[Daniela Fernandes, BBC Brasil, 22 set 11] Um detento de 23 anos se enforcou em sua cela na prisão da Santé, em Paris, utilizando o pijama de papel do chamado “kit antissuÃcidio”, distribuÃdo aos presos considerados psicologicamente frágeis e que correm risco de pôr fim à s suas vidas.
O caso, ocorrido na madrugada da última segunda-feira, ganhou repercussão na França porque é a segunda vez, no perÃodo de apenas cinco meses, que um preso se mata utilizando justamente material do kit antissuicÃdio.
Este inclui, além do pijama de papel, descartável após usado apenas uma vez, um colchão à prova de fogo e lençóis e cobertores com tecidos especiais que não podem ser rasgados.
Como no caso ocorrido nesta semana, um outro detento, também de 23 anos, havia se enforcado em abril passado em um presÃdio no Havre, no oeste da França, amarrando o pijama de papel nas grades de sua cela.
Esses kits de proteção fazem parte de uma série de medidas implantadas pelo governo em 2009 para combater o crescente número de suicÃdios nas prisões do paÃs.
A França possui uma das mais altas taxas de suicÃdio em presÃdios da Europa. Em 2009, foram 115 mortes, quase uma a cada três dias.
Segundo o Ministério da Justiça, mais de 1,1 mil kits antissuicÃdio foram distribuÃdos nos últimos dois anos.
Mas, apenas no primeiro semestre deste ano, 58 condenados se mataram nas prisões francesas. O número é ligeiramente inferior ao registrado no mesmo perÃodo de 2010, de 61 presos, de acordo com dados oficiais.
Eficácia
As mortes dos detentos que utilizavam o kit antissuicÃdio despertaram crÃticas sobre a eficácia do sistema.
“Todas as medidas preconizadas para que os detentos possam se sentir melhor na prisão, como o desenvolvimento de relações sociais e com a famÃlia, não são levadas em conta e por isso as estatÃsticas não mudam”, diz François Bès, responsável por questões de saúde do Observatório Internacional de Prisões.
“Não adianta apenas tentar obrigar as pessoas a não morrerem”, afirma.
“Esses kits não são eficazes e ainda por cima eles são utilizados para se suicidar. Eles não devem mais ser distribuÃdos”, diz a responsável do sindicato CGT dos agentes carcerários, Céline Verzelletti.
“Com cada vez menos funcionários e um número maior de presos, passamos nosso tempo a abrir e fechar portas e não temos tempo de analisar o comportamento dos detentos e passar informações para o pessoal da área médica”, afirma Pascal Rossignol, agente carcerário e secretário-geral de outro sindicato.
Autoridades do Ministério da Justiça ouvidas pela imprensa local disseram que os kits são úteis para reduzir o risco de suicÃdio, apesar de nem sempre conseguirem evitá-lo.