Economia e baixa natalidade diminuem migração interna no Brasil

Os brasileiros vêm se deslocando menos internamente nos últimos 15 anos e os grandes movimentos migratórios do Nordeste para o Sudeste chegaram ao fim, de acordo com o relatório Deslocamentos Populacionais do Brasil, divulgado nesta sexta feira pelo IBGE.

[BBC Brasil, 15 jul 11] Para uma das condutoras da pesquisa, a economia e a baixa natalidade explicam a tendência.

Em 15 das 27 unidades da federação (Estados e o DF) a entrada e a saída de migrantes praticamente se equilibrou entre 2004 e 2009. Nenhum Estado foi classificado como “de forte evasão” nem de “forte absorção migratória”.

Segundo a pesquisadora Leda Ervatti, uma das autoras do estudo, que reúne dados do Censo e do Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) desde 1994, o fim dos grandes excedentes populacionais e a desconcentração dos polos econômicos ajudam a explicar a tendência.

“Nas décadas de 60 e 70, os grandes fluxos incluíam populações rurais migrando para as cidades, com grandes contingentes se deslocando do Nordeste para o Sudeste. Isso também ocorria porque existia um grande excedente populacional, com altas taxas de natalidade e a mortalidade já baixando naquela época”, diz. Segundo dados do IBGE, em 1960 a brasileira tinha em média 6,3 filhos, índice que caiu para 2,3, em 2000.

A maior uniformidade no desenvolvimento econômico, hoje não apenas concentrados no Sudeste, também explica o equilíbrio populacional na maioria dos Estados, com poucas exceções. Segundo a pesquisadora, a demografia e a economia tiveram papel complementar neste processo. Dados do IBGE mostram que entre 1995 e 2007, a participação do Sudeste no PIB nacional caiu de 59,1% para 56,4%, enquanto a do Nordeste aumentou de 12% para 13,1%.

Novos atrativos

O estudo também indica que metrópoles como São Paulo e Rio de Janeiro não têm mais exclusividade na atração dos migrantes, que agora buscam cidades de economia dinâmica, nos arredores das capitais.

É o caso de Sorocaba, destino da cearense Natália Mendonça, de 23 anos. Nascida em Fortaleza, ela se mudou há três anos para a cidade paulista de 586 mil habitantes, para se juntar aos tios, que haviam deixado o Estado natal havia 25 anos.

“Eu completei o ensino médio e vim passar férias. Como aqui tem mais oportunidades, resolvi ficar”, conta Natália, que trabalha como auxiliar administrativa e aguarda o resultado de uma bolsa para cursar publicidade em uma universidade local.

O caso de Natália, no entanto, é muito diferente do dos tios com quem vive hoje. Seus parentes deixaram o Ceará há 25 anos, quando o contingente de nordestinos que se dirigiam para o Sudeste ainda era intenso.

Em números absolutos, o Sudeste ainda continua a ser a região que mais absorve brasileiros que decidem mudar de Estado. O Nordeste também é a região que mais expulsa seus habitantes.

Nos nos dois casos, no entanto, os números são menores que no passado. E nas duas regiões, o fluxo de entrada e saída de pessoas também atingiu o equilíbrio, a chamada “rotatividade migratória”. Entre 2004 e 2009, 656,3 mil pessoas chegaram ao Sudeste e 668,8 mil saíram.

Ou seja, os brasileiros ainda estão se movendo, mas já não deixam a terra natal esvaziada nem encontram o novo destino abarrotado de novos habitantes.

Tendência

Tradicionalmente um Estado de absorção de migrantes, São Paulo viu o seu fluxo migratório (a diferença entre os que chegam e os que saem) entrar em equilíbrio.

Mas há ainda regiões que “expulsam” suas populações, embora num volume muitíssimo menor que antes. Alagoas é o único Estado classificado como área de “média evasão migratória”. Entre os de baixa evasão estão a Bahia, o Maranhão, o Piauí, o Pará e o Tocantins, nos dados de 2009.

No outro lado da estatística, recebendo gente, estão Espírito Santo e Goiás, os dois únicos Estados classificados como área de média absorção, além de Santa Catarina, Rio Grande do Norte, Amapá e Amazonas, considerados de baixa absorção.

Leila ressalta, no entanto, que os números de 2009 aprofundam uma tendência que começa a se observar ainda na década de 1980 e ganharam força nos últimos 15 anos.

Curta distância

Segundo a pesquisadora do IBGE, “enquanto diminui os deslocamentos de grande distância, há indícios de que aumenta a migração de curta distância”, entre municípios de um mesmo Estado e cidades da mesma região.

Os dados também mostram o aumento na chamada migração pendular – ou seja, de pessoas que estudam ou trabalham em outra cidade.

Chama a atenção ainda, em vários Estados, o percentual de “retornados” no contingente de migrantes que se estabelecem no local.

O Rio Grande do Sul é o que relativamente mais recebeu os antigos moradores de volta, ou 23,98% dos 90,6 mil habitantes que se estabeleceram no Estado entre 2004 e 2009. Na sequência vêm Pernambuco, Paraná, Minas Gerais, Rio Grande do Norte e Paraíba.

A pesquisadora do IBGE lembra, no entanto, que “este percentual já foi maior”. De forma geral, diz Leila, “os dados apontam para uma situação de equilíbrio”, tendência que deve se sedimentar nos próximos anos.

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