Arquivo da tag: Educação

Geração desconcentrada

As distrações constantes causadas pelo meio digital já afetam o aprendizado de adolescentes e jovens.

[Larry Rosen*, Estadão, 18 nov 12] Uma pesquisa recente do Pew Internet & American Life Project, em que foram entrevistados 2.462 professores dos ensinos fundamental e médio nos EUA, conclui que: “A vasta maioria concorda que as atuais tecnologias estão criando uma geração que se distrai com facilidade e só consegue se concentrar por breves intervalos de tempo”. Dois terços dos professores concordam que as tecnologias contribuem mais para distrair os alunos do que para o seu desempenho escolar.

Recentemente, minha equipe de pesquisa observou 263 alunos dos ensinos médio e superior estudando em casa por 15 minutos. O objetivo era verificar se os jovens conseguiam se manter concentrados e, em caso negativo, o que motivava a dispersão. A cada minuto, anotávamos o que eles faziam: se estavam estudando, trocando mensagens de celular, se havia um som ou uma TV ligados, se estavam diante de um PC e quais sites visitavam. Continue lendo

Menos de 30% dos brasileiros são plenamente alfabetizados, diz pesquisa

Apenas 35% das pessoas com ensino médio completo podem ser consideradas plenamente alfabetizadas e 38% dos brasileiros com formação superior têm nível insuficiente em leitura e escrita.

[Amanda Cieglinski, Agência Brasil, 17 jul 12] É o que apontam os resultados do Indicador do Alfabetismo Funcional (Inaf) 2011-2012, pesquisa produzida pelo Instituto Paulo Montenegro e a organização não governamental Ação Educativa.

A pesquisa avalia, de forma amostral, por meio de entrevistas e um teste cognitivo, a capacidade de leitura e compreensão de textos e outras tarefas básicas que dependem do domínio da leitura e escrita. A partir dos resultados, a população é dividida em quatro grupos: analfabetos, alfabetizados em nível rudimentar, alfabetizados em nível básico e plenamente alfabetizados. Continue lendo

Mais de cem meninas podem ter sido envenenadas em escola no Afeganistão

Mais de cem alunas de uma escola no nordeste do Afeganistão foram levadas a um hospital local nesta terça-feira com suspeita de envenenamento.

[BBC Brasil, 17 abr 12] As meninas foram hospitalizadas após apresentarem sintomas como náuseas, dor de cabeça e tontura.

O responsável pelo setor de saúde da província de Takhar disse que as estudantes adoeceram pouco após tomarem água nos bebedouros da escola, no distrito remoto de Rustaq.

Autoridades de educação na capital afegã, Cabul, disseram que investigações preliminares apontam que a água da escola pode ter sido propositalmente envenenada por radicais que se opõem à educação de mulheres no país.

O país já registrou casos semelhantes, mas não houve indícios conclusivos que incriminassem os responsáveis.

Sem empregos e educação, milhões ficam à margem de crescimento brasileiro

[Júlia Carneiro e Paula Idoeta, BBC Brasil,15 fev 2012] Ao chegar de carro por uma estrada de terra arenosa, uma placa dá as boas-vindas a Assunção do Piauí, “a capital do feijão”. Mas as letras desbotadas, quase apagadas, deixam claro que a principal atividade econômica local já viu melhores dias.

Na pequena cidade, a 270 km de Teresina, as colheitas fracas estão fazendo muitos desistirem de plantar feijão.

Excluídos

“Aqui é assim, a gente só trabalha no escuro. Num ano dá e no outro não dá”, diz a dona de casa Francisca Pereira Moreno, mãe de cinco filhos.

Depois de conversar com alguns moradores de Assunção, perguntar onde cada um trabalha parece perder sentido. Os principais empregos da cidade são na prefeitura local, mas para adultos como Francisca, que não sabe ler nem escrever, a única opção está na roça ou nos serviços domésticos. Sem alternativas, a maioria sobrevive do Bolsa Família.

“Tem que ter o Bolsa Família. Porque a renda aqui do feijão não está dando dinheiro. Dá R$ 60, R$ 70”, diz Francisca. Continue lendo

Da educação mercadoria à certificação vazia ~ por Andrea Harada Souza

Enquanto não houver uma mudança radical, o próprio sentido de educação estará comprometido, posto que seu fim mais elementar não é atingido: em vez de promover a emancipação humana, produz lucro para o capital que só enxerga as camadas sociais C, D e E quando estas se apresentam como potencial mercado consumidor.

[Le Monde Diplomatique Brasil, 1 dez 11] O ensino superior, público e privado, no Brasil passou por grandes transformações nas últimas décadas. Essas mudanças – travestidas de democratização, por favorecerem o acesso – visaram atender a uma proposta de privatização e barateamento da educação.

O Ministério da Educação (MEC) alardeia números, sobretudo para organismos internacionais – que obrigam o país a se enquadrar em padrões estipulados por eles na competição do mercado de consumo, trabalho e pesquisa –, que demonstram o crescimento do acesso ao ensino superior, ainda que distantes daqueles objetivados pelo Plano Nacional de Educação (PNE) (o acesso é de apenas 13,8% dos jovens, entre 18 e 24 anos). Porém, esse suposto processo de inclusão tem facilitado, para além do aceitável, um crescimento vertiginoso das instituições de ensino superior (IES) privadas, com desdobramentos que passam pela precarização do trabalho docente e pela formação duvidosa que essas empresas têm oferecido aos alunos por ela formados.

A predominância de objetivos economicistas em detrimento dos pedagógicos nas IES privadas permitiu um fenômeno relativamente novo no Brasil: a formação de conglomerados educacionais, grandes empresas, de capital aberto e com forte participação de grupos estrangeiros em seu quadro de acionistas. A autorização para funcionamento dessa espécie de oligopólio do setor educacional tem intensificado a visão mercantil da educação superior no Brasil. Os exemplos mais representativos desse modelo de organização empresarial na educação ficam por conta dos grupos educacionais Kroton-Pitágoras, Estácio de Sá, SEB (Sistema Educacional Brasileiro) e Anhanguera Educacional. Esta última, com a recente aquisição da Uniban, passou a ser o maior grupo educacional do país, atendendo aproximadamente 400 mil alunos em campiespalhados por diversos estados brasileiros. Além disso, manteve sua projeção de crescimento de atingir 1 milhão de estudantes em cinco anos, segundo matéria do Valor Econômico de 17 de novembro de 2011. Continue lendo

Analfabetismo cai no Brasil, mas ainda é maior que no Zimbábue

[André Monteiro, Folha SP, 16 nov 11] A taxa de analfabetismo entre a população com 15 anos ou mais diminuiu 4 pontos percentuais entre 2000 e 2010, segundo novos dados do Censo divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta quarta-feira. O número caiu de 13,6% para 9,6%.

Na área urbana, o indicador passou de 10,2% para 7,3% da população. Já nas áreas rurais, ele teve uma melhora de 29,8% para 23,2%.

Nos Estados, a menor taxa de analfabetismo foi encontrada no Distrito Federal (3,5%) e a maior em Alagoas (24,3%).

As maiores quedas entre a população com 15 anos ou mais se deram no Norte (de 16,3% em 2000 para 11,2% em 2010) e no Nordeste (de 26,2% para 19,1%), mas também ocorreram reduções nas regiões Sul (de 7,7% para 5,1%), Sudeste (de 8,1% para 5,4%) e Centro-Oeste (de 10,8% para 7,2%).

Apesar do avanço, o índice de analfabetismo no Brasil ainda está acima do de muitos países. De acordo com dados de 2009 do Banco Mundial, a taxa de analfabetismo era de 8,14% no Zimbábue, país africano com PIB per capita igual a 5% do brasileiro.

A média mundial, segundo as estatísticas, foi de 16,32%. A menor taxa foi encontrada em Cuba (0,17%) e a maior no Chade (66,39%).

Entre as crianças brasileiras de 10 a 14 anos, 3,9% ainda não estavam alfabetizadas em 2010, o que representa cerca de 671 mil crianças. Em 2000, o número deste contingente era de 1,2 milhão de crianças, ou 7,3% do total. Continue lendo

Analfabetismo continua sendo problema na Alemanha

Pensar que há analfabetos apenas em países em desenvolvimento é mero clichê. Em nações industrializadas, como a Alemanha, o problema atinge, há muito, um número considerável de pessoas.

[DW, 2 out 11] Tim-Thilo Fellmer é um entre os chamados “analfabetos funcionais” na Alemanha, termo usado para designar as pessoas que sabem ler e escrever frases soltas, mas que não estão em condições de ler e entender textos corridos, como por exemplo instruções no ambiente de trabalho.

Quando ainda frequentava o segundo ano escolar, Tim Thilo Fellmer recebeu o diagnóstico de “dislexia”. Hoje, o bem-sucedido autor de livros infantis e proprietário de uma editora guarda poucas lembranças positivas de sua fase escolar. Para ele, sempre foi um peso enorme não conseguir executar as tarefas como os colegas de escola e acima de tudo ter sempre que ocultar o problema. “Sempre tinha que dar um jeito usando truques. E sempre vivi com medo de ser descoberto”, conta ele, ao lembrar “desse tempo difícil e muito negativo”. Continue lendo

A economia da criatividade ~ por Ladislau Dowbor

[Le Monde Diplo, 1 jun 11] Um produto hoje se torna viável e útil muito mais pelo conhecimento incorporado (pesquisa, design, comunicação etc., os chamados intangíveis) que pela matéria-prima e trabalho físico. Trata-se de um deslocamento-chave relativamente à economia dos bens materiais que predominaram no século passado.

O fator-chave de produção no século passado era a máquina. Hoje, é o conhecimento. Podemos chamar este, enquanto fator de produção, de capital cognitivo. O embate que hoje se trava no Brasil em torno da propriedade intelectual, ainda que se apresente sob a roupa simpática da necessidade de assegurar a remuneração do jovem que publica um livro ou do pobre músico privado do seu ganha-pão pela pirataria, envolve na realidade o controle do capital cognitivo. Nas palavras de Ignacy Sachs, no século passado a luta era por quem controlava as máquinas, os chamados meios de produção. Hoje, é por quem controla o acesso ao conhecimento. Estamos entrando a passos largos na sociedade do conhecimento, na economia criativa.

Como sempre, quando se trata de poderosos interesses, há uma profusão de enunciados empolados sobre ética, mas muito pouca compreensão, ou vontade de compreender, o que está em jogo. Este artigo busca trazer um pouco de explicitação dos mecanismos. Continue lendo

A pedagogia da travessia ~ Rubem Alves

A menina que me conduzia pela Escola da Ponte na minha primeira visita me disse que na sua escola não havia professores dando aulas. Espantei-me. Nunca me havia passado pela cabeça que houvesse escolas em que professores não davam aulas. Pois as aulas não são o centro mesmo da atividade escolar? As aulas não são o método que as escolas usam para transmitir saberes? E os professores não são os portadores desses saberes? Todo mundo sabe que a missão de um professor é “dar a matéria”… As escolas existem para que as aulas aconteçam… E agora essa menininha me diz que, na sua escola, não havia professores dando aulas e ensinando saberes…

E mais: naquela escola, as crianças não ficavam separadas em espaços diferenciados, de acordo com seu adiantamento: os miúdos ficavam misturados aos graúdos… Mas a separação dos alunos segundo os seus saberes não seria uma exigência da ordem e da eficácia?

Disse ainda que não havia nem provas nem notas. Mas a avaliação… Como se pode avaliar o que foi aprendido se não há provas? Provas são instrumentos de avaliação! Continue lendo

Peru se declara livre do analfabetismo

[Renata Giraldi, Agência Brasil, 14 jun 11] A pouco mais de um mês de deixar o poder, o presidente do Peru, Alan García, avaliou que ontem (13) foi um dia “decisivo e histórico” para o país. García afirmou que o Peru “está livre” do analfabetismo. “Esta é uma etapa maravilhosa na justiça social”, afirmou. Segundo ele, nos últimos anos o número de peruanos alfabetizados chegou a 1,7 milhão, dos quais 70% são mulheres.

Porém, o presidente se disse preocupado porque cerca de 550 mil novos alfabetizados estão desempregados. De acordo com analistas políticos e econômicos, um dos principais desafios de Ollanta Humala, sucessor de García, é a falta de emprego no Peru e o elevado percentual de pobreza no país – aproximadamente 30% da população são considerados na faixa de pobreza. Continue lendo

Indisciplina reina nas escolas de São Paulo

[Isis Brum, JT, 15 mai 11] Se a sala de aula fosse um campo de futebol, a indisciplina seria a bola no clássico ‘alunos contra professores’. O mau comportamento dos estudantes está entre as principais causas dos conflitos escolares, dizem os professores. E, sob a perspectiva dos alunos, essa relação também é vista como complicada. Em São Paulo, o descontentamento é ainda maior em relação ao restante do País: apenas 37,6% dos alunos paulistanos consideram que sua relação com o professor é “boa ou ótima”, índice inferior à média nacional, de 45%, segundo um estudo da Organização das Nações Unidas para a Educação (Unesco).

“Indisciplina é um sintoma de que algo não vai bem em sala de aula. O aluno quer dizer: ‘estou sendo obrigado a fazer algo que não me interessa”, diagnostica Maria Regina Maluf, doutora em Psicologia da Educação e professora da Pós Graduação em Psicologia da Educação na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Para resgatar a atenção e restabelecer a ordem em sala, um dos desafios é apresentar o conteúdo de forma interessante, de forma que ele possa competir com o mar de informações à disposição nas redes sociais e em outras ferramentas do dia a dia do aluno.

“O professor, hoje, tem de tornar o método mais interessante e se colocar no papel desse aluno”, aponta Maria Ângela Barbato Carneiro, coordenadora do Núcleo de Cultura, Estudos e Pesquisas do Brincar e da Educação Infantil da PUC-SP. Isso significa que aulas muito teóricas, distantes da realidade dos estudantes e formatadas para serem copiadas da lousa, por exemplo, tornam-se enfadonhas para uma geração que já nasceu em meio às tecnologias interativas. Continue lendo

Queda do analfabetismo adulto é residual

[Antonio Gois, Folha SP, 16 mai 11] Foram poucos os que aprenderam a ler entre 2000 e 2010, segundo o censo; redução foi de 0,5 ponto percentual .Crianças e jovens foram principais responsáveis pela diminuição do analfabetismo ocorrida na década passada.

Edna Veiga, 76, já perdeu a conta do número de cursos de alfabetização em que se matriculou antes de, finalmente, aprender a ler.

“Fiz muitos, mas nada entrava na minha cabeça. Acho que desta vez funcionou porque o professor teve mais paciência”, diz ela.

O fato de Edna ter aprendido a ler depois de adulta a torna, no entanto, uma exceção nas estatísticas.

Um olhar mais cuidadoso sobre a década passada através do censo do IBGE mostra que, apesar de quase R$ 3 bilhões investidos pelo governo federal na alfabetização de adultos, uma vez completados 20 anos de idade, foram poucos os analfabetos que aprenderam a ler e escrever entre 2000 e 2010.

A erradicação do analfabetismo na década passada era meta do Plano Nacional de Educação -aprovado pelo Congresso- e promessa de campanha de Lula. Continue lendo