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Censo 2010: população indígena é de 896,9 mil, tem 305 etnias e fala 274 idiomas

No Censo 2010, o IBGE aprimorou a investigação sobre a população indígena no país, investigando o pertencimento étnico e introduzindo critérios de identificação internacionalmente reconhecidos, como a língua falada no domicílio e a localização geográfica. Foram coletadas informações tanto da população residente nas terras indígenas (fossem indígenas declarados ou não) quanto indígenas declarados fora delas. Ao todo, foram registrados 896,9 mil indígenas, 36,2% em área urbana e 63,8% na área rural. O total inclui os 817,9 mil indígenas declarados no quesito cor ou raça do Censo 2010 (e que servem de base de comparações com os Censos de 1991 e 2000) e também as 78,9 mil pessoas que residiam em terras indígenas e se declararam de outra cor ou raça (principalmente pardos, 67,5%), mas se consideravam “indígenas” de acordo com aspectos como tradições, costumes, cultura e antepassados.

Também foram identificadas 505 terras indígenas, cujo processo de identificação teve a parceria da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) no aperfeiçoamento da cartografia. Continue lendo

Kuntanawa: memórias de um povo amazônico

Eles foram quase exterminados no início do século 20 com o avanço dos seringais no estado do Acre, na região norte do Brasil. Sua língua se extinguiu e sua cultura praticamente desapareceu. Os Kuntanawa são um povo que hoje luta pelo resgate de sua identidade e tradição. Eles se misturaram com a população cabocla local no oeste do Acre e estiveram prestes a perder seus traços indígenas.

Em 1911, durante as perseguições armadas aos povos indígenas que acompanharam a abertura e a instalação dos seringais em todo o Acre, a etnia Kuntanawa, ou inicialmente grafada ‘Kontanawa’ – o povo do côco –, contabilizava apenas cinco sobreviventes. Atualmente, soma cerca de 400. Eles não falam mais a sua língua tradicional, pertencente ao tronco linguístico Pano, falam apenas o português. Continue lendo

A cada duas semanas é extinto um idioma

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DW, 21 fev 2010

O 21 de fevereiro é o Dia Internacional da Língua Materna. Mas há poucos motivos para se comemorar. A Unesco adverte que a cada duas semanas um idioma desaparece. Também na Alemanha há 13 línguas ameaçadas.

A cada duas semanas, morre um idioma no planeta, adverte a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), por ocasião do Dia Internacional da Língua Materna, comemorado neste domingo, 21 de fevereiro. Das quase sete mil línguas faladas no mundo, a metade está ameaçada de extinção.

Com o desaparecimento de um idioma, perde-se um legado cultural de poesias, lendas, ditados e piadas, adverte a Unesco. Segundo a organização, as razões para a extinção seriam guerras e desterros, migração e a mistura de diferentes línguas.

Atlas da Unesco engloba 2,5 mil idiomas

Criado em 1999, o Dia Internacional da Língua Materna é comemorado anualmente desde o ano 2000 e tem como finalidade chamar a atenção sobre a importância da diversidade cultural e linguística e convidar ao aprendizado de novos idiomas. As atenções da organização estão voltadas principalmente para aqueles falados por menos de 10 mil pessoas.

Na edição de 2009 do Atlas Mundial de Línguas Ameaçadas de Desaparecimento, a Unesco lista 2,5 mil idiomas. Delas, 572, encontradas nas Américas do Sul e do Norte, no Sudeste Asiático, Oceania e África, são consideradas em risco de extinção.

Um destes idiomas foi extinto na semana passada nas ilhas Andamão e Nicobar, na Índia, com a morte da última falante fluente da antiga língua Bo. A anciã Boa Sr, de 85 anos, era remanescente da tribo Bo, cuja origem tem 65 mil anos, da qual ainda vivem 52 pessoas, anunciou a organização Survival International.

Só na Alemanha, 13 idiomas estão ameaçadas de desaparecimento, entre os quais, o encontrado do norte da Frísia, o sórbio e o iídiche.

RW/dpa/epd

Revisão: Marcio Damasceno

Morte de mulher na Índia enterra língua de 65 mil anos

Por Alastair Lawson, na BBC Brasil, 9 fev 10

A última pessoa que sabia falar uma das línguas mais antigas do mundo morreu nas Ilhas Andaman, no sudeste asiático. Trata-se de uma mulher, Boa Sr, que tinha 85 anos.

As ilhas, situadas no Golfo de Bengala, são governadas pela Índia. Boa Sr pertencia à pequena comunidade dos grande andamanenses, um dos quatro grupos étnicos que habitam as ilhas.

A língua bo – falada pela tribo do mesmo nome, hoje extinta – é uma entre dez línguas faladas pelos grande andamaneses, e teria por volta de 65 mil anos.

Linguistas acreditam que esses idiomas já eram falados em assentamentos humanos existentes na região durante o período Pré-Neolítico. Alguns podem ter se originado na África há 70 mil anos.

Solidão

A especialista indiana em linguística Anvita Abbi disse à BBC que a morte de Boa Sr é significativa porque marca a extinção de uma das línguas mais antigas do mundo.

A humanidade acaba de perder um elo vivo que a conectava a culturas que existiram há 70 mil anos.

Abbi – que administra o site Vanishing Voices of the Great Andamanese (Voga), dedicado às tribos grande andamanesas, disse:

“Durante 30 ou 40 anos, após a morte dos seus pais, Boa foi a única pessoa capaz de falar a língua bo”.

“Ela sentia muita solidão e teve de aprender uma versão andamanesa do hindi (idioma falado por 70% dos indianos) de forma a se comunicar com as pessoas.

“Mas durante toda a sua vida, ela sempre demonstrou um grande senso de humor. Seu sorriso e sua risada, que ressoava na garganta, eram contagiantes”.

Para Abbi, a morte de Boa Sr é uma perda para intelectuais que querem estudar as origens de línguas antigas, porque uma importante peça do quebra-cabeças desapareceu.

“Acredita-se que os idiomas andamaneses sejam os últimos representantes de línguas que datam do período Pré-Neolítico”, ela disse.

“Os andamaneses, pelo que se acredita, estariam entre os nossos mais antigos ancestrais”.

Doenças Importadas

Segundo especialistas, nos últimos três meses, duas línguas faladas nas Ilhas Andaman se tornaram extintas, o que traz grande preocupação.

Os acadêmicos dividiram as tribos que habitam as ilhas em quatro grandes grupos: os grande andamaneses, os jarawa, os onge e os sentineleses.

Abbi disse que todos, à exceção da tribo sentinelese, estiveram em contato com moradores do continente, o que resultou em mortes e “doenças importadas”.

Os grande andamaneses são cerca de 50 (na maioria, crianças) e vivem na ilha Strait, perto da capital, Port Blair.

O grupo jarawa tem cerca de 250 integrantes e a comunidade onge – acredita-se – teria também algumas centenas de pessoas.

“Não houve contato humano com os sentineleses e até o momento eles resistem a todas as intervenções externas”, disse Abbi.

Mas é o futuro dos povos grande andamaneses que mais preocupa os especialistas, porque as tribos dependem do governo indiano para obter alimentos e abrigo. Problemas com álcool são uma constante.

A história de Boa Sr também foi tema de uma campanha da ONG de proteção aos povos da floresta Survival International.

“A extinção da língua Bo significa que uma parte única da sociedade humana é hoje apenas uma lembrança”, disse o diretor da entidade, Stephen Corry.