Katukinas relatam presença de isolados no rio Biá

Fonte: Roberto Almeida, Estadão

CARAUARI (AM) – Após colher relatos consistentes de índios katukinas da Terra Indígena Rio Biá, no sudoeste do Amazonas, a expedição da Frente Etnoambiental Vale do Javari, realizada pela Funai em parceria com o Centro de Trabalho Indigenista, decidiu realizar uma nova entrada na selva a partir desta terça-feira (19). Os katukinas afirmam que tiveram contato com um grupo isolado desconhecido, descreveram sua fisionomia e o local onde caçam.

O objetivo da expedição, comandada pelo indigenista Rieli Franciscato, é catalogar os vestígios deixados na mata pelo suposto grupo isolado para embasar uma possível demarcação de terras. De acordo com os relatos dos katukinas, o contato visual e verbal com os isolados foi feito a sudeste dos limites da Terra Indígena Rio Biá.

A área do contato, entre os rios Jutaí e Juruá, é transitada por não-índios. Está localizada a 150 quilômetros da cidade de Carauari e próxima a pelo menos uma pista de pouso clandestina, possivelmente utilizada por traficantes de drogas.

Para delimitar o percurso que será expedicionado, a Frente Etnoambiental percorreu três aldeias katukinas – Boca do Biá, Janela e Bacuri – em um período de três dias para colher depoimentos. A informação inicial, um boato que percorria comunidades ribeirinhas, era de que um isolado teria raptado uma mulher da aldeia Janela, chamada Luana.

A história tinha contornos fantasiosos, já que katukinas afirmavam que o suposto rapto teria durado apenas um dia. O marido, cujo nome seria Mariano, teria ido buscar a mulher sozinho e desarmado, o que parecia inverossímil.

No entanto, o rapto foi confirmado por todos os índios com quem a equipe da Frente Etnoambiental conversou. A mulher raptada e o marido não foram localizados, mas novas histórias sobre os isolados começaram a surgir, bem delineadas e detalhadas.

Segundo o katukina Carnaval, que mora na aldeia Bacuri, a cerca de 40 quilômetros da cidade de Carauari, os isolados caçam em um igarapé próximo. Carnaval afirmou ter encontrado quebradas e varadouros, vestígios mais comuns de presença indígena, até fazer contato direto com o grupo desconhecido.

Nus, de baixa estatura, com cabelos longos e pintados com urucum, os isolados não teriam sido agressivos e tentaram fazer contato verbal. Eles possivelmente falam katukina. “Deu para entender tudinho”, afirmou Carnaval.

INCURSÃO

A incursão da Frente Etnoambiental será feita por voadeiras e deve ter duração de pelo menos 10 dias. O katukina Carnaval irá acompanhar todo o percurso para auxiliar na localização dos vestígios.

A expedição subirá um igarapé afluente do rio Biá até onde for possível para então montar o acampamento base e entrar na mata. O trajeto tem cerca de 50 quilômetros.

Os vestígios, segundo o índio, estão próximos da aldeia Bacuri. No entanto, as malocas e tapiris, ou acampamentos rudimentares dos isolados, estão igarapé acima.

Se houver mesmo a presença de isolados, a expedição pretende conhecer sua área de perambulação e catalogar vestígios para, em seguida, estudar a melhor maneira de protegê-los da ação do não-índio e até mesmo do contato com outros índios.

A maior preocupação é com a disseminação de doenças. Uma simples gripe poderia dizimá-los.

NÚMEROS

O trajeto em voadeiras terá 5 quilômetros

A caminhada prevista é de 50 quilômetros

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