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Guiana Francesa: onde o Brasil faz fronteira com a Europa

O Haiti se tornou independente da França em 1804; a Guiana, da Inglaterra, em 1966; o Suriname, da Holanda, em 1975. E a Guiana Francesa? É a fronteira da União Europeia com o Brasil.

Embora algumas ilhas do Caribe continuem sendo consideradas territórios europeus, como as francesas Martinica e Guadalupe; as holandesas Aruba, Bonaire e Curaçao; e as inglesas Caimã e Bermuda, após a independência de Belize, em 1981, a Guiana Francesa tornou-se o único país continental na América Latina totalmente ligado a um Estado europeu. Pouco é falado sobre a região definida como “colônia esquecida por muito tempo, subpovoada, desvalorizada e improdutiva” no ensaio A Guiana Francesa: um “caso continental”, escrito por Frank Schwarzbeck.

Insurreições e movimentos independentistas

Michael Zeuske, historiador da Universidade de Colônia, conta que “Caiena, na Guiana Francesa, sempre foi uma colônia extremamente marginal, habitada por povos indígenas em que as plantações escravagistas funcionavam muito mal”. Oficialmente francesa desde 1604, a cidade que é hoje capital da Guiana Francesa foi um ponto de apoio decisivo no lucrativo comércio da área do Caribe.

Após turbulentos anos de insurreições anticolonialistas e anti-escravistas, o Haiti conquistou sua independência em 1804. “Para não perder também as demais colônias, a França as declarou ‘não colônias’, nomeando-as territórios nacionais de ultramar. Dentre as medidas adotadas, os salários foram dobrados”, conta Zeuske.

Antes disso, em 1763, a metrópole havia tentado colonizar a região, povoando-a com cidadãos franceses. A tentativa foi um desastre, pois o clima da Guiana Francesa custou vida de milhares de pessoas, o que levou a região a ficar conhecida como “inferno verde”. Em 1851, foi estabelecida ali a colônia penal de Kourou, para onde seriam levados, por muitos anos, os prisioneiros sentenciados à “guilhotina seca”.

Pouco depois da Segunda Guerra Mundial, a Guiana Francesa passou a ser oficialmente um departamento da França. Com a mudança, seus habitantes adquiriram todos os direitos e obrigações dos demais cidadãos franceses.

União Europeia na selva

“Poucos europeus estão cientes de que a União Europeia tem uma fronteira com o Brasil”, observa Bert Hoffmann, do Instituto de Estudos Globais de Hamburgo. Para ele, tanto as colônias holandesas quanto as francesas na América Latina têm hoje bem-estar e estabilidade garantidos. “Visto que a Guiana Francesa e as ilhas de Martinique e Guadalupe são departamentos franceses, seus habitantes gozam do Estado social em pleno Caribe”, explica Hoffmann.

Foguetes Ariane

A construção de uma base espacial francesa no final da década de 1960 e sua utilização pela Agência Espacial Europeia para o lançamento dos foguetes Ariane também trouxe benefícios à região. “Alta tecnologia no meio da selva”, comenta Hoffmann.

Ainda que os nativos da Guiana Francesa sejam, formalmente, cidadãos franceses, existe um questionamento sobre a identidade desse povo, o qual se vê dividido entre duas realidades. Enquanto as demais ilhas da região têm uma identidade própria por pertencerem ao Caribe, a Guiana Francesa, localizada entre Suriname e Guiana, não se sente necessariamente francesa, ainda que seus habitantes carreguem um passaporte da União Europeia e, em suas escolas, se estude com os mesmos livros que na “Cidade Luz”.

Autora: Mirra Banchón (eh)

Revisão: Roselaine Wandscheer

Fonte: DW, 15 mar 2010