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Aumenta o número de abortos de risco no mundo, diz OMS

Enquanto o número total de abortos está estagnado no mundo, a proporção dos abortos que colocam a saúde da mulher em risco está crescendo.

Um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Instituto Guttmacher, nos Estados Unidos, revela que o declínio do aborto em todo o mundo está estagnado. De acordo com o estudo, chamado Aborto Induzido: Incidências e Tendências pelo Mundo de 1995 a 2008, o número total de aborto entre mulheres de 15 a 44 anos, caiu de 35 para 1.000 mulheres para 29 / 1.000 entre 1995 e 2003, e para 28/1.000 em 2008. Já a proporção de abortos considerados de risco tem aumentado. O estudo foi publicado no periódico The Lancet.

[Veja, 20 jan 12] Segundo os dados da OMS, estima-se que 43,8 milhões de abortos foram feitos em 2008, comparados a 41,6 milhões em 2003 e a 45,6 milhões em 1995. Cerca de 80% de todos os abortos foram realizados em países em desenvolvimento em 1995, com um aumento para 86% em 2008. Nesse mesmo período, a proporção de mulheres em idade reprodutiva aumentou de 80% para 84% nessas regiões. Continue lendo

Britânica é condenada a 8 anos por aborto com 9 meses de gestação

Uma mulher britânica foi condenada a oito anos de prisão por abortar um bebê na fase final de gestação.

[BBC Brasil, 18 set 12] Sarah Louise Catt, de 35 anos, tomou uma droga abortiva quando estava com 39 semanas de gestação, em 2010, provocando um parto antecipado.

Ela alegou que o menino nasceu morto e que ela enterrou o corpo, mas nenhuma evidência da criança jamais foi encontrada.

Catt, que é casada e já tinha dois filhos com o marido, vinha mantendo um relacionamento com um colega de trabalho havia sete anos na época da gravidez. Continue lendo

Anencéfalo só morre porque está vivo! ~ Direitos humanos face à dramaticidade da vida

Apesar da votação, constitucionalista avalia decisão dos ministros e insiste em visão contrária à adotada pela maioria. ‘Anencéfalo só morre porque está vivo!’

[Maria Garcia, Estadão, 14 abr 12] O valor universal dos direitos humanos vem juridicamente reconhecido desde a Carta da ONU de 1945, em cujo Preâmbulo os “Povos das Nações Unidas” reafirmam sua “fé nos direitos fundamentais do homem…”, e na Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948. Na Constituição brasileira de 1988, duas disposições destacam-se no tema: o art. 5º, caput, pelo qual se garante a inviolabilidade do direito à vida, e o art. 227, pelo qual “é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, com absoluta prioridade, o direito á vida…”, além de colocá-la “a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão”. Esse, o mandamento constitucional dirigido a todos (família, sociedade e Estado). Então, qual é o problema, afinal, dos direitos humanos? Continue lendo

Clínicas britânicas fazem aborto de grávidas que rejeitam sexo do bebê

Clínicas particulares britânicas estão aceitando interromper a gravidez de mulheres que desistem de ter o bebê quando sabem de qual sexo ele será.

[FolhaSP/EFE, 23 fev 12] O procedimento é realizado principalmente quando o feto é de uma menina, afirma o jornal “The Daily Telegraph” nesta quinta-feira.

A reportagem do jornal fez uma reportagem com uma câmera escondida em que mostra como médicos de hospitais particulares consentem fazer abortos motivados unicamente pelo sexo do bebê. A prática é ilegal no Reino Unido.

Em declarações ao “Telegraph”, o ministro da Saúde, Andrew Lansley, da linha conservadora, expressou preocupação e disse que dará início a uma investigação urgente sobre o assunto. Continue lendo

Após aborto, mulheres entram em hospitais como pacientes e saem indiciadas

Pontuado por riscos, o itinerário da mulher processada criminalmente pela prática de aborto por meio de medicamento proibido começa na decisão compartilhada com o companheiro e termina no local onde ela procura por socorro.

[CB, 8 ago 11] É do lugar criado para acolher pessoas em situação de emergência que muitas saem indiciadas. A constatação vem de dados científicos. Das sete mulheres cujas histórias foram analisadas na pesquisa inédita Quando o aborto se aproxima do tráfico, realizada pela Universidade de Brasília (UnB) e pelo Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero, que será publicada na revista Ciência & Saúde Coletiva, três foram denunciadas quando ainda estavam no leito do hospital.

A presença de médicos como testemunhas de acusação em 10 inquéritos policiais e processos judiciais investigados no estudo, com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, abre a discussão para o papel dos profissionais de saúde no atendimento a quem praticou aborto. “Nem pelo nosso código de ética nem pelo Código Penal é permitido que o médico quebre o sigilo das informações de uma paciente que praticou aborto. Continue lendo

Aborto seletivo pode explicar déficit de 8 milhões de meninas na Índia

Anushka, bebê que quase foi abortado na Índia

[BBC Brasil, 25 mai 11] A indiana Kulwant (aqui chamada por um nome fictício, por razões legais) tem três filhas com idades de 24, 23 e 20 anos e um filho com 16.

No período entre os nascimentos da terceira menina e do menino, Kulwant engravidou três vezes, mas foi forçada pela família a abortar os bebês após exames de ultrassom terem confirmado que eram do sexo feminino.

O caso ilustra um problema cada vez mais grave na Índia: o censo de 2011 no país revelou um forte declínio no número de meninas com menos de sete anos.

Militantes que fazem campanha para que a prática de abortar meninas seja abandonada temem que oito milhões de fetos do sexo feminino tenham sido abortados na última década. Para alguns, o que acontece hoje na Índia é infanticídio.

“Minha sogra me insultava por eu ter tido apenas meninas. Ela disse que seu filho ia se divorciar de mim se eu não tivesse um menino”, disse Kulwant.

Ela contou que tem vívidas lembranças do primeiro aborto. “O bebê já tinha quase cinco meses. Ela era linda. Eu tenho saudades dela e das outras que matamos”, ela contou, enquanto secava as lágrimas com as mãos. Continue lendo

Infeliz declaração, senhor governador!

Assim é o Brasil: hoje o IBGE divulga que 25% das mulheres brasileiras sofreram violência doméstica entre 2007 e 2009.
Ontem, o governador do Rio, Sergio Cabral, faz esta infeliz declaração, pra dizer o mínimo.
Como diz o sábio:

“Quando os ímpios governam, o povo geme” Pv 29.2

Veja a notícia.
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[Estadão, 14 dez 2010]

Quem aqui não teve uma namoradinha que teve que abortar?’, diz Cabral

Governador do Rio volta a defender a legalização do aborto e critica a falta de discussão no País

O governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), criticou nesta terça-feira, 14, a lei do aborto no Brasil. Em São Paulo, ele defendeu a legalização da prática. “Quem aqui não teve uma namoradinha que teve que abortar?”, indagou, ao comentar que as clínicas ilegais são comuns no País.

Cabral também criticou a falta de discussão sobre o tema. “Há uma hipocrisia no Brasil. Esse tema foi muito mal discutido na campanha eleitoral. As pessoas já conhecem minha opinião. Acho que primeiro que a mulher tem que ser muito ouvida”, afirmou.

Segundo o governador, a discussão deve ser feita “entre a classe médica e as mulheres”. “Assim (do jeito que é hoje) está falso, mentiroso, hipócrita. Isso é uma vergonha para o Brasil.”

O govenador ainda destacou que o poder público “tem que estar preparado para atender a mulher”. “Ninguém é a favor do aborto, você é a favor do direito da mulher a recorrer no serviço público de saúde à interrupção de uma gravidez.”

As declarações foram feitas em entrevista à imprensa após um evento da Revista Exame, na Editora Abril. Não foi a primeira vez que o governador carioca se posicionou a favor do aborto. Em 2007, ele defendeu a prática como método de redução da violência no Rio.

Aborto: Aumenta o mal cheiro vindo dos porões

Foto: AFP

Conforme avança a investigação policial em Bangcoc, capital da Tailândia, sudeste asiático, aumenta o número de fetos encontrados nos porões de um templo Budista.

Nesta sexta feira, num segundo lugar apontado por funcionários do templo, foram encontrados mais 950 fetos além dos 348 anteriores. Oficiais já declararam a existência de um terceiro local, o que aumentaria ainda mais o número de corpos.

Resultado do trabalho clandestino das clínicas de aborto, embrulhados em sacos de lixo e jornais, estes fetos eram encaminhados para o templo onde seriam incinerados. Uma reforma no forno iniciada há dois meses teria sido a causa do acúmulo. Continue lendo

O subproduto fétido da indústria do turismo sexual

Polícia encontra mais de 300 fetos em templo de Bangcoc

Da BBC Brasil – A polícia da Tailândia descobriu os restos mortais de mais de 300 fetos humanos escondidos em um templo budista da capital, Bangcoc.

Há suspeitas de que os fetos – encontrados embrulhados em sacos plásticos e jornais no necrotério do templo – tenham vindo de clínicas de aborto clandestinas.

Os corpos foram descobertos depois que um dos zeladores do templo Wat Phai Ngern sentiu um forte cheiro vindo do necrotério, segundo informações do Bangkok Post.

A polícia foi então alertada e começou as investigações. Os funcionários do necrotério estariam sendo interrogados por causa da suspeita de que um deles tenha sido contratado por clínicas de aborto para manter os corpos no templo.

O aborto é ilegal no país, a não ser quando a gravidez ameaça a saúde da mãe ou é resultado de estupro.

Templos budistas na Tailândia realizam cerimônias de cremação e também mantém corpos em áreas refrigeradas.

Fonte: BBC Brasil, 17 nov 2010

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Meu comentário….

348, esse é o número de restos humanos não nascidos encontrados apodrecendo nos porões deste ‘Templo’, conforme noticiou a própria BBC em Inglês.

Conseguirá, ou melhor, pretenderá a investigação identificar e punir os/as ‘culpado/as’? quem seriam? as jovens e adolescentes exploradas nos bordéis de Bangcoc…? ou seus algozes, muitas vezes sua própria família…?

A triste realidade é que o povo de Bagcoc e da Tailândia sofrem sob a mão pesada da milionária indústria da prostituição e turismo sexual.

Seriam esses sacos plásticos o ‘subproduto indesejável’ desta indústria?

Quem se levantará em defesa da vida?

“Onde não há profecia o povo se corrompe”.

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Veja também o vídeo divulgado pela CNN (em Inglês)

Hundreds of fetuses found at Thailand temple – CNN.com

(Dica: clique com o lado direito do mouse para abrir numa nova aba)

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Curetagem após aborto é a cirurgia mais realizada no SUS, revela estudo

pregnant woman holding her belly and flower

Estudo foi feito por pesquisadores do Instituto do Coração com base em dados do Datasus de 1995 a 2007; especialistas avaliam que maioria dos procedimentos é decorrente de aborto provocado, pois os espontâneos, em geral, não exigem internação

A curetagem após aborto foi a cirurgia mais realizada no Sistema Único de Saúde (SUS) entre 1995 e 2007, segundo levantamento do Instituto do Coração (InCor), da Universidade de São Paulo. Com base em dados do Ministério da Saúde, os pesquisadores analisaram mais de 32 milhões de procedimentos nesse período. Ficaram de fora cirurgias cardíacas, partos e pequenas intervenções que não exigem a internação do paciente.

“Procuramos analisar o perfil epidemiológico das cirurgias que tinham um porte médio ou grande e, portanto, potencial maior de complicações”, diz a médica Pai Ching Yu, autora da pesquisa. Ela explica que tanto partos como cirurgias cardíacas são habitualmente estudados separadamente por terem características muito peculiares.

Entre os 1.568 tipos de procedimentos avaliados, as curetagens ficaram na frente, com 3,1milhões de registros. Em seguida vieram as cirurgias para correção de hérnia (1,8 milhão), retirada de vesícula (1,2 milhão), plástica de vagina e períneo (1,1 milhão) e retirada do apêndice (923 mil).

“As informações disponíveis no Datasus não permitem diferenciar a curetagem resultante do aborto espontâneo da do provocado”, explica a autora do estudo. O objetivo da pesquisa era avaliar dados como taxa de mortalidade e custo dos procedimentos para o sistema de saúde (mais informações nesta página). Os dados foram publicados na revista Plos One.

Segundo estimativa do Ministério da Saúde, a maioria das curetagens realizadas é decorrente de aborto provocado. O médico Thomaz Gollop, coordenador do grupo de estudos sobre o aborto da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, concorda. “A maior parte dos abortamentos espontâneos não exige internação. As complicações são quase absolutamente resultantes de abortos provocados”, diz . “Isso mostra que a lei vigente é completamente ineficaz. Além de não coibir, faz com que o SUS gaste uma fortuna com abortos mal-assistidos.”

Lei. Pela legislação brasileira, o aborto só é permitido nos casos de estupro ou quando a gravidez representa risco de vida para a mãe. Também é possível obter autorização judicial quando o feto possui anomalia incompatível com a vida, como anencefalia.

De acordo com a antropóloga Debora Diniz, da Universidade de Brasília, levantamentos anteriores mostraram que o número de curetagens no País é alto, mas nunca havia sido feito um estudo comparativo desse porte. “E esses dados se referem apenas às mulheres que vão parar no serviço público.”

Outro estudo recente também coordenado por Débora apontou que 15% das brasileiras já abortaram e 55% dessas mulheres precisaram ser internadas por complicações.

Para a diretora da Comissão de Cidadania e Reprodução, Margareth Arrilha, o dado levantado pelo estudo do InCor é importante porque surge em um contexto livre de contaminações ideológicas. “É difícil encontrar informações dessa natureza. E, quando surgem, são acusadas de estarem vinculadas às ideologias de seus autores.”

A presidente da Associação Nacional de Mulheres, Dóris Hipólito, afirma que a solução não é legalizar o aborto, mas criar políticas públicas para as mulheres que incluam planejamento familiar, profissionalização e inserção no mercado de trabalho. “Problema de saúde pública não se resolve matando, mas salvando as vidas da mãe e do bebê.”

Entre 2004 e 2009, o número de curetagens realizadas no SUS caiu de 241 mil para 183 mil por ano. Segundo Adson França, assessor especial do ministro José Gomes Temporão, isso é resultado das políticas de ampliação do acesso a contraceptivos.

Fonte: Estado SP, 14 jul 2010

Uma em cada 5 mulheres de 40 anos já fez aborto

Uma em cada cinco brasileiras de 40 anos (22%) já fez pelo menos um aborto, aponta o maior levantamento sobre o tema realizado no País. Quando consideradas mulheres de todas as idades, uma em cada sete (15%) já abortaram. Ao contrário do que se imagina, a prática não está restrita a adolescentes solteiras ou a mulheres mais velhas. Cerca de 60% das mais de 2 mil entrevistadas interromperam a gestação no centro do período reprodutivo – entre 18 e 29 anos.

“A maioria é de mulheres casadas, religiosas, com filhos e baixa escolaridade”, revela a antropóloga da Universidade de Brasília Debora Diniz, autora principal do estudo. “Elas já têm a experiência da maternidade e tanta convicção de que não podem ter outro filho no momento que, mesmo correndo o risco de serem presas, interrompem a gestação”, diz.

Medicamentos abortivos foram usados em metade dos casos pesquisados. É provável que para a outra metade das mulheres a interrupção da gravidez tenha ocorrido em condições precárias de saúde, aponta o estudo. “Cerca de 55% das mulheres precisou ser internada por causa de complicações. Se o aborto seguro fosse garantido, isso seria evitado”, defende Debora.

“Os dados reafirmam a opinião já consolidada no Ministério da Saúde de que aborto é uma questão de saúde pública”, diz Adson França, assessor especial do ministro José Gomes Temporão. “Mostra que estamos no caminho certo ao ampliar a oferta de métodos contraceptivos no Sistema Único de Saúde (SUS).”

Financiada pela Fundação Nacional de Saúde, a Pesquisa Nacional de Aborto entrevistou 2.002 mulheres entre 18 e 39 anos de todo o País. A técnica utilizada é semelhante a de pesquisas eleitorais e, como o anonimato é garantido, estima-se uma margem de erro de apenas 2%.

Fonte: Agência Estado, 22 maio 2010

Número de abortos legais cai 42% entre 2008 e 2009

Por Ullisses Campbell, no Correio Braziliense, 8 fev 10

São Paulo — Um levantamento inédito feito pelo Ministério da Saúde revela que o número de mulheres que procuram o Sistema Único de Saúde (SUS) para fazer aborto com autorização judicial caiu 42% entre os anos de 2008 e 2009.

Na avaliação do próprio governo, o número de abortos legais realizados no Brasil vem reduzindo ano a ano desde 2005 por causa do aumento na distribuição de contraceptivos, como camisinhas, anticoncepcionais e principalmente a pílula do dia seguinte. Só no ano passado, o Ministério da Saúde entregou 152 mil cartelas de contraceptivo de emergência.

Comparando com o ano anterior, o aumento na distribuição gratuita desse medicamento foi de 508%. “A tendência é aumentar ainda mais o acesso das mulheres às pílulas do dia seguinte para evitar gravidez indesejada por causa de acidentes de percursos”, avisa Lena Peres, coordenadora da área técnica da Saúde da Mulher do Ministério da Saúde.

Para ter acesso à pílula que evita gravidez, Lena diz que a paciente precisa ter em mãos uma receita médica e seguir até o posto de saúde mais próximo. No consultório, os profissionais dão a receita praticamente a todas as mulheres de 15 a 49 anos que desejam evitar a gravidez. “Elas geralmente dizem que não tinham camisinha na hora do sexo e que ficaram com receio de engravidar”, conta o médico Ricardo Porto, do posto de saúde da Vila Mariana, São Paulo.

A advogada brasiliense C.S.R, 28 anos, recorre à pílula do dia seguinte sempre que se esquece de tomar o anticoncepcional ou quando o namorado não está com camisinha. Em todo o ano passado, a jovem tomou três vezes a pílula. Todas compradas em farmácias e sem receita médica. “Não estou pensando em ter filhos agora porque ainda estou me firmando profissionalmente”, justifica.

Para o médico ginecologista Jefferson Drezett, assessor do Comitê Latinoamericano de Anticoncepção de Emergência, a distribuição de pílula do dia seguinte nos postos de saúde vai fazer cair, no futuro, uma estatística negativa. “A cada dois dias, uma mulher morre no Brasil por causa de abortos feitos clandestinamente”, diz.

Recurso

A designer A.A.D, 31 anos, recorreu a um aborto quando tinha 17 anos. O namorado, então com 19 anos, ficou assustado quando ela confirmou a gravidez, que estava em seis semanas. Assustada com a possibilidade de ser mãe muito jovem e apavorada porque o namorado não ia assumir o bebê, decidiu interromper a gestação. O namorado foi à farmácia e comprou Citotec, um abortivo comum. “Tomei e fui deitar. Em seguida, tive uma contração no útero e muita cólica. Fui ao banheiro, sentei-me no vaso sanitário e minha menstruação veio de uma só vez. (…) Não tive coragem de olhar para o feto. Sabia que existia uma criança ali. Quase não consegui dar a descarga”, relata emocionada. A designer carregou culpa por vários anos até engravidar pela segunda vez e ter uma filha.

Membro da Comissão de Cidadania e Reprodução, uma entidade não governamental, a socióloga Thaís Lapa, comemora o fato de os abortos estarem em queda no SUS graças à distribuição das pílulas. Mas ela faz o seguinte alerta: é possível que a diminuição do número de abortos possa estar relacionada à falta de hospitais que ofereçam o procedimento de interrupção de gravidez legal. Atualmente, apenas 60 hospitais estão credenciados pelo governo para a realização de “esvaziamento uterino”, termo usado pelo Ministério da Saúde.

“Acho que esse dado que mostra a queda de abortos deveria ser melhor analisado, até porque aumentou o número de curetagens”, diz Thaís. Estatísticas processadas pelo departamento da Saúde da Mulher apontam que o número de curetagem feita em postos de atendimento público aumentou 37% entre 2008 e 2009. Geralmente esse procedimento ocorre quando a mulher tenta fazer aborto em casa ou em clínicas clandestinas e acaba tendo complicações.

“O Brasil é um estado laico. A Igreja Católica tem o direito de se manifestar, mas o governo tem o dever de amparar as mulheres que não desejam ter filhos”

Lena Peres, coordenadora da área de Saúde da Mulher do Ministério da Saúde

“O Ministério da Saúde está enganando a população porque a pílula do dia seguinte é um método tão abortivo quanto o Citotec”

Dom Antônio Duarte, médico, bispo auxiliar do Rio e membro da Pastoral da Vida

Igreja discorda das estatísticas

O aumento na distribuição de pílulas do dia seguinte pelo governo federal não é motivo de comemoração entre quem é contra o aborto. A entidade que mais critica é a Igreja Católica. O bispo auxiliar do Rio de Janeiro e membro da Pastoral da Vida e Família da Conferência dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Antônio Augusto Duarte, é médico. Ele diz que realizou uma pesquisa científica no laboratório que fabrica a pílula distribuída pelo governo e concluiu que ela é tão abortiva quanto o Citotec. “O governo deveria dar todas as informações científicas para não enganar a população, já tão desamparada nos seus direitos à verdade, à segurança e à saúde”, critica o religioso.

Segundo a pesquisa de dom Antônio, a pílula do dia seguinte age impedindo que o esperma chegue até a parede uterina usando os mesmos mecanismos do Citotec numa proporção menor. “O ciclo da vida começa na fecundação. Usar a pílula é um microaborto”, define o religioso. Por outro lado, o bispo ressalta que a Igreja perdoa e ampara as mulheres que se submetem à contracepção de emergência.

Na avaliação de dom Antônio, o Ministério Público vem conseguindo diminuir o número de abortos legais feitos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), mas isso não significa que estejam ocorrendo menos interrupções de gravidez no país. “Todo mundo sabe que as mulheres estão fazendo abortos em casa tomando remédios e usando métodos rudimentares.”

Como o SUS só realiza aborto com autorização judicial, dom Antônio argumenta que os juízes podem ter negado mais autorização em 2009 do que no ano anterior, o que faz com que as mulheres recorram a outros meios que não sejam o hospital público.

Segundo uma pesquisa feita pelo Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) em 781 processos judiciais de todo o país, 31% das ações que tratam de aborto no Brasil referem-se a interrupções de gravidez causadas por violência contra gestantes. As ações pesquisadas tramitavam pelos Tribunais de Justiça de todos os estados, no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e no Supremo Tribunal Federal (STF) entre 2001 e 2006.

Do total de processos vinculando aborto à violência, 67% eram da Região Sudeste, 20% da Sul, 7% da Centro-Oeste, 4% da Nordeste e 2% da Norte. Segundo o estudo, essa relação está diretamente ligada ao maior acesso ao Judiciário nos estados mais desenvolvidos do país. Quanto à tipificação penal, 63% tratavam de “homicídio e aborto não consentido”. Em segundo lugar destacavam-se casos de “violência sexual de criança ou adolescente até 14 anos e aborto”, com 10%.