Você já viajou pelo interior de Alagoas? Há alguns meses eu fui de carro até uma cidade a apenas uma hora e meia de Maceió. Parecia um deserto vermelho de barro, pontilhado de miseráveis vilarejos de uma só rua.
O motorista dizia: “isso aqui é tudo de Renan, isso aqui de Lira, isso aqui de fulano, sicranoâ€. Eu olhava e só via vazios com algumas almas penadas nas estradas. “E isso aqui é do MST.â€
Andamos meia hora sem ver casas, nem plantações, além de algumas usinas desativadas. Era o silêncio da miséria, a paz do nada, onde vagam os vassalos do feudalismo nordestino. Aqueles municÃpios paralÃticos já são catástrofes secas, só que silenciosas, paradas no tempo.
De repente, esta tragédia fixa, quase invisÃvel, se transformou em uma tragédia bruta e retumbante. Ai, o verdadeiro Brasil apareceu diante de nós: abandonado, sem verbas, só usadas por interesses polÃticos do governo.
Só nos restou a solidariedade, mas como sentir a dor de um pobre homem catando comida na lama para dar ao filho chorando no colo? Dizendo o que? “Aà que horror?â€
A solidariedade tinha de vir antes para proteger aqueles brasileiros raquÃticos, famintos, analfabetos, que só são procurados pelos donos do nordeste para votos ou para serem “laranjas†em roubalheiras das oligarquias.
Fonte: Globo, 30/06/10 por Arnaldo Jabor