Pela primeira vez em que se tem notÃcia, o número de americanos não casados está prestes a superar o número de casados, segundo pesquisas recentes. Será que se trata de um divisor de águas?
[Brian Wheeler, BBC Brasil, 10 jan 12] À primeira vista, parece que, assim como em muitos paÃses ocidentais, a instituição matrimonial está em declÃnio nos EUA.
Em 1960, 72% de todos os adultos americanos eram casados; em 2010, apenas 51% deles eram casados, de acordo com uma pesquisa do Centro Pew.
“Acho que estamos vendo o matrimônio se tornar menos central no curso de nossa vida e (na forma como) moldamos nossas crianças”, observa Bradford Wilcox, diretor de um programa de estudos do casamento e professor de sociologia na Universidade da VirgÃnia.
Americanos certamente estão esperando mais para se casar – a média de idade para o primeiro casamento está em seu nÃvel mais alto historicamente, em 26,5 anos para mulheres e 28,7 para homens – ou escolhendo apenas conviver, viver sós ou não se casar após um divórcio.
A colunista de comportamento Amy Dickinson, do jornal Chicago Tribune, acredita que a agilização legal de divórcios consensuais e leis mais rÃgidas de pensão alimentÃcia são duas das razões por trás da perda de popularidade do casamento nos Estados Unidos.
“Você não precisa mais estar casado com alguém para obter apoio financeiro, e acho que isso tem um grande impacto em casais com filhos e que, vinte anos atrás, precisavam se casar para estabelecer legitimidade e só então ter estabilidade financeira.”
Em algumas comunidades, pais solteiros se tornaram norma e não mais exceção, diz ela, alegando que americanos ficaram mais confortáveis com a ideia de lares “não tradicionais”.
Resistindo à pressão
O paÃs também tem a maior taxa de divórcios do mundo – algo que, sem dúvida, abala a confiança de muitos jovens na instituição matrimonial.
A americana Rhyan Romaine e seu parceiro, Seth, estão juntos há seis anos, mas resistem à pressão de amigos e parentes para que se casem.
“Seth vem de uma famÃlia de divorciados, e vejo como isso afetou sua vida”, afirma Rhyan. “Ele diz que sequer pensará em casamento até que estejamos juntos há dez anos. Eu disse que, enquanto estivermos felizes, ficaremos juntos.”
“Acho que também tenho esse medo, ainda que meus pais permaneçam casados”, continua ela. “(O casamento) é assustador, tendo visto tantos amigos que se casaram logo depois da escola e que agora, com 30 e poucos anos, estão de volta à paquera.”
Mas Rhyan acredita que ainda há “muita pressão” sobre jovens mulheres para que se casem nos EUA, paÃs em que o casamento idealizado e de conto de fadas continua sendo difundido pelas comédias românticas de Hollywood e por reality shows.
‘Casamento é uma boa ideia’
Em contrapartida, segundo dados do Centro Pew, o casamento ainda mantém sua popularidade entre grupos mais educados.
A pesquisa do instituto aponta que quase dois terços (64%) dos adultos americanos com diploma universitário são casados, comparados com apenas 47% dos adultos que têm apenas diploma colegial. Trata-se de um forte contraste com 1960, quando os grupos mais e menos educados tinham taxas semelhantes de casados.
Para americanos diplomados, casamento tradicional ainda é algo bem visto
“Houve uma percepção, entre americanos diplomados, de que o casamento é uma boa ideia, mesmo que você não goste de falar isso em público”, argumenta Bradford Wilcox.
“Em temas como aborto ou assuntos de interesse global, os americanos com educação superior em geral são mais progressistas. Mas, quando o assunto é a sua própria vida e a de sua famÃlia, nossa percepção é de que eles pensam em casamento e são mais convencionais quanto à vida familiar.”
Wilcox, que pesquisou o impacto da recessão econômica sobre as uniões nos EUA, preocupa-se com o fato de o casamento estar “murchando” entre os grupos com renda média e baixa, algo que pode ter um efeito desastroso na economia e na sociedade americanas.
“Acho que estamos indo em direção a um modelo latino clássico, em que os mais poderosos e privilegiados têm famÃlias fortes e estáveis, com acesso a uma boa renda e ativos. E quem não está (nessa camada social) fica pior e pior (a cada dia).”
Casamento e prosperidade
A famÃlia tradicional e nuclear ainda é tida como um ideal na polÃtica e na sociedade dos EUA, certamente mais do que em outras democracias ocidentais. Para Wilcox, a instituição matrimonial tem sido chave para a prosperidade do paÃs nos últimos anos.
O pesquisador acredita que o declÃnio do casamento está relacionando à brusca queda do poder aquisitivo e das possibilidades de emprego para americanos não diplomados, que não têm recursos suficientes para se casar. Com isso, deixam seus filhos “duplamente em desvantagem”: sem estabilidade familiar ou financeira.
Mas talvez ainda seja prematuro escrever o obituário do casamento nos EUA.
O declÃnio de 5% no número de novos casamentos no paÃs entre 2009 e 2010, revelado pelo Centro Pew, pode estar relacionado apenas a fatores econômicos de curto prazo.
Considerando que uma festa de casamento comum custa em torno de US$ 20 mil, muitos casais têm optado por um noivado mais longo, que lhes permita economizar mais dinheiro, aponta Kyle Brown, da Associação de Noivas Americanas, órgão que representa um mercado multibilionário.
Mas, acrescenta Brown, integrantes de sua associação notaram um crescimento na demanda por planejamento de casamentos nos últimos três meses. “Acredito que veremos um aumento no número de festas entre 2012 e 2013”, aposta ele. “É puramente uma questão econômica.”
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Depoimento: Alisa Kraut, casada e feliz
“Estávamos juntos havia um tempo e querÃamos celebrar isso. QuerÃamos muito estar juntos para sempre e investir nisso, com todas as dificuldades que são parte (do casamento).
Somos um casal moderno. Temos opiniões progressistas em diversos assuntos. Realmente não tenho certeza se os seres humanos estão predestinados a ficar com a mesma pessoa para o resto de suas vidas.
Meu compromisso com Chris é tentar trabalhar o mais duro possÃvel para fazer (o casamento) dar certo porque ambos podemos ganhar com isso.”
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Depoimento: Jessica Bennett, não casada e feliz
“As mulheres não necessariamente necessitam de um marido para chegar ao fim do mês ou para criar seus filhos. Podem fazer muitas dessas coisas sozinhas.
Nossa definição sobre o que esperamos de um marido mudou. Em certo perÃodo, (bastava ter) um cara razoavelmente legal que te sustentasse.
Atualmente, temos essa visão glorificada da alma gêmea. Isso requer um parceiro para a vida toda, um melhor amigo, um amante, tudo em uma pessoa só.
Somos cÃnicos, mas temos essa visão idealizada de como o casamento deve ser, e isso é praticamente impossÃvel de obter. Nada é perfeito.”