Atribuem-se a João Teixeira de Faria, nome real de João de Deus, feitos como fazer cegos enxergarem, reduzir tumores e conseguir que paraplégicos voltem a andar.
[Alana Rizzo, Estadão, 11 mar 12] Uma de suas façanhas é inegável. Ele transformou a pequena Abadiânia, com 15 mil habitantes, em polo turÃstico internacional.
Semanalmente, milhares de pessoas dos mais diversos paÃses gastam pelo menos U$ 2 mil para chegar ao municÃpio, distante 117 km de BrasÃlia, em busca da cura espiritual. Seja por meio da água fluidificada, do remédio feito à base de passiflora ou pelas cirurgias visÃveis (com pinças gigantes, tesouras e facas de cozinha) e invisÃveis.
Desde que começou o tratamento tradicional, Lula e João de Deus se encontraram ao menos três vezes em São Paulo. Porém, ninguém fala abertamente sobre os vÃnculos entre os dois. “Lula é um bom filho. Um menino que começou lá de baixo, fez uma história e hoje você vê os brasileiros sorrindo”, elogia João de Deus, como se traçasse um paralelo com a própria trajetória.
Nascido no vilarejo de Cachoeira da Fumaça, em Goiás, João era o mais novo de seis filhos de uma famÃlia simples. Com a mediunidade, rodou o mundo e atendeu um incalculável número de pessoas. Essa lembrança é interrompida com mais uma pergunta sobre o paciente.
“Quem trata do Lula é o coração de todos os brasileiros, que estão orando por ele. Aquele homem se dedicou até na hora que a mãe dele estava no caixão ao povo brasileiro. Se desse o contrário, o Brasil e o mundo inteiro estavam em luto”, diz, prevendo o sucesso do tratamento do ex-presidente – sem especificar se o espiritual ou o tradicional.
Em um dos únicos cômodos refrigerados na Casa Dom Inácio de Loyola – onde João descansa entre os trabalhos da manhã e da tarde à s quartas, quintas e sextas – há uma foto autografada de Lula com a faixa presidencial, ao lado de dona Marisa.
O porta-retrato tem destaque ao lado das outras figuras polÃticas que ilustram a sala. Entre eles, Nelson Jobim, que foi ministro da Defesa, o senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB-GO). Todos pacientes? “Não tenho pacientes. Tenho amigos”, responde o médium.
PolÃtica
Em Abadiânia, não há uma eleição sem que o apoio de João de Deus seja disputadÃssimo. “Não sou um homem polÃtico. Meu voto é orar.” Ele ainda mostra tÃtulos, diplomas e certificados, que garante não lhe renderem qualquer vaidade.
Sobre a medicina, ele diz que tem o respeito dos colegas, inclusive dos médicos de Lula, e que os visitantes da casa são orientados a permanecer com o tratamento tradicional. “Os médicos têm uma missão de curar também e estudaram para isso.” Ponto. Prefere mudar de assunto.
O humor do médium muda tanto quanto as entidades que o incorporam. Alguns dizem sete, outros, 30. Falar sobre o paciente ilustre e sobre as crÃticas à s atividades da casa não lhe agrada, e ele segue respondendo sobre a certeza da missão. “Meu trabalho é dormir. Não curo ninguém. Quem cura é Deus,” diz, logo depois de comentar que não dormia há 36 horas.
Na última quinta-feira, João de Deus atendeu os mais variados casos. Mulheres com dificuldades de engravidar, tumores, dores crônicas, desempregados, viciados em drogas.
A triagem dos pacientes é feita pela manhã. Em minutos, ele prescreve o tratamento. As operações visÃveis não duraram mais que cinco minutos. Quem não pode se deslocar até Abadiânia manda fotos ou peças de roupa por intermediários. As curas de João, garantem os funcionários da casa, podem ser sentidas à distância.