Cerca de metade dos adolescentes que se recuperaram de uma grande depressão ficaram deprimidos novamente dentro de cinco anos, independente do tratamento ou terapia recebidos para superar a depressão inicial, de acordo com um novo estudo.
O estudo, publicado recentemente no “Archives of General Psychiatry”, também descobriu que as meninas tiveram maior tendência a ter outra grande depressão, o que surpreendeu os pesquisadores, pois, quando adultas, as mulheres não vêm sendo consideradas com maior probabilidade de recorrência do que os homens.
No estudo, quase 200 adolescentes, com idades entre 12 e 17 anos, receberam fluoxetina (Prozac) por 12 semanas, terapia comportamental cognitiva, ambos, ou um remédio de placebo (os que não receberam terapia cognitiva se encontravam com um psiquiatra para apoio básico). Os que tomaram placebo e não melhoraram após 12 semanas poderiam escolher qualquer um dos outros tratamentos.
Os pesquisadores já tinham descoberto anteriormente que os jovens que recebiam a combinação de tratamento Prozac mais terapia cognitiva se recuperavam mais rapidamente da primeira depressão. Assim, eles esperavam que esses adolescentes tivessem menor tendência a cair em depressão novamente.
Porém, isso não ocorreu. Após 36 semanas, a melhoria foi similar para todos, disseram os pesquisadores, e em dois anos a maioria dos jovens se recuperou completamente. No entanto, em cinco anos 47% dos adolescentes sofreram outra grande depressão, independente do tratamento que os tinha ajudado na recuperação da anterior.
“Parece que ainda não temos um tratamento que realmente previna a recorrência”, disse o principal autor do estudo, John Curry, professor de psiquiatria da Faculdade de Medicina da Duke University. “Não temos um indicador, enquanto a pessoa está em tratamento, do grau de proteção contra uma recorrência.”
Os pesquisadores também esperavam que os jovens que melhoraram e se recuperaram no perÃodo das 12 semanas teriam menos chance de recorrência no futuro. Mas isso não aconteceu, embora os adolescentes que não melhoraram nem um pouco após as 12 semanas tiveram maior tendência a sofrer outra depressão após a recuperação do que os que apresentaram pelo menos algum progresso nesse perÃodo. Os adolescentes que também sofriam de ansiedade tiveram maior tendência a entrar em depressão novamente.
“É um estudo muito importante”, disse Aradhana Bela Sood, diretora médica do Centro de Tratamento Infantil da VirgÃnia, que não esteve envolvida na pesquisa. “Quando aconselhamos as famÃlias, podemos dizer que há uma chance de 50% de que a depressão volte a ocorrer. Agora que sabemos que ser mulher e sofrer de ansiedade as predispõe, certamente isso me fará focar mais na população com esse perfil.”
Curry afirmou que, embora se saiba que as meninas estejam mais propensas a sofrer depressão inicial, não ficou claro por que 57% das garotas que se recuperaram entraram em depressão novamente, em comparação a 33% dos meninos. “Talvez isso tenha a ver com algo que ocorre nas meninas de certa idade, eventos estressantes na vida ou a forma como as pessoas lidam com o estresse”, ele disse.
Sood afirmou que isso pode estar relacionado a mudanças hormonais ou que “as mulheres tendem a se irritar mais, então o menor estresse é multiplicado”.
David Brent, professor de psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de Pittsburgh, que não esteve envolvido na pesquisa, se perguntou se mais meninas apresentaram “um tipo de depressão mais puro do que o observado em meninos”, ele disse. “Talvez mais garotos se metem em problemas e ficam tristes, mas quando o problema vai embora eles se sentem melhor.”
A maioria dos jovens que entrou novamente em depressão teve apenas um episódio em cinco anos, mas alguns tiveram dois ou três. A idade dos adolescentes não fez diferença.
Curry afirmou que uma limitação do estudo foi que os pesquisadores não observaram eventos especÃficos na vida dos jovens para ver se alguns encontraram mais estresse do que outros. Sua equipe planeja examinar se os que receberam tratamento com terapia ou medicamentos ao longo dos cinco anos tiveram maior ou menor tendência a sofrer outra depressão.
“Não sabemos se o distúrbio é recorrente porque é recorrente ou porque algo acontece ao jovem depois do primeiro episódio que o torna mais vulnerável a outra depressão”, disse Brent. O estudo “aponta a necessidade de algum tipo de cuidado posterior para prevenir a recorrência”, ele disse, “e salienta que o que estamos fazendo hoje não é o suficiente”.
Publicado na Folha SP, 9 nov 2010