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Crack: novos estudos desmentem mitos

Carl HartMuito antes de ele trazer pessoas para seu laboratório, na Universidade de Columbia, para fumar crack, Carl Hart viu os efeitos da droga em primeira mão. Crescendo na pobreza, ele assistiu os parentes se tornarem viciados em crack, vivendo na miséria e roubando de suas mães. Amigos de infância acabaram em prisões e necrotérios.

[New York Times, 16 set 2013; tradução “Visão Ampla”] Esses viciados pareciam escravizados pelo crack, como ratos de laboratório que não conseguiam parar de pressionar a alavanca para obter mais cocaína, mesmo quando eles estavam morrendo de fome. O crack fornecia a poderosa dopamina ao centro de recompensa do cérebro, de modo que os viciados não poderiam resistir a uma outra dose. Continue lendo

Crack, risco real e mitos

Novas pesquisas revelam: dependência não é causada pelo suposto “vício na primeira traga” — mas pelas condições sociais dramáticas em que vive grande maioria dos usuários.

[André Antunes, Brasil de Fato, 28 mar 13]  A pesquisa do Centro Brasileiro de Informações Sobre Drogas Psicotrópicas da Universidade Federal de São Paulo (Cebrid/Unifesp) oferece alguns indícios dos efeitos na população da amplificação do problema do crack. De acordo com o levantamento, 77,1% dos entrevistados consideraram que utilizar cocaína ou crack uma ou duas vezes na vida oferecia um risco grave, enquanto para a maconha esse índice foi de 48,1%. Já a ingestão de uma ou duas doses de álcool por semana oferecia risco grave para 20,8% dos entrevistados. Os dados a respeito do crack vão ao encontro de noções que se tornaram senso comum entre os brasileiros: a de que a droga “vicia na primeira tragada”, que ela causa rápida degradação física e moral, é causadora da desestruturação familiar, mata muito rapidamente, etc. Continue lendo

Brasil é o maior mercado consumidor de crack do mundo, aponta estudo

De acordo com o relatório, cerca de 4% da população adulta brasileira, 6 milhões de pessoas, já experimentaram cocaína alguma vez na vida.

[Fernanda Cruz, Agência Brasil, 5 set 12] O Brasil é o maior mercado mundial do crack e o segundo maior de cocaína, conforme resultado de pesquisa do Instituto Nacional de Pesquisa de Políticas Públicas do Álcool e Outras Drogas (Inpad) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Os dados do estudo – que ouviu 4,6 mil pessoas com mais de 14 anos em 149 municípios do país – foram apresentados hoje (5) na capital paulista. Continue lendo

Dartiu Xavier da Silveira: Crack é usado por miseráveis porque é barato [Entrevista]

“O poder público partiu do princípio de que a droga colocou aqueles usuários em situação de miséria, quando na verdade foi a miséria que os levou à droga”.

[Maria Inês Nassif, Carta Maior, 17 jan 12] O grande equívoco da ação policial do governo do Estado de São Paulo e da prefeitura da capital na chamada Cracolândia, o perímetro onde se aglomeram moradores de rua e dependentes de crack na cidade, definiu, de cara, o fracasso da operação: o poder público partiu do princípio de que a droga colocou aqueles usuários em situação de miséria, quando na verdade foi a miséria que os levou à droga. Esse erro de avaliação, segundo o psiquiatra e professor Dartiu Xavier da Silveira, por si só já desqualifica a ação policial.

Professor do Departamento de Psiquiatria e coordenador do Programa de Orientação e Assistência a Dependentes (PROAD), Faculdade de Medicina da Universidade Federal de São Paulo, Silveira há 25 anos orienta pesquisas com usuários de drogas e moradores de rua, normalmente patrocinadas pela Organização das Nações Unidas, e tem sido consultor do Ministério da Saúde na definição do Plano de Combate ao Crack. Nas horas vagas, ele desmistifica os argumentos usados pela prefeitura, município e uma parcela de psiquiatras sobre usuários de drogas. Continue lendo

Política higienista? Não, dever constitucional ~ por Cappelletti, Melo e Borges

[Folha SP, 14 jan 12] Quando o governo procrastina, o resultado é quase sempre desastroso. O descalabro da cracolândia é um desses casos.

Há 15 anos, algumas ruas do centro velho de São Paulo foram tomadas por uma nova droga, o crack. Durante o dia, os usuários desapareciam. Escondiam-se em canteiros de avenidas, em hotéis baratos e em organizações não governamentais (na maioria dos casos, religiosas).

À noite, quando as lojas se fechavam, como no clipe “Thriller”, de Michael Jackson, maltrapilhos e moribundos “surgiam”. Hordas de “batmans”, enrolados em cobertores, atacavam transeuntes e moradores para poder levar algo que permitisse comprar pedras de crack.

Autoridades? Sim, a Polícia Militar fazia rondas. Às vezes, fazia abordagens ou um estardalhaço com algumas dezenas de homens. Continue lendo

Cristolândia vira refúgio de dependentes após operação da PM

Usuários de drogas, desgarrados da multidão maltrapilha da cracolândia, fazem filas diariamente em busca de abrigo na porta da Cristolândia, um misto de igreja e centro comunitário, que funciona na região central de São Paulo há quase dois anos. O local virou refúgio após início da operação policial no local.

[Eliane Trindade e Apu Gomes, FolhaSP, 13 jan 12] Com a presença ostensiva da PM na região, a missão Batista passou a funcionar em esquema de plantão, com suas portas abertas 24 horas para a galera acuada do crack. O projeto encaminhou nos últimos 22 meses cerca de mil usuários para internação e centros de formação evangélica.

Nas duas últimas semanas, o número de internações, via Cristolândia, bateu o recorde de 90. “Fazíamos uma média de 40 por mês. Já chegamos ao dobro disso em dez dias e vamos abrir novas 200 vagas”, contabiliza o pastor Humberto Machado, 53, coordenador da missão.

 

Vitórias na luta contra o crack

O pastor João Carlos Batista: paciente trabalho de corpo a corpo no coração da Cracolândia

As frentes de batalha na capital que estão colecionando avanços contra uma das drogas mais devastadoras do país

[Pedro Henrique Araújo, Veja, 18 dez 11] Cerca de 500 pessoas invadem a pista na Rua Helvétia, entre as alamedas Cleveland e Dino Bueno, nos Campos Elíseos. Todas viciadas em crack. Portando pequenos cachimbos, a maioria age em ritmo acelerado e tem as pupilas dilatadas. Entre os que fumam a droga ao ar livre, há uma mulher aparentando estágio avançado de gravidez. São 8 horas da noite e a Cracolândia funciona literalmente a pleno vapor. Muitos ficam dentro dos “mocós”, como são chamadas as casas abandonadas da região que eles invadem. Alguns buracos nas paredes abrem caminhos escuros, estreitos e malcheirosos — e neles se escondem mais usuários em meio a ratos, baratas e a todo o lixo acumulado.

João Carlos Batista, de 45 anos, mais conhecido como João Boca, líder da Missão Cena (Comunidade Evangélica Nova Aurora), anda por ali como se estivesse no quintal de casa. Ele visita o local diariamente há quinze anos. Aproxima-se dos “noias”, faz brincadeiras, dá conselhos e os convida a frequentar um abrigo da igreja localizado na Luz. Segundo seus cálculos, 15% das abordagens têm final feliz, o que teria resultado na recuperação de 130 dependentes até hoje. “Parece pouco, né?”, diz o pastor. “Mas é muito por se tratar desse tipo de tóxico. Quando um cara termina os nove meses do nosso tratamento, tenho quase certeza de que não voltará para cá.” Continue lendo

Droga mais devastadora que o crack é vendida na noite paulistana

Comprimido de metanfetamina chega a custar R$ 200 e é confundido com ecstasy.

[Jaqueline Falcão, O Globo, 13 dez 11] Confundida com comprimido de ecstasy, a metanfetamina é a droga do momento em baladas em jovens de classe média alta em São Paulo. Seu efeito é mais devastador que o crack. Um comprimido chega a custar R$ 200 e garante euforia de oito horas e potência sexual de até 30 horas. A “potência” do comprimido azul e a curiosidade em experimentá-la fazem aumentar o consumo da droga na capital. Neste ano, a Polícia Federal de São Paulo apreendeu 145.333 comprimidos no Aeroporto Internacional de Guarulhos, na Grande São Paulo. A Polícia Federal não informou dados de apreensões em outros estados.

Os comprimidos de metanfentamina chegam mesmo, muitas vezes, a confundir a própria polícia. Muitas apreensões foram feitas como ecstasy. Mas a substância só era descoberta, segundo a polícia, quando a análise feita por laboratórios apontavam resultado negativo para ecstasy. E posteriormente se confirmava se tratar de metanfetamina em forma de comprimidos. Isso explica as sete apreensões na capital e região do Grande ABC, neste ano. Continue lendo

Pesquisa aponta problemas com crack em municípios brasileiros

Segundo pesquisa, uso de crack no Brasil se alastrou por todas as camadas da sociedade

Dados referentes a 4.430 cidades analisadas também revelam que a droga está substituindo o álcool nas cidades de pequeno porte e áreas rurais

[Estadão, 7 nov 2011] Um panorama sobre a presença do crack e outras drogas no Brasil foi apresentado nesta segunda-feira, 7, pelo presidente da Confederação Nacional de Municípios (CNM), Paulo Ziulkoski. A pesquisa foi elaborada com os gestores municipais de 4.430 cidades. Cerca de 84,5% afirmaram que enfrentam problemas com a circulação de drogas em seu território. Na pesquisa divulgada há um ano, 98% dos pesquisados confirmaram a presença do crack.

A maioria dos gestores apontou ocorrências com outras drogas, mas 90,7% consideram que o crack é o problema e 93,9% registram existência de transtornos por causa da circulação do entorpecente. “Verificamos que o uso de crack se alastrou por todas as camadas da sociedade, a droga que, em princípio, era consumida por pessoas de baixa renda, disseminou-se por todas as classes sociais”, aponta a pesquisa. Continue lendo

Mortalidade do alcoolismo no Brasil é quase tão grande quanto a do crack

Estudo da Unifesp revela que 17% dos dependentes atendidos morreram após cinco anos; na Inglaterra, o índice é de 0,5%; violência e doenças relacionadas ao vício em álcool foram as principais causas de morte; religião é apontada como fator de proteção.

[Lígia Formenti, Estadão, 19 set 11] O índice de mortalidade entre dependentes de álcool no Brasil está próximo do registrado entre usuários de crack. Pesquisa inédita feita pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) mostra que, em cinco anos, 17% dos pacientes atendidos em uma unidade de tratamento da zona sul de São Paulo morreram.

“É um número altíssimo. Na Inglaterra, o índice não ultrapassa 0,5% ao ano”, diz o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, coordenador do estudo.

O trabalho, que será publicado na próxima edição da Revista Brasileira de Psiquiatria, segue uma linha de pesquisa de Laranjeira sobre morte entre dependentes de drogas. O estudo feito entre usuários de crack demonstrou que 30% morreram num período de 12 anos. “Naquela mostra, a maior parte dos pacientes morreu nos primeiros cinco anos. Podemos dizer que os índices estão bastante próximos.” Continue lendo

Pesquisa: 98% das cidades brasileiras têm problemas ligados ao crack

[Texto de Rafael M Moura, O Estado SP, 13 dez 2010] BRASÍLIA – O consumo de crack já se alastrou pelo País, aponta pesquisa da Confederação Nacional de Municípios (CNM) divulgada na manhã de hoje, em Brasília. Levantamento feito com 3.950 cidades mostra que 98% dos municípios pesquisados enfrentam problemas relacionados ao crack e a outras drogas.

Falta uma estratégia para o enfrentamento do uso do crack. Não há integração entre União, Estados e municípios”, alertou o presidente da CNM, Paulo Ziulkoski.

Ziulkoski criticou o Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e Outras Drogas, lançado pelo governo federal em maio deste ano.

“É um programa que não aconteceu, praticamente nenhum centavo chegou”.

Ao apresentar os números, ele disse que não avaliaria se a iniciativa teve intenções eleitoreiras. “Apenas estou trazendo números e realidades”.

A CNM observa ainda que, embora haja um grande esforço para a redução da mortalidade infantil, não há política de Estado de prevenção à mortalidade juvenil. A confederação também ressalta a importância de ações na região de fronteira para impedir a entrada de droga no País.

Números. O estudo da CNM constatou que, dos municípios pesquisados, apenas 14,78% afirmaram possuir Centro de Atenção Psicossocial (Caps), que oferece atendimento à população e acompanhamento clínico de pessoas com transtornos mentais, entre eles usuários de drogas. Continue lendo

Drogas e adolescência ~ Dartiu Xavier [Entrevista]

 

"As classes mais abastadas também estão consumindo crack. Nessas classes, a situação de abandono psicológico e descaso é algo muito presente". Foto: Masao Goto Filho

O psiquiatra e especialista em dependência química Dartiu Xavier alerta para o aumento de consumo de crack e defende uma prevenção na escola menos policialesca

Um estudo inédito sobre o perfil e a quantidade dos usuários de crack no Brasil está sendo preparado pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad), órgão do Ministério da Saúde. O mapeamento vai analisar os 26 estados brasileiros, o Distrito Federal e as nove regiões metropolitanas e é reflexo de um grave problema de saúde pública.

Embora sejam escassas as pesquisas sobre o crack, sabe-se que o consumo da droga derivada da cocaína (restrito a São Paulo na década de 90) vem se espalhando pelo País em diferentes classes sociais – não se restringe mais aos moradores de rua e grupos menos favorecidos. Além do aumento da apreensão de crack no Brasil (de 200 quilos, em 2002, para 580 quilos, em 2007, segundo o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime), os serviços de atendimento a dependentes químicos relatam que a droga já é a segunda maior causa de procura por atendimento nos centros do SUS especializados em abuso de álcool e drogas, o Caps-AD. Nesses locais, o crack só perde para a bebida.

É uma realidade que o psiquiatra Dartiu Xavier, da Faculdade Paulista de Medicina, conhece bem. Coordenador do Programa de Orientação e Tratamento a Dependentes (Proad) há mais de duas décadas, ele vem realizando estudos na área. Um deles foi interrompido pela polêmica que gerou. A experiência consistiu em acompanhar um grupo de 50 usuários de crack que passaram a utilizar maconha na tentativa de conter o impulso de consumir crack. Conforme os dados, 68% deles haviam trocado de droga depois de seis meses. Passado um ano do início do tratamento, quem fez a substituição deixou também a maconha. Nessa entrevista, Xavier fala sobre os fatores de risco que podem levar adolescentes e jovens a se viciarem em drogas, explica as características do crack e defende a quebra de paradigma dos programas de prevenção às drogas. Continue lendo