[JT, 16 dez 10] O consumo de drogas é maior em escolas privadas do que em públicas, revela levantamento da Secretaria Nacional de PolÃticas Sobre Drogas (Senad) divulgado ontem. Mapeamento feito com 50.890 estudantes de todas as capitais constatou que, na faixa de 16 a 18 anos, 54,9% dos alunos da rede particular já usaram psicotrópicos, como maconha, cocaÃna e crack, pelo menos uma vez. Nos colégios públicos o porcentual é de 40,3%. Na rede privada, de cada 100 alunos, 30 já consumiram essas substâncias contra 24 na rede pública.
Na faixa etária de 16 a 18 anos, a proporção de estudantes de escolas particulares que já usou essas drogas pelo menos uma vez na vida é ainda maior: 54,9%. Na pública, essa porcentagem é de 40,3%.
A relação de consumo entre os dois tipos de escolas se inverte quando se analisa o uso frequente (declaração de consumo de seis ou mais vezes no mês anterior à pesquisa): nessa faixa, a rede pública ultrapassa a privada por uma pequena margem – 0,9% contra 0,8%.
Quanto ao uso pesado (vinte ou mais vezes), os alunos da rede pública “superam†os da privada por 1,2% a 0,8%. Isso significa que embora sejam consumidas mais drogas pelos alunos da rede privada, na pública a frequência de uso é maior.
“É muito claro que as alunos de melhor poder aquisitivo usam mais drogas porque eles têm dinheiro com mais facilidadeâ€, avalia Fáttima Fant, de 53 anos, da entidade Um Toque de Mulher, que faz ações contra violência e drogas e mãe de um jovem que se envolveu com os entorpecentes aos 12 anos.
O estudo do governo federal, feito em parceria com a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), trouxe números da rede privada pela primeira vez. Segundo a Senad, cerca de 94% das públicas convidadas aceitaram participar, contra 70% das privadas.
“Não entendemos como grave a recusa. Pode ter, sim, a ver com o fato de ser a primeira vez que se faz uma pesquisa sobre esse tema com elas, enquanto a rede pública já tem uma tradiçãoâ€, disse a secretária-adjunta da Senad, Paulina Duarte.
Escolas Públicas
Os dados da pesquisa anterior, de 2004, permitem uma comparação do cenário das drogas nas escolas públicas. O consumo de maconha – pelo menos uma vez ao ano – caiu de 4,6% para 3,7%; de solventes/inalantes (como lança-perfume), desceu de 14,1% para 4,9%; de anfetamÃnicos, de 3,2% para 1,6%; quanto ao crack, a redução foi de 0,7% para 0,4%. O uso de cocaÃna, porém, subiu de 1,7% para 1,9%.
“O aumento em relação à cocaÃna foi relativamente pequeno e vai merecer do governo uma análise mais acurada. Não temos uma explicação neste momentoâ€, disse Paulina. “A redução do consumo de drogas é um fenômeno que não está ocorrendo apenas no Brasil, há no mundo uma tendência de estabilização do consumo e até mesmo de diminuição. O Brasil vem acompanhando essa tendência mundial, há maior percepção da população sobre os riscos de consumoâ€.
Para a secretária-adjunta, os números mostram um consumo pequeno de crack entre os estudantes – na rede privada, o Ãndice foi de 0,2%. Uma possibilidade para o resultado é o fato de os usuários da droga na faixa etária estudada (de 10 a 19 anos) não estarem em sala de aula.
“Isso poderia estar vinculado ao fato de o crack ser uma droga potencialmente muito mais danosa que devasta com muito mais rapidez a vida das pessoas, o que poderia fazer com que (essas pessoas) estivessem fora da escolaâ€, observou Duarte.
Quanto à prevalência de uso no ano de tabaco e álcool, entre estudantes de ensino fundamental, a pesquisa apontou redução no consumo entre 2004 e 2010. No primeiro caso, de 15,7% para 9,8%; no segundo, de 63,3% para 41,1%. Na opinião da secretária-adjunta, as escolas estão hoje mais preparadas para lidar com a questão. “A escola brasileira hoje vem discutindo a questão de drogas de uma forma bastante pragmáticaâ€.
Rafael Moraes Moura e Marici Capitelli