Psiquiatras rebatem críticas ao método do AA

[Folha SP, 29 mar 11] O método dos Alcoólicos Anônimos é o tratamento contra dependência de maior acesso no Brasil. “O tratamento formal atende pouca gente”, diz o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, diretor da Unidade de Pesquisas em Álcool e Drogas da Unifesp.

No país desde 1948, os Alcoólicos Anônimos têm hoje cerca de 5.000 grupos e um total de 130 mil frequentadores, de acordo com Hugo (que não revela o sobrenome), coordenador de divulgação do AA.

Esses grupos de autoajuda funcionam, segundo Laranjeira. “Não é panaceia, não dá certo para todo mundo, mas as grandes pesquisas não conseguiram responder se é melhor ou pior que outras abordagens.”

Um dos maiores estudos, chamado Match (“combinando tratamentos de alcoolismo com a heterogeneidade do paciente”, na sigla em inglês), avaliou por oito anos resultados do programa de 12 passos (a base do AA), terapia cognitivo-comportamental e terapia motivacional.

“A pesquisa mostra que o AA é tão bom quanto os outros”, diz Laranjeira.

A ponderação do especialista é que, para comparar diferentes tratamentos, eles devem ter “doses” semelhantes. Nesse caso, a dose é o tempo de exposição do alcoólatra ao método (número de sessões por período).

O sucesso depende mais da aderência ao tratamento _que, em geral, é baixa. “A adesão depende do serviço. Quanto mais organizado, melhor. Nem todo serviço formal é bem organizado. E nos AA, os grupos são muito heterogêneos.”

Hugo, do AA, confirma: “São milhares de grupos, não controlamos. Não temos índices de recuperação porque não pesquisamos isso. O que queremos é dar a melhor cobertura para o doente.”

Ele afirma que a visão antiga dos AA que, entre outras coisas, rejeitavam uso de remédios, mudou. “A resistência de muitos psiquiatras é baseada em experiências do passado, quando medicamentos não eram admitidos. Hoje a tendência é somar tratamentos”, diz Laranjeira.

DESISTÊNCIA

O psiquiatra Dartiu Xavier, um dos responsáveis pela pesquisa da Unifesp que questiona a eficácia dos AA, como noticiado ontem na Folha, afirma que os dados não são para dizer que o método é o pior, mas que também não é o melhor modelo.

“O problema é que muitos colocam nesses termos. A pesquisa, que envolveu cerca de 300 alcoólatras, confirma que a questão da aderência [ao tratamento] é fundamental e questiona como a dinâmica de funcionamento de alguns grupos dos AA estimula a desistência.”

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