[Amanda Cieglinski, da Agência Brasil, 11 dez 2010]
Os resultados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), divulgados esta semana, mostram que muitos paÃses considerados referência em qualidade de educação não conseguiram melhorar o desempenho ou até mesmo pioraram – como o Reino Unido, a Holanda, França e Austrália. Para o especialista em educação e ex-representante da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) no Brasil Jorge Werthein, os números mostram que “todos os paÃses estão enfrentando uma crise em qualidade de educaçãoâ€.
A prova é aplicada a cada três anos pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) e avalia o conhecimento de estudantes de 15 anos de idade em matemática, leitura e ciências. Em 2009, participaram 65 paÃses. O Brasil, apesar de ter melhorado seus resultados, ficou em 54° lugar. A média dos paÃses-membros da organização ficou inalterada.
Na avaliação de Werthein, a falta do hábito da leitura é hoje um problema universal e tem impacto nesses resultados. “Os jovens de 15 anos não estão conseguindo ser atraÃdos pela leitura e a escola está lutando incessantemente contra issoâ€, avalia. O relatório do Pisa mostra que, em média, 41% dos alunos dos paÃses da OCDE leem somente se for necessário. Um terço afirma que ler é um dos hobbies favoritos e quase um quarto diz que a atividade é “perda de tempoâ€. Em todos os paÃses, com exceção do Cazaquistão, todos aqueles que gostam dessa atividade têm performance significativamente melhor em leitura.
O Pisa também investigou os tipos de textos que os alunos leem e aponta um crescimento da popularidade da leitura nos meios digitais como a internet. Em todos os paÃses participantes, essa atividade está associada a melhores desempenhos em leitura, apesar de o impacto desse hábito na nota final não ser tão alto. Mas a parcela de estudantes que leem jornais e revistas por prazer caiu bruscamente, segundo o estudo.
“Isso levanta uma preocupação muito importante, as escolas precisam brigar e tentar melhorar a leitura, nenhuma sociedade pode ser democrática se não for letradaâ€, defende Werthein.
Ele ressalta que é pequeno o número de alunos brasileiros que tiveram um bom desempenho em leitura e estão no nÃvel 4 e 5 de proficiência, considerando uma escala de 1 a 5. Em média, os estudantes do paÃs ficaram no nÃvel 2, mas parte considerável ainda está no primeiro.
O coordenador de Educação da Unesco no Brasil, Paolo Fontani, avalia que quanto mais alto é o desempenho de um paÃs, mais difÃcil é conseguir melhorar a nota. “É mais fácil crescer quando os patamares são mais baixos. Mas, ainda assim, paÃses como a Polônia e Portugal tiveram uma melhora bastante forte sobretudo na camada de estudantes que tinham desempenho mais fraco. No Brasil foi o contrário: melhoraram aqueles que já estavam em nÃveis elevados e não houve avanço forte entre aqueles com baixa performanceâ€, apontou.
Para Fontani, o Pisa deixa a lição de que sustentar a qualidade do ensino é uma tarefa complexa. “Qualquer sistema, se você não cuidar, ele vai cair, é como um prédio. A estrutura de um sistema educativo pode ser perfeita e de boa qualidade, mas, se não tiver manutenção ou não cuidar bastante, ele não funcionaâ€, avalia.
Ele ressalta também que em alguns paÃses os resultados podem ter sido afetados por fluxos migratórios, como na Inglaterra, que entre 2000 e 2009 perdeu 28 pontos na média das três disciplinas. “Os estudantes que têm uma lÃngua materna diferente impactam o desempenho total.â€
Werthein acredita que os paÃses cujas médias caÃram no Pisa devem ter uma forte reação para mudar o cenário. Foi o que ocorreu com a Alemanha, que depois de desempenhos considerados fracos subiu 23 pontos entre 2000 e 2009.
“Eles [paÃses mais ricos] estão muito preocupados e para eles é inaceitável estar nessa posição. Nós exigimos ser sempre campeões de futebol, deverÃamos ter essa mesma vontade para ser campeões internacionais em leitura, matemática e ciênciasâ€, compara Werthein.
Edição: Juliana Andrade