Embora ocupe o posto de sexta maior economia do mundo, Brasil apresenta Ãndices de educação, saúde e inovação muito aquém dos paÃses ricos da OCDE.
[Gazeta do Povo, Anderson Gonçalves, 8 jan 12] Mesmo tendo sido considerado no fim do ano passado a sexta economia mundial, o Brasil passaria vergonha se ingressasse na Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), apelidada de “clube dos paÃses ricosâ€. Enquanto a riqueza nacional tem crescido a olhos vistos, o mesmo não se pode dizer ao avaliar seus indicadores sociais. Quando se comparam os números brasileiros relacionados a saúde, educação e inovação com os de outras nações, o paÃs continua na rabeira, perdendo para vizinhos, como Chile e Argentina, ou nações do leste europeu, como Estônia e Eslováquia.
O Brasil já foi convidado para fazer parte da OCDE, organização que reúne 34 paÃses, a maioria deles com economia forte e qualidade de vida. No primeiro quesito os brasileiros estão em condição privilegiada, visto que no fim de 2011 uma empresa de consultoria britânica colocou o paÃs à frente do Reino Unido, que desceu para o sétimo lugar no ranking das maiores economias do mundo. Já no segundo item, ainda há muito o que avançar. Relatórios divulgados pela própria OCDE no ano passado indicam que em três áreas o paÃs mantém indicadores que em nada condizem com seu crescimento econômico.
Acesso à educação
Uma delas é a educação. De acordo com a OCDE, em 2009, só 41% dos brasileiros com idade entre 25 e 64 anos de idade haviam concluÃdo o ensino secundário, equivalente ao ensino médio. Na EsloÂÂváÂÂquia e na República Tcheca, paÃses europeus com uma economia mais fragilizada que a do Brasil, esse porcentual chega a 91%. Já os que terminaram o ensino superior representam apenas 11%. Na Rússia, mais da metade da população nessa faixa etária (54%) fez curso superior.
“Relegar a educação a segundo plano foi o maior erro coletivo do Brasilâ€, avalia Priscila Cruz, diretora-executiva do Movimento Todos pela Educação, que tem como objetivo ampliar o acesso à educação básica de qualidade. Na opinião dela, o Brasil tem até avançado em alguns aspectos ao longo dos últimos 20 anos, mas em ritmo lento. “Conseguimos colocar grande parte das crianças na educação básica, mas o abandono no ensino médio ainda é gigantesco. Temos 3,7 milhões de crianças e jovens em idade escolar fora da escola, o que equivale a toda a população do Uruguaiâ€, compara.
Investimentos
Para Luciano Nakabashi, professor do Departamento de EcoÂÂnomia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), o Brasil não tem investido suficientemente nessa área. “Temos mais pessoas estudando, mas a qualidade do ensino ainda é baixa. Investir nessa área é fundamental para que o paÃs tenha um crescimento elevado não apenas em sua economiaâ€, avalia. Os poucos investimentos para estruturação da educação básica e formação de professores são alguns dos pontos fracos apontados.
A escassez de investimentos na educação fica evidente quando confrontados alguns números da OCDE. Dentre 40 paÃses (os 34 da OCDE mais Brasil, Ãfrica do Sul, Ãndia, Indonésia, China e Rússia.), o Brasil é o segundo com o menor volume de gastos por estudante. Entre recursos públicos e privados, despendeu-se 2.416 dólares por aluno brasileiro em 2008. Na SuÃça, paÃs que aparece na primeira colocação, o valor gasto por estudante é de 14.977 dólares, ou seja, cinco vezes mais. “É necessário investir sobretudo na formação dos professoresâ€, entende Fernanda Simões da Silva, diretora de polÃticas e projetos educacionais da Secretaria Estadual de Educação do Paraná.
Pouca inovação e pesquisadores em falta
Se no campo social o Brasil ainda faz feio diante dos membros da OCDE, na área de inovação tecnológica o paÃs não tem um desempenho muito superior. O relatório da organização sobre esse segmento revela a mesma discrepância verificada nas áreas de saúde e educação. O número de patentes, marcas registradas (trademarks) e doutores em atividade são Ãnfimos perto do que dispõem outras nações desenvolvidas.
Exemplo gritante é a quantidade de patentes (direitos exclusivos sobre uma invenção) e marcas registradas conferidas no paÃs. Levantamento de 2009 indicou a existência de uma marca registrada per capita no Brasil, enquanto a média de patentes ficou em zero. Na SuÃça esse número foi de 221 marcas e 115 patentes. Até mesmo a Ãfrica do Sul obteve um desempenho superior, com três marcas e uma patente registradas por pessoa.
Ousadia
O presidente da Associação Nacional de Pesquisa e DesenvolÂÂvimento das Empresas InovadoÂÂras (Anpei), Carlos Eduardo CalÂÂmanovici, reconhece que os avanços ainda são pequenos quando comparados ao potencial econômico do Brasil. “InÂÂvestir em inovação representa um risco, tanto tecnológico quanto comercial. Por isso, algumas empresas ainda não reconhecem o seu valor. O paÃs precisa de investimentos e polÃticas públicas mais ousadas, que sirvam de estÃmulo à inovação. Hoje vivemos um momento bom, com uma economia forte, que nos dá suporte para issoâ€, avalia.
Uma das explicações para a baixa produção cientÃfica está na quantidade igualmente reduzida de pessoas com doutorado no paÃs. De acordo com a OCDE, o Brasil tinha em 2009 0,6% de doutores na faixa etária compatÃvel com esses estudos. O relatório não especifica qual é essa faixa etária, mas nas universidades brasileiras a formação de doutores é completada geralmente depois dos 30 anos. Na SuÃça o porcentual era de 3,4%.
Calmanovici concorda que a deficiência de mão de obra é um dos fatores que mais pesam nos baixos Ãndices de inovação. “A inovação exige um profissional altamente qualificado. É preciso não apenas competência técnica, mas que seja um pesquisador entendedor, com sentido e noção do mercado. Apesar da qualidade das nossas universidades, ainda existe dificuldade para formar esse profissionalâ€, diz.
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OCDE
Conheça a origem, o significado e a importância dessa sigla
O que é
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) é um organismo internacional que reúne 34 paÃses, quase todos considerados desenvolvidos, com economia de alta renda e elevado Ãndice de Desenvolvimento Humano (IDH).
Origem
Sua origem data de 1948, como Organização para a Cooperação Econômica (OECE), com o objetivo de ajudar na reconstrução da Europa após a Segunda Guerra Mundial. Em 1961 foi reformulada e transformada na OCDE.
Objetivos
Entre seus objetivos estão apoiar o crescimento econômico, manter a estabilidade financeira e elevar o padrão de vida. A organização troca informações com outros 100 paÃses, entre eles o Brasil, que já recebeu convite para integrar a OCDE, mas recusou.
Membros
Alemanha, Austrália, Ãustria, Bélgica, Canadá, Chile, Coreia do Sul, Dinamarca, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Estados Unidos, Estônia, Finlândia, França, Grécia, Holanda, Hungria, Irlanda, Islândia, Israel, Itália, Japão, Luxemburgo, México, Noruega, Nova Zelândia, Polônia, Portugal, Reino Unido, República Tcheca, Suécia, SuÃça e Turquia.
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Precariedade
Saúde é pior que na Europa de 1970
Não é preciso ser um observador mais crÃtico para notar o abismo que separa o Brasil de outros paÃses desenvolvidos na área de saúde. A desestruturação do sistema público, com suporte fÃsico precário, filas e déficit de profissionais evidencia as carências de um setor fundamental para a qualidade de vida da população.
Em 2009, a mortalidade infantil no Brasil era de 22,5 para cada mil nascidos vivos, mesmo Ãndice contabilizado pela Alemanha em 1970. Hoje os alemães têm um coeficiente de 3,5, e ainda assim não chegam a figurar entre as cinco primeiras colocações. A Islândia, primeira do ranking, contabiliza um Ãndice de 1,8 para cada mil nascidos vivos. Já a expectativa de vida ao nascer dos brasileiros é de 72,6 anos, a 36ª entre 40 paÃses. No Japão, que ocupa a primeira colocação do ranking, a esperança de vida é de 83 anos.
O diretor de Estudos e PolÃticas Sociais do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Jorge Abrahão, considera que a dificuldade em aliar o crescimento de sua economia à melhoria dos indicadores sociais está relacionada à história do paÃs. “Os paÃses desenvolvidos têm feito um trabalho de construção social há mais de um século. No Brasil, foi apenas a partir da Constituição de 1988 que se colocou a importância de universalizar a saúde e a educaçãoâ€, afirma.
Para Abrahão, o Brasil está pagando o preço pelo déficit do passado. “O sistema público de saúde vem se estruturando, mas tem problemas. É muita demanda para poucos serviços. Quem pode recorre ao setor privado, mas são poucosâ€, observa.