O problema não é a população

Políticas populacionais têm pouco impacto sobre a forma como uma minoria de seres humanos usa os recursos da Terra.

[Juliette Jowit, The Guardian; IHU; 30 out 11, tradução Moisés Sbardelotto].

O nascimento de um bebê é geralmente uma ocasião de alegria. A chegada, porém, da 7.000.000.000ª pessoa nos próximos dias está sendo aguardada com crescente ansiedade acerca do impacto devastador dos seres humanos no planeta. Os ambientalistas estão discutindo sobre de quem ou o do que é a culpa: o número total de pessoas, ou a quantidade de água, alimentos, minérios ou ar limpo que cada uma delas demanda. O professor Paul Ehrlich, cujo livro The Population Bomb ajudou a inflamar o debate, compara o impacto ambiental à área de um retângulo: um lado é o tamanho da população, o outro é o seu consumo.

Embora o retângulo de Ehrlich seja pura ilustração, o “problema-população” para o ambiente é mais bem descrito como dois retângulos, cada um representando o número de pessoas na vertical e seus estilos de vida na horizontal: um quadrante alto e magro engloba bilhões de pessoas que usam muito poucos recursos da Terra; o outro, um pouco mais curto e extraordinariamente longo engloba a minoria de seres humanos que usam a vasta maioria das riquezas naturais. O Banco Mundial estima, por exemplo, que a quinta parte mais rica do mundo detém mais de três quartos da renda; a quinta parte mais pobre, apenas 1,5%.

Dado que as populações estão muito pouco estáveis e às vezes diminuindo na maior parte do mundo rico, as políticas populacionais inevitavelmente teriam que progredir perceptivelmente com relação ao retângulo alto e magro dos muitos/pobres. Supondo que tais políticas sejam bem sucedidas – e, excluindo a coerção amplamente inaceitável da política de um filho por parte da Chinaou as esterilizações em massa da Índia na década de 1970, persuadir as pessoas a terem menos bebês tem se mostrado muito complicado –, a redução geral do impacto ambiental combinado seria muito pequeno.

A questão mais preocupante, porém, é que esse cálculo pressupõe que, enquanto o retângulo alto e magro fica menor, ele não fica mais amplo. A experiência, no entanto, sugere que, com exceção de casos extremos como o Zimbábue, ele vai ficar mais gordo.

Ao longo do tempo e da geografia, os países que reduziram as taxas de natalidade ficaram mais ricos e por isso mais consumistas: renda em aumento e melhor saúde e educação deram aos homens e às mulheres a confiança de que mais filhos seus irão sobreviver até a idade adulta e ajudar a sustentar suas famílias. E, enquanto as taxas de natalidade caem, os governos podem gastar mais na saúde, educação e emprego de cada pessoa, alimentando um ciclo virtuoso de desenvolvimento econômico e freando o crescimento demográfico.

Seria interessante ver uma avaliação adequada do ponto em que o benefício de ter menos pessoas consumindo é compensado e, depois, crescentemente impedido de crescer pelo seu maior consumo. Há alguns pontos indicativos. A comparação de James Ball, do The Guardian, dos dados do CIA World Factbook das taxas de natalidade e de poder de compra médio de cada pessoa dos países analisados mostra uma correlação muito forte entre os dois.

Os estatísticos rapidamente apontam que o fato de duas coisas parecerem estar vinculadas não significa que uma causa a outra, mas as evidências de campo sugerem que a crescente afluência e o declínio das taxas de fertilidade são inextrincáveis. Ano após ano, as descrições dos países que conseguiram reduzir com sucesso o crescimento populacional mostram como eles tornaram-se notavelmente mais ricos ao mesmo tempo, mesmo que eles não sejam exatamente abastados: Guatemala, na América Central; Bangladesh, noSudeste Asiático; e os Tigres Asiáticos da Coreia do Sul.

Ao mesmo tempo, estudos após estudos mostram que os danos ambientais aumentam – até agora quase sempre perpetuamente – com a renda, e muitas vezes de forma mais acentuada enquanto os países em desenvolvimento começam a se industrializar. Mais dramaticamente, essas forças parecem ter se reunido na China, cuja política de um único filho – embora com massivo investimento estatal e rápida expansão da economia de mercado – coincidiu com a ascensão do país que se tornou a segunda maior economia do mundo (e, incidentalmente, o maior emissor de poluição dos gases do efeito estufa).

Tecnicamente falando, é claro, os defensores da população têm razão: a degradação ambiental pode ser fomentada pela redução do número de pessoas e do que elas usam. As políticas populacionais são deixadas para aqueles que se focam na pobreza e nos direitos das mulheres. Para os ambientalistas, falar de muitas pessoas é uma distração perigosa para os ativistas e consumidores, muitos dos quais irão encontrar uma conveniente desculpa para ignorar a necessidade mais premente de mudar o que e como nós gastamos as nossas crescentes riquezas.

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