, 95) sobre nuestra incapacidad colectiva de anticipar el futuro: la inexactitud de las predicciones ha aumentado en comparación con el saber del que disponemos. Todo presente anterior, en relación con el nuestro, disfrutó de la ventaja cultural extraordinaria de poder decir sobre su propio futuro cosas mucho más exactas que lo que podamos hacerlo nosotros. Lübbe se refiere fundamentalmente al saber técnico en sus observaciones acerca de la relación entre inseguridad y volumen del saber. La cantidad de las situaciones que modifican las condiciones estructurales de la vida aumenta proporcionalmente al volumen del saber disponible. La exactitud y la validez de los pronósticos no son mejoradas por el progreso del saber sino reducidas. La sociedad moderna es crecientemente frágil. Y esta tendencia se acentúa aunque —o precisamente porque— crece nuestro conocimiento de la naturaleza y de la sociedad. Se da la paradoja de que un aumento de nuestro saber pueda proporcionarnos un mejor conocimiento de sus límites. El saber no es nunca absoluto y deja de pretenderlo cuanto mayor es su alcance.

Una posible reserva ante este panorama de posibilidades liberadoras de la sociedad del conocimiento consiste en apelar a una tiranía de los expertos (Lieberman 1970) y a la consiguiente pérdida de las evidencias y derechos particulares. Hay quien sostiene que la técnica hace su propia política y que sus imperativos sirven a los intereses de la élite dominante (McDermott 1969). Esta advertencia merece ser analizada porque a menudo se apoya en una visión inexacta del significado social del crecimiento de las profesiones basadas en el saber. Esto no significa por ejemplo que la diferencia entre el conocimiento científico y el saber común sea cada vez mayor. Habermas sostiene que la racionalización empobrece progresivamente el mundo de la vida y aumenta la distancia entre la cultura de los expertos y el público. Pero este desarrollo no es inevitable. La necesidad de abandonarse de manera creciente a los expertos no tiene por qué ir necesariamente unida a un empobrecimiento de la vida cotidiana, de las formas y saberes que en ella se cultivan, ni a fortalecer la capacidad de manipular y controlar a los individuos. Más aún: la relativamente abierta facilidad de acceso a un asesoramiento especializado tiene consecuencias emancipatorias para el individuo.

La tradicional equiparación de saber y poder entendía el saber como algo que puede ser controlado privadamente y de este modo limitado su acceso. Y el poder político tradicional incluye la posibilidad de limitar las libertades individuales, de imponer la propia voluntad contra la resistencia de otros, de forzar la obediencia, de amenazar con la coacción y de perseguir administrativamente, sin excluir la posibilidad de la violencia física. No son estos el tipo de saber y de poder específicos de las sociedades del conocimiento. No se trata de que el poder pase a otras manos sino de que se modifican el modo y el contenido del poder y, por consiguiente, también los medios y su alcance.

Por otra parte, el dominio social adjudicado a la ciencia presupone un grado de coherencia y una unidad de intereses que no se observa entre los expertos técnicos y en los discursos que remiten a la autoridad de la ciencia. Hay una imagen extendida de la ciencia como un edificio cimentado sobre el consenso que no se compadece bien con el hecho de que es más bien una comunidad en la que las disputas acerca de las estrategias de investigación y la interpretación de los resultados de la investigación son bastante virulentas. Los expertos no actúan como una unidad, el saber especializado no es unitario ni parece que en el futuro vaya a haber un consenso definitivo entre los expertos. Más bien ocurre que el descubrimiento del poder y la simultánea fragilidad del conocimiento científico lleva a debilitar la autoridad de los expertos y al escepticismo frente a la idea de que la opinión de un experto sea imparcial y objetiva. La experiencia enseña que las controversias técnicas tienen la forma de una competición entre interpretaciones de una situación (Barnes 1985, 106). Nada más alejado de la realidad que una élite conspirativa rendida pacíficamente ante la objetividad de sus procedimientos y aglutinada por un mismo objetivo común contra los inexpertos.

Es muy cuestionable la tesis de una nueva clase, de nuevas formas de oposición entre clases, para los nuevos conflictos políticos y económicos (Galbraith 1967; Larson 1984). Esto equivaldría a suponer que los expertos pueden desarrollar una suficiente coherencia de intereses, organización y solidaridad política, lo cual no sería tampoco suficiente para formar una clase. No parece oportuno el uso del concepto tradicional de clase cuando la extensión de la ciencia en las actuales relaciones sociales lleva consigo una peculiar fragilidad de la estructura social que se muestra como un obstáculo para la formación de monopolios. Contra esta ficción puede establecerse con alguna seguridad que los grupos profesionales no han tomado el mando de la sociedad del conocimiento. Y esto no es tanto el resultado de la modestia de los expertos o su aversión al poder, sino que depende simplemente de los asuntos que tramitan. La movilización y aplicación de esas especialidades disminuyen paradójicamente —y seguro que de manera no intencionada— la verosimilitud de que ese grupo de expertos asuma una posición social dominante. En la medida en que el saber es capacidad de acción, de hacer algo o de poner algo en marcha, los clientes de los expertos pierden siempre un cierto grado de su dependencia, aunque sólo sea porque pueden poner en cuestión el saber que se les ha puesto a disposición.

Otra de las críticas que se viene abajo al analizar las sociedades del conocimiento es la que denuncia una homogeneización general. Hay una pluralidad de identidades locales, regionales o nacionales que hacen frente con éxito al proceso mundial de homogeneización por los mismos motivos que señalaba anteriormente para poner en duda la sustitución de todas las formas de saber por el conocimiento científico. Pero lo que hace más improbable esta igualación universal es la naturaleza misma del conocimiento que gestionan y tramitan nuestras sociedades: su carácter interpretativo y contextual, la diversidad de sus posibilidades de aplicación, su disponibilidad flexible. Como subraya Ralf Dahrendorf (1980, 753), los límites de la homogeneización tienen que ver con el hecho de que, toda cultura ha integrado los símbolos de la modernidad en su propia tradición; cada una hace de esos símbolos parte de su vida y sólo de ella. Con otras palabras, sería falso pensar, como lo hace la concepción extrema de la homogeneización, los contextos sociales locales como en situaciones exclusivamente pasivas frente a las influencias exteriores. Las situaciones locales no solamente ofrecen resistencia sino que tienen recursos para “asimilar” activamente prácticas culturales importadas. Las prácticas y los productos culturales no determinan de una vez para siempre soberanamente su modo de uso y aplicación al margen de los contextos de aplicación.

Nos hemos acostumbrado a considerar el saber como un instrumento para consolidar las relaciones de poder existentes, como si el progreso de la ciencia jugara siempre en favor de los más poderosos, pudiera ser fácilmente monopolizado por ellos y eliminara con éxito las formas tradicionales de saber. Pienso que esta idea de la ciencia como un instrumento eminentemente represivo y favorecedor de los poderosos es inexacta. Por eso cabe decir que en la nueva Alejandría global de la información computerizada no hay una seguridad perceptiva última, ninguna validación última de un texto remite a un original escrito o a una autoridad original. Es una cultura basada en una noción del conocimiento incesantemente interpretativo (A. Smith 1986, 162). El saber es un potencial liberador para muchos individuos y grupos. Precisamente las dificultades y los espacios de interpretación que acompañan al saber son lo que abren una serie de oportunidades de influencia y actuación frente a los expertos y al saber autoritario (Smith/Wynne 1989). La mera necesidad de que el saber deba ser siempre re-producido y que los actores deban apropiárselo, proporciona la posibilidad —por así decirlo— de estampar en el saber una marca personal. El proceso de apropiación deja algunas huellas. En el curso de esta actividad de apropiación, los agentes se hacen con nuevas capacidades cognoscitivas, profundizan en las que ya poseen y mejoran en general la eficacia de su trato con el saber, lo que a su vez les permite también desenvolverse con mayor capacidad crítica frente a las nuevas ofertas de saber y descubrir posibilidades de acción inéditas. La distribución social del saber no tiene las propiedades de un juego de suma cero.

c. La estructura de las sociedades del conocimiento

Nuestra concepción de la estructura social está todavía hoy fuertemente vinculada a la teoría de la sociedad industrial. En esta sociedad las jerarquías sociales se construyen y legitiman por relación al proceso de producción y las consecuencias de su organización específica. De manera muy similar, casi todos los teóricos de la sociedad postindustrial partían del supuesto de que la realidad social, económica y cultural estaría determinada por la racionalización y la planificación, y que los instrumentos de ese vigilancia estarían concentrados en manos de los organismos estatales. Esta tesis implicaba que habría de ser más fácil controlar administrativamente los comportamientos individuales, subsumir en protocolos administrativos cualquier movimiento social.

Ahora bien, en la medida en que el trabajo es llevado a cabo crecientemente por profesiones del saber, que pertenecen a los grupos políticamente más activos de una sociedad, tiene que modificarse necesariamente la configuración del sistema político. Habrán de cambiar especialmente las posibilidades de reproducir las tradicionales relaciones de dependencia. En la sociedad del conocimiento, las posibilidades de acción de los individuos y los pequeños grupos de personas se han ampliado considerablemente, aunque no debe suponerse que esta ampliación de la capacidad operativa valga para todos los niveles de acción y para todos los actores. Pero, en términos generales, estos cambios conducen a una autoridad estatal más superficial y volátil. Al menos en este sentido se puede concluir que el crecimiento del saber y su progresiva expansión social crean mayor inseguridad y contingencia; no son la base para un dominio más eficiente de instituciones sociales centrales.

En las sociedades del conocimiento la fragilidad de las estructuras sociales aumenta considerablemente. La capacidad de la sociedad de actuar sobre ella misma es incomparablemente elevada. Pero las sociedades del conocimiento son políticamente frágiles no porque sean democracias liberales —como muchos conservadores quisieran sostener— sino porque son sociedades del conocimiento. Las sociedades del conocimiento incrementan el carácter democrático de las democracias liberales. En la medida en que crecen las oportunidades de muchos para participar efectivamente disminuye la capacidad del estado para imponer su voluntad. La “resistencia” de las circunstancias se ha vuelto mucho más significativa y el ejercicio del poder está más equilibrado que en las antiguas sociedades industriales. El extendido poder de disposición sobre el saber reflexivo reduce la capacidad de las instancias tradicionales de control para exigir e imponer disciplina y conformidad. Las posibilidades de ejercer una presión contraria han aumentado de manera más que proporcional.

El conocimiento científico abre unas posibilidades de actuación que continuamente se amplían y modifican. En contraposición a la imagen ortodoxa de las sociedades modernas, se hace necesario insistir en la capacidad de acción conquistada para los agentes sociales, en la flexibilidad, heterogeneidad y volatilidad de las estructuras sociales, en la posibilidad de que un mayor número de individuos o grupos puedan influir y reproducir según su criterio esas estructuras. También se ha fortalecido la capacidad del individuo de actuar en su propio interés. La ciencia se convierte en un componente de la política porque el modo científico de comprender la realidad es utilizado para definir el interés que los actores políticos articulan y defienden (Haas 1990, 11). La explicación y la imposición de intereses políticos se basa en buena parte en concepciones de la sociedad tal como son articuladas en la ciencia. Pero no debe olvidarse que la política apoyada en un saber científico también puede ser una política de oposición y resistencia. Debido a que el discurso científico moderno no tiene unas propiedades monolíticas, se convierte en un recurso de acción política para individuos, grupos y organizaciones que persiguen intereses y fines muy diversos. La ciencia no es sólo un instrumento armonizador, que aparca conflictos y modera las tensiones. El saber aumenta la capacidad de acción de todos, no únicamente de los poderosos.

En la mayor parte de los análisis de los críticos sociales se da por hecho que la sociedad moderna es una unidad de civilización que tiende a la homogeneización de todos los ámbitos de la vida y las formas de expresión. Muchas observaciones de este estilo contienen un crudo determinismo precisamente porque no aciertan a entender que el tipo de saber que configura las sociedades del conocimiento no es el saber disciplinado y exacto de las ciencias positivas sino otro más flexible y frágil desde el que no resulta fácil establecer una organización social rígida.

Así pues, el proceso de modernización debe ser entendido de una manera menos rígida y unívoca. Incluso los conceptos de diferenciación funcional y racionalización de la realidad social que eran considerados como el motor de las sociedades modernas deben ceder el paso a versiones más abiertas de la evolución social. Por ejemplo, el principio de fragmentación de la sociedad, en virtud del cual ésta pierde su centro y se configura en una serie de subsistemas autónomos, debe ser corregido para registrar también movimientos de sentido contrario. Concepciones de la sociedad menos deterministas hablan ya de procesos de integración y des-diferenciación (Tilly 1984, 48) que pueden a su vez modificar la tendencia dominante de las sociedades modernas en la línea de una mayor variabilidad, fragilidad y contingencia de los nexos sociales. La idea de una única tendencia evolutiva es por consiguiente muy cuestionable. Es significativo que muchos límites no cumplan su función de barrera, que haya posibilidades inéditas de tránsito entre fronteras supuestamente impermeables. El proceso de modernización no ha de entenderse como el decurso de estadios evolutivos estrictamente predeterminados sino como un proceso abierto, a menudo incluso reversible, de expansión de la acción social. La modernización sería entonces un proceso múltiple y no lineal de extensión de las posibilidades operativas.

El aumento del control social del saber es uno de esos fenómenos que contribuye a modificar el estatuto que al saber se le asigna en las críticas a la civilización tecnológica y científica. La misma existencia de este control es un indicativo de cómo la esfera del saber no se ha autonomizado absolutamente y es susceptible de control desde otros ámbitos sociales como el derecho o la política.

En un principio, la ciencia y la técnica pueden ser fácilmente puestas al servicio de cualquier decisión. El carácter exotérico, inaccesible a muchos, de la ciencia convierte al sistema científico en un recurso para simbolizar independencia y objetividad. Por eso la ciencia se ha erigido frecuentemente en una autoridad de la que puede disponerse para las decisiones controvertidas. Pero una cierta desconfianza ha acompañado siempre al desarrollo de la ciencia y la técnica, sin que parezca que en el futuro vaya a ser de otra manera. Se da una coincidencia curiosa en la sociedad contemporánea: junto a una pérdida de temor y respeto frente a la autoridad y las disposiciones de la administración estatal hay que registrar también una preocupación creciente por los efectos negativos del progreso técnico y científico. Los problemas de medio ambiente, las consecuencias del uso de determinados artefactos técnicos, la percepción de que no todos los problemas sociales pueden ser controlados racionalmente ni evitados o resueltos mediante la planificación son indicativos de que la ciencia y la técnica ya no gozan de la confianza general e incuestionada. Es como si la disminución del miedo se viera compensado por un aumento de las preocupaciones.

Mientras tanto el control social del conocimiento científico y del saber técnico ha aumentado considerablemente. En todos los países desarrollados existen complejas prescripciones y un gran número de organizaciones que se ocupan de registrar, permitir, verificar y supervisar ya sea productos farmacéuticos, el uso de tecnologías de alto riesgo, los modos de investigación, las patentes o el control de los alimentos. Ya no nos encontramos en la época de una esfera científica completamente autónoma y celosa de cualquier intervención exterior. La aplicación del conocimiento científico conduce a que el saber se convierta en parte de un contexto social externo, no científico. Una consecuencia de esta incorporación del conocimiento científico en un contexto exterior al sistema de la ciencia es que los mecanismos de control allí existentes influyen en el saber. El saber no se puede librar de los procesos de selectividad de esos contextos. Por eso actualmente la supervisión política del conocimiento ya no es lamentada como una ruptura intolerable de las normas científicas. En la medida en que el saber se convierte en un componente constitutivo de las sociedades, la producción, reproducción, distribución y realización del saber no puede sustraerse a la discusión política explícita y las disposiciones jurídicas. La producción y distribución del saber se han convertido en cuestiones habituales de la política y en objeto de decisiones económicas.

Con la sociedad del conocimiento estamos en una situación en la que ya no ocurre que unos pocos actores controlan casi todo, sino más bien que muchos controlan más bien poco. Ese saber es más disponible para todos, por lo que se reduce la capacidad de las instancias tradicionales de control para imponer su disciplina. Las capacidades de influir, ejercer resistencia y hacerse valer han aumentado de manera más que proporcional en el individuo y en los diversos grupos que configuran la sociedad civil. Al descubrir estas posibilidades se abren también nuevas formas de ejercer la libertad y pierde fuerza la pesadilla de una sutil manipulación. Con el progreso de la ciencia ha de disminuir la fe en ella: el asombro dura poco, lo que tarda en desvanecerse el fantasma que pensamos habita en la máquina hasta que conocemos su funcionamiento. Saber es saber lo precario que es el saber, lo disperso que está, su fácil acceso, su vulnerabilidad a la crítica, su debilidad para combatir la tozudez del sentido común y las costumbres inveteradas, en suma: que la vida es poco gobernable y que la última garantía de la libertad personal es la pereza de las cosas a ser manejadas.

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Fonte: Daniel Innerarity
www.raison-publique.fr – 29 jun 2010

Italianos aprendem português com livro feito por crianças de Juripiranga (PB)

Quando ouviu a sugestão de fazer um livro digital com seus alunos, a professora Jocileia Izidorio, que dá aula para uma turma de correção de fluxo na cidade de Juripiranga, na Paraíba (a 60 km de João Pessoa), não imaginava que a obra iria terminar na Itália –e traduzida. “Fiquei bestinha com a história”, disse.

O livro, feito por 15 crianças com idades entre 8 e 15 anos, retrata o cotidiano da cidade do interior paraibano com cerca de 10 mil habitantes e economia baseada na produção de vassouras com palha de carnaúba. O tema –“Juripiranga, este é o meu lugar”– foi sugerido pelas próprias crianças. A edição digital ficou a cargo da Editora Plus, uma organização sem fins lucrativos e especializada em e-books.

“A gente falou da cultura de Juripiranga. Foi feito gradualmente: o campo, a produção da vassoura. Eu e os alunos visitamos. Eles escreviam o que eles viam. Não foi nada imposto. Eles escolhiam os temas”, afirmou.

A linguagem fácil e descomplicada chamou a atenção do professor José Fernando Tavares, que dá aula de português brasileiro em San Benedetto del Tronto, no litoral italiano do mar Adriático. Ele é designer dos livros da editora online e decidiu usar o “Juripiranga” em sala. Foi o suficiente para os alunos se empolgarem e mandarem traduzir a obra.

“Usei o livro como texto para leitura e análise de frases simples e também como exercício de tradução para o italiano. Como o pessoal gostou do livro, decidimos fazer uma tradução mais profissional. Aproveitando das traduções feitas na sala de aula, mandei o material para um meu amigo brasileiro que vive há anos na Itália e que trabalha como tradutor”, disse Tavares.

A turma de Jocileia, na época, era destinada a estudantes que tinham baixo rendimento nas séries que cursavam e acabavam encaminhados à correção de fluxo. Fazer o livro foi um projeto que animou a garotada.  “Saber que um livro foi pra outro país tornou ainda mais orgulho”, afirmou.

Se quiser fazer o download do livro, basta acessar a página na Editora Plus.

Fonte: Portal uol, 22 maio 2010

Democracia e educação ~ por JB Libanio

No final da década passada, The Economist encheu os olhos da vaidade brasileira, ao anunciar que o país na atual década se tornaria a quinta potência mundial e a terceira em 2050. O peso da fama da revista tornou a ilusão ainda maior. Por que ouso falar de ilusão? Porque em uma década ou em várias décadas não se constrói uma grande potência sem educação.

Não precisamos povoar essa afirmação com multidão de números estatísticos. Esses, não raro, enganam-nos com a aparente neutralidade. A educação de um povo constata-se a olhos vistos. Basta não ser cego. Existem, sem dúvida, alguns grupos de elite. Mas o povo se alimenta da cultura de massa e esta se constrói, sobretudo, por obra dos meios de comunicação social. Aqui sofremos enormemente.

Enquanto a sociedade civil e o Estado não se unirem, em força única, para exigir dos programas de TV maior nível cultural, que irradiem valores consistentes em vez de terrível vulgaridade e banalidade, não há futuro para o Brasil. Haja vista os noticiários que gastam a maior parte do tempo em divulgar violências ou eventos triviais. Um tarado que assassina jovens depois de violentá-las interessa mais que todas as campanhas de solidariedade do mundo. A imagem que brota do ser humano das manchetes televisivas e de jornais favorece mais a desvalorização da vida que o respeito e a esperança no ser humano.

Os clássicos latinos tinham entendido que os relatos históricos cumpriam a função pedagógica de transmitir exemplos a serem imitados. Nesse sentido, Cícero dizia que a história é a “mestra da vida” e os historiadores se detinham em contar a vida de “varões ilustres” e modelares. Em linguagem de hoje, o clássico romano diria que a TV e a grande imprensa existem para transmitir os valores éticos fundamentais para a convivência humana. Que decepção se se detivessem em frequentar a maioria dos programas que ressudam imediatismo, exterioridades, futilidades, intimidades expostas ao grande público!

A democracia se define pelo bem comum, pelo conviver entre as pessoas em vista da realização do “ser humano todo e de todo ser humano”. Imperam, no entanto, o individualismo, a lei da selva, a privatização do público e a publicização do privado. A confusão das duas esferas humanas mina a democracia. A cultura pós-moderna individualista tende a privatizar a esfera pública. A corrupção nos meios políticos do país não passa de um apoderar-se de bens públicos. E por outro lado, intimidades sexuais e afetivas são lançadas por revistas e programas por todos os ares.

A educação ensina o respeito ao público e o cuidado e recato com o privado. Quando ela falha, misturam-se os campos com detrimento para ambos. A vida social torna-se a maior vítima dessa falta de educação. Perde-se a noção de viver em comunidade. Inverte-se o processo educativo que consiste na humanização continuada das pessoas para crescente animalização. Adeus democracia! Adeus potência mundial!

www.jblibanio.com.br

JB Libanio é Padre jesuíta, escritor e teólogo. Ensina na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE), em Belo Horizonte, e é vice-pároco em Vespasiano

Fonte: Adital, 7 maio 2010