Comunidade internacional reage a massacre em Homs

Até 47 pessoas, a maioria crianças, teriam sido esfaqueadas. Hillary critica cinismo de Assad.

[OGlobo, 12 mar 12] Beirute – A morte brutal de até 47 crianças e mulheres em Homs chocou o mundo e gerou uma série de condenações da comunidade internacional. No Conselho de Segurança, o chanceler russo, Sergei Lavrov, manifestou nesta segunda-feira a sua preocupação e a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, acusou o presidente Bashar al-Assad de cinismo ao lançar ataques enquanto se encontrava com o enviado especial da ONU e da Liga Árabe para a Síria, Kofi Annan, no final de semana.

– Rejeitamos qualquer comparação entre assassinatos premeditados pela máquina militar do governo e as ações de civis sob cerco agindo em autodefesa – disse Hillary. – Como é cínico que mesmo quando Assad recebia o ex-secretário-geral (da ONU) Kofi Annan, o Exército sírio conduzia novos ataques a Idlib e sua contínua agressão a Hama, Homs e Rastan.

A secretária americana voltou a pedir que Damasco ponha fim à violência no país, dizendo que a iniciativa não pode partir de “civis indefesos na mira da artilharia”.

– Nós acreditamos que é o momento de todas as nações, incluindo aqueles que já bloquearam nossos esforços, apoiarem a solução humanitária e política prosposta pela Liga Árabe – disse Hilarry, em uma clara referência à Rússia e à China.

O próprio Annan mudou de tom. Ele disse que a chacina é “simplesmente inaceitável” e pediu que o mundo desse uma resposta clara ao regime de Damasco. Mais cedo, seu porta-voz disse que a missão mediadora estava “caminho certo”. O diplomata vai se encontrar nesta terça-feira com membros da oposição síria na Turquia. O Conselho Nacional da Síria, principal órgão opositor, quer que o Conselho de Segurança discuta as mortes desta manhã, informou a agência de notícia AFP.

Massacre gera guerra de versões entre opositores e Damasco

Ativistas denunciaram nesta manhã o assassinato de até 47 mulheres e crianças, que teriam sido encontradas nesta segunda-feira no bairro de Karm el-Zeitun, na cidade de Homs. O novo massacre gerou uma guerra de acusações entre opositores e governo, que acusa “grupos terroristas” pelo crime. Segundo os Comitês Locais de Coordenação, as vítimas são 26 crianças e 21 mulheres, que teriam sido esfaqueadas, algumas delas degoladas e depois queimadas pelas forças de Assad. Já o Observatório Sírio de Direitos Humanos, com base em Londres, fala em pelo menos 16 vítimas. Desde domingo, mais de cem pessoas morreram no reduto rebelde, na tentativa de sufocar o levante que há um ano pede o fim do regime.

– Depois de bombardear a cidade, as forças de segurança começaram a entrar de casa em casa em busca de ativistas – explicam os rebeldes. – Eles deram total liberdade para os soldados saquearem casas e lojas.

Num necrotério improvisado numa casa, parentes se desesperavam ao ver os corpos das crianças, numa cidade já acostumada à dor. Homs foi bombardeada por quatro semanas por tropas do governo até que Damasco retomou o controle da cidade na semana passada. Desde então, grupos de ajuda humanitária tentam ter acesso aos bairros mais afetados da cidade em vão e os relatos são de batidas em busca de opositores.

O governo reconheceu as mortes, mas responsabilizou grupos armados pelo crime. “Os grupos armados terroristas sequestraram muitos civis na cidade de Homs, mataram e mutilaram seis corpos e os filmaram para mostrar para a imprensa”, anunciou a agência estatal Sana em seu site.

Já o Comitê de Coordenação Local e o Observatório Sírio para Direitos Humanos disseram nesta segunda-feira que as mortes foram obra de homens armados da milícia Shabiha, que teve um importante papel na repressão da revolta. Segundo ativistas, além das quase 50 crianças e mulheres mortas, outras sete pessoas foram assassinadas no bairro de Jobar, que fica ao lado de Baba Amro.

Forças do governo atacam Idlib

Na cidade de Idlib, perto da fronteira com a Turquia, os relatos também são de violência. A região se tornou alvo de bombardeios do regime que tenta retomar o reduto rebelde. Segundo ativistas, ao menos 25 pessoas foram mortas nesta segunda-feira.

Segundo fontes do governo turco, pelo menos 189 sírios chegaram ao país fugidos de Idlib desde sábado. A expectativa de Ancara é que mais pessoas busquem refúgio no país.

Em outras partes da Síria, grupos de direitos humanos denunciaram a morte de cinco pessoas nos subúrbios de Damasco, outras cinco em Aleppo, uma em Lataki, uma em Deraa e uma na própria capital.
Matéria publicada originalmente aqui.

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