[Publicado no blog, 7 dez 2010] A notÃcia de libertação da iraniana é maravilhosa. Às vezes, a luta por uma pessoa se transforma na luta por um princÃpio. Isso foi o que tanta gente boa no mundo entendeu e no Brasil também. Houve mobilização pela internet, abaixo assinado, campanhas.
Aqui, houve uma campanha no twitter do #ligaLula, pedindo que o presidente brasileiro usasse sua influência e amizade com o lider iraniano pedindo por ela. Ele relutou e disse que era assunto interno e depois, por força do palanque, mas em boa hora, começou a usar os canais diplomáticos e as declarações em favor da iraniana.
A primeira vitória foi o cancelamento do apedrejamento. A segunda e definitiva é a libertação, coisa que todos os que assinaram o abaixo-assinado queriam. A entrevista da presidente eleita do Brasil, Dilma Rosseff, foi clarÃssima em dizer que seria ainda mais intransigente nessa questão.
O apedrejamento é uma forma bárbara de morte que tem que ser abolida. Mas o caso da Sakineh tinha também outros elementos: ela “confessou” o adultério depois de levar 99 chibatadas. O processo no meio foi transformado de adultério em acusação de suposta participação no assassinato. O advogado perseguido teve que se exilar. O filho que lutava pela mãe também foi perseguido e preso. Enfim, toda a face autoritária do governo de Mahmoud Ahmadinejad apareceu nesse caso.
A causa de Sakineh é a causa da mulher vÃtima de difererentes formas de violência no mundo inteiro. No Paquistão, Mukhtar Mai representou isso. Quem não se lembra, um refresco da memória: Mukhtar Mai foi condenada a estupro coletivo porque seu irmão de 12 anos teria supostamente namorado uma moça de 19 anos de uma casta superior. Os donos da localidade onde ela mora condenaram a irmã pelo que o pobre do garoto estava sendo acusado.
Pela Sharia, o ritual é macabro. Ela foi currada em praça pública e depois tinha que ir andando nua até em casa. Seu pai quebrou a regra e a cobriu com um manto. A familia se uniu e a protegeu. Normalmente, mulheres que passam por isso se matam de vergonha. Ela lutou na Justiça comum pelo julgamento dos culpados. Foi vitoriosa. Ganhou prêmios internacionais e usou o dinheiro para construir uma escola onde meninos e meninas estudam. É uma história inspiradora que está no livro “A Desonrada”.
Existem outras Sakinehs por aÃ, outras Mukhtar Mai. Mas hoje a luta da mulher caminha assim. De vez em quando, uma representa todas. Sakineh é hoje a soma das mulheres que querem um mundo de direitos iguais. No futuro, isso será possÃvel. A libertação dela é um passo em direção ao futuro. Tomara que a notÃcia se confirme.