Arquivo da categoria: Nordeste

As Mulheres da Bíblia em Cordel

httpvh://youtu.be/Padbch-jNYQ

Texto, Locução e Edição: Euriano Sales
Ilustração: Meg Banhos

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Oito de março
O grande dia da muié
Se bem que um dia é pouco
Para alguém como ela é
É ela quem dá a vida
Feito como Deus quiser

Mas não posso resumir
A uma simples genitora
Pois a muié é mais que isso
É amor, é protetora
É guerreira, corajosa
Uma grande batalhadora
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Sem empregos e educação, milhões ficam à margem de crescimento brasileiro

[Júlia Carneiro e Paula Idoeta, BBC Brasil,15 fev 2012] Ao chegar de carro por uma estrada de terra arenosa, uma placa dá as boas-vindas a Assunção do Piauí, “a capital do feijão”. Mas as letras desbotadas, quase apagadas, deixam claro que a principal atividade econômica local já viu melhores dias.

Na pequena cidade, a 270 km de Teresina, as colheitas fracas estão fazendo muitos desistirem de plantar feijão.

Excluídos

“Aqui é assim, a gente só trabalha no escuro. Num ano dá e no outro não dá”, diz a dona de casa Francisca Pereira Moreno, mãe de cinco filhos.

Depois de conversar com alguns moradores de Assunção, perguntar onde cada um trabalha parece perder sentido. Os principais empregos da cidade são na prefeitura local, mas para adultos como Francisca, que não sabe ler nem escrever, a única opção está na roça ou nos serviços domésticos. Sem alternativas, a maioria sobrevive do Bolsa Família.

“Tem que ter o Bolsa Família. Porque a renda aqui do feijão não está dando dinheiro. Dá R$ 60, R$ 70”, diz Francisca. Continue lendo

Cerca de 10% dos índios que vivem na PB moram em favelas, diz IBGE

[G1 PB, 29 jan 12] Pelo menos 338 índios da Paraíba residem em áreas consideradas aglomerados subnormais (‘favelas’). Os dados são do Censo Demográfico 2010 realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O número representa 9,7% da população total de indígenas (3.475) que vivem nas cinco cidades (João Pessoa, Cabedelo, Bayeux, Santa Rita e Campina Grande) apontadas no estudo como tendo os aglomerados.

Embora esse percentual já seja expressivo, o coordenador técnico da Fundação Nacional do Índio em João Pessoa (Funai-JP), Benedito Rangel de Morais, acredita que na realidade há muito mais índios vivendo nas comunidades carentes do estado. Continue lendo

Brasil: As Desigualdades Regionais ~ Ferreira e Fragelli

Por que um país que consegue melhorar a distribuição de renda em nível nacional, não o faz em nível regional?

[Pedro Ferreira e Renato Fragelli, jornal Valor, 18 jan 12] A melhoria da distribuição de renda no Brasil, iniciada na década de 1990 com o fim da inflação e a abertura da economia, e acelerada na década de 2000 pelos programas de transferências diretas, é uma conquista da sociedade brasileira. Embora, quando se considera a população do país como um todo, os avanços sejam notáveis, ao se analisar a distribuição da renda entre as regiões do país, há pouco para se comemorar.

A renda per capita do Nordeste permanece apenas um terço da observada no Sudeste, e a taxa de analfabetismo é o triplo. A mortalidade infantil no Maranhão é quase três vezes superior à de São Paulo. Cerca de 40% da população do Nordeste ainda vive na pobreza, contra 11% no Sudeste. Por que um país que consegue melhorar a distribuição de renda em nível nacional, não o faz em nível regional? Continue lendo

Alagoas tem a maior taxa de homicídio

[Jornal da Band, 19 abr 11] Um estudo divulgado pelo Ministério da Justiça mostra Alagoas como o Estado mais violento do país, com uma taxa de mais de 60 homicídios para cada cem mil habitantes. Na pesquisa, o Espírito Santo aparece em segundo lugar, seguido de Pernambuco. Representantes dos policiais alagoanos dizem que a violência no estado está ligada à falta de uma política de segurança e à desmotivação da categoria.

A impunidade favorece o aumento da violência em Alagoas. Mais de 85% dos assassinatos investigados pela polícia vão parar no arquivo dos crimes misteriosos, aqueles dos autores nunca identificados.

Dos 102 municípios alagoanos, dez estão na lista das cem cidades brasileiras mais violentas. O número de homicídios cresceu 343% nos últimos dez anos. Entre jovens negros a situação é ainda pior: são 155,6 mortes por cem mil habitantes. Para cada jovem branco assassinado, morrem 15 negros.

Sertão da Paraíba tem surto de doenças genéticas; casamento entre primos é a causa

[Texto de Sabine Righetti, publicado na Folha SP, 21 nov 2010]

A bióloga paulistana Silvana Santos foi para o Nordeste há cerca de uma década por causa da sua vizinha. Ela quis entender a origem da misteriosa doença da moradora da casa ao lado.

Como relatava a própria mulher, a moléstia era comum na sua cidade natal, Serrinha dos Pintos, no sertão do Rio Grande do Norte. Santos descobriu no Nordeste mais 70 casos de uma doença até então desconhecida, a síndrome Spoan, que paralisa os membros inferiores e afeta a visão. Era o mesmo mal de sua vizinha.

Depois de descrever a Spoan pela primeira vez em artigo científico de 2005, a bióloga encontrou outros problemas genéticos no sertão, causados por um mesmo motivo: o casamento consanguíneo entre primos.

Em Serrinha dos Pintos, 32% dos casamentos envolvem primos de primeiro e segundo grau. Todos os afetados pela síndrome são descendentes de um ancestral comum, que chegou à região há mais de século.

“As famílias conhecem a sua árvore genealógica, mas a maioria não aceita que as doenças genéticas são causadas pelos casamentos com pessoas do mesmo sangue”, afirma a pesquisadora.

Hoje, Santos é professora da UEPB (Universidade Estadual da Paraíba), instituição à qual se vinculou de tanto estudar a região. Continue lendo

Paraíba tem 29 pontos de exploração sexual de menores em JP e no interior

A Polícia Rodoviária Federal (PRF) divulgou, nesta quarta-feira (6), a quarta edição do Mapeamento de Pontos Vulneráveis à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes nas Rodovias Federais 2009/2010. No total foram computados 1.820 pontos, sendo 545 deles no Nordeste.

Nas rodovias federais que cortam a Paraíba, foram encontrados 29 pontos de exploração, sendo 11 deles classificados como críticos e seis como alto. No nível médio foram oito e, por último, baixo com três.

No Nordeste, a Bahia aparece em primeiro lugar com 148 pontos de exploração, sendo 117 deles críticos. Em segundo está o Rio Grande do Norte, com 110 pontos, e 47 críticos. A Paraíba aparece em oitavo lugar, com 29, ficando na frente, apenas, do Sergipe, 18 pontos.

Metodologia

Segundo a PRF, foi aplicada uma nova metodologia neste levantamento. Além do mapeamento, foi feita uma classificação de níveis de risco (baixo, médio, alto e crítico).

O inspetor Hélio Derenne, diretor geral do Departamento de Polícia Rodoviária Federal, disse que a classificação deve ser usada na definição das ações.

Indicadores de risco

Entre os indicadores de risco estão a existência de prostituição de adultos; de registros policiais de exploração de menores, de tráfico ou consumo de drogas; presença constante de crianças e adolescentes; passagem de caminhoneiros; iluminação, e venda de bebida alcoólica

De acordo com a pesquisa, a exploração sexual de crianças e adolescentes está quase sempre associada a outros crimes, como furto, prostituição, tráfico de seres humanos e venda de drogas.

A PRF informa ainda que, de 2005 a 2009, encaminhou 2.036 meninos e meninas que se encontravam em situação de risco nas estradas brasileiras a conselhos tutelares. No mesmo período, 951 pessoas foram presas em flagrante por crimes praticados contra menores

O mapeamento foi realizado em parceria com a Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, a Organização Internacional do Trabalho, a organização Childhood Brasil e empresas do programa Mão Certa.

da Assessoria da PFR, 6 out 2010

O mel, as cabras, a farinha e a avó

Quem vê o senhor sentado na varanda do seu sítio em Gravatá (a duas horas do Recife) a discorrer sobre as pimentas que cultiva e com as quais produz um molho aromático e marcante não imagina o quanto ele contribui para mudar a paisagem do Semiárido pernambucano. A história de vida do educador Abdalaziz de Moura, hoje com 67 anos, é genuína. O semblante de avô dedicado esconde um espírito aguerrido e incansável, cevado nos tempos de seminarista em Olinda e Camaragibe no começo dos anos 60. Da igreja progressista herdou a indignação ante a injustiça social. Em 1989, decidido a intervir na realidade, Moura criou o Serviço de Tecnologia Alternativa (Serta), com o intuito de apoiar a autonomia do homem do campo.

O Serta desenvolveu uma metodologia internacionalmente premiada de ensino, a Proposta Educacional de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável (Peads).- Trata-se de um conjunto de técnicas de educação contextualizada. Ou seja, os professores, com apoio das comunidades, usam a realidade local para ensinar as crianças. “O cara é um sonhador, acredita num mundo melhor e sabe que a utopia se realiza aos poucos, com recursos técnicos e diálogo em todas as instâncias”, afirma o secretário de Comunicação da Prefeitura de Olinda, Inácio França, que conheceu Moura no tempo em que trabalhava no Unicef-Recife.

O Unicef firmou contratos com o Serta para implementar nas cidades do Semiárido políticas que visam à melhora nas condições de vida de crianças e adolescentes. Os municípios que conseguem avançar recebem o selo do organismo. Levantamentos preliminares mostram que as escolas que adotaram a Peads têm obtido desempenhos melhores no Índice de Desenvolvimento de Ensino Básico (Ideb).

O segredo da metodologia é a “ressignificação” da vida no campo a partir de atividades práticas e da valorização de todos os saberes: seja ele o tradicional – a avó perita em ervas medicinais, por exemplo, é levada para a sala de aula –, seja o inédito, como a adoção de técnicas de cultivo menos agressivas ao meio ambiente. A Peads eleva a ciência do aprendizado a um patamar integrador, ao libertar as disciplinas dos compartimentos estanques de sempre. Geografia, história, português e matemática se interpenetram, conversam entre si, reproduzem os hábitos rurais, ganham concretude e razão de ser para o aluno.

Outro ponto essencial é a construção conjunta do conhecimento: professora, alunos, pais, comerciantes, criadores de cabras, verdureiros, apicultores, todos colaboram. Uma aula típica pode começar com uma visita à casa de farinha da cidade para a coleta de dados sobre o processo de produção ou trabalhar cálculos decimais a partir da quantidade de mel contida numa lata ou do lucro obtido com a venda das cabras.

“Quanto mais o exercício estiver inserido no cotidiano do aluno, mais seguro é seu aprendizado”, ensina Moura no livro Peads, lançado pelo Serta em 2003 e no qual a metodologia, até então intuitiva e dispersa em artigos, anotações e registros de discussões em grupo, foi sistematizada. Ao ler o relato percebe-se que a Peads é a síntese de um caldeirão filosófico, com lugar para a pedagogia de Paulo Freire e outros educadores, para os princípios de economistas de cunho socio-ecológico (como o polonês Ignacy Sachs, o Prêmio Nobel Armatya Sem, a americana futurista Hazel Henderson) e para a física quântica de Fritjof Capra, autor do best seller O Ponto de Mutação.

O desenvolvimento sustentável permeia toda a didática. “Na Peads as disciplinas são ambientais, porque a educação tem de levar em conta a pluralidade. Tudo na escola deve estimular a cooperação: os textos, os cálculos, a distribuição de tarefas, os valores transmitidos”, diz o ex-seminarista, graduado em Teologia em Roma, com especialização em Genebra.

Foi no início dos anos 70 e no auge da ditadura que Moura voltou da Europa e passou a atuar ao lado de dom Helder Câmara, arcebispo emérito do Recife e de Olinda, morto em 1999, um dos fundadores da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e único brasileiro indicado quatro vezes ao Nobel da Paz. Defensor dos direitos humanos e da máxima- cristã de que fé sem ação é nula, dom Helder fez parte de um numeroso grupo de religiosos e leigos progressistas precursor da Teologia da Libertação, favorável a uma prática religiosa mais simples, humilde, não violenta, voltada para os pobres e movida pela ação social.

Ao semear informações e cidadania no campo, o grupo de Moura teve de enfrentar a ira de coronéis e políticos, além do descrédito dos próprios trabalhadores, muitas vezes contaminados por boa-tos de que os técnicos eram terroristas, delinquentes ou, no mínimo, espertalhões dispostos a enganá-los. “Conheci Moura nessa época, como participante do movimento Encontro de Irmãos, em que pessoas pobres, de periferia, se reuniam à luz do Evangelho”, recorda a pedagoga Maria Conceição da Silva, 55 anos, casada com o ex-seminarista e mãe de três dos quatro filhos dele.

Ceiça, como é conhecida, recorda que, até meados dos anos 80, a Igreja era um grande guarda-chuva sob o qual se abrigavam movimentos de mulheres, de operários, de negros. “Foi-se o tempo em que a Igreja era progressista e suas ações pautavam o movimento sindical rural e parte dos movimentos sociais”, reflete Moura, que hoje não assiste nem à missa. Na opinião dele, atualmente, a educação rural, da qual o Serta virou expoente na América Latina, é que pauta e agenda parte desses movimentos. “Está claro que o conhecimento é, hoje, instrumento privilegiado de
intervenção e que é agregado a valores, à ética.”

Referência especialmente na formação de jovens, o Serta oferece há dez anos o curso de Agente de Desenvolvimento Local, superdisputado por egressos do ensino fundamental. A formação sacode as convicções da maioria dos jovens, como conta o jornalista Everaldo Costa, pais agricultores e, antes do Serta, convicto, assim como os 16 irmãos, de que a única saída para uma vida melhor era a estrada para São Paulo. “No Serta, ao contrário da escola formal, trabalhávamos com os conhecimentos que a gente já tinha e construíamos projetos de intervenção em nossa comunidade. Fazíamos pesquisas, seminários e festivais que valorizavam nosso povo, e passamos a gostar do lugar onde vivemos”, diz ele, que faz mestrado em Comunicação e continua a morar em Glória do Goitá.

Fonte: Denise Ribeiro, Carta Capital, 9 set 2010

[Nordeste] Pré-adolescentes são os principais alvos de violência doméstica em Fortaleza

Pesquisadora da USP analisou 343 casos registrados no IML da cidade no 2º semestre de 2008

A violência doméstica praticada contra crianças e adolescentes na região metropolitana de Fortaleza (CE) predomina na faixa etária de 10 a 14 anos. Hellena Carvalho, médica legista responsável por uma pesquisa sobre o tema, aponta que os pré-adolescentes representam 39,1% dos casos levantados.

Segundo ela, esse dado contradiz alguns estudos na área. “As pesquisas apontam que normalmente a violência doméstica acontece com a faixa etária de zero a 9 anos, na infância, em função da própria condição de defesa da criança e da maior dependência de seus cuidadores”, afirma.

O motivo da predominância da violência na faixa etária de 10 a 14 anos não foi estudado, mas Hellena acredita que as características do próprio contexto da Região Nordeste podem ter influenciado. Mas isso é apenas uma hipótese.

O trabalho da médica faz parte de sua tese de doutorado defendida pela Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, sob orientação da professora Maria Helena Jorge. Nele, Hellena analisou 343 casos de violência doméstica registrados no Instituto Médico Legal (IML) de Fortaleza no segundo semestre de 2008. Os casos são de crianças e adolescentes vítimas de atos violentos cometidos pelos próprios pais ou responsáveis, como uso de força física, abuso sexual ou negligência.

O que mais chamou a atenção dela foi a declaração de alguns pais (cerca de 40%) que justificavam por que batiam nos filhos. “Eles acreditam que bater educa os filhos. Argumentavam que também apanharam de seus pais e diziam: ‘Eu sei que isso vai dar vergonha na cara deles’”, conta.

Outro ponto que Hellena destaca é a falta de profissionais nas áreas de saúde e de educação que denunciam esse tipo de violência. Dos casos analisados, nenhum foi notificado por profissional de saúde, e apenas 1,7% foi delatado por profissionais de educação.

A médica lembra que, pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), esses profissionais são obrigados a procurar o Conselho Tutelar, mesmo em casos suspeitos, com a finalidade de abrir uma investigação.

“Acredito que esses profissionais de saúde não têm a formação adequada sobre a violência doméstica como um problema de saúde pública. Na educação, os professores não estão devidamente capacitados, além daqueles que acham que não devem se meter ou têm medo de retaliações”, afirma Hellena. “É um problema complexo, que não dá para explicar com um único motivo”, completa.

Na pesquisa, o principal notificante foi a mãe, em 48,4% dos casos. Em apenas 4% das ocorrência, a vítima foi o principal denunciante.

Caracterização

Para complementar as informações sobre vítima, família, agressor e circunstâncias em que ocorreu a violência, a pesquisa usou um formulário específico, aplicado ao responsável, acompanhante e vítima, quando as condições assim o permitiram.

Foram constatados 172 casos de violência física, 167 de violência sexual e 4 de violência múltipla, que envolve mais de um tipo de violência (sendo três casos de violência física e sexual e um caso de violência física e negligência). As vítimas de violência física se distribuíram equitativamente entre os sexos (feminino, 55% e masculino, 45%), enquanto nos casos de violência sexual foi observado que o sexo feminino corresponde a 82% das vítimas. Nessa situação, o principal agressor foi o padrasto (32,3%), seguido do pai (30%).

Hellena aponta um dado que vai contra o esperado: quase 50% dos casos de violência doméstica contra crianças e adolescentes ocorreram em famílias nucleares, ou seja, aquelas formadas por pai, mãe e filho(s) que convivem na mesma casa. Segundo a médica, os estudos, em geral, apontam que as famílias não nucleares estão mais sujeitas à violência doméstica.

Independente da característica dos casos, segundo a legista, os estudos estão demonstrando que a violência vai contra a saúde física e mental das pessoas. “A vítima, ao chegar à fase adulta, tem mais chances de apresentar problemas de saúde como depressão, esquizofrenia e hipertensão”, explica.

Fonte: Estadão, 12 ago 2010

Turismo sexual estimula prostituição infantil no Brasil

Um programa da BBC mostrou que crianças estão suprindo uma crescente demanda de turistas estrangeiros que viajam ao Brasil atrás de sexo e acompanhou as tentativas de controlar o problema.

O programa Our World: Brazil’s Child Prostitutes (“Nosso Mundo: As Crianças Prostitutas do Brasil”, em tradução livre), vai ao ar no canal de TV internacional de notícias da BBC, BBC World, neste fim de semana.

A cada semana, operadores de turismo despejam nas cidades brasileiras milhares de homens europeus que chegam em voos fretados especialmente ao Nordeste em busca de sexo barato, incentivando assim a prostituição.

O problema, que foi constatado pela BBC em Recife, já estaria levando o Brasil a alcançar a Tailândia como o principal destino mundial do turismo sexual.

De acordo com o repórter Chris Rogers, responsável pela reportagem, apesar das garantias de uma ação policial, nas ruas da capital pernambucana parece haver poucos indícios de que a prostituição infantil está desaparecendo.

Corpo frágil

Uma menina vestida com um pequeno biquíni expõe seu corpo frágil. Ela não parece ter mais do que 13 anos, mas é uma das dezenas de garotas andando pelas ruas à procura de clientes debaixo do sol da tarde.

Todo dia eu peço a Deus que me tire dessa vida. Às vezes eu paro, mas depois volto para as ruas para procurar homens. A droga faz mal, a droga é minha fraqueza, e os clientes estão sempre a fim de pagar.

P., menor prostituta

A maioria vem das favelas da região. Ao parar o carro, a reportagem da BBC é recebida com uma dança provocante da menina, para chamar a atenção.

“Oi, meu nome é C. Você quer fazer um programa?”, ela pergunta. C. pede menos de R$ 10 por seus serviços. Uma mulher mais velha chega perto e se apresenta como mãe da menina.

“Você pode escolher outras duas meninas, da mesma idade da minha filha, pelo mesmo preço”, ela diz. “Eu posso levar você a um motel local onde um quarto pode ser alugado por hora.”

Quando a noite cai, em uma área com bares e bordéis da cidade, o playground sexual de Recife ganha vida.

Prostitutas se divertem com turistas, dançando e procurando por clientes em potencial. Muitas delas parecem muito menos do que 18 anos de idade.

Motoristas de táxi trabalham com as garotas que são jovens demais para entrar nos bares. Um deles me oferece duas pelo preço de uma e uma carona para um motel local.

“Elas são menores de idade, então são muito mais baratas que as mais velhas”, explica ele ao me apresentar S. e M.

Nenhuma delas faz nenhum esforço para esconder sua idade. Uma delas leva consigo uma bolsa da Barbie, e as duas se dão as mãos com um olhar que parece aterrorizado diante da perspectiva de um potencial cliente.

Crack

A zona da prostituição no Recife está cheia de carros circulando em baixa velocidade ao lado dos grupos de garotas exibindo seus corpos.

Uma delas, P., está vestida com um top cor-de-rosa e uma minissaia. A menina de 13 anos concorda em falar comigo sobre sua vida como prostituta. Ela conta que trabalha na mesma esquina todas as noites até o amanhecer para financiar o vício dela e da mãe em crack.

“Normalmente eu tenho mais de dez clientes por noite”, ela se vangloria. “Eles pagam R$ 10 cada – o suficiente para uma pedra de crack”, diz.

O Brasil estaria alcançando a Tailândia como destino para o turismo sexual.

Por segurança, P. trabalha com um grupo de meninas mais velhas que atuam como cafetinas, tomando conta do dinheiro e cuidando das mais novas.

“Há muitas meninas trabalhando por aqui. Eu não sou a mais nova. Minha irmã tem 12 anos e tem uma menina de 11”, conta.

Mas P. está preocupada com sua irmã. “Eu não vejo a B. há dois dias, desde que ela saiu com um estrangeiro”, diz.

P. diz ter começado a trabalhar como prostituta com sete anos. A Unicef estima que há 250 mil crianças prostituídas como ela no Brasil.

“Estou fazendo isso há tanto tempo que nem penso mais nos perigos”, ela afirma. “Os estrangeiros vivem aparecendo por aqui. Eu já saí com um monte deles”, conta.

Apenas algumas quadras dali a calçada está tomada por travestis procurando clientes. Entre eles está R., de 14 anos, e I., de 12.

Os primos parecem convincentes como meninas com seus saltos altos, minissaias, blusas e maquiagem pesada.

“Precisamos ganhar dinheiro para comprar comida para nossas famílias”, explica R. ajeitando seu longo cabelo.

“Nossos pais não se preocupam muito com a gente. Dizemos a eles quando estamos saindo e quando chegamos. E então damos a eles o dinheiro para comprar comida. Eles sabem como conseguimos o dinheiro, mas nós não discutimos isso”, diz.

Fortaleza

Antes, a maioria dos turistas sexuais costumava ir a Fortaleza. Mas não mais – no último ano, a capital do Estado do Ceará vem mandando uma clara mensagem aos turistas sexuais de que eles não são bem-vindos.

Todas as semanas, dezenas de carros com policiais federais armados com metralhadoras AK-47 patrulham as ruas das zonas de prostituição, vasculhando os motéis e bordéis, prendendo clientes e cafetões e levando meninas menores de idade para abrigos.

Eline Marques, coordenadora da Secretaria Especial de Prevenção ao Tráfico de Seres Humanos, afirma que as blitze estão tendo um resultado.

“Já fechamos muitos estabelecimentos em Fortaleza. Ruas inteiras estão agora livres da prostituição. Meu objetivo é intensificar essas ações antes da Copa do Mundo, tendo com alvo o próprio turismo que fomenta a prostituição infantil”, diz ela.

Outros Estados indicaram que estão acompanhando a campanha de Marques e que, se ela tiver sucesso, poderão seguir ações semelhantes.

Mas, para cada estabelecimento sexual que é fechado, para cada turista sexual preso, há também vítimas. Muitas são levadas para abrigos de instituições de caridade.

Recuperação

Jovens travestis dizem que se prostituem para comer.

O Centro de Recuperação Rosa de Saron, perto do Recife, está operando com sua capacidade máxima, porque as meninas não podem ser devolvidas para casa, por causa da pobreza que as levou à prostituição. Elas chegam lá vindas de todo o Brasil.

M., de 12 anos, quer viver com a mãe, mas não pode porque seu cafetão, que a forçou a trabalhar nas ruas e em bordéis, ameaçou matá-la se ela tentasse escapar.

Ela diz que ainda teme por sua vida.

“Não tive opção a não ser fazer o que ele mandava. Eu senti que estava perdendo minha infância, porque eu tinha só 9 anos de idade”, diz ela. “Eu tinha medo. Às vezes eu voltava sem dinheiro e ele me batia”, conta.

Jane Sueli Silva, que fundou o centro, diz que a maioria das garotas tem entre 12 e 14 anos quando chegam. Algumas delas chegam grávidas.

“Muitas delas chegam aqui com problemas sérios, como câncer de colo de útero”, diz. “Como o câncer normalmente está só no estágio inicial, podemos ajudá-las, e graças a Deus que a cura é normalmente bem-sucedida.”

Uma outra ONG, a britânica Happy Child International, planeja construir mais centros para abrigar o crescente número de crianças prostituídas.

Mas crianças como P. ainda estão desamparadas.

Sua casa é um pequeno barraco que ela divide com sua mãe, dois irmãos e a irmã B., de 12 anos. Dentro, apenas dois sofás que são usados como camas e um balde plástico usado para lavar roupas e pratos.

Quando perguntada sobre se a prostituição das filhas a magoava, a mãe delas pareceu mais preocupada com dinheiro. “Se elas conseguem dinheiro, não trazem para cara. Não, elas não trazem dinheiro nenhum para casa”, disse.

P., por sua vez, diz que espera um dia sair da prostituição.

“Todo dia eu peço a Deus que me tire dessa vida. Às vezes eu paro, mas depois volto para as ruas para procurar homens. A droga faz mal, a droga é minha fraqueza, e os clientes estão sempre a fim de pagar.”

Fonte: BBC Brasil, 30 julho 2010

Classe C cresceu 95,6% em cinco anos no Estado da Paraíba

Em cinco anos, o número de domicílios da classe C cresceu 95,6% na Paraíba, passando de 219.529 para 429.389 residências. O consumo dessa classe passou de 31,6% do total para 40%, de 2005 a 2010, representando aproximadamente R$ 11,12 bilhões. Os dados são do estudo “Brasil em Foco” divulgado anualmente pelo IPC Marketing Editora, que aponta para este ano consumo de R$ 27,8 bilhões, sendo os maiores gastos com manutenção do lar (R$ 6,2 bilhões), alimentação em domicílio (R$ 4,6 bilhões) e veículo (R$ 1 bilhão). Até o fim do ano, o consumo deve crescer 3,9%.

O estudo do IPC mapeia a participação de cada um dos 5.564 municípios brasileiros com relação ao potencial do consumo no País e o diretor da empresa, Marcos Pazzini, estará em João Pessoa na próxima terça-feira para ministrar palestra sobre estratégias de negócios. Ele vai orientar empresários sobre o posicionamento diante de um mercado consumidor com crescimento estimado em 3,9% até o fim do ano. As inscrições serão feitas até esta segunda-feira no Sebrae, ao preço de R$ 20 para profissionais e R$ 10 para estudantes.

A pesquisa do IPC estima um consumo de R$ 27,827 bilhões para este ano, sendo R$ 2,496 bilhões para o consumo rural e R$ 25,330 bilhões para o urbano. Os maiores gastos são com alimentação e manutenção do lar, que juntos somam R$ 10,973 bilhões e correspondem a 39,43% do total, além dos veículos, com R$ 1,042 bilhão. O estudo analisa 21 categorias de consumo como despesas de viagens, bebidas, confecção, calçados e eletrodomésticos.

Marcos Pazzini, que é também coordenador da pesquisa, revela que o consumidor está cada vez mais exigente. “O preço continua sendo importante, mas questões de diferencial de atendimento, de pré e pós-venda, de entrega, de atender às expectativas, são fatores essenciais para o sucesso de vendas”.

Classe B tem elevação de 70,1%

A migração de classes também atingiu os domicílios enquadrados na categoria B, onde houve um acréscimo de 70,1% nas residências. Em 2005, 83.830 famílias estavam classificadas nesse grupo, enquanto que a estimativa para 2010 é de 142.597. O consumo dessa classe aumentou de 29,6% para 36,4%, algo em torno de R$ 10,1 bilhões.

A maior redução entre as classes de renda quanto aos domicílios ocorreu na E, com uma diminuição de 66,3%, passando de 43.796 para 14.781. Seu consumo estimado é de R$ 139 milhões. A classe D teve redução de 37,9% em sua população, enquanto a A caiu 8,6%, demonstrando uma diminuição na distribuição de renda. O consumo delas deve ser de R$ 2,52 bilhões (9,1%) e de R$ 3,91 bilhões (14,1%), respectivamente.

Fonte: Correio PB, 31 jul 2010