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Os latifúndios de ideias ~ por Ladislau Dowbor
A concentração de renda e a destruição ambiental continuam sendo os nossos grandes desafios. São facetas diferentes da mesma dinâmica: na prática, estamos destruindo o planeta para a satisfação consumista de uma minoria, e deixando de atender os problemas realmente centrais. Como explicar que, com tantas tecnologias, produtividade e modernidade, estejamos reproduzindo o atraso? Em particular, como a sociedade do conhecimento pode se transformar em vetor de desigualdade?
O prêmio Nobel Kenneth Arrow considera que os autores de “Apropriação indébita: como os ricos estão tomando a nossa herança comumâ€, Gar Alperovitz e Lew Daly, “se baseiam em fontes impecáveis e as usam com maestria. Todo mundo irá aprender ao ler este livroâ€. Eu, que não sou nenhum prêmio Nobel, venho aqui contribuir com a minha modesta recomendação, transformando o meu prefácio em instrumento de divulgação. Mania de professor, querer comunicar o entusiasmo de boas leituras. E recomendação a não economistas: os autores deste livro têm suficiente inteligência para não precisar se esconder atrás de equações. A leitura flui.
A quem vai o fruto do nosso trabalho, e em que proporções? É a eterna questão do controle dos nossos processos produtivos. Na era da economia rural, os ricos se apropriavam do fruto do trabalho social, por serem donos da terra. Na era industrial, por serem donos da fábrica. E na era da economia do conhecimento, a propriedade intelectual se apresenta como a grande avenida de acesso a uma posição privilegiada na sociedade. Mas para isso, é preciso restringir o acesso generalizado ao conhecimento, pois se todos tiverem acesso, como se cobrará o pedágio, como se assegurará a vantagem de minorias? Continue lendo
Classe C cresceu 95,6% em cinco anos no Estado da ParaÃba
Em cinco anos, o número de domicÃlios da classe C cresceu 95,6% na ParaÃba, passando de 219.529 para 429.389 residências. O consumo dessa classe passou de 31,6% do total para 40%, de 2005 a 2010, representando aproximadamente R$ 11,12 bilhões. Os dados são do estudo “Brasil em Foco†divulgado anualmente pelo IPC Marketing Editora, que aponta para este ano consumo de R$ 27,8 bilhões, sendo os maiores gastos com manutenção do lar (R$ 6,2 bilhões), alimentação em domicÃlio (R$ 4,6 bilhões) e veÃculo (R$ 1 bilhão). Até o fim do ano, o consumo deve crescer 3,9%.
O estudo do IPC mapeia a participação de cada um dos 5.564 municÃpios brasileiros com relação ao potencial do consumo no PaÃs e o diretor da empresa, Marcos Pazzini, estará em João Pessoa na próxima terça-feira para ministrar palestra sobre estratégias de negócios. Ele vai orientar empresários sobre o posicionamento diante de um mercado consumidor com crescimento estimado em 3,9% até o fim do ano. As inscrições serão feitas até esta segunda-feira no Sebrae, ao preço de R$ 20 para profissionais e R$ 10 para estudantes.
A pesquisa do IPC estima um consumo de R$ 27,827 bilhões para este ano, sendo R$ 2,496 bilhões para o consumo rural e R$ 25,330 bilhões para o urbano. Os maiores gastos são com alimentação e manutenção do lar, que juntos somam R$ 10,973 bilhões e correspondem a 39,43% do total, além dos veÃculos, com R$ 1,042 bilhão. O estudo analisa 21 categorias de consumo como despesas de viagens, bebidas, confecção, calçados e eletrodomésticos.
Marcos Pazzini, que é também coordenador da pesquisa, revela que o consumidor está cada vez mais exigente. “O preço continua sendo importante, mas questões de diferencial de atendimento, de pré e pós-venda, de entrega, de atender à s expectativas, são fatores essenciais para o sucesso de vendasâ€.
Classe B tem elevação de 70,1%
A migração de classes também atingiu os domicÃlios enquadrados na categoria B, onde houve um acréscimo de 70,1% nas residências. Em 2005, 83.830 famÃlias estavam classificadas nesse grupo, enquanto que a estimativa para 2010 é de 142.597. O consumo dessa classe aumentou de 29,6% para 36,4%, algo em torno de R$ 10,1 bilhões.
A maior redução entre as classes de renda quanto aos domicÃlios ocorreu na E, com uma diminuição de 66,3%, passando de 43.796 para 14.781. Seu consumo estimado é de R$ 139 milhões. A classe D teve redução de 37,9% em sua população, enquanto a A caiu 8,6%, demonstrando uma diminuição na distribuição de renda. O consumo delas deve ser de R$ 2,52 bilhões (9,1%) e de R$ 3,91 bilhões (14,1%), respectivamente.
Fonte: Correio PB, 31 jul 2010
Novo Ãndice da ONU aponta menos pobres no Brasil do que o governo
Um novo Ãndice de medição da pobreza, que não leva em consideração direta a renda, indica que o Brasil tem menos pessoas pobres do que aponta a medição oficial do governo.
O novo Ãndice de Pobreza Multidimensional (MPI, na sigla em inglês), divulgado nesta quarta-feira, diz que 8,5% da população brasileira pode ser considerada pobre.
A avaliação leva em conta o acesso da população a dez itens relacionados à saúde, à educação e ao padrão de vida.
A porcentagem de pobres apontada pelo MPI é maior do que a enxergada pelo Banco Mundial (Bird), que diz que 5% dos brasileiros vivem abaixo da linha da pobreza absoluta (têm renda inferior a US$ 1,25 por dia, de acordo com a regra adotada pelo Bird).
Mas ela é bem menor de que a proporção de brasileiros em pobreza absoluta divulgada pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, órgão ligado ao governo), que é de 28,8%. Segundo a regra adotada pelo Ipea, estão em pobreza absoluta os membros de famÃlias com rendimento médio por pessoa de até meio salário mÃnimo mensal.
O MPI foi desenvolvido pelo centro de pesquisas britânico The Oxford Poverty and Human Development Initiative (OPHI), com o apoio das Nações Unidas, e deverá ser utilizado pela ONU em seu relatório anual de desenvolvimento humano.
Para os criadores do novo Ãndice, ele apresenta um quadro mais preciso da pobreza do que a simples medição do nÃvel de renda.
Números absolutos
A nova medição, que no caso do Brasil toma como base dados coletados em 2003, indica um total de 16,2 milhões de pessoas consideradas pobres no paÃs – o 13º maior número absoluto entre os 104 paÃses em desenvolvimento incluÃdos na pesquisa.
No mundo todo, esse total chega a 1,7 bilhão de pessoas, 400 milhões a mais do que na medição da pobreza absoluta pelos critérios do Banco Mundial.
A medição indica que somente na Ãndia há 645 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza, quantidade superior à soma de todos os paÃses da Ãfrica subsaariana. Apesar disso, a Ãndia tem a 31ª maior proporção de pobres (55,4% da população) entre os paÃses avaliados.
O NÃger é o paÃs com a maior proporção de pobres no mundo, segundo o novo Ãndice (92,7%), seguido de Etiópia (90%), Mali (87,1%) e República Centro-Africana (86,4%).
Os paÃses com a menor proporção de pobres são Eslováquia e Eslovênia (próximo a 0%), República Checa (0,01%), Belarus (0,02%) e Letônia (0,3%).
A China, paÃs mais populoso do mundo, com 1,3 bilhão de habitantes, tem um Ãndice de pobreza pelo MPI de 12,5%.
Entre os paÃses da América Latina, o Uruguai é o que tem a menor proporção de pobres pelo novo Ãndice (1,7%), seguido de Equador (2,2%), Argentina (3%) e México (4%).
Ponto fraco
Entre os itens medidos pelo novo Ãndice, a educação aparece como o ponto fraco do Brasil.
Segundo o relatório do OPHI, 20,2% da população brasileira tem algum tipo de privação nessa área, contra 5,2% no setor de saúde e 2,8% nos itens de padrão de vida.
Para efeito de comparação, na China a proporção de pessoas com privações é bem menor do que no Brasil na área de educação (10,9%), mas superior nos setores de saúde (11,3%) e de padrão de vida (12,4%).
O estudo da OPHI também mede a intensidade da pobreza, ao analisar a proporção das pessoas consideradas pobres em relação à quantidade de itens nos quais têm privações.
O MPI considera pobres aqueles que têm privações em três ou mais dos dez itens considerados, o que engloba 8,5% da população.
Mas apenas 2,3% da população tem privações em quatro ou mais itens, 0,9% em cinco ou mais e 0,3% em seis ou mais itens. A proporção de pessoas com privações em mais de sete itens é próxima de zero.
No NÃger, paÃs com a maior proporção de pobres no mundo, segundo o estudo, 7% da população não tem acesso a nenhum dos dez itens considerados.
Fonte: BBC Brasil, 14 jul 2010
Brasil amplia presença nos paÃses africanos de lÃngua portuguesa
Presença das novelas da Globo nos paÃses africanos de lÃngua portuguesa é só o lado visÃvel de um fenômeno que tem também aspectos econômicos e polÃticos: o crescente interesse do Brasil pelas ex-colônias de Portugal.
Quem anda pelas ruas de Maputo, capital de Moçambique, pode facilmente ouvir jovens usando gÃrias tiradas de novelas da Globo, como “Eu sou chique, bem!” e “Tá podendo!”.
Nas bancas de jornais de Luanda, capital de Angola, revistas especializadas em televisão estampam atrizes brasileiras na capa, como TaÃs Araújo e Juliana Paes.
Também em Luanda é fácil encontrar franquias de redes populares no Brasil, como Bob’s, Mundo Verde e O Boticário. Isso sem falar nos templos da Igreja Universal do Reino de Deus, presente em todos os paÃses africanos de lÃngua portuguesa.
As novelas da Globo, as lanchonetes do Bob’s e os templos da igreja de Edir Macedo são apenas a face visÃvel de um fenômeno relativamente recente: a crescente presença brasileira nas antigas colônias portuguesas na Ãfrica. Além do visÃvel aspecto cultural, essa presença possui um viés econômico e outro polÃtico.
Relações econômicas priorizam Angola e Moçambique
O lado econômico é especialmente forte na relação com Angola – cuja independência, em 1975, o Brasil foi o primeiro paÃs a reconhecer. Apenas quatro anos depois, a Petrobras chegava ao paÃs africano, hoje o terceiro maior produtor de petróleo da Ãfrica.
Mas, segundo o site da petrolÃfera, foi só recentemente – a partir de novembro de 2006 – que a empresa passou a atuar de forma mais agressiva em Angola, como operadora em três blocos de exploração de petróleo.
Também forte em Angola é a Construtora Norberto Odebrecht, que está no paÃs desde 1984, quando iniciou a construção da hidrelétrica de Capanda, com capacidade de geração de 520 megawatts.
Hoje a empresa atua em diversos setores, como a construção de rodovias e em projetos de pavimentação, saneamento e urbanização, empregando mais de 24 mil pessoas.
“As relações do Brasil com Angola são muito mais intensas e muito mais antigas”, afirma o sociólogo alemão Gerhard Seibert, do Centro de Estudos Africanos de Lisboa. “Mas Moçambique também desempenha um papel econômico cada vez maior.”
Na provÃncia de Tete, no centro de Moçambique, a mineradora brasileira Vale está investindo 1,3 bilhão de dólares para extrair carvão de uma das maiores minas não exploradas do mundo. A produção anual deverá chegar a 11 milhões de toneladas a partir de dezembro de 2010 e empregar 1,5 mil pessoas. O contrato foi assinado em 2007.
Brasil busca papel maior no cenário internacional
No aspecto polÃtico, Seibert vê uma clara mudança na polÃtica brasileira para a Ãfrica com a chegada à presidência de Luiz Inácio Lula da Silva em janeiro de 2003.
Lula foi o presidente brasileiro que mais viagens fez à Ãfrica – foram dez até o final de 2009, incluindo todos os paÃses de lÃngua portuguesa, alguns mais de uma vez. Também no seu governo, o número de paÃses africanos nos quais o Brasil possui representação diplomática passou de 18 para 34.
Na opinião de Seibert, essa valorização da Ãfrica na polÃtica externa brasileira segue objetivos econômicos: a busca de mercados para produtos e empresas brasileiras e a garantia de matérias-primas.
Mas há, também, objetivos polÃticos: “As relações com a Ãfrica fazem parte de uma polÃtica externa que tenta dar um papel maior ao Brasil no contexto internacional, e isso inclui a ambição de ter um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU”.
Para o especialista, a Ãfrica é só uma parte da polÃtica externa “mais expansiva” adotada pelo governo Lula. Ela inclui ainda a maior presença do paÃs em fóruns internacionais como o G20 ou as reuniões com os paÃses BRIC (Rússia, Ãndia e China).
Já Lula apresenta sua polÃtica africana como o pagamento de uma dÃvida, afirmando que o Brasil tem um compromisso moral e ético com o continente, uma referência ao passado escravagista brasileiro. O presidente gosta de repetir que o Brasil é o paÃs com a maior população negra fora da Ãfrica.
Estudar no Brasil
As frequentes visitas à Ãfrica trouxeram popularidade a Lula no continente, o que, somado ao mundo idÃlico apresentado em várias novelas televisivas, acaba por reforçar uma imagem positiva do Brasil.
“A imagem que temos do Brasil é muito boa, até porque a mÃdia que vem do Brasil são as novelas”, conta o universitário são-tomense Edileny Lima de Souza, que estuda administração de empresas na PUC em Porto Alegre.
O guineense Francisco Ialá, que cursa Direito na mesma universidade, diz que também no seu paÃs a imagem do Brasil é muito boa. “As novelas que mais passam na Guiné-Bissau são as brasileiras. Toda a cultura brasileira influencia a Guiné-Bissau.”
Ambos encontraram um Brasil diferente do que aquele que conheciam pela televisão. “As novelas brasileiras não retratam a situação como ela é. É mais glamour, praia e coisas boas, sem os problemas de infraestrutura, desigualdade e preconceito. São coisas que eu vivenciei e não esperava”, diz Edileny
Edileny e Francisco estão entre os quase 4 mil africanos selecionados para estudar no Brasil entre os anos de 2000 e 2009. Eles receberam uma bolsa de estudos do programa PEC-G, do Ministério das Relações Exteriores.
Na Ãfrica, os principais beneficiados pelo programa são os paÃses de lÃngua portuguesa, Cabo Verde e Guiné-Bissau à frente. A maioria dos estudantes volta ao seu paÃs de origem. Estudar no Brasil é algo comum entre os cabo-verdianos – até o primeiro-ministro do paÃs, José Maria Neves, estudou na Fundação Getúlio Vargas (FGV) nos anos 1980.
Para Edileny e Francisco, o Brasil desempenha um importante papel no ensino superior. “Para os paÃses lusófonos em desenvolvimento, o Brasil desempenha um papel importante na formação de quadros profissionais”, diz Edileny, que afirma: “Volto para São Tomé porque quero ajudar meu paÃs a crescer.”
Autor: Alexandre Schossler
Revisão: Roselaine Wandscheer
Fonte: DW, 22 março 2010
Uma nova igualdade depois da crise
Por Eric Hobsbawm -Â 24 Fev 2010
O “Século Breve”, o 20, foi um perÃodo marcado por um conflito religioso entre ideologias laicas. Por razões mais históricas do que lógicas, ele foi dominado pela contraposição de dois modelos econômicos – e apenas dois modelos exclusivos entre si – o “Socialismo”, identificado com economias de planejamento central de tipo soviético, e o “Capitalismo”, que cobria todo o resto.
Essa contraposição aparentemente fundamental entre um sistema que ambiciona tirar do meio do caminho as empresas privadas interessadas nos lucros (o mercado, por exemplo) e um que pretendia libertar o mercado de toda restrição oficial ou de outro tipo nunca foi realista. Todas as economias modernas devem combinar público e privado de vários modos e em vários graus, e de fato fazem isso. Ambas as tentativas de viver à altura da lógica totalmente binária dessas definições de “capitalismo” e “socialismo” faliram. As economias de tipo soviético e as organizações e gestões estatais sobreviveram aos anos 80. O “fundamentalismo de mercado” anglo-americano quebrou em 2008, no momento do seu apogeu. O Século 21 deverá reconsiderar, portanto, os seus próprios problemas em termos muito mais realistas.
Como tudo isso influi sobre paÃses que no passado eram devotados ao modelo “socialista”? Sob o socialismo, haviam reencontrado a impossibilidade de reformar os seus sistemas administrativos de planejamento estatal, mesmo que os seus técnicos e os seus economistas estivessem plenamente conscientes das suas principais carências. Os sistemas – não competitivos em nÃvel internacional – foram capazes de sobreviver até que pudessem continuar completamente isolados do resto da economia mundial.
Esse isolamento, porém, não pôde ser mantido no tempo, e, quando o socialismo foi abandonado – seja em seguida à queda dos regimes polÃticos como na Europa, seja pelo próprio regime, como na China ou no Vietnã – estes, sem nenhum pré-aviso, se encontraram imersos naquela que para muitos pareceu ser a única alternativa disponÃvel: o capitalismo globalizado, na sua forma então predominante de capitalismo de livre mercado.
As consequências diretas na Europa foram catastróficas. Os paÃses da ex-União Soviética ainda não superaram as suas repercussões. A China, para sua sorte, escolheu um modelo capitalista diferente do neoliberalismo anglo-americano, preferindo o modelo muito mais dirigista das “economias tigres” ou de assalto da Ãsia oriental, mas abriu caminho para o seu “gigantesco salto econômico para frente” com muito pouca preocupação e consideração pelas implicações sociais e humanas.
Esse perÃodo está quase à s nossas costas, assim como o predomÃnio global do liberalismo econômico extremo de matriz anglo-americana, mesmo que não saibamos ainda quais mudanças a crise econômica mundial em curso implicará – a mais grave desde os anos 30 –, quando os impressionantes acontecimentos dos últimos dois anos conseguirão se superar. Uma coisa, porém, é desde já muito clara: está em curso uma alternância de enormes proporções das velhas economias do Atlântico Norte ao Sul do planeta e principalmente à Ãsia oriental.
Nessas circunstâncias, os ex-Estados soviéticos (incluindo aqueles ainda governados por partidos comunistas) estão tendo que enfrentar problemas e perspectivas muito diferentes. Excluindo de partida as divergências de alinhamento polÃtico, direi apenas que a maior parte deles continua relativamente frágil. Na Europa, alguns estão assimilando o modelo social-capitalista da Europa ocidental, mesmo que tenham um lucro médio per capita consideravelmente inferior. Na União Europeia, também é provável prever o aparecimento de uma dupla economia. A Rússia, recuperada em certa medida da catástrofe dos anos 90, está quase reduzida a um paÃs exportador, poderoso, mas vulnerável, de produtos primários e de energia e foi até agora incapaz de reconstruir uma base econômica mais bem balanceada.
As reações contra os excessos da era neoliberal levaram a um retorno, parcial, a formas de capitalismo estatal acompanhadas por uma espécie de regressão a alguns aspectos da herança soviética. Claramente, a simples “imitação do Ocidente” deixou de ser uma opção possÃvel. Esse fenômeno ainda é mais evidente na China, que desenvolveu com considerável sucesso um capitalismo pós-comunista próprio, a tal ponto que, no futuro, pode também ocorrer que os historiadores possam ver nesse paÃs o verdadeiro salvador da economia capitalista mundial na crise em que nos encontramos atualmente. Em sÃntese, não é mais possÃvel acreditar em uma única forma global de capitalismo ou de pós-capitalismo.
Em todo caso, delinear a economia do amanhã é talvez a parte menos relevante das nossas preocupações futuras. A diferença crucial entre os sistemas econômicos não reside na sua estrutura, mas sim na suas prioridades sociais e morais, e estas deveriam, portanto, ser o argumento principal do nosso debate. Permitam-me, por isso, a esse ilustrar dois de seus aspectos de fundamental importância a esse propósito.
O primeiro é que o fim do Comunismo comportou o desaparecimento repentino de valores, hábitos e práticas sociais que haviam marcado a vida de gerações inteiras, não apenas as dos regimes comunistas em estrito senso, mas também as do passado pré-comunista que, sob esses regimes, havia em boa parte se protegido. Devemos reconhecer quanto foram profundos e graves o choque e a desgraça em termos humanos que foram verificados em consequência desse brusco e inesperado terremoto social. Inevitavelmente, serão necessárias diversas décadas antes que as sociedades pós-comunistas encontrem uma estabilidade no seu “modus vivendi” na nova era, e algumas consequências dessa desagregação social, da corrupção e da criminalidade institucionalizadas poderiam exigir ainda muito mais tempo para serem combatidas.
O segundo aspecto é que tanto a polÃtica ocidental do neoliberalismo, quanto polÃticas pós-comunistas que ela inspirou subordinaram propositalmente o bem-estar e a justiça social à tirania do PIB, o Produto Interno Bruto: o maior crescimento econômico possÃvel, deliberadamente inigualitário. Assim fazendo, eles minaram – e nos ex-paÃses comunistas até destruÃram – os sistemas da assistência social, do bem-estar, dos valores e das finalidades dos serviços públicos. Tudo isso não constitui uma premissa da qual partir, seja para o “capitalismo europeu de rosto humano” das décadas pós-1945, seja para satisfatórios sistemas mistos pós-comunistas.
O objetivo de uma economia não é o ganho, mas sim o bem-estar de toda a população. O crescimento econômico não é um fim, mas um meio para dar vida a sociedades boas, humanas e justas. Não importa como chamamos os regimes que buscam essa finalidade. Importa unicamente como e com quais prioridades saberemos combinar as potencialidades do setor público e do setor privado nas nossas economias mistas. Essa é a prioridade polÃtica mais importante do Século 21.
Publicado originalmente no jornal La Repubblica. Tradução de Moisés Sbardelotto em Envolverde/ECO 21.
Liberalismo econômico ainda é tabu no Brasil, diz ‘Economist’
Da BBC Brasil
Um artigo publicado na edição desta quinta-feira da revista britânica The Economist afirma que o liberalismo econômico ainda é tabu no Brasil.
“Liberalistas econômicos são tão escassos no Brasil como flocos de neveâ€, diz o texto, intitulado The almost-lost cause of freedom (“A causa quase perdida da liberdadeâ€, em tradução livre).
O artigo afirma que a “mudez†dos liberalistas no paÃs ocorre, em parte, porque o voto é compulsório, o que faz com que os eleitores pobres “ajudem a empurrar os partidos na direção de um Estado maiorâ€.
De acordo com a Economist, “a escassez dos liberalistas é ainda mais estranha dada a história do paÃsâ€.
Nesse sentido, a revista oferece ainda outra explicação para essa falta – o fato de que muitos dos polÃticos brasileiros participaram da oposição durante o regime militar (1964-1985).
O texto cita, por exemplo, que o atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva era um lÃder sindicalista, e o pré-candidato nas próximas eleições José Serra, um ex-lÃder estudantil exilado.
Apesar disso, o artigo afirma que muitos dos polÃticos que faziam parte dessa oposição esquerdista “provaram ser pragmáticos no governoâ€.
A revista afirma, por exemplo, que nenhum dos candidatos nas próximas eleições fala em cortar impostos, apesar do aumento da porcentagem do Produto Interno Bruto (PIB) destinada ao governo, que chegou a um patamar próximo dos paÃses europeus.
Avanços
De acordo com a Economist, os liberalistas brasileiros enfrentam ainda outro problema para se manifestarem: “a falta de um partido onde suas ideias sejam bem-vindasâ€.
Mas, se a tônica do texto trata da falta de liberalistas no paÃs, a revista oferece um contraponto e afirma que as instituições responsáveis pela polÃtica econômica estão mais liberais, no sentido de que estão mais livres da interferência do governo do que jamais estiveram.
A revista afirma ainda que a abertura econômica trazida pelo governo de Fernando Collor de Melo impulsionou os liberalistas a “fazer mais barulho†e cita os grupos voltados a essa doutrina, como o Fórum da Liberdade e o Movimento por um Brasil Competitivo.
Apesar dos avanços, a Economist afirma que “por enquanto, no entanto, as pessoas que queiram praticar o liberalismo econômico são aconselhadas a fazê-lo em particularâ€.
Brasil pode zerar miséria e se igualar a paÃses ricos em 2016, diz Ipea
MARIANA SALLOWICZ – Folha Online
O Brasil poderá praticamente zerar a pobreza extrema e alcançar indicadores sociais próximos aos dos paÃses desenvolvidos em 2016, caso mantenha o ritmo de desempenho que teve entre 2003 e 2008. A conclusão é de estudo “Pobreza, desigualdade e polÃticas públicas”, divulgado nesta terça-feira pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).
A pobreza extrema é considerada para famÃlias com renda de até um quarto de salário mÃnimo per capita –atuais R$ 127,50.
Também há expectativa de alcançar uma taxa nacional de pobreza absoluta (até meio salário mÃnimo per capita, R$ 255) de 4% naquele ano, o que, segundo o Ipea, significa quase a sua erradicação. Em 2008, o Ãndice estava em 28,8%.