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‘Assexuais são os novos gays’, diz especialista em celibato

O novo movimento dos sem desejo é fruto das conquistas de outras minorias, diz Elizabeth Abbott, especialista em celibato da Universidade de Toronto, no Canadá.

[Juliana Cunha, FSP, 27 mar 12] “Esse é o tema do momento. Os assexuados são os novos gays. A exemplo dos homossexuais na década de 1970, eles são vistos como doentes e sofrem punições sociais por suas escolhas”, diz.

Grupos de apoio a assexuados podem soar tão sem sentido quanto grupos dos que não curtem chocolate: não há violência contra assexuados nem barreiras para que façam o que querem -uma vez que eles não querem fazer nada.Se os celibatários se reprimem em nome de uma causa, assexuados não têm impulso sexual: “Celibato é uma atitude ‘santa’ de controle dos instintos. Já assexualidade é vista como ausência de instintos, como se a pessoa não fosse um ser humano pleno”, compara a historiadora. Continue lendo

‘Nem toda atração é sexual’, diz militante

“Não existe apenas atração do tipo sexual. Existem inúmeros tipos de atração. Eu me relaciono com pessoas que têm cérebros ‘sexy’, jeitos ‘sexy'”

[Juliana Cunha, FSP, 27 mar 12] Aos 11, Marcelo C., 22, achou que os amigos haviam enlouquecido: “Do nada, todos passaram a se interessar por meninas, a falar no assunto, a inventar motivo para ficar perto delas. Eu continuava o mesmo de sempre”, conta.

Aos 15, continuar o mesmo de sempre passou a ser um problema: “Já era o lanterninha da turma, o único que não havia beijado”. Uma garota de outra escola, amiga da ficante de um amigo, se interessou por Marcelo: “Vai ver que era pena, ou ela era tipo gato, que sempre simpatiza com quem não gosta dele”, brinca. Continue lendo

Assexuados são minoria incompreendida do momento

“Assexual é uma pessoa que sente pouco ou nenhum desejo por outras pessoas”.

[Juliana Cunha, FSP, 27 mar 12] Para o jornalista Millôr Fernandes, entre todas as taras sexuais não existe nenhuma mais estranha do que a abstinência. A pedagoga Elisabete Oliveira, que escreve sua tese de doutorado sobre assexualidade, não poderia estar mais de acordo: “As pessoas têm mais facilidade para entender as variações do desejo do que a falta dele”.

A área de estudo de Oliveira é particularmente nova: há poucos trabalhos científicos sobre o tema no mundo, e a maioira deles apresenta a assexualidade como transtorno, segundo ela. “Até hoje foram escritos menos de 30 artigos que enxergam o desinteresse pelo sexo como opção”. Continue lendo

Papa representa cristianismo conservador e reacionário, diz teólogo Boff

Teólogo brasileiro Leonardo Boff critica Bento 16 em uma entrevista publicada no final de semana no jornal alemão “Süddeutsche Zeitung”, de Munique, por ocasião dos cinco anos do pontificado do alemão Joseph Ratzinger.

Para o teólogo brasileiro Leonardo Boff, um dos teóricos da Teologia da Libertação, os cinco anos de pontificado de Bento 16, completados nesta segunda-feira (19/04) “são caracterizadas por conflitos: com os muçulmanos, os judeus, as Igrejas não católicas, as Igrejas às quais negou o status de Igrejas, a Igreja Anglicana, os seguidores de Lefebvre, mulheres, homossexuais. Ele cometeu diversos erros em seu papado. Conforme o Evangelho, sua tarefa é fortalecer a fé, e isso ele não está conseguindo”.

Questionado sobre o que admira em Bento 16, Boff, respondeu: “Quase nada. Talvez a obstinação com que se dedica ao seu projeto da Restauração, em que considera o primeiro Concílio Vaticano mais importante do que o segundo. Isto é, ele coloca o Papa como figura central, e não a comunidade cristã. Ele tem muito medo. Deveria acreditar mais no espírito do que em tradições e doutrinas”.

Boff, de 71 anos, que renunciou ao sacerdócio em 1992, após ser suspenso várias vezes pelo Vaticano por suas críticas à Igreja, diz que Bento 16 “nunca entendeu a Teologia da Libertação, e muitas conferências de bispos foram severamente controladas por ele”.

“Falta-lhe quase tudo”

Em sua entrevista publicada no Süddeutsche Zeitung neste final de semana, Boff disse que tentou convencer sem êxito o ex-prefeito da Congregação da Doutrina da Fé sobre a necessidade de a Igreja ocupar-se com os desamparados. “Mas foi tudo em vão. Nada mudou, ou até piorou”, sentenciou. Para o teólogo brasileiro, Ratzinger é refém de uma visão conservadora e reacionária do cristianismo, o que o impediria de efetuar reformas fundamentais.

“Ele não consegue deixar o papel de maestro e se sentir pastor. Falta-lhe quase tudo, e especialmente carisma”. “A Teologia da Libertação tornou-se uma obsessão para este papa. No final de março, diante de bispos do sul do Brasil, ele voltou a criticar a Teologia da Libertação marxista. Mas esta teologia existe apenas em sua cabeça e não na realidade. […] Desde a queda do Muro de Berlim ninguém mais fala em marxismo na Teologia da Libertação.”

“Pedofilia é crime a ser levado a tribunal”

Boff também criticou a forma como a Igreja trata os casos de abuso sexual registrados em vários países. Segundo suas palavras, a hierarquia católica tentou esconder o acontecido para não perder credibilidade.

“Esta posição é falsa e farisaica. A pedofilia é um crime que deve ser levado a tribunal.” Na opinião de Boff, o Vaticano tenta separar o tema da pedofilia do celibato. “O celibato fica fora de discussão porque ele revela muito sobre a estrutura da Igreja. Ela é uma comunidade religiosa, autoritária, centralizada e monossexual, porque só pode ser servida por homens celibatários.”

Questionado sobre o que diria a Bento 16 por ocasião dos cinco anos de papado, Boff respondeu que diria: “Sua Santidade, o senhor é um homem velho, cansado e bastante doente. O senhor serviu à Igreja com as melhores intenções, apesar das contradições que provocou. Chegou a hora de se preparar para o grande encontro com Deus. Retire-se para um mosteiro, cante o canto gregoriano, de que tanto gosta, celebre sua missa em latim e continue rezando pela Terra ameaçada pelo aquecimento global, pela humanidade que talvez seja extinta, e acima de tudo pelos que sofrem e pelas crianças, que se tornaram vítimas da pedofilia na Igreja e na sociedade”.

Joseph Ratzinger foi eleito papa a 19 de abril de 2005 no primeiro conclave do século 21, o mais numeroso da história (115 cardeais da Igreja Católica) e um dos mais breves (26 horas). Mão direita de João Paulo 2º, o oitavo papa alemão e sétimo chefe de Estado do Vaticano escolheu para seu pontificado o nome Bento 16.

Em cinco anos, publicou três encíclicas e efetuou 14 viagens fora da Itália. Bento 16 começou 2010, o seu quinto ano de pontificado, afetado pelos escândalos de pedofilia dentro da Igreja Católica.

O cardeal Joseph Ratzinger, nasceu em Marktl (Baviera), na diocese de Passau, em 16 de abril de 1927. Recebeu a ordenação sacerdotal em 29 de junho de 1951, a episcopal em 1977 e, no mesmo ano, foi nomeado cardeal no consistório convocado por Paulo 6º.

Fonte: DW, 19 abril 2010

RW/lusa/dpa
Revisão: Augusto Valente

A pedofilia e a questão do celibato ~ por Nazir Hamad

“Pode-se ser pedófilo tanto dentro da Igreja como fora dela. O pedófilo pode ser tanto um clérigo seguindo a regra do celibato, como um leigo, casado e pai de vários filhos”, escreve Nazir Hamad, em artigo que nos foi enviado e publicamos na íntegra. Segundo ele, “um adulto que trabalha com crianças cai nisso que Ferenczi chama de confusão de linguagens”.

Nazir Hamad é psicanalista libanês, radicado em Paris. Especialista na área de adoção de crianças, é psicanalista da Association Freudienne Internationnale (AFI) e atuou durante anos junto à ASE (Action Sociale à l’Enfance), órgão francês responsável pela emissão dos certificados que orientam a habilitação dos candidatos à adoção. Escreveu, entre outros, A criança adotiva e suas famílias (Rio de Janeiro: Companhia de Freud, 2004) e Um homem de palavra (Rio de Janeiro: Companhia de Freud, 2004).

Eis o artigo.

As recentes revelações sobre os numerosos casos de abusos sexuais perpetrados por membros do clero católico são, certamente, chocantes, mas isso é algo específico à vida da Igreja?

Minha resposta é simples: não é o pedófilo que quer. Pode-se ser pedófilo tanto dentro da Igreja como fora dela. O pedófilo pode ser tanto um clérigo seguindo a regra do celibato, como um leigo, casado e pai de vários filhos. A pedofilia diz respeito nesse caso preciso a uma estrutura perversa e quando este é o caso, não há nenhuma diferença entre leigo e eclesiástico. É preciso aceitar, mesmo que seja difícil de admitir, que é possível ser clérigo e ter escolhido consagrar sua vida a serviço da Igreja e ser perverso.

Entretanto, qualquer abuso sexual de uma criança não é necessariamente obra de um comprovado perverso. Acontece que um adulto que trabalha com crianças cai nisso que Ferenczi chama de confusão de linguagens. Eu ouvi adultos se defenderem afirmando com toda a boa fé que o que lhes aconteceu foi culpa da criança. A criança seria culpada aos seus olhos de ter provocado neles o desejo sexual. Consideremos esse caso que encontramos em cada casa. Uma filha ou um filho que toca seu sexo sentado no colo de seus pais ou de outros adultos, ou que se esfrega contra eles, é alguma coisa que está longe de ser incomum. Basta que uma criança caia nas mãos de um homem que se deixa subjugar por sua excitação sexual para que esta ela se torne sua vítima. A criança que se esfrega no adulto não é perversa no sentido patológico da palavra. A criança sofre de ondas pulsionais que colocam seu corpo em tensão, e sob a influência desta tensão, ela vive sensações que não têm nada a ver com a sexualidade propriamente dita. Ora, quando a criança se comporta desta maneira, trata-se para ela de uma questão dirigida ao adulto. E é justamente aí que o sapato aperta. O que acontece se o adulto em questão interpreta o contato da criança como uma mensagem sexual? O adulto reage como um macaco que obedece ao apelo de seu instinto.

Eu mesmo vi um educador que chorava, abatido, por ter abusado de uma criança de que ele particularmente gostava. Toda a equipe de educadores testemunhou a favor dele afirmando que ele sempre tinha sido exemplar em seu trabalho com as crianças. Ninguém compreendeu o que lhe aconteceu e menos ainda ele próprio. Ele chorava porque não tinha resposta para o que aconteceu. Ele havia tomada essa criança em seu colo e eis que se viu tomado de um estado de excitação que o dominou e ele se perdeu. Atrás do devotado educador se escondeu um macaco em estado de ereção, como frequentemente vemos em Jardins Zoológicos.

O adulto é a vítima da criança, como às vezes se alega? Sim e não. É vítima da interpretação que ele dá à mensagem da criança. Com outras palavras, ele é sua própria vítima. Mas dizer isso não o inocenta. O adulto que sucumbe dessa maneira não se interrogou suficientemente sobre seu interesse pelas crianças e sobre o amor que tem para com elas. Quanto mais se sente atraído por elas, mais deve estar atento ao que isso revela em si, especialmente que a criança, contrariamente ao que se pensa, não é um inocente angelical; ela é, muitas vezes, sobrecarregada por seu corpo e isso pode contaminar um adulto que tem problemas com a sua própria castração.

Não é Jesus que quer. É possível ser um padre que consagrou sinceramente a sua vida a serviço da Igreja e ter dificuldades com a abstinência sexual. Pode-se ter fé, mas não conseguir calar completamente o desejo sexual. Por que a Igreja tem tanta dificuldade para admitir isso? Penso que esta pergunta deve ser feita sem tabu. Além disso, de onde vem o voto do celibato? Nada no Novo Testamento confirma isso. Pedro e os outros discípulos de Cristo eram casados. No Ocidente, o celibato foi instituído no século XI, sob a influência dos monges, que eram celibatários por opção.

Devemos a Santo Agostinho o termo “feminino gramatical” para descrever o estado de Maria no ato da encarnação que representa para a Igreja o nascimento de Jesus. Para se encarnar, Deus recorre à carne e não ao corpo. O corpo é sexuado, mas a carne não. Deus se encarna no seio de uma mulher, mas esta mulher é o feminino o que o significante que é para a coisa. E agora, a pergunta que se impõe: o que fazer do corpo quando é um mero mortal? A fé pode mover montanhas, nos é dito, mas ela fracassa diante do desejo que mora em nós e que nos torna a vida impossível presa em nossa sexualidade.

Talvez seja necessário que a Igreja considere o celibato escolhido para o clero que o deseja, e libere os outros de uma tarefa humanamente impossível. Isso comporta, certamente, menos hipocrisia, mas isso definitivamente não a salva de seus perversos.

Fonte: Instituto H Unisinos, 15 abr 2010