Segundo ONG, Grécia, Espanha, Itália e Portugal lideram lista de paÃses com ‘sérias deficiências’.
[Marcia Bizzotto, BBC Brasil, 6 jun 12] A corrupção e a ineficácia dos sistemas públicos na Grécia, na Espanha, na Itália e em Portugal contribuÃram para a crise fiscal que enfrentam atualmente esses paÃses, afirma um relatório da organização Transparência Internacional (TI), publicado nesta quarta-feira em Bruxelas.
O estudo “Dinheiro, polÃtica, poder: os riscos da corrupção na Europa” investigou mais de 300 instituições de 25 paÃses do continente e concluiu que “nenhum deles sai dessa revisão de integridade com uma ficha de saúde completamente limpa”.
Grécia, Espanha, Itália e Portugal lideram a lista dos que apresentam “sérias deficiências”, como falta de transparência, ineficácia e abusos de autoridade “enraizados” na administração pública, que carece de mecanismos e vontade polÃtica para prevenir e punir casos de corrupção, de acordo com o relatório.
Por trás da crise
Segundo a TI, cerca de 2% dos funcionários públicos gregos já foram submetidos a um procedimento disciplinar, porcentagem inferior ao número de denúncias de corrupção existentes no paÃs.
Em Portugal menos de 5% dos casos de corrupção levados à Justiça terminam com uma condenação.
“A relação entre a corrupção e a atual crise financeira e fiscal nesses paÃses (junto com Espanha e Itália) já não pode ser ignorada”, afirma o relatório, que ressalta que “não são apenas as tradicionais formas de corrupção, como o suborno, que estão relacionadas a um pobre desempenho macroeconômico”.
Os quatro paÃses que estão no centro da crise da zona do euro também sofrem com práticas consideradas legais mas não éticas, como tráfico de influência e uma relação muito estreita entre o poder público e o setor privado, derivada da falta de controle sobre os lobbies.
“Todos esses fatores resultaram em uma forma mais sutil de manipulação polÃtica que influencia a tomada de decisões para beneficiar a poucos em detrimento de muitos”, analisa a organização.
PaÃses ricos
O relatório também chama a atenção para problemas de corrupção nos paÃses considerados ricos, como SuÃça e Suécia, onde não há regras sobre o financiamento de partidos polÃticos e é possÃvel realizar doações anônimas.
“Grandes doações privadas representam um risco para a democracia, particularmente quando envolvem companhias com grandes somas de dinheiro desenvolvendo uma estreita relação com partidos polÃticos e, portanto, ganhando significativa influência sobre as polÃticas de um paÃs”, adverte.
A França falha ao não tornar públicas as declarações de renda de deputados, o que a TI considera “altamente problemático, já que significa que (esses documentos) não têm realmente valor como mecanismo de transparência pública”.
Já a Alemanha é, junto com a República Tcheca, o único paÃs da União Europeia que não ratificou a convenção da ONU contra a corrupção, e seu sistema de financiamento de partidos polÃticos “está longe de ser exemplar”, destaca o estudo.
“Muitos na Europa estimam que a corrupção existe apenas em outros paÃses, particularmente naqueles em desenvolvimento. Essa complacência é mal informada (…) e significa que a prevenção da corrupção não é uma prioridade polÃtica em muitos paÃses da região”, adverte.
Para a TI, a crise “deveria servir como um alerta para que os paÃses europeus reformem seus sistemas polÃticos de maneira que a corrupção e a má administração possam ser seriamente tratadas”.