Quase 1 bilhão de viajantes cruzaram fronteiras internacionais em 2010: o crescimento do turismo chama a atenção para o balanço ambiental de um setor cada vez mais importante para a economia mundial.
[DW, 29 set 11] “Viajar apura o espÃrito e acaba com os nossos preconceitos”, constatou o escritor irlandês Oscar Wilde já no século 19. Para a Organização Mundial do Turismo (OMT), ligada à s Nações Unidas, “viajar é um ato democrático, todo ser humano tem o direito de se locomover livremente. Trata-se de um direito humano e não de um luxo”.
Apesar de todas as crises – como a recente agitação polÃtica no mundo árabe ou catástrofes naturais –, o turismo vem crescendo constantemente. O setor já é responsável por 5% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial. Um em cada 12 postos de trabalho no mundo depende do turismo, e 6% de todas as exportações e serviços são gerados pela indústria turÃstica.
Em 2010, 940 milhões de viajantes cruzaram fronteiras internacionais. Em 2020, serão 1,6 bilhão, segundo as previsões da OMT. Porém, o crescimento aparentemente ilimitado coloca novos desafios para operadores turÃsticos, polÃticos e até mesmo para os próprios viajantes. Taleb Rifai, secretário-geral da OMT, incentiva um incremento do turismo, mas de maneira responsável e sustentável.
Impacto ambiental
Em tempos de aquecimento global, a briga por limites de emissão de CO2 e a crescente devastação e desertificação de amplas áreas levanta questões sobre o equilÃbrio ecológico do setor turÃstico. Quase nenhum destino pode ser atingido hoje sem a emissão de dióxido de carbono. Os hotéis consomem quantidades enormes de água e energia. Campos de golfe disputam recursos hÃdricos escassos com a agricultura. E esses são apenas alguns exemplos.
Por isso, a OMT apela à consciência e responsabilidade dos operadores turÃsticos e polÃticos para limitar os impactos negativos do setor. “Devemos assegurar que o turismo não prejudique o meio ambiente, a sociedade, a cultura e a economia, mas cresça de forma sustentável. Um meio ambiente preservado e o patrimônio cultural são a base do turismo, que deve ser preservada e perpetuada”, afirma Rifai.
O órgão das Nações Unidas incentiva a adoção de um código de ética global para o turismo, com o objetivo de fortalecer os efeitos econômicos, sociais e culturais positivos e minimizar as consequências negativas para o meio ambiente e a sociedade.
Esse conceito de sustentabilidade no setor turÃstico foi adotado pelo Instituto Internacional para a Paz através do Turismo (IIPT) – com sede nos EUA – durante a Conferência Global de Turismo em Vancouver em 1998, quatro anos antes da Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável da ONU (Rio+10), em Johanesburgo, Ãfrica do Sul.
Quase dez anos depois, o presidente do IIPT, Louis D’Amore, considera que os turistas de hoje são mais conscientes e educados ecologicamente, culturalmente e socialmente. “Turistas buscam hoje vida real quando viajam. Eles querem conhecer os habitantes dos locais para onde viajam, querem aprender algo sobre sua cultura e sua história”, diz.
D’Amore vê sua posição confirmada pelas tendências atuais: o setor turÃstico que mais cresce é o de viagens culturais, assim como o chamado turismo voluntário. “Um em cada cinco viajantes internacionais tem hoje menos de 25 anos. Esses jovens viajam pelo mundo e querem encontrar outros jovens. Essa geração é nossa esperança para o futuro. Estamos vivenciando o surgimento de uma geração de cidadãos do mundo.”
Para Rifai, da OMT, esses cidadãos do mundo são verdadeiros embaixadores culturais. “Transformação cultural caminha de mãos dadas com o turismo. Esperamos que essa transformação contribua para um mundo mais tolerante, um mundo em que reine o respeito pelas particularidades e caracterÃsticas dos povos. Em nosso código de ética global, exigimos o respeito pelos valores dos paÃses e culturas visitados pelos turistas – e não o contrário!”, afirma.
Crescimento acelerado
Apesar das catástrofes naturais e das crises polÃticas, o setor turÃstico cresce em ritmo acelerado graças à sua flexibilidade. Mas a alegria de uns é a tristeza de outros: quando um destino turÃstico sai do mapa, os fluxos de turistas são desviados para outro lugar.
Assim, nesta temporada, hoteleiros da TunÃsia e do Egito esperaram em vão por europeus em busca de sol. Desconfiados por conta das insurgências no Norte da Ãfrica, os turistas optaram pelas praias da Espanha, da Itália ou do Caribe. Mas a primavera árabe não significa o fim do turismo para os paÃses da revolução.
“A abertura democrática e a transparência promoverão um melhor clima de negócios, que impulsionará o desenvolvimento do turismo”, diz Rifai, em tom otimista, citando tendências semelhantes.
“A Espanha é hoje um dos principais destinos turÃsticos do mundo. A maior parte da infraestrutura do paÃs, assim como muitos hotéis, vem da época da ditadura de Franco. Mas somente o regime democrático permitiu que fosse colocada em prática a criatividade de pequenos e médios empresários. Estamos convencidos de que o Egito e a TunÃsia experimentarão algo semelhante”, diz.
Turismo como motor de desenvolvimento e indústria da paz – uma visão ambiciosa, mas que não deve permitir que se ignorem os lados sombrios da degradação ambiental, dos conflitos sobre o acesso à água, da prostituição, entre outros. A importância econômica da indústria do turismo faz dela um instrumento a mais para alcançar os objetivos de desenvolvimento do milênio.
“O turismo faz parte da agenda de desenvolvimento das Nações Unidas: ele contribui para a luta contra a fome, para o fortalecimento da posição de jovens mulheres na sociedade e no mercado de trabalho, bem como para uma maior consciência ambiental”, afirma Rifai.
Autora: Mirjam Gehrke (lpf)
Revisão: Roselaine Wandscheer