[LuÃsa Alcalde, O Estado de SP, 8 jun 11] O 35.º DP, no Jabaquara, zona sul da capital paulista, começou a montar um banco de dados dos moradores de rua que costumam ocupar viadutos, praças, ruas e calçadas do bairro. O catálogo permitiu que a polÃcia descobrisse assaltantes entre eles.
Dos 111 que foram identificados, 49 tinham passagem pela polÃcia e três foram presos. Depois de serem fotografados e terem as fichas criminais levantadas, eles são encaminhados pelos agentes da Prefeitura para atendimentos sociais.
Anderson Lopes de Miranda, coordenador do Movimento Nacional da População de Rua, apoia a iniciativa, desde que não seja realizada de forma truculenta e sem infringir o direito constitucional de ir e vir. “Bandidos e ladrões não podem estar infiltrados entre o povo da rua. Isso só aumenta o estigma e o preconceito contra essas pessoas.”
Ele conta que uma experiência parecida já foi feita em Campinas. Depois de serem identificados, os moradores eram encaminhados a tratamentos médicos, cursos e abrigos para receberem benefÃcios. “População de rua não é caso de polÃcia. É de polÃtica pública.”
O delegado Genésio Leo Junior afirma que só cinco moradores de rua cadastrados quiseram ir para abrigos ou consentiram ser inscritos em programas de geração de renda ou profissionalizantes. “A Constituição Federal dá a eles o direito de ir e vir e não podemos obrigar ninguém a sair das ruas”, explica o policial, que decidiu realizar as operações depois de ter começado a participar das reuniões do Conseg (conselho de segurança) local.
Moradores da região do Jabaquara estão satisfeitos com as ações. “Desde o fim do ano passado o número de moradores de rua aumentou muito em nosso bairro”, diz Miriam Ebole Bork, presidente do Conseg do Jabaquara. “Queixas de pessoas abordadas por alguns deles e vÃtimas de pequenos furtos passaram a se tornar o assunto principal das nossas reuniões.” As reclamações diminuÃram depois do começo da ação dos policiais.
Abordagem. Antes de cada operação, o delegado reúne cerca de 60 pessoas envolvidas na tarefa no pátio da delegacia antes de ir às ruas para passar as coordenadas da abordagem, que ocorrem por volta das 7 horas, ou no fim da tarde.
“Não chegamos no local com armas em punho. Deixo claro que não estamos atrás de bandidos. Conversamos com eles e explicamos que os encaminharemos ao distrito para que os dados deles sejam averiguados.” A proposta, diz Leo Junior, não é ser repressivo. “Queremos saber quem são essas pessoas e mapear os locais em que vivem. Infelizmente, nessa situação também há criminosos infiltrados, usuários de drogas e alcoólatras.”
Segundo ele, caso sejam denunciados delitos praticados por alguns deles, os policiais já saberão quem são. “Mas também oferecemos a oportunidade de eles saÃrem das ruas, caso queiram”, diz o delegado, que pretende fazer essa ação quinzenalmente.