“A vida cristã não deve ser vivida sempre na dimensão cambaleante dos primeiros passos, na energia limitada do leite para recém-nascidos. É preciso crescer, amadurecer, firmar-se nas palavras daquele que nos chamou”.
A frase acima dificilmente encontraria oposição. Todo cristão concorda que é preciso crescer! Nosso mal estar começa quando nos negamos a perceber os meios pelos quais Deus nos quer levar ao crescimento. Aà começa a chiadeira geral…
Bem, dizemos, se for desse jeito, não quero crescer (como se tivéssemos alternativa!). Sabemos muito bem que crescer implica em dor, em negações, cortes, assumir ônus de decisões, enfim, viver em conformidade com a Palavra que já conhecemos… Cientes disso muitos se contentam em ser somente iniciantes na fé…
Mas não é este o plano de Deus.
Claro que todos nós temos obrigatoriamente que passar pelos estágios iniciais da fé, quando aprendemos a orar, disciplinando nossa vida na leitura da Palavra, perdoando quem nos ofende, confessando nossos pecados… Não há como fugir deste aprendizado inicial. Vale dizer que para muitos, até mesmo estas lições iniciais são absurdamente difÃceis!
O problema é que ao nos negarmos a crescer, automaticamente nos acomodamos à infantilidade, à mediocridade. Nela nos tornamos vulneráveis, fracos, raquÃticos espirituais, sendo levados como ondas ao vento, como folhas secas num vendaval. Uma fé vacilante, frágil, inconstante.
Não é isso que Deus quer para você.
O alvo do Pai é que sejamos como Jesus: maduros, santos, completos, perfeitos em amor como Ele foi.
Os sinais da nossa imaturidade são bem conhecidos: murmuração, inconstância, ingratidão, humor dependente das circunstâncias, incapacidade de servir, de doar-se, de ouvir o outro; egoÃsmo, amargura, falta de espÃrito perdoador; incontrolável desejo de poder, de controle, de falar mal dos outros, etc.
No fundo no fundo sabemos que ficar assim, cambaleando, engatinhando na fé, não é saudável, não nos faz bem. Manter as aparências, enganando os outros e a nós mesmos, tampouco nos realiza ou nos dá paz.
Resta-nos então encarar, nas palavras de Jesus, a mais difÃcil, porém, necessária porta estreita e tomar o caminho apertado da fé.
É fé é caminhar resolutamente em obediência à Palavra revelada, independentemente das circunstâncias, com todas as nossas forças. “Sejam santos como eu sou santoâ€, disse o Senhor ao povo de Israel. Pedro fala a mesma coisa aos irmãos que estavam debaixo de uma severa perseguição! Jesus foi extremamente claro ao advertir que, todos aqueles que quisessem segui-lo teriam um alto preço a pagar. O Evangelho bÃblico, então, está longe de ser água com açúcar para pessoas bem intencionadas.
O padrão de Deus para nós é altÃssimo e envolve integridade, amor e serviço altruÃsta.
Jeremias foi um profeta que viveu dias difÃceis e complexos como os nossos. O povo de Deus estava longe dEle, numa confiança ingênua, equivocada, de que Deus sempre iria abençoá-los, independente de suas ações. Eles se viam como “povo da aliançaâ€, e de fato o eram. A questão é que a aliança de Deus para com eles implicava (e ainda implica hoje para nós) santidade, integridade, amor. Jeremias foi chamado por Deus para alertar o povo e exortá-lo a uma vida Ãntegra, madura.
O povo não gostou de ser exortado. Perseguiu o profeta, que perplexo, buscava a face de Deus tentando entender por que teria que sofrer se estava fazendo a vontade do Senhor… Ao ver a angústia de seu profeta, Deus adverte-lhe: “Se você correu com homens e eles o cansaram, como poderá competir com os cavalosâ€? (Jr 12.5) Em outras palavras: “se as lutas enfrentadas até aqui lhe fez tremer, o que dizer daquilo que lhe aguarda? Há muito ainda que lutar, que crescer, que vencer. Eu estou longe de considerar terminado o meu agir em tua vidaâ€!
Jeremias cresceu. Tornou-se um referencial de fé. Como uma coluna de ferro, ou uma porta de bronze, ou uma cidade fortificada.
O processo, contudo, não foi indolor. Deus não o poupou de dores, de sofrimento, angústias profundas. Ele foi ridicularizado, perseguido e humilhado, chegando a ser extraditado para o Egito por causa do pecado do povo.
Sofrer nunca é fácil. Mas sofrer injustamente nos rasga a alma, nos drena toda esperança.
O processo de crescimento de Deus não mudou. Suas aulas ainda incluem fracassos, traições, gravidezes indesejadas, falências, divórcios, enfermidades, etc, etc, etc…
No auge de seu sofrimento Jeremias nos indica o caminho da saúde e do crescimento espiritual. Ela pode ser entendida como uma receita para o crescimento espiritual, especialmente recomendada para pessoas em situações de crise: É preciso trazer à memória aquilo que pode nos dar esperança (Lm 3.21).
É preciso recordar, sim. na verdade, é inevitável que o passado não nos venha à mente. Mas para o profeta, recordar é um exercÃcio de fé, não de dor. Ao olharmos para o nosso passado, não somos convidados a tentar identificar causas e culpados; Tampouco somos chamados a lembrarmo-nos de nossos pecados, de nossas quedas, daquilo que já está perdoado pelo Senhor Jesus.
Não! Deliberadamente, Jeremias nos convida a lembrar daquilo que pode nos dar esperança!
Antes de mais nada é preciso identificar a graça de Deus. É preciso reconhecer e até mesmo perscrutar nossos caminhos apercebendo-se da bondade e misericórdia de Deus, que diariamente se renovou, sustenta-nos, garantindo que nossas orações fossem ouvidas, filtradas e respondidas em amor, e não conforme nossa retidão. Grande é a misericórdia do Senhor para conosco. Seu amor não tem fim!
Assim, renovada tua fé e fortalecida tua esperança, com tua cabeça erguida e teus olhos voltados para o céu, ouça o teu Grande Deus te dizer novamente: “Eu bem sei os planos que tenho para você! Planos de paz, não de mal, para lhe dar um futuro e uma esperança†(Jr 29.5).
Parafraseando o Salmista: “O choro (do aprendizado) pode durar uma noite, mas a alegria (da maturidade) vem pela manhã”.
Cresça!