[BBC Brasil, 27 abr 11] PaÃses em que as pessoas se sentem mais felizes tendem a apresentar Ãndices mais altos de suicÃdio, segundo pesquisadores britânicos e americanos.
Os especialistas sugerem que a explicação para o fenômeno estaria na tendência dos seres humanos de se comparar uns aos outros.
Sentir-se infeliz em um ambiente onde a maioria das pessoas se sente feliz aumenta a sensação de infelicidade e a probabilidade de que a pessoa infeliz recorra ao suicÃdio, a equipe concluiu.
O estudo foi feito por especialistas da University of Warwick, na Grã-Bretanha, Hamilton College, em Nova York e do Federal Reserve Bank em San Francisco, Califórnia, e será publicado na revista cientÃfica Journal of Economic Behavior & Organization.
Ele se baseia em dados internacionais e em informações coletadas nos Estados Unidos.
Nos EUA, os pesquisadores compararam dados obtidos a partir de depoimentos de 1,3 milhão de americanos selecionados de forma aleatória com depoimentos sobre suicÃdio obtidos a partir de uma outra amostra, também aleatória, com um milhão de americanos.
Paradoxo
Os resultados foram desconcertantes: muitos paÃses com altos Ãndices de felicidade felizes têm Ãndices de suicÃdio altos.
Isso já foi observado anteriormente, mas em estudos feitos de forma isolada, como, por exemplo, na Dinamarca.
A nova pesquisa concluiu que várias nações – entre elas, Canadá, Estados Unidos, Islândia, Irlanda e SuÃça – apresentam Ãndices de felicidade relativamente altos e, também, altos Ãndices de suicÃdio.
Variações culturais e na forma como as sociedades registram casos de suicÃdio dificultam a comparação de dados entre paÃses diferentes.
Levando isso em conta, os cientistas optaram por comparar dados dentro de uma região geográfica: os Estados Unidos.
Do ponto de vista cientÃfico, segundo os pesquisadores, a vantagem de se comparar felicidade e Ãndices de suicÃdio entre os diferentes Estados americanos é que fatores como formação cultural, instituições nacionais, linguagem e religião são relativamente constantes dentro de um único paÃs.
A equipe disse que, embora haja diferenças entre os Estados, a população americana é mais homogênea do que amostras de nações diferentes.
Utah e Nova York
Os resultados observados nas comparações mais amplas entre os paÃses se repetiram nas comparações entre diferentes Estados americanos.
Estados onde a população se declarou mais satisfeita com a vida apresentaram maior tendência a registrar Ãndices mais altos de suicÃdio do que aqueles com médias menores de satisfação com a vida.
Por exemplo, os dados mostraram que Utah é o primeiro colocado no ranking dos Estados americanos em que as pessoas estão mais satisfeitos com a vida. Porém, ocupa o nono lugar na lista de Estados com maior Ãndice de suicÃdios.
Já Nova York ficou em 45º no ranking da satisfação, mas tem o menor Ãndice de suicÃdios no paÃs.
Ajustes
Para tornar mais justas e homogêneas as comparações entre os Estados, os pesquisadores levaram em consideração fatores como idade, sexo, raça, nÃvel educacional, renda, estado civil e situação profissional.
Após esses ajustes, a relação entre Ãndice de felicidade e de suicÃdios se manteve, embora as posições de alguns paÃses tenham se alterado levemente.
O HavaÃ, por exemplo, ficou em segundo lugar no ranking ajustado de satisfação com a vida, mas possui o quinto maior Ãndice de suicÃdios no paÃs.
Nova Jersey, por outro lado, ocupa a posição 47 no ranking de satisfação com a vida e tem um dos Ãndices mais baixos de suicÃdio – coincidentemente, ocupa a posição 47 na lista.
“Pessoas descontentes em um lugar feliz podem sentir-se particularmente maltratadas pela vida”, disse Andrew Oswald, da University of Warwick, um dos responsáveis pelo estudo.
“Esses contrastes sombrios podem aumentar o risco de suicÃdio. Se seres humanos sofrem mudanças de humor, os perÃodos de depressão podem ser mais toleráveis em um ambiente no qual outros humanos estão infelizes”.
Outro autor do estudo, Stephen Wu, do Hamilton College, acrescentou:
“Este resultado é consistente com outras pesquisas que mostram que as pessoas julgam seu bem estar em comparação com outras à sua volta”.
“Esse mesmo efeito foi demonstrado em relação a renda, desemprego, crime e obesidade”.