O mundo é ainda menor do que você imaginava.
[John Markoff & Somini Sengupta, NYT/FolhaSP, 22 nov 11] Acrescentando um novo capÃtulo à pesquisa que fez com que o termo “seis graus de separação” se tornasse corrente, cientistas do Facebook e da Universidade de Milão reportaram na segunda-feira (21) que o número de conhecidos que separam duas pessoas quaisquer no planeta não era de seis, mas de 4,74.
A constatação original quanto aos “seis graus”, publicada em 1967 pelo psicólogo Stanley Milgram, foi estabelecida por meio de um estudo entre 296 voluntários, convidados a enviar uma mensagem por cartão postal, retransmitida por amigos e amigos de amigos, a uma determinada pessoa em um subúrbio de Boston.
A nova pesquisa utiliza um universo um pouquinho maior de participantes: os 721 milhões de usuários do Facebook, equivalentes a mais de um décimo da população mundial. Os resultados foram postados no site do Facebook na noite de domingo.
A experiência levou um mês. Os pesquisadores utilizaram um conjunto de algoritmos desenvolvido pela Universidade de Milão a fim de calcular a distância média entre duas pessoas quaisquer pelo cômputo de um vasto número de percursos alternativos entre usuários do Facebook. E constataram que o número médio de conexões entre uma e outra pessoa arbitrariamente selecionadas era de 4,74. Nos Estados Unidos, onde mais de metade da população com idade superior a 13 anos participa do Facebook, a média era de apenas 4,37 conexões.
“Quando consideramos até mesmo os mais remotos usuários do Facebook, na tundra siberiana ou na floresta do Peru”, a companhia escreveu em seu blog, “é bastante provável que um amigo de seu amigo conheça um amigo do amigo da pessoa em questão”. O qualificativo no caso é “usuário do Facebook” –como no caso do estudo de Milgram, a amostra é um grupo de pessoas voluntariamente incluÃdas, no caso pessoas com acesso à internet e assinantes de um site especÃfico.
Ainda que o estudo tenha sido o maior desse tipo já conduzido, desperta questões sobre definições de termos como “amigo”, no Facebook.
Um estudo realizado pela Microsoft em 2008, que empregava uma definição mais conservadora para “amigo”, constatou uma cadeia média de 6,6 graus de contato entre dois usuários quaisquer, em um universo de 240 milhões de usuários de um serviço de mensagens instantâneas. Eric Horvitz, pesquisador da Microsoft que dirigiu o estudo de 2008, afirmou que a amostra se baseava em pessoas que efetivamente trocavam mensagens, e não naquelas que se identificavam como “amigas” dos interlocutores.
“Há questões quanto ao número real de amigos que uma pessoa tem”, disse. “Mas a internet pode ter alterado essa definição.”
“Minha noção pessoal do que define um amigo evoluiu”, ele afirmou.
Jon Kleinberg, professor de ciência da computação na Universidade Cornell e orientador acadêmico de um dos realizadores do novo estudo, disse que algumas conexões podem significar mais que outras.
Ofereceu como exemplo um homem procurado por um crime. Um usuário aleatório do Facebook poderia descobrir que fez um curso em companhia de uma pessoa que alugou um apartamento de alguém que foi amigo do suspeito na infância. Todas essas pessoas podem estar conectadas como “amigos” de Facebook.
“Estamos próximos, em certo sentido, de pessoas que não necessariamente gostam de nós, simpatizam conosco ou têm muito em comum conosco”, disse Kleinberg. “São esses elos fracos que tornam o mundo pequeno.”
Ainda assim, ele aponta que a existência desses elos de forma alguma deveria ser considerada como insignificante. “As notÃcias se espalham bem por meio de elos fracos. Pessoas que eu encontro nas férias e me enviam notÃcias interessantes podem ter essas notÃcias retransmitidas por mim a terceiros. Mas se elas me mandam links sobre um movimento de protesto, a chance de eu retransmiti-los pode ser menor”.
Matthew Jackson, economista de Stanford que estuda redes sociais, aponta para questões sobre as distorções inerentes a um estudo que se baseia em amostras aleatórias. Ele afirma que o estudo serve como prova do sucesso do Facebook para conectar milhões de pessoas. “É uma nova prova de que eles obtiveram enorme sucesso em conectar grande número de pessoas muito bem”, disse.
A pesquisa sublinha o poder crescente da ciência das redes sociais, que começa a emergir. Ela permite que os cientistas estudem as maneiras pelas quais as pessoas interagem, por meio da análise de conjuntos gigantescos de dados da internet.
“Essas ferramentas de redes sociais oferecem imenso alcance aos indivÃduos”, diz Horvitz, da Microsoft. “As pessoas podem transmitir suas ideias, com apenas alguns saltos, a uma larga proporção da população mundial, e a toda a população de um paÃs por meio de número ainda menor de saltos.”
Além de cientistas sociais, uma nova geração de grupos de comércio de internet usa as pesquisas sobre redes sociais para comercializar produtos, e investigadores do Pentágono empregam técnicas parecidas para identificar redes de insurgentes.
O conceito de “seis graus” data de um conto publicado em 1929, “Chains”, no qual o escritor húngaro Frigyes Karinthy sugere que ninguém está a mais de seis amigos de separação de qualquer outra pessoa.
Depois que Milgram publicou seu famoso estudo “O Problema do Mundo Pequeno”, em 1967, o dramaturgo John Guare deu o tÃtulo “Seis Graus de Separação” a uma peça de 1990 que explorava a premissa de Milgram. A peça deu origem ao jogo Seis Graus de Kevin Bacon, no qual personagens dÃspares de Hollywood têm de ser conectados uns aos outros. (Elvis Presley trabalhou com Edward Asner em “Change of Habit”; Asner trabalhou com Kevin Bacon em “JFK”.)
O estudo do Facebook, intitulado “Four Degrees of Separation” (quatro graus de separação), lembra que Milgram extraiu conclusões tanto otimistas quanto pessimistas de suas constatações.
Por um lado, há a ideia de que atingir alguém do outro lado do mundo requer apenas um pequeno número de conexões sociais. Por outro, disse Milgram, o resultado pode ser prova de distanciamento psicológico, prova de que estamos na realidade a cinco “mundos de distância” uns dos outros.
“Quanto a essa perspectiva mais sombria”, afirma o novo estudo, “é reconfortante apontar que nossas constatações demonstram que as pessoas estão na realidade a apenas quatro, e não cinco, mundos de distância”.
Tradução de Paulo Migliacci