Alguém já disse que, independente da cidade, a maior igreja não se reúne num prédio especÃfico.
Ao contrário, ela não se reúne, pois é formada pelos afastados, desiludidos, amargurados e decepcionados.
Concordo. Já fiz parte deste grupo. Conheço muitos deles.
Mas é fato que mudei. Na verdade não sei nem quando, nem como, nem onde. O que sei é que fui encontrado e tratado, preenchido por uma nova vida, percepção e esperança.
É isso que quero compartilhar com você neste texto.
Este fenômeno – chamo de “outra igreja†– não é de forma nenhuma novo nem tampouco brasileiro. Por toda história, infelizmente, encontramos pessoas mal interpretando o Evangelho, produzindo comunidades que ao invés de curar, enfermaram; ao invés de acolher, isolaram; ao invés de integrar, alienaram.
Bem sabemos que milhares vivem hoje à margem da graça do Reino.
Tais quais enfermos ruminantes, em isolamento e tristeza, regurgitam culpas falsas e reais, alienados de si, dos outros e de Deus.
Não lhes foi anunciado o evangelho do Reino, mas um ‘outro evangelho’ que Deus não avaliza.
AtraÃdos por falsas e não realizáveis expectativas, buscaram vida tranqüila, próspera e saudável; casamentos perfeitos, filhos e netos exemplares; carreira profissional sempre ascendente, sucesso. Porém…
Apesar de todos os esforços, orações, dÃzimos e incontáveis participações em eventos, para a imensa maioria a pressão ainda sobe, a artéria entope, o menisco se desgasta, a unha encrava, o carro quebra, a empresa fali, e em alguns casos, até o casamento não resiste.
Derrotados por uma teologia equivocada e um mundo cruel, saem pela porta dos fundos, ressentidos com Deus, com a igreja, com a vida.
Há aqueles que se afastam decepcionados com os próprios crentes.
Isto porque no ‘outro evangelho’ a conversão é percebida como transformação instantânea.
Nesta perspectiva a igreja é o lugar de congraçamento dos perfeitos, um grande clube vip.
Mas a verdadeira igreja não é isso…
É verdade que somos abençoados na igreja, que irmãos maduros nos acolhem, enxugam nossas lágrimas, tratam nossas feridas e nos ensinam a caminhar. Mas é também verdade que na igreja somos julgados, traÃdos, difamados e explorados por gente do nosso próprio grupo, seja o coral, o louvor, ou a terceira idade.
Na linguagem bÃblica, parece haver muito joio pra pouco trigo.
O ‘outro evangelho’ nos aliena ainda quando cobra de nós mesmos a instantânea transformação.
É verdade que algumas coisas podem e de fato, devem mudar na conversão.
Há aqueles que são curados milagrosamente de vÃcios que os acorrentavam há anos; outros são libertos de espÃritos malignos que os aprisionavam desde pequenos.
Isto de fato acontece. É o poder do Evangelho. Mas outros não…
Não demora muito, porém, mesmo estes que foram milagrosamente libertos, percebem que apesar destas mudanças reais e significativas, outras áreas, antes dormentes, apresentam-se agora como grandes fontes de luta.
Acabam, enfim, por identificar em seu próprio coração resistentes laços de avareza, preguiça, lascÃvia e orgulho.
Quanto mais luz, mais percebemos as rachaduras…
Esta constatação os faz viver cabisbaixos ou lhes empurra numa busca desesperada por uma experiência catártica que, de uma vez por todas, expulse seus domesticados e obesos demônios.
Na verdade, como diz o ditado: “De perto ninguém é normalâ€!
Melhor: “De perto, todos são miseráveis pecadoresâ€, mesmo após a conversão.
O que é, então, a igreja?
Qual a proposta do evangelho do Reino?
Igreja é a congregação dos perdoados, a comunidade que sinaliza o Reino anunciado por Jesus.
É como um hospital; mas não um hospital comum, destes modernos que mais se parece um hotel.
A igreja é como um hospital de guerra, onde feridos graves são recebidos a todo o momento. Há macas no corredor, sangue e outros não tão nobres fluÃdos pelo chão. Faixas usadas estão pelo canto. O odor não é de forma alguma agradável. Ainda há dor, choro, e pode-se ouvir gemidos pelos corredores…
Mas há, sim, curas, restaurações, cicatrizações e alegrias.
Crianças nascem o tempo todo! Adolescentes jogam bola no pátio improvisado. A cantina é sempre movimentada e barulhenta, e o médico-diretor é atencioso, paciente e muito capaz. Um hospital assim é tudo o que um soldado ferido almeja. Ele sabe que ali encontrará alÃvio e restauração. Todos, sem exceção, trabalharão por sua restauração. Essa é a igreja do evangelho do Reino.
Evangelho é boa notÃcia! A paz já foi feita, a Lei foi cumprida por Jesus! A reconciliação foi estabelecida, pois a justiça foi feita na cruz! Deus perdoa a todos os que se reconhecem pecadores. Estão salvos da ira vindoura todos os que crêem em seu amor e pela fé apropriam-se da morte de seu Filho na cruz. Não precisamos mais nos esconder; não precisamos mais representar; não precisamos mais nos afastar.
O Evangelho do Reino é liberdade, compaixão, esperança, amor. É comunhão, integração, acolhimento.
O Evangelho do Reino é uma santa celebração!
A igreja-hospital-de-guerra tem uma equipe especializada em recolher feridos. Eles se arriscam em meio a bombas para trazer os solitários, os abatidos, os fracassados…
Que tal buscar aqueles que foram surpreendidos pela crueldade da vida, dos irmãos e do seu próprio coração? Anuncie-lhes o Evangelho! A boa notÃcia! Eles não precisam mais fazer hora no boteco aguardando surgir a pureza de coração. O médico os recebe da forma que estão. O perdão precede o arrependimento! O hospital está aberto!
Isto é graça, este é o Reino. Nele, na igreja-hospital-de-guerra é proibida e entrada de pessoas perfeitas!
Em suas celebrações alguns aparecem enfaixados, outros de muleta, outros com tampões nos olhos. Que cena! Mas todos estão vivos e celebram a vitória de seu médico-general. Ainda há luta lá fora, mas é só uma questão de tempo. Em breve soará a trombeta da vitória! E nós? Nós pularemos pelos campos, cheios de alegria, saúde e paz…
Enquanto a trombeta não toca, nós celebramos!
Não nosso bom comportamento, saúde, sucesso profissional ou familiar. Celebramos não nossa performance ou capacidade de permanecer em pé… Celebramos nosso Médico, nosso Redentor, nosso Salvador, nosso Amado Pai! Celebramos a graça de sermos perdoados, feitos santos, santificados, justificados. Celebramos sermos amados.
Brennan Manning em seu livro “O Evangelho Maltrapilho†(Editora Textus, 2005) nos lembra: somos santos maltrapilhos.
Nossas fardas estão rasgadas. Algumas feridas ainda sangram. Nós mancamos, sim…!
Mas nosso manquejar é vitorioso!
Bem vindo maltrapilho!
Vamos celebrar!
Texto abençoador.. A analogia A igreja-hospital-de-guerra foi fantastica e retrata bem o verdadeiro funcionamento da Igreja. Para mim foi um iluminar para a verdadeira realidade da Igreja, o povo de Deus. Graça e Paz professor, continue escrevendo.
Graça e paz, Pr. José Roberto, parabens pelo artigo escrito e que Deus continue dando graça para produzir texto como este.abraço do amigo. Vauner
Oi Pr. Zé Prado!
Que benção seu texto!
Estarei sempre sempre de olho aqui.
Que o Senhor continue a te abençoar.