O escândalo de pedofilia que se espalhou pela Igreja Católica dos Estados Unidos e da Europa chega também ao continente africano, afirmou o arcebispo de Johannesburgo e chefe da Conferência Episcopal da Ãfrica Austral, Buti Tlhagale.
“Sei que a Igreja da Ãfrica sofre dos mesmos males”, Tlhagale, que disse ter recebido ao menos 40 queixas de abuso sexual de crianças cometidos por padres africanos desde 1996, a maioria casos ocorridos há muitos anos. Mais da metade das denúncias envolveu mulheres na adolescência.
“A imagem da Igreja católica está em ruÃnas (…) Como lÃderes da Igreja fomos incapazes de criticar o comportamento imoral dos membros de nossas respectivas comunidades. Estamos paralisados”, criticou Tlhagale, considerando que o escândalo enfraquece a habilidade da Igreja Católica de agir com autoridade moral na Ãfrica, onde muitas vezes é a única voz a desafiar ditaduras, corrupção e abuso de poder.
“Como lÃderes da Igreja, nos tornamos incapazes de criticar o comportamento corrupto e imoral dos membros de nossas respectivas comunidades”, disse ele. “Ficamos hesitantes para criticar a ganância e as más práticas das nossas autoridades civis”.
Segundo o arcebispo, a má conduta dos sacerdotes africanos não foi exposta pela mÃdia com a mesma “visibilidade” que no resto do mundo –uma referência à extensão do escândalo que atingiu, principalmente, Irlanda e Alemanha e que envolve o acobertamento das denúncias de vÃtimas de pedofilia até mesmo pelo papa, à época arcebispo de Munique e chefe da Congregação para a Doutrina da Fé.
“Muitos dos que consideram os sacerdotes como modelos se sentem traÃdos, envergonhados e decepcionados”, afirmou Tlhagale, ao reconhecer que esses escândalos foram mal administrados pelo clero.
A Conferência Episcopal Ãfrica Austral, que inclui Ãfrica do Sul, Botsuana e Suazilândia, estabeleceu em 1996 um protocolo que define o procedimento em caso de queixas de abuso sexual contra crianças cometidos por um membro do clero.
A Ãfrica é uma das regiões de mais rápido crescimento do número de católicos e ainda mais importante na medida em que o número de fiéis em paÃses desenvolvidos desaba. A população católica africana aumentou de cerca de 2 milhões em 1990 a cerca de 140 milhões em 2000.
O padre Chris Townsend, porta-voz da Conferência Episcopal, disse que alguns membros do clero chegaram a ser formalmente acusados e que medidas foram tomadas.
O celibato, contudo, é desaprovado em algumas sociedades tradicionais africanas e há vários relatos de padres com amantes e filhos em partes da Ãfrica.
A reputação da Igreja na Ãfrica está ainda longe de ser irrepreensÃvel –os padres foram acusados de ajudar o genocÃdio de Ruanda, e os ativistas contra Aids questionam sua oposição ferrenha ao uso de preservativo no continente mais afetado pela doença.
Fonte: Folha SP, 8 abr 2010