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Exclusão digital pode prejudicar economia brasileira, dizem especialistas

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Com apenas um terço de sua população com acesso à internet e um índice de penetração de banda larga menor que o de países como Argentina, Chile e México, o Brasil corre o risco de ver seu crescimento econômico comprometido devido a este atraso, segundo especialistas ouvidos pela BBC Brasil.

De acordo com dados do IBGE, mais de 65% dos brasileiros com mais de dez anos de idade não acessam a rede mundial, sendo que a grande maioria destes (60%) não o faz por não saber como ou por não ter acesso a computadores.

O número de desconectados no Brasil é muito maior, por exemplo, que o da Coreia do Sul – onde quase 78% da população tem acesso à rede -, que de grande parte dos países da Europa Ocidental e até mesmo que o do Uruguai, onde cerca de 40% das pessoas acessa a internet.

A situação do acesso a conexões de banda larga, fundamentais para que se possa aproveitar todas as possibilidades multimídia da internet, ainda é mais grave.

A União Internacional de Telecomunicações, agência da ONU para questões de comunicação e tecnologia, estima que apenas 5,26% dos brasileiros tenham acesso a conexões rápidas.

O número é bem inferior à penetração da banda larga na Argentina, que é de 7,99%, Chile, onde a penetração é de 8,49%, e México, onde este índice é de 7%.

Com o objetivo de corrigir este déficit, o governo chegou a anunciar um Plano Nacional de Banda Larga, que pretende elevar a penetração das conexões rápidas no país para 45% até 2014. A implementação do programa, no entanto, deve ficar para o próximo governo.

Desenvolvimento e preço

PENETRAÇÃO DE BANDA LARGA

Suécia – 37,3%*

Dinamarca – 36,8%*

Chile – 8,49%

Argentina – 7,99%

Uruguai – 7,3%

México – 7 %

Brasil – 5,26%

*Países com maior penetração de banda larga (Fonte: UIT)

Mas não é só no ranking de penetração de banda larga que o Brasil está atrás de países com estrutura e economia similares.

Um estudo divulgado pela União Internacional de Telecomunicações no final de fevereiro coloca o Brasil atrás de Argentina, Uruguai, Chile e até Trinidad e Tobago em um ranking de desenvolvimento de Tecnologias de Informação e Comunicação, área conhecida pela sigla TIC.

Entre os motivos que levam o Brasil a registrar tal atraso estão problemas institucionais, de infraestrutura e as dimensões territoriais do país, que dificultam a instalação de uma grande rede de banda larga, por exemplo.

Especialistas ouvidos pela BBC Brasil, no entanto, apontam os altos custos de conexão como um dos principais entraves para que a maioria dos brasileiros tenha acesso à internet.

“O Brasil tem os custos de conexão mais caros do planeta. Hoje, nosso maior problema de infraestrutura é o ‘custo Brasil de telecomunicação’ e, este é um dos grandes problemas para aumentar o uso da internet”, diz o sociólogo Sérgio Amadeu, professor da Universidade Federal do ABC e ex-presidente do Instituto Nacional de Tecnologia da Informação, órgão ligado à Casa Civil da Presidência da República.

De fato, a União Internacional de Telecomunicações aponta que Brasil está no grupo de países onde mais se paga para ter acesso a serviços como internet, telefone fixo e celular.

José Carlos Cavalcanti, professor do Departamento de Economia da Universidade Federal de Pernambuco e ex-secretário executivo de Tecnologia, Inovação e Ensino Superior do Estado, atribui os custos à elevada carga tributária e diz que pequenas variações no preço de acesso à internet poderiam já ter impacto na demanda.

“Para cada 1% de redução no preço de um computador ou na tarifa de internet, a demanda aumenta 0,5%. Já se houver um aumento de 1% na renda das pessoas, a demanda aumenta 0,5%”, diz Cavalcanti, citando um estudo de 2006 conduzido por ele para a Microsoft.

Crescimento perdido

É difícil mensurar o quanto o Brasil vem perdendo em termos de crescimento econômico e de empregos com este atraso.

Dados da consultoria McKinsey&Company, no entanto, apontam que um aumento de 10% nas conexões de banda larga pode levar a um crescimento entre 0,1% e 1,4% no PIB de um país. Uma outra pesquisa, do Banco Mundial, indica que este crescimento pode ser de 1,38% em países subdesenvolvidos.

Segundo a pesquisa da McKinsey, este crescimento econômico se dá por cinco fatores: primeiro devido ao impacto direto do investimento na rede de banda larga, depois pelo efeito da melhoria na indústria, seguido por aumento nos investimentos estrangeiros diretos e na produtividade e por uma melhora no acesso da população a informações.

O mesmo estudo diz que se a penetração da banda larga na América Latina atingisse o mesmo nível da Europa Ocidental, 1,7 milhão de empregos poderiam ser criados na região.

Autor de estimativas mais cautelosas, Raul Katz, professor da Universidade Columbia, nos Estados Unidos, afirma que se o Brasil superasse seu déficit de banda larga – que ele estima ser de 5 milhões de conexões – nosso PIB poderia ter um crescimento de 0,08 pontos percentuais.

‘PIB, PIB Virtual e FIB’

Mas não é só crescimento do PIB que o Brasil perde com o fato de a maior parte de sua população ainda estar desconectada.

Para Gilson Schwartz, coordenador do centro de pesquisas Cidade do Conhecimento, da Universidade de São Paulo, esta perda causada pela desconectividade se dá em três categorias distintas.

A primeira é a perda em termos de emprego e renda. Outra categoria, mais difícil de mensurar, é o que ele chama de ‘PIB virtual’, ou seja, toda a produção, negócios e os serviços que poderiam ser feitos completamente dentro da rede e que não são feitos devido aos altos níveis de desconexão.

Quando você não tem banda larga, desenvolvimento digital, você está tirando trabalho e lazer. Nesse sentido você pode dizer que o déficit provocado pelo atraso digital é ainda maior do que o de qualquer setor tradicional

Gilson Schwartz, economista

Schwartz aponta ainda que as dificuldades de acesso à internet no Brasil trazem perdas em um “campo social, que mistura entretenimento, sexualidade, cidadania e identidade”.

“Quando você não tem banda larga, desenvolvimento digital, você está tirando trabalho e lazer. Nesse sentido você pode dizer que o déficit provocado pelo atraso digital é ainda maior do que o de qualquer setor tradicional”, diz.

“Sem dúvida alguma, sociabilidade, sexualidade, amizade e alegria estão cada vez mais disponíveis nas novas mídias, e quem não está acessando isso está perdendo aquele outro PIB, o FIB, felicidade interna bruta. Assim (com a exclusão digital), a gente perde no PIB, no PIB virtual e no FIB”.

Fonte:

Caio Quero, da BBC Brasil em São Paulo, 16 mar 2010

Internet 500 vezes mais rápida

Do Observatório da Imprensa, por Deonísio da Silva – 16/2/2010

Os perigos do Google ainda não foram detectados no Brasil. Seus mecanismos de busca percorrem o mundo e digitalizam tudo o que está disponível. E se daqui a pouco o Google resolver cobrar pela informação, hoje grátis, ou impor restrições ao acesso, hoje livre para todos? Daí, sim, veremos o que significa de verdade o Big Brother monstruoso que as letras já anteviram.

Por enquanto desfruta-se apenas de suas facilidades. Sem pagar mais do que o acesso à internet, pode-se perguntar qualquer coisa ao pitoniso do nosso tempo, que, semana passada, informou que prepara o lançamento de uma conexão para a internet quinhentas vezes mais veloz do que a mais rápida que utilizamos no Brasil.

Trafegando a 1 gigabit por segundo – 100 vezes mais rápida do que as melhores conexões por fibra óptica utilizadas hoje nos EUA –, os dados chegarão a uma elite de até 500 mil pessoas, que, segundo o coordenador do projeto, James Kelly, pagarão um “preço competitivo”, sabe-se lá o que significa isso. Se ninguém terá este serviço, ele competirá com quem?

Desrespeito como norma

A internet mais rápida do mundo é a da Coreia do Sul. Ainda assim, para baixar um filme de 120 minutos, de alta definição, é necessário o dobro do tempo. É muito, mas de todo modo é bem menos do que as 49 horas que se gasta ou se gastaria no Brasil. Pois o Google promete baixar todo o arquivo em seis minutos. Com qualidade de devedê, seriam gastos apenas quarenta segundos. Na Coreia do Sul, hoje são despendidos para a tarefa trinta minutos e no Brasil, cinco horas e trinta minutos.

A Veja deu chamada de capa à matéria assinada por Benedito Sverberi e Renata Betti. Será bom para os leitores se a mídia especializada, repercutindo o noticiado pela revista, ajustar um pouco o foco de suas reportagens sobre informática e tratar também dos senões desses avanços, que os há e são muitos, pois parecem obcecadas apenas com os benefícios.

No Brasil, para o pobre a internet rápida ainda é uma festa da qual ele não pode participar. As tarifas das operadoras de telefonia estão entre as mais caras do mundo. As felizardas anunciam velocidades que não entregam. Se o usuário reclama, ouve que “naturalmente” aquela velocidade é para determinadas regiões, convocam o cliente infeliz à resignação e tudo fica mais ou menos por isso mesmo.

Biblioteca babélica

Entre os perigos estrategicamente ignorados há um que ronda o nosso convívio e está prestes a acontecer: é o apagão da internet. A empresa de consultoria americana Nemertes Research tem um estudo que fixa a catástrofe para 2014, mas esse ano é lembrado apenas como o da Copa do Mundo no Brasil.

Por enquanto, o Google é visto no Brasil como uma ferramenta de pesquisa. Mas, com tal velocidade de internet, ele será muito mais do que isso. Pequeno exemplo: um sábio renascentista tinha uma biblioteca de cerca de cem livros. Com tais recursos eletrônicos, qualquer cidadão poderá ter uma de milhares de volumes, buscados não mais nas livrarias, mas na rede mundial.