O número de suicÃdios cresceu expressivamente na UE durante a recente crise econômica global, sobretudo nos paÃses mais abalados. Pesquisadores britânicos investigam o que torna uma sociedade mais ou menos vulnerável.
[DW, 8 jul 11] Em artigo publicado na revista médica britânica The Lancet, pesquisadores destacam o custo humano da recente recessão econômica. Os Ãndices de suicÃdio aumentaram consideravelmente nos paÃses-membros da União Europeia (UE) entre 2007 e 2009 – revertendo a tendência de queda registrada desde o inÃcio do milênio.
No artigo publicado no site da revista nesta sexta-feira (08/07), os cientistas apresentam a análise realizada a partir de dados de dez paÃses europeus, os quais disponibilizaram estatÃsticas completas referentes ao perÃodo de três anos.
Como era de se esperar, foi constatado que a taxa de suicÃdio aumentou mais acentuadamente nos paÃses mais atingidos pela crise. Na Grécia, o número de casos entre pessoas abaixo dos 65 anos subiu 17% em 2008, em comparação com o ano anterior. A Irlanda registrou um aumento de 13% no mesmo perÃodo.
Velha e nova UE
O Ãndice de suicÃdio dos paÃses que já pertenciam à UE antes de 2004 (Ãustria, Finlândia, Grécia, Irlanda, Holanda e Reino Unido) aumentou em média 7% em 2008. Enquanto isso, o crescimento verificado nos quatro paÃses que ingressaram mais tarde no bloco (República Tcheca, Hungria, Lituânia e Romênia) foi de apenas 1%. Nos dois grupos, a taxa continuou a crescer em 2009.
Além disso, os pesquisadores revelaram que – tanto nos paÃses já estabelecidos, como nos novos membros da UE – o número de suicÃdios elevou-se significativamente muito antes de os Ãndices de desemprego oficiais começarem a crescer, em 2009.
Mas o artigo, definido pelos cientistas como um “estudo preliminar”, não inclui uma estimativa de em que medida o aumento dos casos de suicÃdio está diretamente relacionado à crise econômica. O cientista que liderou a equipe de cinco especialistas em saúde pública, David Stuckler, da Universidade de Cambridge, declarou que buscará estabelecer essa conexão em pesquisas futuras. Ele também prevê que, enquanto não houver sinais de uma recuperação econômica, o impacto da recessão continuará a ser sentido por algum tempo.
Impacto sobre a vida humana
“O que estamos presenciando agora é uma crise da humanidade. É provável que haja uma longa cadeia de sofrimento humano como consequência da recessão”, disse Stuckler, que descreve o Ãndice de suicÃdio como apenas “a ponta do iceberg”. “O suicÃdio em si é uma ocorrência relativamente rara, mas, onde quer que se verifique um aumento dos suicÃdios, se verificará também um aumento das tentativas de suicÃdio e de casos novos de depressão.”
Segundo os cientistas, o objetivo de longo prazo dos estudos é entender melhor por que alguns indivÃduos, comunidades ou sociedades parecem ser mais vulneráveis e outras mais resistentes a choques econômicos.
Uma das teorias que eles investigam é o impacto de um sólido sistema de seguridade social. O artigo cita o exemplo da Ãustria, que registrou um ligeiro declÃnio do número de suicÃdios durante os anos em questão. Ao mesmo tempo, a pesquisa sugere que deve haver outras explicações para o fenômeno, pois na Finlândia – com um sistema de seguridade social semelhante –, verificou-se um aumento da taxa de suicÃdio em mais de 5% no mesmo perÃodo.
Autor: Chuck Penfold (lf)
Revisão: Carlos Albuquerque