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Angola: uma escola construída sobre o infortúnio

Nem a temperatura amena do inverno angolano – muito parecida com a de algumas cidades do litoral nordestino brasileiro na mesma estação -, nem o ar condicionado do carro ajudam a minimizar o desconforto que sinto ao adentrar o Mussende, bairro no município de Viana, nos arredores de Luanda, capital do país. É um mal-estar embebido de curiosidade, misturado à poeira do chão de terra e às imagens de crianças que brincam em meio ao lixo e a alguns animais.

Estou em uma comunidade de refugiados de guerra, gente que em 1981 abandonou a província Kwanza Sul para preservar a vida do conflito civil que começou em 1975, logo depois da independência da nação, e só terminou no início do século 21. As famílias, depois de ficarem por cerca de 11 anos nas províncias de Malange e Kwanza Norte, foram instaladas em Viana em 1993 pelo Ministério de Reinserção Social. Em 2002, mesmo estimulados a voltar para a terra natal, esses angolanos resolveram ficar por lá, muitos mesmo sem ter emprego. Continue lendo

Brasil avança, mas ainda é 73º em desenvolvimento humano

O Brasil foi o país que mais avançou no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) preparado pelo Programa das Nações Unidas para Desenvolvimento (PNUD). No documento deste ano, divulgado nesta quinta-feira (4), o Brasil passa a ocupar a 73ª colocação, desempenho suficiente para que integre o grupo de países de desenvolvimento humano elevado. Apesar do crescimento, o País ainda apresenta traços importantes de desigualdade social.

Na avaliação deste ano, o Brasil obteve quatro pontos a mais em comparação com 2009. O desempenho é significativo, sobretudo diante do cenário de estagnação revelado pelo estudo. Dos 169 países analisados, 116 mantiveram a posição apresentada em 2009 e 27 tiveram desempenho pior. Além do Brasil, somente outros 25 conseguiram melhorar a classificação, de acordo com o relatório.

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IDH amadurece, se sofistica mas perde simplicidade ~ por JR Toledo

Ao fazer 20 anos, o Índice de Desenvolvimento Humano amadureceu, se sofisticou, mas perdeu em simplicidade e universalidade -duas marcas do seu sucesso. Nas últimas décadas o IDH mudou o paradigma do que seja desenvolvimento e deu início a uma onda de índices que medem de tudo um pouco.

Antes do IDH era o PIB per capita, e só. Até 1990, toda medição de desenvolvimento dos países era feita apenas pelo crescimento do seu Produto Interno, dividido pela população. Era uma medida exclusivamente econômica, que tinha no aumento da renda um fim em si mesmo.

O que o paquistanês Mahbub ulHaq e o indiano Amartya Sen conseguiram à época foi um feito, que hoje parece trivial: sintetizar em um só número uma medida de desenvolvimento que tinha o ser humano no centro, e abrangia as dimensões econômica, de longevidade e educação. Continue lendo

Analfabetismo atinge 3 milhões de jovens trabalhadores rurais no Brasil

Cerca de 40% das pessoas entre 16 e 32 anos que moram e trabalham no campo são analfabetas. O analfabetismo atinge 3 milhões dos quase 8 milhões de trabalhadores rurais do país nesta faixa etária, de acordo com a secretária de Jovens Trabalhadores Rurais da Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura), Maria Elenice Anastácio.

Se forem considerados os habitantes de pequenas cidades que sobrevivem da economia rural, os números podem ser ainda mais preocupantes.

Para Maria Elenice, as condições atuais do ensino obrigam o jovem a escolher entre o estudo e o trabalho. “O trabalhador rural tem que buscar a cidade para ter acesso à saúde, à informação e à escola. Mas como vão pegar um transporte precário para estudar na cidade se estão cansados do trabalho exaustivo?”, questionou.

A coordenadora do curso de licenciatura em Educação no Campo da Universidade de Brasília, Mônica Molina, também apontou a pouca oferta de escolas no campo como responsável pelas altas taxas de analfabetismo. “O interesse em estudar existe. Hoje, o trabalhador dá mais importância ao estudo do que em gerações anteriores, mas quando o aluno chega à 5ª série, dificilmente encontra turmas no meio rural. Então ele precisa ir estudar na cidade mais próxima e acaba desistindo”.

Em pesquisa feita em assentamentos de reforma agrária, Molina constatou que, aproximadamente 70% das escolas rurais, são de 1ª a 4 série, enquanto 25% atendem os alunos de 5ª a 8ª e apenas 4% têm turma de ensino médio.

A consequência é que poucos alunos vão além dos primeiros anos de escolaridade. Este fator, somado às faltas, repetição de séries, professores despreparados e recursos didáticos escassos, leva ao analfabetismo funcional. “Sem acesso á escolarização correta na idade apropriada, o jovem acaba perdendo a condição de ler e interpretar após alguns anos”, afirmou Mônica.

Como solução, Mônica e Maria Elenice defendem a ampliação do número de escolas no campo. “De 2005 a 2007 foram fechadas 8 mil escolas rurais e agora temos que garantir as que já existem”, disse Molina.

“Não adianta investir em transporte das pessoas para cidades próximas. Poucos vão arriscar a vida em pau de arara para terminar o ensino médio”, completou Maria Elenice.

Fonte: Folha SP, 28 jul 2010

Novo índice da ONU aponta menos pobres no Brasil do que o governo

Um novo índice de medição da pobreza, que não leva em consideração direta a renda, indica que o Brasil tem menos pessoas pobres do que aponta a medição oficial do governo.

O novo Índice de Pobreza Multidimensional (MPI, na sigla em inglês), divulgado nesta quarta-feira, diz que 8,5% da população brasileira pode ser considerada pobre.

A avaliação leva em conta o acesso da população a dez itens relacionados à saúde, à educação e ao padrão de vida.

A porcentagem de pobres apontada pelo MPI é maior do que a enxergada pelo Banco Mundial (Bird), que diz que 5% dos brasileiros vivem abaixo da linha da pobreza absoluta (têm renda inferior a US$ 1,25 por dia, de acordo com a regra adotada pelo Bird).

Mas ela é bem menor de que a proporção de brasileiros em pobreza absoluta divulgada pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, órgão ligado ao governo), que é de 28,8%. Segundo a regra adotada pelo Ipea, estão em pobreza absoluta os membros de famílias com rendimento médio por pessoa de até meio salário mínimo mensal.

O MPI foi desenvolvido pelo centro de pesquisas britânico The Oxford Poverty and Human Development Initiative (OPHI), com o apoio das Nações Unidas, e deverá ser utilizado pela ONU em seu relatório anual de desenvolvimento humano.

Para os criadores do novo índice, ele apresenta um quadro mais preciso da pobreza do que a simples medição do nível de renda.

Números absolutos

A nova medição, que no caso do Brasil toma como base dados coletados em 2003, indica um total de 16,2 milhões de pessoas consideradas pobres no país – o 13º maior número absoluto entre os 104 países em desenvolvimento incluídos na pesquisa.

No mundo todo, esse total chega a 1,7 bilhão de pessoas, 400 milhões a mais do que na medição da pobreza absoluta pelos critérios do Banco Mundial.

A medição indica que somente na Índia há 645 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza, quantidade superior à soma de todos os países da África subsaariana. Apesar disso, a Índia tem a 31ª maior proporção de pobres (55,4% da população) entre os países avaliados.

O Níger é o país com a maior proporção de pobres no mundo, segundo o novo índice (92,7%), seguido de Etiópia (90%), Mali (87,1%) e República Centro-Africana (86,4%).

Os países com a menor proporção de pobres são Eslováquia e Eslovênia (próximo a 0%), República Checa (0,01%), Belarus (0,02%) e Letônia (0,3%).

A China, país mais populoso do mundo, com 1,3 bilhão de habitantes, tem um índice de pobreza pelo MPI de 12,5%.

Entre os países da América Latina, o Uruguai é o que tem a menor proporção de pobres pelo novo índice (1,7%), seguido de Equador (2,2%), Argentina (3%) e México (4%).

Ponto fraco

Entre os itens medidos pelo novo índice, a educação aparece como o ponto fraco do Brasil.

Segundo o relatório do OPHI, 20,2% da população brasileira tem algum tipo de privação nessa área, contra 5,2% no setor de saúde e 2,8% nos itens de padrão de vida.

Para efeito de comparação, na China a proporção de pessoas com privações é bem menor do que no Brasil na área de educação (10,9%), mas superior nos setores de saúde (11,3%) e de padrão de vida (12,4%).

O estudo da OPHI também mede a intensidade da pobreza, ao analisar a proporção das pessoas consideradas pobres em relação à quantidade de itens nos quais têm privações.

O MPI considera pobres aqueles que têm privações em três ou mais dos dez itens considerados, o que engloba 8,5% da população.

Mas apenas 2,3% da população tem privações em quatro ou mais itens, 0,9% em cinco ou mais e 0,3% em seis ou mais itens. A proporção de pessoas com privações em mais de sete itens é próxima de zero.

No Níger, país com a maior proporção de pobres no mundo, segundo o estudo, 7% da população não tem acesso a nenhum dos dez itens considerados.

Fonte: BBC Brasil, 14 jul 2010

Italianos aprendem português com livro feito por crianças de Juripiranga (PB)

Quando ouviu a sugestão de fazer um livro digital com seus alunos, a professora Jocileia Izidorio, que dá aula para uma turma de correção de fluxo na cidade de Juripiranga, na Paraíba (a 60 km de João Pessoa), não imaginava que a obra iria terminar na Itália –e traduzida. “Fiquei bestinha com a história”, disse.

O livro, feito por 15 crianças com idades entre 8 e 15 anos, retrata o cotidiano da cidade do interior paraibano com cerca de 10 mil habitantes e economia baseada na produção de vassouras com palha de carnaúba. O tema –“Juripiranga, este é o meu lugar”– foi sugerido pelas próprias crianças. A edição digital ficou a cargo da Editora Plus, uma organização sem fins lucrativos e especializada em e-books.

“A gente falou da cultura de Juripiranga. Foi feito gradualmente: o campo, a produção da vassoura. Eu e os alunos visitamos. Eles escreviam o que eles viam. Não foi nada imposto. Eles escolhiam os temas”, afirmou.

A linguagem fácil e descomplicada chamou a atenção do professor José Fernando Tavares, que dá aula de português brasileiro em San Benedetto del Tronto, no litoral italiano do mar Adriático. Ele é designer dos livros da editora online e decidiu usar o “Juripiranga” em sala. Foi o suficiente para os alunos se empolgarem e mandarem traduzir a obra.

“Usei o livro como texto para leitura e análise de frases simples e também como exercício de tradução para o italiano. Como o pessoal gostou do livro, decidimos fazer uma tradução mais profissional. Aproveitando das traduções feitas na sala de aula, mandei o material para um meu amigo brasileiro que vive há anos na Itália e que trabalha como tradutor”, disse Tavares.

A turma de Jocileia, na época, era destinada a estudantes que tinham baixo rendimento nas séries que cursavam e acabavam encaminhados à correção de fluxo. Fazer o livro foi um projeto que animou a garotada.  “Saber que um livro foi pra outro país tornou ainda mais orgulho”, afirmou.

Se quiser fazer o download do livro, basta acessar a página na Editora Plus.

Fonte: Portal uol, 22 maio 2010

Democracia e educação ~ por JB Libanio

No final da década passada, The Economist encheu os olhos da vaidade brasileira, ao anunciar que o país na atual década se tornaria a quinta potência mundial e a terceira em 2050. O peso da fama da revista tornou a ilusão ainda maior. Por que ouso falar de ilusão? Porque em uma década ou em várias décadas não se constrói uma grande potência sem educação.

Não precisamos povoar essa afirmação com multidão de números estatísticos. Esses, não raro, enganam-nos com a aparente neutralidade. A educação de um povo constata-se a olhos vistos. Basta não ser cego. Existem, sem dúvida, alguns grupos de elite. Mas o povo se alimenta da cultura de massa e esta se constrói, sobretudo, por obra dos meios de comunicação social. Aqui sofremos enormemente.

Enquanto a sociedade civil e o Estado não se unirem, em força única, para exigir dos programas de TV maior nível cultural, que irradiem valores consistentes em vez de terrível vulgaridade e banalidade, não há futuro para o Brasil. Haja vista os noticiários que gastam a maior parte do tempo em divulgar violências ou eventos triviais. Um tarado que assassina jovens depois de violentá-las interessa mais que todas as campanhas de solidariedade do mundo. A imagem que brota do ser humano das manchetes televisivas e de jornais favorece mais a desvalorização da vida que o respeito e a esperança no ser humano.

Os clássicos latinos tinham entendido que os relatos históricos cumpriam a função pedagógica de transmitir exemplos a serem imitados. Nesse sentido, Cícero dizia que a história é a “mestra da vida” e os historiadores se detinham em contar a vida de “varões ilustres” e modelares. Em linguagem de hoje, o clássico romano diria que a TV e a grande imprensa existem para transmitir os valores éticos fundamentais para a convivência humana. Que decepção se se detivessem em frequentar a maioria dos programas que ressudam imediatismo, exterioridades, futilidades, intimidades expostas ao grande público!

A democracia se define pelo bem comum, pelo conviver entre as pessoas em vista da realização do “ser humano todo e de todo ser humano”. Imperam, no entanto, o individualismo, a lei da selva, a privatização do público e a publicização do privado. A confusão das duas esferas humanas mina a democracia. A cultura pós-moderna individualista tende a privatizar a esfera pública. A corrupção nos meios políticos do país não passa de um apoderar-se de bens públicos. E por outro lado, intimidades sexuais e afetivas são lançadas por revistas e programas por todos os ares.

A educação ensina o respeito ao público e o cuidado e recato com o privado. Quando ela falha, misturam-se os campos com detrimento para ambos. A vida social torna-se a maior vítima dessa falta de educação. Perde-se a noção de viver em comunidade. Inverte-se o processo educativo que consiste na humanização continuada das pessoas para crescente animalização. Adeus democracia! Adeus potência mundial!

www.jblibanio.com.br

JB Libanio é Padre jesuíta, escritor e teólogo. Ensina na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE), em Belo Horizonte, e é vice-pároco em Vespasiano

Fonte: Adital, 7 maio 2010

Pesquisa comprova discriminação nas escolas

Interior of a school audience for employment

SÃO PAULO. Em geral, 99,3% das pessoas envolvidas nas escolas brasileiras – alunos, professores, diretores, profissionais da educação e pais – têm alguma atitude preconceituosa. O tipo de preconceito mais comum nas escolas é contra as pessoas com necessidades especiais, admitido por 96,5% dos 18,6 mil entrevistados em pesquisa feita em 2009 pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).

As outras seis atitudes preconceituosas admitidas na pesquisa são comuns também em outros países, como reconhece a ONG Campanha Latino-americana pelo Direito à Educação, que promove esta semana, em São Paulo, debate sobre discriminação na educação. Segundo a ONG, na América Latina e Caribe, sua área de atuação, apenas de 20% a 30% das crianças com deficiência frequentam a escola.

O relator da Organização das Nações Unidas (ONU) pelo Direito à Educação, Vernor Muñoz, disse que a discriminação na escola é reflexo da realidade social, que rechaça a diversidade, e consequência da falta de políticas contra as desigualdades.

” A educação se caracterizou por responder a uma necessidade de produção. Essa educação utilitarista quer produzir conhecimento útil para a sociedade “


Ontem, ao participar de debate com representantes de ONGs que defendem o direito à educação para portadores de deficiências, afrodescendentes e nas prisões, Vernor Muñoz disse que a discriminação é um dos mais graves obstáculos à realização plena do direito à educação. O preconceito contra pessoas portadoras de necessidades especiais, o mais comum nas escolas brasileiras, para ele é resultado de “uma educação utilitarista”:

– A educação se caracterizou por responder a uma necessidade de produção. Essa educação utilitarista quer produzir um, digamos, conhecimento útil para a sociedade. Ou seja, a educação prepara as pessoas para as relações de mercado.

A professora Cláudia Werneck chamou atenção também para o custo da discriminação:

– A resposta objetiva para a questão de quanto custa a discriminação está nesses orçamentos. A gente diz “É muito caro!” quando recebe um orçamento que contempla a linguagem de libra ou braile. Esse “muito caro” significa de 20% a 30% a mais. Esse é o preço da discriminação.

Para a especialista Analu Silva Souza, a discriminação da população afrodescendente é evidente diante dos dados estatísticos disponíveis.

– A população negra ocupa poucos espaços. Temos inúmeras leis que tratam do tema. Agora, é preciso lutar para que sejam levadas à prática – disse Analu, lembrando que, pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), nas pessoas com 25 anos ou mais que concluíram o ensino superior no Brasil há cinco vezes mais brancos que pretos e pardos.

A professora Mariângela Graciano, que tratou do direito à educação nas prisões, citou números oficiais que dão conta da existência de 469 mil pessoas encarceradas no país. Desse total, 56,6% são negros, 67% não concluíram o ensino fundamental, e apenas 10% estão estudando.

– Há uma grande confusão sobre o que é educação na prisão. Qualquer curso, até palestras, é considerado educação. Qualquer atividade que ocupe as mãos se transforma em educação. As atividades educacionais devem se adaptar ao modelo – relatou Mariângela.

Fonte: O Globo, 7 mai 2010

Ensino digital tem vantagens mas esconde armadilhas

studentsO aprendizado digital, o chamado e-learning, parece não ter limites. Porém, ele carece de boas ideias e esconde algumas armadilhas.

Plataformas de aprendizado na internet e provas orais por conferência em vídeo são apenas algumas das muitas possibilidades encontradas no âmbito da educação digital. Muitas escolas e universidades já experimentam com as mais variadas modalidades de aprendizado em plataformas virtuais.

Alunos marcam encontros com seus professores na sala de chat para discutir sobre assuntos da aula. Estudantes de arquitetura da universidade britânica de Leicester reconstroem juntos, no , sociedades do mundo antigo.

No ensino superior, as ofertas virtuais são uma boa ajuda para quem não pode estar presente na sala de aula, e permitem às universidades atingir um público que, de outro modo, ficaria de fora, como o dos profissionais altamente atarefados.

Muito mais do que aulas gravadas

Mas nem todas as ofertas esbanjam criatividade. Muitas vezes as aulas são simplesmente gravadas e disponibilizadas na internet. Para que o aprendizado digital tenha sucesso, ele precisa de muito mais, afirma Ulrike Tippe, professora de informática econômica na Universidade Técnica de Wildau, nos arredores de Berlim.

“As pessoas pensam que, se a técnica está funcionando, está tudo bem. E a coisa não é bem assim, como muito que ocorre na vida. A tecnologia não resolve tudo sozinha”, diz. “Muitas plataformas de aprendizado acabam ficando vazias”, constata.

Há muitos motivos para isso. Uma aula na internet requer do professor tanta disciplina quanto uma aula normal. Além disso, as ofertas de e-learning têm uma desvantagem fundamental, destaca a especialista: no mundo virtual é mais difícil se aprender competência social e técnicas de comunicação e apresentação.

Tendência é interação

A tendência do aprendizado virtual aponta para o intercâmbio com os outros internautas, característica que marca a web 2.0. “Formas colaborativas de aprendizado são cada vez mais presentes, plataformas onde há um intercâmbio entre os estudantes. É o mesmo princípio que experimentamos hoje nas várias comunidades da web 2.0”, explica Tippe.

O ensino digital é parte do futuro. Entretanto, segundo os especialistas, deve atuar como um complemento, e não como um substituto às formas tradicionais de ensino. Blended learning, ou “b-learning”, é a nova tendência já há alguns anos, combinando unidades virtuais e eventos com presença dos participantes.

Novas mídias têm limites

Entretanto, um mau professor no mundo real não se transforma em um bom mestre no mundo virtual. E muitas vezes os instrutores têm até menos conhecimento das novas ferramentas do que seus próprios alunos. Certos professores temem a complexidade técnica ligada às novas mídias, afirma Tippe.

Mas quando se trata de pura transferência de conhecimento como, por exemplo, nas carreiras da área de administração e nos setores técnicos, o e-learning é um método promissor. As empresas podem economizar os altos custos de viagem e hospedagem dos funcionários, oferecendo workshops e cursos de treinamento pela internet.

A professora de Berlim lembra que s custos reaparecem na hora de se desenvolver métodos novos e mais eficazes de e-learning. Mas, no futuro, eles trarão dividendos.

Autor: Andrea Lueg (md)
Revisão: Augusto Valente

Fonte: DW

Nós, escravocratas

Por Cristovam Buarque

Há exatos cem anos, saía da vida para a história um dos maiores brasileiros de todos os tempos: o pernambucano Joaquim Nabuco. Político que ousou pensar, intelectual que não se omitiu em agir, pensador e ativista com causa, principal artífice da abolição do regime escravocrata no Brasil. Apesar da vitória conquistada, Joaquim Nabuco reconhecia: “Acabar com a escravidão não basta. É preciso acabar com a obra da escravidão”, como lembrou na semana passada Marcos Vinicios Vilaça, em solenidade na Academia Brasileira de Letras.

Mas a obra da escravidão continua viva, sob a forma da exclusão social: pobres, especialmente negros, sem terra, sem emprego, sem casa, sem água, sem esgoto, muitos ainda sem comida; sobretudo sem acesso à educação de qualidade.

Ainda que não aceitemos vender, aprisionar e condenar seres humanos ao trabalho forçado pela escravidão – mesmo quando o trabalho escravo permanece em diversas partes do território brasileiro –, por falta de qualificação, condenamos milhões ao desemprego ou trabalho humilhante. Em 1888, libertamos 800 mil escravos, jogando-os na miséria. Em 2010, negamos alfabetização a 14 milhões de adultos, negamos Ensino Médio a 2/3 dos jovens. De 1888 até nossos dias, dezenas de milhões morreram adultos sem saber ler.

Cem anos depois da morte de Joaquim Nabuco, a obra da escravidão se mantém e continuamos escravocratas.

Somos escravocratas ao deixarmos que a escola seja tão diferenciada, conforme a renda da família de uma criança, quanto eram diferenciadas as vidas na Casa Grande ou na Senzala. Somos escravocratas porque, até hoje, não fizemos a distribuição do conhecimento: instrumento decisivo para a liberdade nos dias atuais. Somos escravocratas porque todos nós, que estudamos, escrevemos, lemos e obtemos empregos graças aos diplomas, beneficiamo-nos da exclusão dos que não estudaram. Como antes, os brasileiros livres se beneficiavam do trabalho dos escravos.

Somos escravocratas ao jogarmos, sobre os analfabetos, a culpa por não saberem ler, em vez de assumirmos nossa própria culpa pelas decisões tomadas ao longo de décadas. Privilegiamos investimentos econômicos no lugar de escolas e professores. Somos escravocratas, porque construímos universidades para nossos filhos, mas negamos a mesma chance aos jovens que foram deserdados do Ensino Médio completo com qualidade. Somos escravocratas de um novo tipo: a negação da educação é parte da obra deixada pelos séculos de escravidão.

A exclusão da educação substituiu o sequestro na África, o transporte até o Brasil, a prisão e o trabalho forçado. Somos escravocratas que não pagamos para ter escravos: nossa escravidão ficou mais barata e o dinheiro para comprar os escravos pode ser usado em benefício dos novos escravocratas. Como na escravidão, o trabalho braçal fica reservado para os novos escravos: os sem educação.

Negamo-nos a eliminar a obra da escravidão.

Somos escravocratas porque ainda achamos naturais as novas formas de escravidão; e nossos intelectuais e economistas comemoram minúscula distribuição de renda, como antes os senhores se vangloriavam da melhoria na alimentação de seus escravos, nos anos de alta no preço do açúcar. Continuamos escravocratas, comemorando gestos parciais. Antes, com a proibição do tráfico, a lei do ventre livre, a alforria dos sexagenários. Agora, com o bolsa família, o voto do analfabeto ou a aposentadoria rural. Medidas generosas, para inglês ver e sem a ousadia da abolição plena.

Somos escravocratas porque, como no século XIX, não percebemos a estupidez de não abolirmos a escravidão. Ficamos na mesquinhez dos nossos interesses imediatos negando fazer a revolução educacional que poderia completar a quase-abolição de 1888. Não ousamos romper as amarras que envergonham e impedem nosso salto para uma sociedade civilizada, como, por 350 anos, a escravidão nos envergonhava e amarrava nosso avanço.

Cem anos depois da morte de Joaquim Nabuco, a obra criada pela escravidão continua, porque continuamos escravocratas. E ao continuarmos escravocratas, não libertamos os escravos condenados à falta de educação.

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Cristovam Buarque é Professor da Universidade de Brasília e Senador pelo PDT/DF

Fonte: artigo publicado no jornal O Globo, sábado, 30 de janeiro.

País perde 12 posições em ranking de educação

Da Folha SP

O Brasil perdeu 12 posições no índice de educação feito pela Unesco, o braço da ONU (Organização das Nações Unidas) para a educação e a cultura.

A queda, do 76º para o 88º lugar entre 128 países, ocorreu principalmente em razão da piora no índice de crianças que chegam até a quarta série. Segundo a Unesco, de 80,5%, em 2005, o percentual caiu em 2007 para 75,6%.

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UNESCO advierte sobre “indigencia educativa”

Por Nurit Martínez, do Portal El Universal (Mexico)

Crisis económica dejará sin acceso a una formación académica a los menores de edad

En el último año en México, al menos 700 mil niños y jóvenes abandonaron la primaria y la secundaria, y un número importante de ellos se sumó al trabajo para ayudar a su familia que cayó en la extrema pobreza, dio a conocer el director del Instituto Nacional de Educación para Adultos (INEA), Juan de Dios Castro Muñoz.

Ese grupo de niños mexicanos formará parte de lo que la Organización de las Naciones Unidas para la Educación, la Ciencia y la Cultura (UNESCO) ha definido como la “generación perdida”, que no tendrán oportunidad de recibir la educación que les permita salir de la pobreza.

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