[Texto de Cleide Carvalho, O Globo, 16 dez 2010]
Um levantamento realizado pelo Instituto Sou da Paz mostra que dois a cada três assassinatos ocorridos na capital paulista são cometidos com arma de fogo e 36% deles ocorrem por motivos fúteis (25%) ou são crimes passionais ou por ciúmes (11%). Vinganças e desavenças são a causa de 40% das mortes. Drogas, dÃvidas e assaltos motivam menos de 2 em cada 10 homicÃdios no municÃpio. Os dados fazem parte de uma coleta de informações destinada a implantar na cidade um Plano de Controle de Armas, em parceria com o Poder Público e feito com apoio do Gabinete de Gestão Integrada da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo.
Entre 2002 e 2009, segundo o levantamento, pelo menos 75 mil armas saÃram de circulação na cidade. Em 10 anos, entre 1999 e 2009, a taxa de homicÃdios na capirtal caiu 80%, passando de 52,58 mortes por 100 mil habitantes para 11,5 em 2009. A queda, porém, ocorre de forma desigual na cidade. Os homicÃdios são concentrados em bairros mais pobres da periferia. De acordo com o Instituto, enquanto o Jardim São LuÃs, na Zona Sul, tem uma taxa de 19,63 assassinatos por 100 mil habitantes, Moema, bairro nobre da Zona Sul, registra taxa de 1,4.
As vÃtimas são os jovens, com idade entre 18 e 30 anos. Os homens nesta faixa etária são os que mais morrem e os que mais matam. Entre as vÃtimas, 70% não têm antecedentes criminais, têm baixa escolaridade e não são classificados como usuários de drogas. Entre os que matam, quase a metade (49%) não tem antecedentes criminais.
De acordo com o Instituto Sou da Paz, um estudo do pesquisador Daniel Cerqueira, do IPEA, aponta que a cada 18 armas apreendidas pela polÃcia uma vida é salva.
Os dados são difÃceis de comparar porque correspondem a perÃodos diferentes, mas mostram um retrato do que ocorre com as armas na capital paulista. Entre outubro do ano passado e dezembro deste ano 1.641 armas foram entregues à polÃcia na cidade e 6.476 foram apreendidas. Em 2009, 1.596 passaram para as mãos de criminosos por terem sido roubadas, furtadas ou desviadas.
De acordo com o levatmaneto, a maioria das armas apreendidas pela polÃcia em todo o estado de São Paulo é de fabricação nacional, das marcas Taurus (54,9%) e Rossi (12,8%) e 79% são revólveres e pistolas. Em 65% dos casos, a apreensão ocorreu após um crime. De acordo com o Instituto, 28 armas vendem armas e munições na capital paulista.
A última pesquisa do Instituto de Ensino e Pesquisa (INSPER), de 2008, mostrou que apenas 2,3% da população da cidade afirma ter em casa uma arma de fogo. Entre os que possuem, 33,8% dizem que têm arma para proteção pessoal – em 2003, o percentual chegava a 42,3%. Em compensação, aumentou de 10% para 22,1% o percentual dos que disseram que ter arma para coleção. Para o Instituto Sou da Paz, uma das explicações pode ser o fato de ser menor a dificuldade para obter registro de arma como colecionador. A maioria da população, 83,9%, diz que não gostaria de ter arma de fogo mesmo que pudesse.
O Plano de Controle de Armas sugere e adota medidas de melhoria na gestão das armas, mais transparência e qualidade nas informações do Poder Público, uma vez que o Instituto teve dificuldade para coletar dados, reduzir estoques e garantir segurança dos arsenais, e fiscalizar categorias vulneráveis, como empresas de segurança, colecionadores etc. O Instituto diz que é preciso estimular as pessoas a não ter armas de fogo.