Arquivo da tag: catolicismo

O Brasil é uma potência religiosa global ~ José Casanova [Entrevista]

Um dos principais sociólogos da religião no mundo explica a crise de fé da Europa, a politização da religiosidade nos EUA e o preconceito contra os ateus.

[Rodrigo Cardoso, Isto É, 16 mar 12] Aos 61 anos, José Casanova é um dos mais respeitados sociólogos da religião na atualidade. Autor do clássico “Public Religions in the Modern World” (de 1994), no qual trata da ligação entre o afastamento das pessoas das religiões e a modernidade, o acadêmico nascido na Espanha e naturalizado americano é professor titular do departamento de sociologia da Universidade de Georgetown, em Washington, nos Estados Unidos, e diretor do programa sobre “globalização, religião e o secular” do Center Berkley, na mesma instituição. Casado e com um filho, Casanova esteve no Brasil, no início do mês, para ministrar aulas magnas, ter encontros com pesquisadores e fazer palestras públicas em universidades. No período em que esteve no País, concedeu uma entrevista à ISTOÉ, na qual traçou um panorama da engrenagem religiosa no mundo atualmente – secularismo e ateísmo, a crise de fé na Europa, a politização da religiosidade nos EUA e a religião em países como Brasil, China e Índia.

Confira a entrevista.

Qual o futuro do catolicismo? 

Entre o protestantismo/pentecostalismo, o islã e o catolicismo – as três grandes religiões globais –, este último vem perdendo espaço e depende de como irá resolver as suas crises fundamentais envolvendo a igualdade das mulheres, o sacerdócio feminino e como irá reconstruir a sua moral sexual diante das transformações radicais da moralidade sexual nas sociedades. Não significa aceitar essas transformações, mas confrontá-las e dar uma nova alternativa moral aos problemas. Há um distanciamento entre a moral sexual das sociedades e a moral proposta pelo catolicismo. E sabemos que isso leva muitas mulheres a se afastar. E, quando uma mulher sai da igreja, a família deixa de ser cristã e os templos se esvaziam. Continue lendo

Padres brasileiros invadem o velho mundo

Os freis brasileiros Luciano Henrique (primeiro à dir.) e João de Deus (primeiro à esq.) estão na Holanda tentando manter viva a fé cristã

Jovens sacerdotes são convocados para atuar em paróquias na Europa, onde há escassez de mão de obra religiosa e o catolicismo está mergulhado em profunda crise.

[Rodrigo Cardoso, Isto É, 25 nov 11] Uma igreja sem padre, uma fé sem igreja. Entre os europeus esse cenário é mais do que possível. A descristianização da Europa, que outrora foi responsável por levar o Evangelho à América Latina, atingiu um grau tão elevado que há uma corrente de teólogos que acredita que o catolicismo esteja dando adeus ao Velho Continente. Na Holanda, por exemplo, a diocese de Den Bosch, no sul do país, estuda deixar na ativa apenas um quinto das atuais 250 paróquias. O destino da maioria delas poderá ser a transformação em museus e livrarias, o funcionamento esporádico com missa apenas uma vez por semana ou a demolição. “Não há padres, fiéis ou dinheiro suficientes para mantê-las”, diz o frei Jan Bolten, um holandês que, por mais de 40 anos, foi missionário no Brasil e que há três foi escalado para retornar para a sua terra natal. “Os bispos daqui estão buscando padres no Exterior.” Um dos países que têm exportado seus sacerdotes para o Velho Mundo é o Brasil, que outrora mandava seus jovens vocacionados para a África e Ásia. Continue lendo

Secularismo no Brasil: o novo desafio da Igreja

[John L. Allen Jr., National Catholic Reporter/IHU , 3 nov 11; tradução Moisés Sbardelotto] Dois terços da população católica do mundo, hoje, está no hemisfério Sul, uma parcela que deve chegar a três quartos até a metade do século. Para discernir para onde a Igreja está direcionada, é fundamental olhar para o que está borbulhando no Sul, e algumas histórias recentes merecem estar na tela do radar católico mundial.

Uma delas vem do Brasil, uma superpotência católica, entre os quatro principais países católicos em termos de população, destinado a ser um definidor do ritmo da Igreja do século XXI.

No Brasil, um respeitado instituto nacional de pesquisa, a Fundação Getúlio Vargas, publicou um novo estudo que sugere que o secularismo – definido, neste caso, como o ato de jogar a toalha em termos de fé e prática religiosas – está fazendo rápidas incursões entre os jovens brasileiros. Com base em 200 mil entrevistas realizadas para o Censo do Brasil de 2010, o estudo conclui que a parcela católica da população brasileira caiu para 68%, seu nível mais baixo desde que os dados do censo começaram a ser coletados em 1872, em parte por causa do elevado percentual de jovens que negam ter qualquer filiação religiosa. Continue lendo

Modelo que quer virar freira fala sobre vocação crescente entre jovens britânicas

A cada ano na Grã-Bretanha, um número pequeno mas cada vez maior de jovens mulheres está deixando para trás suas carreiras, namorados e posses para se dedicar totalmente à religião.

[BBC Brasil, 25 out 11] Catherine disse à BBC que se considera uma típica menina britânica, que gosta de ser mimada. Com muitas das suas amigas, a jovem de 25 anos passou os últimos anos viajando, fazendo festas e estudando para ganhar um diploma em Letras pela universidade King’s College de Londres.

Ela também trabalhou como modelo, mas esse tipo de experiência, segundo ela, não trouxe a satisfação que buscava. Catherine decidiu dedicar sua vida a Deus e virar freira, um desejo que ela tinha desde os quatro anos de idade. Continue lendo

Alerta no Vaticano pela crise da Igreja no Brasil

[Giacomo Galeazzi, Vaticano Insider, IHU, 17 out 11] Trinta anos atrás, mais de 90% dos brasileiros se definiam como católicos. Agora, o número caiu para 68%, o valor mais baixo desde 1872. O alerta foi acionado porque, no maior país católico do mundo (140 milhões de fiéis), cada vez mais pessoas rompem seus laços com Roma.

Além da América do Sul como terra de esperança para o catolicismo mundial, os dados dizem outra coisa. De acordo com os dados divulgados pela Fundação Getúlio Vargas, na última década, por causa da secularização e do boom das seitas evangélicas, diminuem continuamente os católicos brasileiros, enquanto aumentam enormemente as dezenas de denominações evangélicas. Uma pesquisa realizada pelo principal instituto de pesquisa do Brasil com base em 200 mil entrevistas fotografa um progressivo afastamento da Igreja especialmente das novas gerações.

E, significativamente, a Santa Sé escolheu justamente o Rio de Janeiro como a próxima sede para a Jornada Mundial da Juventude, para impulsionar a pastoral da juventude na América do Sul. Durante a última década, milhões de brasileiros deixaram a comunidade católica mais numerosa do planeta para entrar nas congregações pentecostais. O ano de 2010 foi o pior ano da Igreja Católica no Brasil. O número de jovens com menos de 20 anos que declaram não seguir nenhuma religião subiu três vezes mais rapidamente do que o de pessoas com mais de 50 anos. Cerca de 9% dos jovens brasileiros não têm nenhuma filiação religiosa. Uma tendência semelhante à dos abandonos da Igreja. Continue lendo

FGV: País tem queda de 7,26% no número de católicos em 6 anos

Queda também é expressiva entre jovens de 15 a 19 anos, público alvo da Jornada Mundial da Juventude, que será realizada no Rio em 2013

[Estadão, 23 ago 11] Pouco depois do anúncio oficial do papa da realização da Jornada Mundial da Juventude de 2013 no Rio de Janeiro, uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostra uma expressiva queda no número de católicos no País.

O mapa das religiões no Brasil mostra uma queda de 7,26% no número de pessoas que se declararam católicas em 6 anos (passando de 73,79%, em 2003, para 68,43%, em 2009). A pesquisa também apresenta um significativo aumento no número de brasileiros que se declararam “sem religião”: 1,59 ponto percentual, chegando a 6,72% em 2009. Continue lendo

O futuro do Cristianismo ~ J B Libanio

[Adital, 4 abr 11] O Cristianismo retorna, de certo modo, a seus inícios históricos. Embora Jesus tenha sido camponês com toques de artesão de região rural, o Cristianismo, que surgiu depois de sua morte, assumiu caráter urbano. Difundiu-se principalmente nas cidades helenizadas. Depois da queda do Império romano e da conversão dos bárbaros, ruralizou-se e se configurou em esquemas institucionais típicos do mundo do campo. Nas últimas décadas, acelerou-se o processo de secularização e urbanização. O Cristianismo do futuro sobreviverá se responder às exigências e demandas da sociedade urbana e secular, perdendo a função hegemônica de configurar a sociedade a partir do próprio universo religioso. Termos que se imporão como desafio: declínio da força social da religião, secularização do horizonte religioso, horizontalização dos valores transcendentes, autonomia das realidades terrestres, privatização religiosa em face do Estado, dessacralização. Nada impedirá surtos opostos conservadores, mas sem perspectiva de marcar o porvir.

O Cristianismo do futuro sofrerá de crescentes incertezas. Perderá a homogeneidade dos dogmas e se esforçará por interpretá-los nos diversos contextos culturais, geográficos, étnicos, religiosos. Ele se entenderá histórico, contextual, plural. Assistirá ao ocaso da cultura ocidental, cartesianamente racional, capitalista neoliberal, burocrática, centrada no varão conquistador, de raça branca e de religião católica romana hegemônica para ver surgir novo paradigma com valorização da ecologia, da mulher, da diversidade racial, do diálogo intercultural e inter-religioso e da relação entre as pessoas e povos. Continue lendo

O cinema cristológico e as reescritas audiovisuais

[Publicado no IHU, 28 nov 2010]

Nos últimos anos, manifestou-se “um particular interesse pelo sagrado (os seus símbolos e as suas retóricas de narrações) nos dispositivos textuais do gênero, detendo-se com atenção específica na relação entre os textos bíblicos e as reescritas audiovisuais, ocupando-se também da relação entre o cinema e a história de Jesus“. É preciso “identificar uma abordagem específica que possa oferecer categorias de orientação interpretativa”.

A análise é do doutor em história do cinema Dario E. Viganò, professor de comunicação da Pontifícia Universidade Lateranense, onde preside o Instituto Redemptor Hominis. Nascido no Rio de Janeiro, é sacerdote ordenado pelo cardeal Carlo Maria Martini.

O artigo, intitulado originalmente “Il cinema cristologico e riscritture audiovisive: Il problema delle traduzioni intersemiotiche”, faz parte do livro “Il volto e gli sguardi” (Ed. EDB, 2010), organizado por Sandra Isetta, e foi publicado na revista Il Regno, nº 18, novembro de 2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto. Continue lendo

Faus: «La Iglesia ha hecho más ateos que Marx, Freud y Nietzsche juntos»

El teólogo José Ignacio González-Faus visita Badajoz para hablar de justicia social. El jesuita es profesor emérito de la Facultad de Teología de Cataluña, responsable del área teológica del centro de estudios ‘Cristianismo y Justicia‘ y autor de numerosos libros sobre Iglesia y cristología. Asegura que “la Iglesia ha hecho más ateos que Marx, Freud y Nietzsche juntos” y que no le parece evangélico que “el Papa sea Jefe de Estado” y defiende a la institución ante los escándalños de pederastia que, a su juicio, no deben conducir a “arremeter contra el cristianismo en bloque”. Lo entrevista Ángela Murillo en Hoy.

-Se culpa a la Iglesia de la falta de feligreses en los templos, ¿qué se puede reprochar al Vaticano?

-Así a lo bestia, dije una vez que la curia romana había hecho más ateos que Marx, Freud y Nietzsche juntos. Lo innegable es que muchos hombres se alejan de ella y que, incluso si más tarde se sienten vacíos y quieren buscar, dan por descontado que habrán de buscar fuera de la Iglesia.. Ante esto no parece que la Institución intente acercarse. Los puntos débiles de la Iglesia actual son muchos, y he dicho a veces que es la cruz de mi fe, aunque intento llevarla con garbo. La veo incapaz de comprender lo positivo del mundo moderno y sus dirigentes añoran poder solucionar los problemas a base de poder. No me parece evangélico que el papa sea jefe de estado, ni el modo de nombrar a dedo de los obispos ni los “príncipes de la Iglesia”. Cuando no había democracia, eran elegidos democráticamente a partir de las comunidades locales. También es innegable que la mujer no ocupa en la Iglesia el lugar que merece.

-¿Por dónde habría que empezar para remediar estos males?

-No es cuestión de recetas. La Iglesia tiene que replantearse muchas cosas. Debía empezar reconociendo que está en crisis. De lo cual todos tenemos un poco de culpa. A partir de ahí habría que ver cómo y por dónde se puede caminar. Comenzando por no excluir como herejes a quienes piensan distinto. Algo sencillo por lo que se podría empezar es el lenguaje. No se pueden mantener las palabras anticuadas de la liturgia. No se entienden o suscitan imágenes contrarias a lo que en su origen se quería expresar.

-Usted no se muerde la lengua y no duda en sacar los colores a la Iglesia. ¿Cómo encajan sus críticas?

-Ratzinger tiene un artículo ya clásico en el que dijo que si hoy no se critica a la Iglesia tanto como se la criticaba en la edad media, no es porque se la ame más, sino porque falta ese amor que es capaz de arriesgar la propia suerte o la propia carrera por la amada. Y yo tengo un libro sobre la libertad de palabra en la Iglesia que es sólo una antología de textos de santos, obispos y cardenales, mucho más duros algunos que las cosas que se dicen hoy. También es normal que eso no guste a las autoridades y que de vez en cuando te venga algún palo o toque de atención “de arriba”. Y lo que siento es que no me vienen a mí sino que las paga mi provincial, lo cual no está bien. Pero bueno, no hay parto sin dolor. Y como dijo santa Teresa: la verdad padece, mas no perece.

-¿Qué puede impedir que Guadalupe pase a integrarse en una diócesis extremeña?

-No toca a uno que viene de fuera para un día opinar sobre las cosas de aquí. En teoría jurídica no sería algo difícil de cambiar si hay razones pastorales. Aunque comprendo esta reivindicación de los extremeños, no la considero de primera fila.

-¿Puede ser que la Diócesis de Toledo no quiera desprenderse de Guadalupe por los ingresos que reporta el Monasterio?

-No sería el primer caso. En otros sitios ya ha habido enfrentamientos de este tipo. Marx ya dijo que todas las cuestiones tienen un determinante económico que puede no ser el único, pero suele ser el más oculto.

-La visita del Papa Benedicto XVI al Reino Unido ha sido un hito histórico. Ningún otro Pontífice romano visitaba las islas desde el cisma de la iglesia anglicana.

-Creo que el balance de la visita del Papa no es malo. La experiencia ha sido positiva. La beatificación de John Henry Newman me parece significativa. Unió mucho a la Iglesia, a pesar de haber sido un hombre crítico que molestó tanto a la derecha católica como a muchos anglicanos. Cuando se convirtió no sentía simpatía alguna por la iglesia católica pero el estudio de la historia le hizo ver que la continuidad con los orígenes estaba en Roma.

-¿Cómo explica el surgimiento de movimientos ciudadanos como Redes Cristianas, críticos con la jerarquía eclesiástica?

-Supongo que obedecen a dos razones. Una es la necesidad de vivir la fe en comunidad porque no pueden vivirla aisladamente, y menos cuando el ambiente social no acompaña. Son también formas de ejercer la responsabilidad de los laicos ante la crisis actual de la Iglesia, cuando la institución va por caminos que muchos ven como contrarios al Evangelio. Porque todos somos iglesia y todos somos responsables de ella.

-En España se profesan cada más creencias religiosas, hemos dejado de ser un país eminentemente católico.

-España se ha descristianizado de una manera traumática. Quizá por eso domina una agresividad que, aunque sea comprensible, tampoco es justificable. No se pueden tomar los escándalos de la Iglesia para arremeter contra el cristianismo en bloque. Berdiaeff decía que una cosa es la dignidad del cristianismo y otra la indignidad de los cristianos.

-¿Cómo se logra una convivencia pacífica entre distintos credos?

-La convivencia, el afecto y la colaboración entre religiones es un imperativo. Y en la palabra religiones incluyo ahora también al ateísmo. Los poderes públicos deben ser neutrales y buscar la convivencia. En algunos sitios como Cataluña hay muchas iniciativas bien positivas. Hay que buscar el encuentro en lo que nos une como humanos. Debemos buscar en el otro la mejor versión de su personalidad que es lo que Dios nos pide a todos.

-¿Estamos aprovechando la crisis para recuperar valores perdidos?

-Decididamente no. Hemos dejado pasar una gran oportunidad para replantear los elementos injustos e irracionales de nuestro sistema económico. Esta crisis solo ha servido para ayudar a los que la provocaron, pero no a las verdaderas víctimas. Todos hemos sido cómplices del sistema, drogados como estamos por el consumo. Esto ha sido un paso más hacia el desmantelamiento del estado del bienestar. La culpa la ha tenido en parte la izquierda, que ha participado de ese “socialismo asistencial” del reparto de subvenciones, en lugar de ocuparse de hacer justicia social.

-La Pastoral Obrera de la Diócesis Coria-Cáceres apoyó públicamente la convocatoria de huelga. ¿Es correcto que una autoridad eclesiástica se manifieste en temas políticos?

-En cuestiones sociales y políticas, la Iglesia siempre tiene que manifestarse a favor de los pobres, de los más desfavorecidos. Dentro del pluralismo siempre hay que defender la eliminación de las diferencias entre pobres y ricos. En mi opinión la huelga era justa desde el punto de vista cristiano. Lo que puede discutirse es si va a ser eficaz y si era oportuna.

-¿Ha tenido en cuenta el Gobierno a los pobres en sus últimas decisiones?

-Zapatero ha actuado obligado por poderes fácticos. La política es la primera esclava de la economía. El presidente brasileño Lula da Silva dijo una vez ante la decepción de quienes esperaban más de él: “Tengo el gobierno, pero no tengo el poder”. Por eso se entiende que un presidente de izquierdas tenga que acabar haciendo lo que ordena Wall Street o Angela Merkel. La pregunta que queda es si puede haber auténtica democracia política sin democracia económica…

De: Religión Digital, 5 oct 2010