Pais entram no Facebook, e adolescentes migram para o Twitter

Taylor Smith, 14, acessa o Twitter no celular em sua casa, em Kirkwood, no Missouri (EUA) Jeff Roberson/Associated Press

[Martha Irvine, AP/Folha SP, 31 jan 12] Adolescentes não tuítam, nunca tuítam –é público demais, há muitos usuários mais velhos. Não é bacana.

Essa há tempos tem sido a previsão, surgida de números mostrando que menos de um em cada dez adolescentes usava o Twitter no início do serviço.

De repente, o espaço dos adolescentes não era mais só deles. Assim, mais jovens começaram a migrar para o Twitter, escondendo-se da vista dos outros.Mas, então, seus pais, avós, vizinhos, amigos dos pais e todos os intermediários começaram a adicioná-los no Facebook –e uma coisa curiosa começou a acontecer.

“Eu amo o Twitter, é a única coisa que tenho para mim mesmo… Porque meus pais não têm [perfil no Twitter]”, tuitou alegremente Britteny Praznik, 17, que vive nos arredores de Milwaukee. Embora ainda tenha uma conta no Facebook, ela aderiu ao Twitter no verão passado, depois de mais pessoas em sua escola terem feito o mesmo. “[O Twitter] meio que pegou”, diz ela.

Adolescentes elogiam a facilidade de uso e a capacidade de enviar o equivalente a uma mensagem de texto para um círculo de amigos, muitas vezes menor do que aquele que eles têm em suas contas abarrotadas no Facebook. Eles podem ter várias contas e não precisar usar seus nomes reais. Eles também podem seguir suas celebridades favoritas e usar o Twitter como um palanque, se quiserem.

A popularidade crescente que os adolescentes relatam se encaixa com os resultados de um relatório do Pew Internet & American Life Project, uma organização sem fins lucrativos que monitora hábitos de tecnologia das pessoas.

A migração tem sido lenta, mas constante. A pesquisa da Pew, de julho do ano passado, constatou que 16% dos jovens entre 12 e 17 anos usam o Twitter. Dois anos atrás, esse percentual era de apenas 8%. “Essa duplicação é definitivamente um aumento significativo”, diz Mary Madden, especialista de pesquisa sênior da Pew. E ela suspeita de que esse número seja ainda maior atualmente.

PRESSÃO SOCIAL

A pesquisa da Pew descobriu que quase uma em cada cinco pessoas de 18 a 29 anos tomou gosto pelo serviço de microblog, que permite publicar pensamentos com 140 caracteres de cada vez.

No início, o Twitter tinha uma reputação que muitos achavam não ter a ver com os hábitos on-line dos adolescentes –bem mais de metade dos quais já estava usando o Facebook ou outros serviços de redes sociais em 2006, quando o Twitter foi lançado.

“O primeiro grupo a colonizar o Twitter foram pessoas da indústria de tecnologia, que gostam de se autopromover”, afirma Alice Marwick, uma pesquisadora da Microsoft Research que acompanha os hábitos dos jovens on-line.

Para os adolescentes, a autopromoção não é normalmente o objetivo. Pelo menos até eles irem à faculdade e começarem a pensar sobre suas carreiras, as rede sociais são, bem… sociais.

Mas, assim como o Twitter tem crescido, também aumentaram as formas como as pessoas e as comunidades o usam.

Por um lado, embora alguns não se deem conta disso, tuítes não têm que ser públicos. Muitos adolescentes gostam de usar o Twitter bloqueado, por meio de contas privadas. E muitos usam pseudônimos, para que apenas amigos saibam quem eles são. “O Facebook é como gritar no meio de uma multidão. O Twitter é como falar para uma sala”, disse um adolescente que participou de um grupo de foco da Microsoft Research, conta Marwick.

Outros adolescentes disseram aos pesquisadores da Pew que sentem “pressão social” para adicionar as pessoas no Facebook. “Por exemplo, adicionar todos da sua escola ou aquele amigo de um amigo que você conheceu em um jogo de futebol”, afirma Madden.

O Twitter é mais fluido e anônimo, dizem os adolescentes, o que lhes dá mais liberdade para evitar os amigos dos amigos dos amigos –mas isso não quer dizer que eles estejam dizendo algo particularmente bombástico. Eles simplesmente não querem que todos os vejam.

Praznik, por exemplo, tuíta desde queixas e pensamentos aleatórios até mensagens de angústia e de ansiedade. “Eu odeio neve, eu odeio inverno. Vou me mudar para a Califórnia logo que puder”, diz um post recente da adolescente de Wisconsin.

E mais um: “Eu gostaria que você fosse meu, mas você não sabe o que quer. Até que você descubra o que quer eu vou seguir o meu caminho.”

ESPAÇO PRÓPRIO

Pam Praznik, mãe de Britteny, monitora as contas de sua filha no Facebook. Mas Britteny pediu que ela não a seguisse no Twitter –e sua mãe concordou, contanto que os tuítes permaneçam entre amigos. “Ela poderia mandar SMS para os amigos de qualquer maneira, sem o meu conhecimento”, diz a mãe.

Marwick, da Microsoft, acha que essa é uma boa ideia. “Os pais devem relaxar um pouco e dar esse espaço aos filhos”, diz ela.

Ainda assim, os adolescentes e os pais não devem assumir que as contas, mesmo as bloqueadas, são totalmente privadas, diz Ananda Mitra, professora de comunicação da Universidade Wake Forest, na Carolina do Norte. Privacidade on-line, diz ela, é “privacidade mítica”.

Os pais estão sempre preocupados com os predadores on-line –e especialistas dizem que eles devem usar na rede o mesmo senso comum do mundo exterior quando se trata de lidar com estranhos e fornecer muita informação pessoal.

Mas há outras questões de privacidade a considerar, diz Mitra. Alguém com uma conta pública no Twitter pode, por exemplo, retuitar um post feito em uma conta bloqueada de um amigo, permitindo que qualquer um o veja. Isso acontece o tempo todo.

E, num nível mais profundo, ele diz que aqueles que usam o Twitter e o Facebook –pública ou privadamente– deixam um rastro de “DNA digital” que pode ser extraído por universidades, empregadores, aplicadores da lei ou anunciantes, já que essas informações são fornecidas voluntariamente.

Mitra cunhou o termo “narb” para descrever os bits narrativos que as pessoas revelam sobre si mesmas on-line –idade, sexo, localização e opiniões– com base em interações com seus amigos.

Privacidade verdadeira, diz ela, significaria “literalmente abandonar” a comunicação textual pela internet ou por telefone –em essência, utilizar essas tecnologias de forma muito limitada. Ela admite que isso não é muito provável, dada a maneira como as coisas estão indo, mas diz que trata-se de algo a se pensar ao interagir com os amigos, ao expressar opiniões ou mesmo ao “curtir” ou seguir uma corporação ou uma figura pública.

Mas Marwick ainda acha que contas privadas representam um risco pequeno quando se considera o conteúdo médio das contas de adolescentes no Twitter. “Eles só querem ter um lugar em que possam se expressar e falar com seus amigos sem que todos os vejam”, diz ela.

Como os adolescentes sempre tiveram.

 

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