[Texto de Agostinho Vieira, O Globo, 24 nov 2010]

Pela primeira vez, em 2009, a população total da África passou de 1 bilhão de pessoas, com cerca de 40% vivendo em áreas urbanas. Com isso, a África junta-se à China e à Índia e passa a ser a terceira região do mundo que alcança essa marca. Os dados foram divulgados hoje pela agência Habitat, da ONU, num relatório especial feito sobre o continente. A previsão da ONU é que esse número ainda possa dobrar até 2050. Já a população urbana, que em 1950 era de mais ou menos 500 mil pessoas, pode triplicar até 2050, chegando a quase 1,3 bilhão de habitantes ou 60% da população total.

O fato de a África estar se tornando mais urbana do que rural não é necessariamente um problema. Mas o relatório da ONU adverte para o risco de uma favelização maior das cidades e pede que os governos africanos tentem planejar melhor o seu crescimento: “O padrão tem sido oceanos de pobreza com ilhas de riqueza. As condições de vida na África hoje são as mais desiguais do mundo. Um continente inundado de favelas, com a população urbana triplicando é um prenúncio claro de desastre. A menos que seja feita alguma coisa imediatamente”, registra o documento da ONU.

A cidade do Cairo tem hoje a maior área urbana da África, com 11 milhões de pessoas. Mas até 2015 deve ser ultrapassada por Lagos, na Nigéria, que chegaria a mais de 12 milhões de habitantes. Os números do relatório são alarmantes para algumas cidades como Ouagadougou, capital de Burkina Faso, que deve ter a sua população praticamente duplicada em 2020, passando de 1,9 milhão para 3,4 milhões.

O relatório reconhece que prover comida e água para um bilhão de pessoas a mais até 2050 será um enorme desafio. Especialmente porque a África deve ser um dos continentes mais afetados pelo aquecimento global. Os autores do relatório sugerem, entre outras coisas, que os governos africanos transfiram suas sedes administrativas das capitais para cidades médias ou pequenas, numa tentativa de desafogá-las.