A globalização e a pressão sobre comunidades indÃgenas de integrarem-se à cultura dominante estão acelerando o desaparecimento de centenas de idiomas no mundo todo.
[Agência EFE, 15 set 11] Essa mudança representa mais que uma perda de palavras e a destruição de uma forma de levar a vida, avaliam analistas reunidos recentemente em Quito, no Equador.
Dos 6.000 idiomas recenseados no planeta, mais de 2.500 correm o risco de extinção, contabiliza a Unesco (Organização da ONU para a Educação, a Ciência e a Cultura).
Entre eles estão, por exemplo, o andoa equatoriano, que tem apenas uma pessoa falante do idioma, e o zapara, com seis idosos fluentes.
Com eles desaparecem seus conhecimentos naturais, além de uma maneira de conceber o espaço, o Universo e a relação com outros seres humanos, ressaltou Marleen Haboud, coordenadora de um congresso internacional sobre o tema que ocorreu recentemente na PontifÃcia Universidade Católica de Quito.
Outro exemplo é o mohawk, lÃngua de uma tribo indÃgena da confederação iroquois que vive entre os Estados Unidos e o Canadá. Esse idioma não segue a estrutura tradicional de sujeito, verbo e predicado, base do inglês, português e espanhol, entre outros.
Seus falantes colocam primeiro a informação que acreditam ser mais importante para o ouvinte, independentemente de ser nome, adjetivo ou ação, explicou Marianne Mithun, uma lingüÃstica americana que há décadas trabalha no resgate do idioma.
“[LÃnguas diferentes] mostram maneiras diferentes da mente humana de codificar as informações, de entender e de sistematizar o mundo e são formas nunca pensadas por nós que só falamos uma lÃngua europeia”, opinou Mithun.
Para ela, das 300 lÃnguas documentadas na América do Norte, em meados desta década somente 12 deverão sobreviver.
BRASIL
Os continentes onde a ameaça é maior são Oceania e as Américas. No Brasil ao menos 190 idiomas estão em risco; no México, 144; na Colômbia, 68, e no Peru, 62.
“O desaparecimento de lÃnguas está cada vez mais acelerada”, lamentou Haboud, que atribui isso à globalização. Povoados que antes estavam isolados “estão agora praticamente vivendo em meio a muita modernidade; avassaladora no caso deles”.
Mais do que pressões externas para impor uma lÃngua, as comunidades frequentemente abandonam seu próprio idioma por um desejo de integrar-se na sociedade majoritária e ter melhores perspectivas econômicas, de acordo com os analistas.
“Muitas vezes as pessoas não se dão conta do valor da lÃngua indÃgena, porque pensam que é algo atrasado no atual mundo moderno”, explicou Mithun.
Deixá-la para trás acarreta uma perda de identidade, para esta linguista. Segundo ela, a solução é a nova geração aprender os dois idiomas.
“As crianças mohawk que sabem o inglês e o mohawk têm maior êxito em ambos os mundos. Não têm postura antagônica em direção à cultura externa”, explicou Mithun. Ele destacou que, de acordo com estudos anteriores, ser bilÃngue melhora o desempenho de estudantes em todas as matérias, não só em idiomas.
Essa estratégia é a que seguem de indÃgenas achuar no Equador, conta Sumpinanch Celestino Aij Tuntuam, professor de 27 anos da comunidade amazônica de Kupit.
“Nós mantemos, avaliando cultura e tradição, a vestimenta, e falamos espanhol, mas não esquecemos o achuar”, disse em Quito Aij Tuntuam, vestido com plumas e um colar de contas e o rosto pintado com linhas pretas igual a um felino.
Em sua comunidade todos os habitantes falam achuar, metade o espanhol e 20% o shuar, detalhou. Em todo o Equador existem somente 2.500 falantes da lÃngua achuar e 35 mil de shuar.
“Uma lÃngua pode desaparecer muito, muito rapidamente. Há quem pense que, por existem muitas pessoas falando o idioma, isso não vai acontecer. Mas o problema é que todos têm a mesma idade, e chegará o momento em que se perderá, e quando isso acontecer não será possÃvel recuperá-la”, advertiu Mithun.