Reportagem de Isabela Vieira, da Agência Brasil, publicado pelo EcoDebate, 15/01/2010
Os povos indÃgenas vivem em situação de pobreza no planeta. A afirmação consta de um relatório [The State of the World’s Indigenous Peoples] divulgado ontem (14) pela Organização das Nações Unidas (ONU) que mostra que cerca de 15% dos 370 milhões de Ãndios representam um terço dos mais pobres do mundo e também um terço dos 900 milhões de pessoas que vivem em extrema pobreza, com menos de U$ 4,00 por dia, e habitam áreas rurais.
O documento destaca que devido a uma série de fatores como o analfabetismo, o desemprego e a discriminação “a comunidade indÃgena está associada a ser pobreâ€. No mercado de trabalho, isso se reflete nos salários e significa que os Ãndios, mesmo capacitados, recebem a metade que os não-Ãndios. Na América Latina, a BolÃvia apresenta a maior diferença de salário para cada ano adicional de escolaridade.
A pobreza, no entanto, também é a realidade dos Ãndios de paÃses considerados desenvolvidos, como o Canadá, os Estados Unidos, a Austrália e a Nova Zelândia. Lá, a população indÃgena tem os indicadores sociais mais baixos e é vÃtima do avanço da obesidade e do diabetes tipo 2, além da baixa expectativa de vida. Na Austrália, a expectativa de vida de um aborÃgene é em média 20 anos menor do que a dos demais indivÃduos.
A falta de apoio para a utilização de conhecimentos tradicionais e para a instalação de sistemas que atendam de maneira diferenciada essa população, além de problemas de ordem cultural como a discriminação e a falta de perspectivas de vida, refletem-se em problemas de saúde como alcoolismo que pode levar ao diabetes – que já atinge mais da metade dos Ãndios do mundo – e nas taxas de suicÃdio.
“Em algumas comunidades, a diabetes alcançou nÃveis de epidemia e é um risco à existência dos Ãndiosâ€, afirma o relatório da ONU, que também destaca o avanço da Aids, trazida pela prostituição, em muitos casos, e da tuberculose. “Por causa da pobreza, a tuberculose afeta desproporcionalmente os indÃgenasâ€, invisÃveis devido a diferenças linguÃsticas, distâncias geográficas e precárias condições de habitação.
O relatório da ONU sobre a situação dos povos indÃgenas no mundo também lembra que nas últimas duas décadas, centenas de jovens Guarani Kaiowá, no Mato Grosso do Sul, cometeream suicÃdio. Dados do Ministério da Saúde, coletados entre 2000 e 2005 mostram que em duas comunidades a taxa de suicÃdio era 19 vezes maior que a taxa nacional.
“A situação dos Kaiowá resume os principais problemas indÃgenas do Brasil. Desnutrição, suicÃdio, alcoolismo, desemprego, falta de terras e violênciaâ€, disse Marcos Terena, articulador do Comitê Intertribal – Memória e Ciência IndÃgena (ITC) ao comentar os resultados do levantamento. “O Mato Grosso do Sul é considerado o estado do paÃs mais violento para os Ãndios, onde os poderes pecuaristas e polÃticos avançaram demaisâ€, criticou.
De acordo com a pesquisa, o baixo acesso a mecanismos que garantam condições de sobrevivência a essas comunidades como terra, saúde, educação e participação nas decisões polÃticas e econômicas em seus paÃses têm explicações históricas. O documento conclui que a colonização e a expropriação fundiária são responsáveis por esses indicadores.