Arquivo da tag: Meio Ambiente

As religiões diante das crises globais

Não há um segundo a perder nas emergências que já estão diante de nós. E é preciso que todas as instâncias – a religiosa incluída – estejam empenhadas em mudanças de paradigmas que nos levem a soluções verdadeiras.

[Washington Novaes, Estadão, 31 ago 12] Não há mais dia em que não estejam na comunicação notícias, análises, debates sobre as várias crises em que estamos mergulhados – da água, das mudanças climáticas, da desertificação, da perda da biodiversidade, do consumo excessivo no mundo, já além da capacidade de reposição do planeta -, agravadas pela perspectiva de que mais 2 bilhões de pessoas venham somar-se aos 7 bilhões de atuais viventes, 1 bilhão dos quais passa fome e mais de 2 bilhões vivem abaixo da linha da pobreza. Como sair desse quadro dramático, quando as únicas instituições universais de que dispomos – como a Organização das Nações Unidas (ONU) – se veem paralisadas diante da falta de consenso entre os países e as pessoas, que impede a tomada de decisões globais? Que fazer, se conflitos armados continuam a eclodir e podem ampliar-se? E que atitudes adotar diante de ameaças novas, como a da guerra cibernética? Continue lendo

Terra leva um ano e meio para repor recursos consumidos anualmente, diz estudo

Os seres humanos consomem, a cada ano, um montante de recursos naturais 50% superior ao que a Terra pode produzir, de forma sustentável nesse mesmo período. Os dados são da ONG WWF.

[Richard Black, BBC Brasil, 15 mai 12] De acordo com um relatório “Living Planet”, divulgado nesta terça-feira, a Terra leva um ano e meio para repor todos os recursos que a população mundial consome a cada ano. Para muitos ambientalistas, a Rio+20, conferência internacional que será realizada no Brasil em junho, é uma oportunidade para os países aumentarem de forma urgente a proteção à natureza. Continue lendo

Energia eólica deve superar a gerada por usinas nucleares no mundo até 2020

O avanço do vento no mundo é irresistível. Limpa e barata, a eletricidade de origem eólica já equivale à produzida por 280 reatores e em breve passará à frente da energia nuclear no mundo.

[Gero Rueter, DW, 30 abr 12] A importância da energia eólica cresce rapidamente em todo o mundo. Na Espanha e na Dinamarca, o vento é a fonte de 20% da eletricidade. Na Alemanha, essa percentagem é de 10% e, segundo os prognósticos, até 2020, será de 20% a 25%.

Segundo a Associação Mundial de Energia Eólica (WWEA, na sigla em inglês), no ano passado foram construídas novas centrais eólicas perfazendo 40 gigawatts (GW) de energia produzida. Com isso, o total da energia ambientalmente correta em todo o mundo chegou a 237 GW no final de 2011, o equivalente ao desempenho de 280 reatores termonucleares. Continue lendo

Brasil perde para outros Brics na hora de proteger suas florestas

Estudo comparou o desmatamento e a recuperação florestal em 11 países

O Brasil está atrás de China, Rússia e Índia no combate ao desmatamento e na recuperação da área florestal perdida.

[Mariana Della Barba, BBC Brasil, 23 nov 11] Esta é a conclusão de um estudo organizado pelo instituto brasileiro Imazon e o Proforest, ligado à Universidade de Oxford, que estudo comparou a situação em 11 países e mostra que nos quesitos preservação e reflorestamento o Brasil está perdendo a corrida com outros países dos Brics.

O estudo, divulgado no momento em que o Senado debate os termos do novo Código Florestal quanto ao tratamento de áreas verdes do país, compara a forma com que o Brasil e outros países lidam com o tema e analisa o que está sendo feito de suas florestas.

Se colocados lado a lado, os dados mostram que, enquanto China, Índia e Rússia têm criado leis para proteger suas florestas e agem para recuperar o que já foi devastado, o Brasil segue na contra-mão, desmatando mais do que é reflorestado. Continue lendo

Michel Foucault, o Jornal Nacional e a Chevron ~ Luís Eustáquio Soares

[Observatório da Imprensa, 22 nov 11] Michel Foucault inicia seu extraordinário livro Arqueologia do Saber (1969) questionando algumas identidades fixas que orientam as nossas vidas, na suposição de que elas sejam eternas e que sempre tenham existido. O que é o sujeito? O que é uma pessoa, com sua identidade de gênero, étnica, econômica? Existe alguém que seja ele mesmo, uma identidade fixa, definida?

Quem sou eu?

Este é, pois, o primeiro axioma: não existe sujeito integralmente ele mesmo.

Somos muitos, com algumas tendências que prevalecem através das quais me fazem pensar ser eu mesmo um comunista, um poeta, um professor, um homem, um brasileiro, mineiro, com uma biografia marcada pela pobreza e pela ação solidária e socialista de minha mãe, que tem 15 filhos e que isso e isso e isso. Percebo-me a partir desses viveres que vivi, embora não sejam de forma alguma isolados, apenas meus, mas também de muitas outras pessoas: milhares, milhões, bilhões.

E eis que chego ao segundo axioma: eu não sou eu mesmo, mas um arquivo de experiências de vidas, inclusive de vidas antípodas das que acredito ser eu mesmo. Eu sou também ditador, torturador, indiferente, cínico, assassino.

Crenças de fixidez identitária

E eis que alcanço o terceiro axioma: sou o mundo inteiro, todas as possibilidades de ser, no atual presente histórico, embora manifeste tudo isso tendo em vista as misturas que fui realizando no decorrer de minha vida, a partir das migalhas de ser – em função da pobreza –, que pude catar aqui e ali. Continue lendo

Relatório de Desenvolvimento Humano 2011 (PDF completo)


Sustentabilidade e equidade: Um futuro melhor para todos.

O grande desafio do desenvolvimento do século XXI é a salvaguarda do direito das gerações de hoje e do futuro a vidas saudáveis e gratificantes. O Relatório do Desenvolvimento Humano de 2011 oferece novos e importantes contributos para o diálogo global sobre este desafio, mostrando como a sustentabilidade está indissociavelmente ligada à equidade – a questões de imparcialidade e justiça social e de um maior acesso a melhor qualidade de vida.

O Relatório também defende reformas para promover a equidade e a expressão. Temos uma responsabilidade colectiva para com os menos privilegiados entre nós, actualmente e no futuro, em todo o mundo – assegurar que o presente não seja inimigo do futuro. Este Relatório pode ajudar-nos a divisar os caminhos em diante.

Arquivo Completo (PDF)

As previsões sugerem que o continuado insucesso na redução dos riscos ambientais graves e das crescentes desigualdades ameaça abrandar décadas de progresso sustentado da maioria pobre da população mundial – e até inverter a convergência global do desenvolvimento humano. O nosso notável progresso no desenvolvimento humano não pode continuar sem passos globais arrojados para a redução dos riscos ambientais e da desigualdade. Este Relatório identifica caminhos para que as pessoas, as comunidades locais, os países e a comunidade internacional promovam a sustentabilidade ambiental e a equidade de formas mutuamente reforçadoras. Continue lendo

IDH pode recuar se países não enfrentarem desafio ambiental

[Lisandra Paraguassu, Lígia Formenti e Rafael Moraes Moura; Estadão, 2 nov 11] Se nada for feito, uma parte considerável dos avanços mais recentes no desenvolvimento humano poderá ser perdida nas próximas décadas pela degradação ambiental. Projeções feitas pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) no relatório Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) 2011 apontam que o IDH poderá ser 8% menor do que a projeção inicial em um cenário de “desafio ambiental” em que se confirmem as perspectivas atuais de aquecimento global.

Na África Subsaariana e no sul da Ásia, regiões mais pobres do globo, essa diferença pode chegar a 12%.

“Em um cenário de ‘catástrofe ambiental’, ainda mais adverso, que antevê um vasto desflorestamento e degradação do solo, reduções dramáticas da biodiversidade e uma aceleração dos fenômenos climáticos extremos, o IDH global seria aproximadamente 15% inferior ao previsto”, diz o relatório.

Os efeitos da degradação ambiental, avisa o PNUD, serão sempre mais fortes justamente na população mais vulnerável. Seus principais efeitos são o aumento da poluição, a diminuição da água potável, das reservas pesqueiras e da terra agricultável e o aumento das catástrofes ambientais como secas e enchentes. A previsão mais pessimista do relatório aponta para um possível aumento de 30% a 50% no valor dos alimentos nas próximas décadas, com impacto direto entre os mais pobres.

“De uma maneira geral, as tendências ambientais ao longo das últimas décadas demonstram uma deterioração em diversas frentes, com repercussões adversas no desenvolvimento humano, especialmente para os milhões de pessoas que dependem diretamente dos recursos naturais para a sua subsistência”, diz o relatório. “Estas previsões sugerem que, em muitos casos, os mais desfavorecidos suportam e continuarão a suportar as repercussões da deterioração ambiental, ainda que pouco contribuam para o problema.”

Brasil: um dos países que mais terá migrações climáticas

[Débora Spitzcovsky, Planeta Sustentável, 31 out 11] O estudo internacional Preparing for Resettlement Associated with Climate Change (Preparando-se para Reassentamentos Associados às Mudanças Climáticas, em português), publicado na última edição da revista Science, apontou que o Brasil é um dos países que mais sofrerá com osdeslocamentos populacionais ocasionados pelas mudanças climáticas.

De acordo com os pesquisadores, o aumento das secas e do nível do mar e a intensificação dos tufões serão os principais responsáveis pelas migrações climáticas do Brasil, que partirão das regiões litorâneas, sobretudo do Nordeste. A pesquisa aponta, ainda, que outra grande responsável pelos deslocamentos populacionais brasileiros é a expansão das hidrelétricas, que, entre outros impactos, expulsa de suas casas as pessoas que residem nas áreas que serão alagadas.

Liderado pela brasileira Márcia Castro e pelo norte-americano Alex de Sherbinim, o estudo tem a intenção de alertar para a necessidade da humanidade se preparar para lidar, em um futuro próximo, com os deslocamentos populacionais causados pelas alterações climáticas.

O estudo Preparing for Resettlement Associated with Climate Change está disponível, na íntegra e em inglês, para os assinantes da revista Science.

Estudo americano confirma aquecimento da superfície terrestre

Uma nova análise de um grupo de cientistas dos Estados Unidos concluiu que a superfície da Terra está ficando mais quente.

[Richard Black, BBC Brasil, 21 out 11] Desde 1950, a temperatura média em terra aumentou em um grau centígrado, segundo as descobertas do grupo Berkeley Earth Project.

O Berkeley Earth Project usou novos métodos e novos dados, mas as descobertas do grupo seguem a mesma tendência climática vista pela Nasa e pelo Escritório de Meteorologia da Grã-Bretanha, por exemplo.

“Nossa maior surpresa foi que os novos resultados concordam com os valores de aquecimento publicados anteriormente por outras equipes nos Estados Unidos e Grã-Bretanha”, afirmou o professor Richard Muller, que estabeleceu o Berkeley Earth Project na Universidade da Califórnia reunindo dez cientistas renomados.

“Isto confirma que estes estudos foram feitos cuidadosamente e que o potencial de (estudos) tendenciosos, identificados pelos céticos em relação ao aquecimento global, não afetam seriamente as conclusões”, acrescentou. Continue lendo

Vida nos oceanos pode enfrentar extinção sem precedentes, diz estudo

[BBC Brasil 20 jun 11] Um novo estudo indica que os ecossistemas marinhos enfrentam perigos ainda maiores do que os estimados até agora pelos cientistas e que correm o risco de entrar em uma fase de extinção de espécies sem precedentes na história da humanidade.

O levantamento foi feito realizado por especialistas que integram o Programa Internacional sobre o Estado dos Oceanos (IPSO, na sigla em inglês), uma entidade formada por cientistas e outros especialistas no assunto.

Eles concluíram que fatores como a pesca excessiva, a poluição e as mudanças climáticas estão agindo em conjunto de uma forma que não havia sido antecipada.

A pesquisa reuniu especialistas de diferentes disciplinas, incluindo ambientalistas com especialização em recifes de corais, toxicologistas e cientistas especializados em pesca.

‘‘As conclusões são chocantes. Estamos vendo mudanças que estão acontecendo mais rápido do que estávamos esperando e de formas que não esperávamos que fossem acontecer por centenas de anos’’, disse Alex Rogers, diretor científico do IPSO e professor da Universidade de Oxford. Continue lendo

Trazido pelas correntes marinhas, lixo despejado no mar invade a costa brasileira

Lixo despejado no mar e nos rios de todo o mundo viaja pelas correntes oceânicas e invade a costa brasileira. De caixas de leite a feijões enlatados, pesquisador baiano encontrou produtos originados em 75 países

O imaginário coletivo está cheio de histórias de cartas que chegam à beira da praia dentro de garrafas atiradas ao mar. As mensagens trariam pedidos de ajuda, mapas do tesouro e recados de amor. Lenda ou não, se o costume nascesse hoje, esse “correio marítimo” poderia vir em caixas de leite, latas de extrato de tomate e feijão, embalagens de produtos de limpeza e de talco. São esses os itens que “desembarcam” com frequência na costa brasileira segundo monitoramento da ONG Global Garbage (Lixo Global). Tudo importado. Em quatro anos e cerca de 20 caminhadas pela costa, 6.576 embalagens de 75 países foram encontradas só no litoral da Bahia. Achados que revelam o lixo marinho como uma séria ameaça à vida nos oceanos. Reportagem de Júlia Kacowicz, no Correio Braziliense.

Continue lendo

A terceira revolução industrial ~ por Georg Meck

Um gigantesco parque eólico offshore no mar do Norte, uma grande usina geotérmica perto de Hannover e um projeto bilionário de energia solar no deserto. A Alemanha enfrenta, em grande estilo, os desafios da mudança climática com alta tecnologia verde

A Alemanha está surfando na onda verde. A indústria ambiental irá se transformar, até o ano 2020, no mais importante ramo e, assim, na máquina de empregos do país. “A tecnologia ambiental é a indústria guia do século 21”, diz Burkhard Schwenker, presidente da empresa de consultoria Roland Berger. Os consultores analisaram as perspectivas do ramo e ouviram 1300 empresas e 200 instituições de pesquisa. O resultado é motivo para esperanças impressionantes. O faturamento da indústria ambiental mundial deverá mais que dobrar até o ano 2020, alcançando 3100 bilhões de euros. E a Alemanha está marchando bem à frente, graças a seus campeões verdes. Negócios com sol, vento e água são hoje vitoriosos bens de exportação.

Empresas alemãs estão entre as líderes tecnológicas mundiais. Suas fatias no mercado internacional, em ramos promissores como o fotovoltaico, o termo-solar e o de energias eólica e hidráulica, estão entre 21 e 35%. Na produção de biogás, a Alemanha domina o mercado. “90% das instalações são fabricadas em nosso país”, diz o consultor Torsten Henzelmann. No ano 2020, 14% do produto interno bruto alemão virão da conta do novo ramo. Em uma década, 2,2 milhões de pessoas encontrarão trabalho no setor. No momento, o número está pela metade, com 1,1 milhão de postos de trabalho.

A economia, consequentemente, está diante de uma mudança profunda. Não será mais a indústria automobilística, nem a química, nem a mecânica que irá marcar o país, mas sim a alta tecnologia verde. Ela gerará empregos e bem-estar. Fato é que, há tempos, a alta tecnologia verde deixou de ser um nicho para tornar-se o centro das atenções. Nesta evolução, o movimento ecológico dos primeiros anos favoreceu o sucesso, sem dúvida. Ele preparou o terreno na sociedade e na formação política. Leis ambientais rigorosas e apoio, na forma de subvenções, contribuíram para o despontar das empresas ambientais. “A tecnologia ambiental é um dos filhos mais queridos da política e recebe o correspondente apoio”, diz Henzelmann.

Afinada com o espírito da contemporaneidade, a habilidade engenheira alemã pôde desdobrar-se e comprovar sua maestria numa série de áreas: energias renováveis, eficiência em matérias-primas e em materiais, mobilidade sustentável, economia hídrica ecológica e eliminação de resíduos. A tecnologia verde made in Germany disputa sempre a dianteira. Os Estados Unidos e a China, entretanto, estão recuperando terreno, diz Dietmar Edler, do Instituto Alemão de Pesquisa Econômica (DIW) de Berlim. “A Alemanha poderá manter sua posição competitiva. Sua vantagem tecnológica e seu know how são apreciáveis”.

Como os lucros no ramo ambiental são atraentes, investidores privados destinam cada vez mais recursos para a tecnologia verde. Empresas start up associam-se a indústrias consolidadas. Elas colocam no ramo seu capital e sua experiência. A empresa de autopeças Bosch, por exemplo, declarou a tecnologia ambiental como um novo pilar de existência e está engajando-se, com altas somas, em firmas do setor. Mesmo representantes da velha economia não demonstram medo algum de interagir no setor ambiental. Assim, a indústria suábia Voith, um conglomerado familiar, com seus orgulhosos 140 anos, está realizando um projeto de geração de energia a partir das ondas do mar na costa da Escócia.

A Siemens, um dos maiores global players alemães e também já com 160 anos de idade, igualmente reconheceu a tendência, designando ultimamente a si própria “o maior conglomerado de infraestrutura verde do mundo”. Sob a palavra de ordem “­Complete Mobility”, a empresa de Munique se faz presente em todo o mundo quando se trata de eficiência energética. No Estado da Renânia do Norte-Vestfália, sob o título “Ruhr­pilot”, acontece o maior projeto europeu de gestão de trânsito. Em metrópoles como Oslo e Lisboa, a Siemens atua no transporte público urbano. E o conglomerado está entre a dúzia de renomadas firmas que propuseram o visionário projeto Desertec.

A ideia é ousada. O sol no Saara resolverá problemas energéticos. No deserto do norte da África, espera-se produzir energia sem CO2, que deverá satisfazer 15% das necessidades da Europa e grande parte da demanda nos países produtores. Os custos do projeto são estimados em aproximadamente 400 bilhões de euros. O início das obras ainda está em aberto. A energia deverá ser obtida em usinas termo-solares. Neste processo, a luz solar refletida por espelhos aquece um meio condutor de calor em tubos. Através de uma nova rede de condutores, a eletricidade será transportada por 3 mil quilômetros à Europa. Com seu alto grau de eficiência e os baixos custos de geração de eletricidade com tecnologias solares, usinas termo-solares já oferecem potencial para produzir, em médio prazo, eletricidade em regiões próximas à linha do Equador a custos comparáveis aos das usinas a combustíveis fósseis. Em outubro, deverá ser fundada a empresa planejadora do empreendimento. “Tanto o potencial ecológico quanto o econômico são enormes”, diz Torsten Jeworrek, membro do conselho diretor da Münchner Rück, uma das impulsionadoras do projeto.

A tecnologia necessária já pode ser vista em Jülich, cidade próxima a Aachen, mesmo que ainda em proporções modestas. Lá entrou em operação em agosto uma inédita usina solar: 2500 espelhos conduzem a luz do Sol para o topo de uma torre com 50 metros de altura. Nela, a energia solar é transformada em eletricidade. “Um portão para o futuro das energias regenerativas”, diz o ministro do Meio Ambiente, Sigmar Gabriel. Por ano, a instalação, que custou 22 milhões de euros, deverá colocar 1,5 megawatts na rede: o suficiente para abastecer 350 residências.

A busca por energias renováveis permanece como um dos maiores desafios da atualidade. Pesquisa-se e desenvolve-se em todas as direções, em geral com participação dos grandes conglomerados de energia, como no caso do primeiro parque eólico em alto-mar, o Alpha Ventus, 45 quilômetros ao norte da ilha Borkum, no mar do Norte. Nos próximos anos, devem surgir nos mares do Norte e Báltico, instalações com até 40 mil megawatts de potência. Elas irão abastecer então oito milhões de residências com eletricidade.

Sol, vento e água já são empregados para a geração de energia. O calor do interior da Terra desponta igualmente como alternativa. Esta auspiciosa tecnologia chama-se geotermia. O governo alemão dotou um programa de fomento a ela com 400 milhões de euros. Em 2008, o número de profissionais nesta área dobrou, de cerca de 4500 para 9100. Perto de Hannover, está nascendo uma usina geotérmica, na qual calor do interior da Terra é trazido à superfície. Um propósito sedutor, uma vez que a fonte de energia é inesgotável e o calor está disponível a qualquer tempo, ao contrário do Sol e do vento.

Em junho de 2009, o projeto piloto GeneSys começou a realizar as primeiras perfurações. Em quatro anos, a usina deverá estar extraindo do solo dois megawatts de energia calorífica. Os tubos irão penetrar quatro quilômetros até encontrar o calor. A cada quilômetro, a temperatura no interior da Terra sobe cerca de 30 graus. Mas como transformar o calor em energia? A usina geotérmica bombeia água até as profundezas, onde é aquecida pelo calor da Terra até aproximadamente 150 graus. Depois, é conduzida novamente para cima, onde aquece prédios. O projeto visa economizar 15 milhões de euros em combustíveis. Se tudo correr bem com o experimento, “teremos conquistado um modelo para grandes áreas da Europa”, diz o gerente do projeto, Michael Kosinowski.

Seja qual for a tecnologia verde pesquisada e testada pelos conglomerados alemães, tem-se sempre o mercado mundial em vista. Os prognósticos para o setor ambiental apontam ricas chances mundialmente. Os indícios disso são claros. A população mundial não para de crescer, mas os recursos naturais são esgotáveis. No ano 2030, dois terços da população viverá em metrópoles, que terão de administrar gigantescos desafios ecológicos. Se os países emergentes superarem o atraso industrial e o bem-estar social global crescer, a demanda por energia limpa e mobilidade ambientalmente sustentável aumentará obrigatoriamente e a proteção ao clima ganhará um valor ainda maior.

Com o presidente Barack Obama, os Estados Unidos também apostam pesado em energia verde. Até 2025, 25% da eletricidade deverá vir de fontes energéticas renováveis – brilhantes chances de vendas de fotocélulas e cata-ventos made in Germany. A eficiência de tais instalações cresce continuamente, enquanto os custos caem dramaticamente. E não está longe o dia em que serão competitivas. “Logo que as energias renováveis tiverem preços compatíveis com os das energias tradicionais, a demanda por elas explodirá”, acredita Torsten Henzelmann, da Roland Berger.

A atual crise econômica mundial poderia prejudicar um pouco os campeões verdes. Entretanto, alguns estão até lucrando com ela. Finalmente eles têm maior facilidade para encontrar engenheiros. E ainda mais importante: os governos elaboram pacotes conjunturais contra a recessão, com critérios ecológicos. Praticamente não há país em que não exista um programa de fo­mento às tecnologias verdes.

Os EUA, por exemplo, estão investindo 112 bilhões de dólares em tecnologias verdes. O aperfeiçoamento de automóveis híbridos e a pesquisa de baterias de alto rendimento estão no centro das atenções. A China está destinando quase 20 bilhões de dólares às tecnologias ambientais. Pacotes conjunturais da Europa colocaram à disposição seis bilhões de euros para energias renováveis, 3,5 bilhões para a infraestrutura energética, 500 milhões para instalações eólicas offshore, sete bilhões para eficiência energética, isto é, automóveis, prédios e fábricas mais econômicos. O governo alemão aplicará de 2009 a 2011 o total de 500 milhões de euros em pes­quisa na área da mobilidade elétrica. O investimento visa tecnologias-chave para a integração de veículos elétricos e híbridos em redes de trânsito.

O potencial para tecnologias pobres em emissões para os automóveis é enorme, enfatiza a consultoria de empresas McKinsey. Em breve, o faturamento no setor poderá chegar a 325 bilhões de euros. Os consultores preveem crescimento anual de 30%. Veículos híbridos, nos quais um motor elétrico apoia um motor a combustão, deverão, segundo eles, responder no ano 2020 por 16% a 24% do mercado. O motor a combustão vem igualmente sendo aperfeiçoado em sua eficiência. Os componentes para a redução do consumo geram um movimento de 30 a 35 bilhões de euros. Afinal, automóveis elétricos e os chamados veículos híbridos plug in (a bateria pode ser carregada a partir da rede elétrica) irão ter igualmente um papel significativo para a indústria automobilística.

“O futuro, isto é certo, pertence aos automóveis elétricos, sem emissões”, confirma o presidente da Volkswagen, Martin Winterkorn, que lançou o Golf Twin Drive em Berlim, que é também a capital da e-mobilidade. A Mercedes está testando na cidade, com a RWE, o Smart elétrico, e a BMW, com a Vattenfall, o Mini E, com uma tomada atrás da tampa amarela do tanque. Os fabricantes estão investindo maciçamente em tecnologias para baterias, embora, durante muito tempo, tenha parecido que os japoneses estavam muito à frente. “Se tudo continuar a correr como agora, a Alemanha tem boas chances de integrar a liderança mundial no desenvolvimento do carro elétrico”, diz Martin Winter, professor de ciências de materiais.

Não há dúvida: ecológico é in. Ecológico cria empregos. Mesmo conglomerados automobilísticos, que reduzem seus quadros de pessoal, procuram engenheiros eletricistas que os ajudem a preparar-se para a era pós-motor a combustão. Para bons profissionais, as campeãs do setor verde são um campo recompensador, diz o consultor Henzelmann: “É possível subir na carreira mais depressa do que nos ramos clássicos da engenharia. Pode-se fazer mais e assumir responsabilidades mais rapidamente”.

Fonte: Deutschland Online, 07 set 2009