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Como seria o Oriente Médio sem cristãos

Blood-spattered-mural-of-Jesus-in-EgyptGrupo religioso perseguido do Iraque à Síria se sustenta pela fé, mas seu declínio pode alterar toda a região.

Os bancos da Primeira Igreja Batista de Belém enchem-se rapidamente de fiéis numa noite de domingo, alguns com bolsas enfeitadas, outros com sapatos gastos e sacolas de papel da KFC. No transcorrer da cerimônia, mãos balançam no ar enquanto os fiéis cantam e dão graças a Deus por um renascimento recente que atraiu mais de 1.300 pessoas para ouvir a mensagem da Bíblia.

[Christa Case, Bryant, The Christian Science Monitor, Estadão, 25 dez 2013] Numa cidade alardeada como o lugar onde Jesus Cristo nasceu da Virgem Maria, a igreja é uma espécie de milagre moderno. Fundada há três décadas num apartamento de dois quartos pelo reverendo Naim Khoury, a Primeira Batista foi bombardeada 14 vezes durante a primeira intifada, enfrentou dificuldades financeiras, e agora trava uma batalha legal com a Autoridade Palestina, que não a reconhece.

Milhares de cristãos em Belém tiveram problemas políticos e religiosos similares nas últimas décadas, o que levou muitos deles a fugir da cidade onde nasceu a figura central da cristandade numa manjedoura.

Os cristãos, que já constituíram 80% da população, hoje representam 20% a 25%. Dois mil anos após o nascimento de Jesus, a cristandade está sob um ataque maior do que em qualquer outro período do último século, levando alguns a especular que uma das três maiores religiões do mundo pode desaparecer completamente da região em uma ou duas gerações.

Do Iraque, que perdeu pelo menos metade de seus cristãos na última década, ao Egito, que assistiu à pior violência anticristã em 700 anos neste verão, à Síria, onde jihadistas estão matando cristãos e os enterrando em valas comuns, os seguidores de Jesus enfrentam violência e perseguição além de um declínio das igrejas. Os cristãos constituem hoje somente 5% da população do Oriente Médio, ante 20% um século atrás. Muitos cristãos árabes estão contrariados porque o Ocidente não fez mais para ajudá-los.

Embora muitos muçulmanos tenham crescido com amigos e colegas cristãos, política e forças sociais tornaram a coexistência mais difícil. À medida que o islamismo político cresce, cristãos já não conseguem encontrar refúgio numa identidade árabe compartilhada com seus irmãos muçulmanos.

Os apelos à cidadania com direitos iguais são pontuados por histórias de extremistas islâmicos exigindo a conversão de cristãos ao islamismo ou que eles paguem um imposto exorbitante. E muitos muçulmanos enfrentam perseguições eles próprios na medida em que os levantes árabes de 2011 continuam a repercutir por toda a região e nações tentam encontrar um equilíbrio entre liberdade e estabilidade.

Os cristãos já enfrentaram tempos difíceis antes, da matança dos seguidores imediatos de Jesus à opressão dos cristãos pelos mamelucos no início do século 13 à ascensão da atividade militante islâmica no Egito nos anos 1970. Os guerreiros que vieram em nome de Cristo também foram responsáveis por violências inter-religiosas, como n a Primeira Cruzada em 1099, quando cristãos tomaram Jerusalém e massacraram os moradores.

Permanece incerto se os tempos atuais se mostrarão mais um refluxo da história cristã ou algo mais fundamental. Mas o que está evidente é que tanto muçulmanos como cristãos, além das outras minorias da região, provavelmente serão afetados de maneira significativa por uma deterioração contínua.

Uma exceção ao declínio é Israel, onde a população cristã quase quintuplicou, para 158 mil, desde a fundação do país em 1948. Mesmo assim, sua parcela na população caiu cerca de 3% a 2%, e críticos observaram que as famílias cristãs palestinas que fugiram ou foram obrigadas a sair pouco antes da fundação de Israel deram ao país uma base artificialmente baixa.

Mas ainda há comunidades cristãs fortes de cristãos árabes israelenses – embora elas também tenham problemas. Em Nazaré, por exemplo, islamistas tentaram erguer uma mesquita bloqueando a Igreja da Anunciação. Quando impedidos por Israel, eles aceitaram colocar uma bandeira proclamando o verso corânico: “E todo aquele que busca uma religião que não seja o Islã, jamais será aceito por ele, e no futuro será um dos perdedores”.

Tradução de Celso Paciornik

Escravidão: um mal do século 21

slavery

Quase 30 milhões de pessoas estão escravizadas no mundo, diz ONG

[Belinda Goldsmith, Reuters, Londres, 17 Out 2013] Quase 30 milhões de pessoas vivem escravizadas no mundo, a maioria homens, mulheres e crianças traficadas por quadrilhas para exploração sexual e trabalho não qualificado, segundo um índice global divulgado nesta quinta-feira (17 out 2013, horário local) pela ONG Walk Free Foundation.

O índice classifica 162 países de acordo com o número de pessoas em condições análogas à escravidão, risco de escravização e força das reações governamentais a essa atividade ilegal.

O trabalho mostra que dez países respondem por 76 por cento dos 29,8 milhões de casos de escravidão estimados no mundo: Índia, China, Paquistão, Nigéria, Etiópia, Rússia, Tailândia, República Democrática do Congo, Mianmar e Bangladesh.

A escravidão moderna está associada ao tráfico de pessoas, trabalhos forçados e práticas como vinculação por dívida, casamento forçado e venda ou exploração de menores.

O pesquisador Kevin Bales disse esperar que o índice, primeiro relatório anual monitorando a escravidão em nível global, conscientize a opinião pública, pressionando os governos a agir mais.

Ele disse que a corrupção, e não a pobreza, é a maior causa da escravidão, e recomendou leis para impedir a ação do crime organizado.

“Sempre quando analisamos as estatísticas verificamos que a corrupção é mais poderosa do que a pobreza na condução da escravidão”, disse Bales, professor de escravidão contemporânea no Instituto Wilberforce para o Estudo da Escravidão e da Emancipação da Universidade de Hull, no norte da Inglaterra.

“Fundamentalmente, isso é uma questão de crime violento”.

O relatório mostrou que a Mauritânia é o país com maior número de escravos em relação à população, com 160 mil pessoas escravizadas em um total de 3,8 milhões de habitantes.

Isso se deve a formas culturalmente aprovadas de vassalagem e de índices elevados de casamentos infantis.

Em números absolutos, os países com mais escravos são a Índia (14 milhões) e a China (3 milhões).

ONGs temem retrocesso na igualdade de direitos após Primavera Árabe

Nas revoluções no mundo árabe, a igualdade para mulheres foi muitas vezes deixada de lado. No Dia Internacional da Não Violência contra a Mulher, muitas organizações falam de um retrocesso. Que lições se podem tirar?

[Mirjam Gehrke, DW, 25 nov 2012] Elas estavam na vanguarda na Praça Tahrir no Cairo, na Avenida Habib Bourghiba em Túnis, ou na Praça dos Mártires em Trípoli: durante a Primavera Árabe, as mulheres lutaram lado a lado com os homens em prol de um recomeço democrático – e com sucesso. No entanto, não puderam colher os frutos de seu triunfo. Continue lendo

Abuso policial mancha direitos humanos no Brasil, dizem EUA

As prisões superlotadas e os abusos cometidos pelas polícias Civil e Militar dos Estados, junto com a exploração sexual de crianças e adolescentes, continuam a ser os principais calcanhares de Aquiles da situação dos direitos humanos no Brasil, na visão do Departamento de Estado americano.

[Pablo Uchoa, BBC Brasil, 24 mai 12] Ao publicar seu relatório anual sobre a situação dos direitos humanos no mundo – esta edição dedicada a 2011 –, as autoridades americanas criticaram também a discriminação contra minorias, mulheres e gays, a demora do Judiciário e a impunidade no Brasil. Continue lendo

Anencéfalo só morre porque está vivo! ~ Direitos humanos face à dramaticidade da vida

Apesar da votação, constitucionalista avalia decisão dos ministros e insiste em visão contrária à adotada pela maioria. ‘Anencéfalo só morre porque está vivo!’

[Maria Garcia, Estadão, 14 abr 12] O valor universal dos direitos humanos vem juridicamente reconhecido desde a Carta da ONU de 1945, em cujo Preâmbulo os “Povos das Nações Unidas” reafirmam sua “fé nos direitos fundamentais do homem…”, e na Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948. Na Constituição brasileira de 1988, duas disposições destacam-se no tema: o art. 5º, caput, pelo qual se garante a inviolabilidade do direito à vida, e o art. 227, pelo qual “é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, com absoluta prioridade, o direito á vida…”, além de colocá-la “a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão”. Esse, o mandamento constitucional dirigido a todos (família, sociedade e Estado). Então, qual é o problema, afinal, dos direitos humanos? Continue lendo

Imagem do Dia: Jovem tibetano, Janphel Yeshi, se imola em protesto

Tibetano se imola antes de visita de Hu Jintao à Índia

[Reuters, 26 mar 12] Nova Déli – Um tibetano ateou fogo ao próprio corpo em Nova Déli nesta segunda-feira, em um protesto contra a visita do presidente chinês, Hu Jintao, que chegará à Índia no final da semana para uma cúpula.

Fotos tiradas por um fotógrafo da Reuters mostram o manifestante envolvido em chamas, antes de ser levado ao hospital com queimaduras no tronco. Não ficou claro quão grave eram os seus ferimentos.

O homem, de 27 anos, identificado como Janphel Yeshi, colocou fogo no corpo em pleno centro da capital indiana, segundo fontes policiais.

Trinta tibetanos atearam fogo a si mesmos, a maioria no sudoeste da China, no último ano em protesto contra o regime da China no Tibet, de acordo com grupos tibetanos de direitos humanos. Pelo menos vinte deles morreram.

Oposicionistas também cometeram abusos na Síria, diz ONG

Membros de grupos oposicionistas da Síria, que há mais de um ano pedem a renúncia do presidente Bashar al-Assad, também cometem abusos e violações de direitos humanos como tortura, sequestros e execuções, acusou nesta terça-feira a ONG internacional Human Rights Watch (HRW).

[BBC Brasil, 20 mar 12] Em carta aberta ao Conselho Nacional Sírio (CNS), que congrega os oposicionistas, a organização diz que as “táticas brutais” do regime não justificam os abusos cometidos pelos braços armados da oposição.

A HRW também deixa claro que não há indícios de que os responsáveis pelos abusos pertençam a estruturas organizadas da oposição ou que estejam seguindo ordens do CNS. Continue lendo

Relatório da ONU sobre violência sexual em áreas de conflito lista piores criminosos

[ONU BR, 24 fev 12] O relatório anual das Nações Unidas sobre violência sexual em áreas de conflito nomeia, pela primeira vez, as forças militares, milícias e grupos armados suspeitos entre os piores criminosos.

O documento, que abrange o período de dezembro de 2010 a novembro de 2011, inclui o Exército de Resistência do Senhor (LRA) na República Centro-Africana e no Sudão do Sul, milícias e ex-militares na Costa do Marfim, além das Forças Armadas da República Democrática do Congo. Continue lendo

ONU aprova resolução de igualdade para homossexuais

[Folha SP, 17 jun 11] O Conselho de Direitos Humanos da ONU (Organização das Nações Unidas) condenou pela primeira vez a discriminação com base na orientação sexual ao aprovar uma resolução histórica destinada a promover a igualdade dos indivíduos sem distinção.

A resolução afirma que “todos os seres humanos nascem livres e iguais no que diz respeito a sua dignidade e seus direitos e que cada um pode se beneficiar do conjunto de direitos e liberdades (…) sem nenhuma distinção”.

O texto, apresentado pela África do Sul, estabelece ainda um painel para rever leis discriminatórias e as violências contra as pessoas por sua orientação sexual ou identidade de gênero em todo o mundo.

A resolução foi aprovada por 23 votos a favor, contra 19 contrários e três abstenções. Entre os que aprovaram a medida está o Brasil, Estados Unidos e países da União Europeia. Continue lendo

América Latina continua sendo a região com mais desigualdades do mundo

[Karol Assunção, Adital, 13 mai 11] “Ao terminar 2010, América Latina seguia sendo a região com mais desigualdades do mundo”. Isso é o que afirma Anistia Internacional em seu “Informe Anual 2011 – o estado dos direitos humanos no mundo”. Além da desigualdade, o relatório ainda destaca outras violações ocorridas no continente americano ao longo do ano de 2010, como perseguição a defensores/as dos direitos humanos e violência contra mulheres e meninas.

A organização internacional reconhece alguns avanços em relação aos direitos humanos nas Américas. De acordo com ela, “mesmo que parciais e lentos”, a região conseguiu alguns progressos nessas questões. Destaque para o papel das comunidades e organizações sociais que estão cada vez mais denunciando tais violações e atuando em defesa das vítimas.

O relatório cita a realidade do Haiti como exemplo. No final de 2010, mais de um milhão de pessoas que tiveram suas casas destruídas pelo terremoto – ocorrido em janeiro no mesmo ano – continuavam vivendo em acampamentos provisórios. Situação que deixou mulheres e meninas ainda mais vulneráveis a abusos sexuais. Mesmo com a dor de ter perdido familiares e pertences no terremoto e ainda de ter sido vítima de violação sexual, as mulheres se uniram e formaram “A Comissão de Mulheres Vítimas pelas Vítimas” (Kofaviv), que oferece apoio médico, psicológico e econômico às sobreviventes de violência sexual nos acampamentos haitianos.

Entretanto, mesmo com a ação de organizações sociais, o documento aponta que é preciso a posição dos Estados em defesa dos direitos humanos. Participação que, segundo revela o informe de Anistia Internacional, nem sempre acontece. Continue lendo

Elie Wiesel

Elie Wiesel nasceu em 1928 em Sighet, uma pequena aldeia ao norte da Transilvânia, na Romênia, uma área que fez parte da Hungria de 1941 a 1945. Wiesel foi o único filho homem das quatro crianças de Shlomo, um dono de armazém, e sua esposa Sarah (Feig) Wiesel. Ele era dedicado ao estudo de Torá, Talmud e ensinamentos místicos do Chassidismo e Cabalá.

Os nazistas, liderados por Adolf Eichmann, entraram na Hungria na primavera de 1944 com ordens de exterminar uma estimativa de 600.000 judeus em menos de seis semanas. Wiesel tinha 15 anos quando os nazistas o deportaram junto com a família para Auschwitz-Birkenau.

Sua mãe e irmã mais nova morreram nas câmaras de gás na noite de sua chegada a Auschwitz-Birkenau. Ele e o pai foram deportados para Buchenwald, onde seu pai faleceu antes que o campo fosse libertado em 11 de abril de 1945. Somente depois da guerra Wiesel soube que suas duas irmãs mais velhas, Hilda e Bera, também sobreviveram. Continue lendo

4 abr 1968: Martin Luther King é assassinado

No dia 4 de abril de 1968, o Nobel da Paz de 1964, Martin Luther King, morre ao ser baleado em Memphis, nos Estados Unidos.

[DW, 4 abr 11] Em dois atentados anteriores, o reverendo Martin Luther King conseguira escapar por pouco da morte. O negro que tanto se engajou pela igualdade de direitos nos Estados Unidos nas décadas de 1950 e 1960 alcançou apenas os 39 anos de idade.

No dia 4 de abril de 1968, foi assassinado com um tiro na sacada de um hotel em Memphis. O autor do disparo teria motivos supostamente racistas. Em dezembro de 1999, no entanto, um processo civil no Estado do Tennessee chegou à conclusão de que sua morte foi planejada por membros da máfia e do governo norte-americano.

Que homem era este que conseguiu dividir uma nação e ser amado e odiado ao mesmo tempo? Para melhor entendê-lo, precisamos nos situar no contexto dos Estados Unidos em plena década de 50: uma superpotência em plena Guerra Fria, uma nação rica, um país racista.

O país que se considerava modelo de democracia e liberdade, mas seus habitantes eram classificados de acordo com a raça. Os negros eram discriminados em todos os setores: na política, na economia e no aspecto social. Continue lendo