[Bastian Berbner, Der Spiegel/Uol, 1 dez 11] A rebelião contra ele tinha começado há apenas poucos dias quando o ditador sÃrio Bashar Assad convocou os lÃderes cristãos de seu paÃs ao palácio presidencial, no noroeste de Damasco. O patriarca ortodoxo sÃrio Ignatius foi. Ele tem 78 anos e está gravemente doente, mas ainda é uma figura poderosa. Bispos e arcebispos representando católicos, armênios, arameus e assÃrios também estavam presentes. Ao todo, havia uma dúzia de lÃderes religiosos representando cerca de 2,5 milhões de cristãos sÃrios.
A mensagem que receberam de seu chefe de Estado foi curta e simples: apoiem-me ou suas igrejas queimarão.
Ao que parece, Assad, um membro dos alauitas, uma seita do islamismo xiita, não queria presumir que os cristãos da sÃria continuariam afastados da polÃtica. Sentindo que não apenas sua autoridade, mas talvez sua própria sobrevivência estava em jogo, ele recorreu aos mesmos meios que seu pai, Hafez Assad, usava para manter o poder: pressão e violência.
A Liga Ãrabe suspendeu a SÃria, isolando o paÃs internacionalmente. Damasco perdeu o prazo da última sexta-feira para que Assad colocasse um fim ao derramamento de sangue e permitisse a entrada de uma comissão de observadores no paÃs. A Liga permitiu uma breve prorrogação, mas no domingo impôs sanções econômicas duras contra o paÃs. Na quarta-feira, a Turquia impôs suas próprias sanções econômicas contra a SÃria.
Lealdade assumida
O regime matou pelo menos 3.500 pessoas desde março. Há relatos de tortura, execuções de indivÃduos desarmados e execuções em massa de desertores do exército. Mas nada disso dissuadiu os membros da oposição. VÃdeos pela Internet mostram milhares continuando a marchar pelas ruas de Homs, Hama, Daraa e Damasco pedindo a queda de Bashar.
Enquanto isso, os bairros e vilarejos cristãos têm permanecido em grande parte quietos, sem nenhuma grande manifestação, cantos ou pichações fazendo crÃticas ao regime. Em vez disso, há silêncio. Ou pior, manifestações de lealdade ao regime.
“O presidente Assad é um homem muito cultoâ€, disse Gregorios Elias Tabé, 70 anos, o arcebispo católico sÃrio de Damasco. Ele chama toda a imprensa de mentirosa e os manifestantes de terroristas. Todo domingo, ele prega na Capela de São Paulo, no sudeste da cidade velha de Damasco, que recebe seu nome do apóstolo Paulo, que teria escapado da cidade há 2 mil anos. As congregações cristãs da SÃria estão entre as mais antigas do mundo e o arcebispo gostaria que continuassem existindo por muito mais anos –o que lhe dá um motivo para ficar ao lado de Assad.
“Nós somos uma nação de 23 milhõesâ€, disse Tabé, “e nenhuma lei jamais agradará a todos. Isso vale para qualquer paÃs – sempre haverá 10% de sacrificadosâ€. É um estado das coisas que ele pode aceitar, desde que os cristãos não sejam o segmento da população sendo sacrificado.
Do ponto de vista do arcebispo, é possÃvel viver bem na SÃria. O presidente garante os direitos das minorias religiosas, os cristãos podem praticar sua fé livremente e as igrejas são protegidas. Assad costuma nomear membros de seu próprio grupo, os alauitas, para importantes postos do governo e das forças armadas, mas os cristãos também ocupam vários altos cargos em instituições importantes, como a guarda presidencial e os serviços de inteligência. O presidente do banco central do paÃs é um cristão, assim como o novo ministro da Defesa. Muitos cristãos pertencem à s fileiras dos privilegiados dentro do sistema e poucos ousariam se unir à oposição, não quando permanecem tão próximos do presidente.
Assad não apenas permite a influência dos cristãos, mas também alimenta o maior temor deles: os islamitas, a lei Sharia e a perspectiva de igrejas serem incendiadas. Os bispos provavelmente preferem um ditador brutal que lhes permite rezar em paz do que aIrmandade Muçulmana, que exigiria uma parcela do poder em uma SÃria sem Assad.
Reunião em segredo
Mas também há jovens cristãos como Mohammed, como pede para ser chamado, que estão organizando a resistência em Bab Sharqi, um distrito na cidade velha de Damasco, onde também fica a igreja do arcebispo Gregorios. Mohammed formou um comitê organizador juntamente com sete outros amigos. Os ativistas têm todos entre 20 e 29 anos, a maioria estudantes. Eles se reúnem em locais secretos e se comunicam por e-mail e telefone por satélite.
No momento, os protestos do grupo ainda são modestos, diz Mohammed. Por exemplo, cerca de três dúzias se reuniram recentemente diante da Igreja de Maria, a apenas 300 metros da Capela de São Paulo, onde o arcebispo Gregorios prega seu assunto favorito, a moralidade cristã. De modo hesitante, teve inÃcio um canto contra Assad na multidão. Em poucos minutos, dezenas de capangas do governo, vestidos à paisana e armados com porretes, investiram contra a manifestação e dispersaram o grupo pelo labirinto de ruas estreitas da cidade velha.
Dentro de Damasco, há apenas poucas centenas de cristãos assumindo um papel ativo como Mohammed. Até o momento, o apoio a eles vem principalmente de outros cristãos que vivem no exÃlio, que formaram grupos de oposição nos Estados Unidos e no Reino Unido. Eles também estão planejando montar um na Alemanha.
Trabalhando em conjunto com o Conselho Nacional SÃrio, o grupo de oposição mais importante, esses ativistas estão buscando aumentar a pressão sobre o Ocidente. A primeira opção deles seria uma intervenção semelhante ao envolvimento da Otan na LÃbia. Eles não veem nenhuma chance de sucesso sem apoio militar e não entendem por que Washington, Paris, Londres e Berlim são tão contrários à ideia.
Ao ser perguntado sobre uma possÃvel intervenção, o arcebispo Gregorios riu alto. Como cristão, ele disse, ele não acredita no poder das armas, apenas na paz e democracia.
Aparentemente, ele também acredita no presidente Assad.