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[Haiti] ”As pessoas pensam que estão amaldiçoadas”

Foto: Emilio Morenatti/AP

A epidemia de cólera, inédita no Haiti em mais de 100 anos, causou mais de mil mortos e se soma aos desastres do terremoto e às inundações.

[Texto de Óscar Gutiérrez, publicado no El País em 16 nov 2010 e no IHU em 18 nov. Tradução de Moisés Sbardelotto.]

Os haitianos olham com maus olhos para o Meille, rio junto ao qual os soldados nepalenses da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti – Minustah estiveram acampados e um dos possíveis focos da cepa que espalhou a cólera pelo país.

“Desde que apareceu o surto, os haitianos estão preocupados com a sua origem”, explica por telefone, de Porto Príncipe, o colaborador da organização Internews Yvens Rumblod. Jornalista haitiano de 21 anos, Rumbold explica que muitos haitianos responsabilizam os militares nepalenses pela epidemia. “Precisam saber de onde vem o surto, e isso explica por que eles vão às ruas. Haverá mais manifestações”. Continue lendo

‘Não sabemos por onde começar’, diz médica brasileira no Haiti

Tais Lara, especialista em UTI do Einstein, está tratando vítimas da cólera. Expectativa é de surto na capital Porto Príncipe daqui a duas semanas.

Os médicos voluntários que foram ao Haiti para tratar as vítimas da cólera estão de mãos atadas por problemas logísticos. A avaliação é de Tais Rodrigues Lara, médica especializada em cuidados intensivos do Hospital Israelita Albert Einstein. “A gente não sabe nem por onde começar, e fica frustrado porque queria ajudar mais”, disse Tais, por telefone, ao G1. A intensivista, que chegou ao Haiti quinta-feira (12) e retorna ao Brasil sexta (19), já esteve no país no início do ano para ajudar os feridos pelo terremoto de 12 de janeiro. “A situação é muito parecida com a que vimos aqui oito meses atrás. Há cerca de 1,3 milhão de pessoas vivendo em tendas, não há saneamento, coleta de lixo ou rede de água e esgoto.”

Não é nada fácil ajudar em um contexto como esse, lamenta a médica. “A chegada dos insumos e equipamentos para tratar a cólera leva muito tempo, e a chave para salvar as vítimas é justamente conter a desidratação rápida, a principal característica da doença”, diz. Continue lendo

Mortos por cólera no Haiti já passam de 900

O número de pessoas que morreram por causa do surto de cólera no Haiti chegou a 917, disse o ministério da Saúde do país neste domingo.

A doença já foi registrada em 6 das 10 províncias do país e quase 15 mil pessoas já foram hospitalizadas com a doença, desde o mês passado.

Equipes médicas tentam evitar que a cólera se espalhe pelos campos na capital, Porto Príncipe, que servem de lar para mais de 1 milhão desabrigados pelo terremoto de janeiro.

Já foram registradas 27 mortes por cólera na cidade.

Furacão

Desde sexta-feira, foram registradas em todo o Haiti 121 mortes causadas pela doença. A área mais afetada permanece sendo a província de Artibonite, com 595 mortes.

A ONU diz que mais de 200 mil haitianos têm cólera.

A epidemia começou no vale do rio Artibonite no meio do mês de outubro. Inicialmente parecia ter sido contida, mas a passagem do furacão Tomas, no início de novembro, causou inundações que teriam contaminado com a bactéria comunidades de desabrigados que já passavam por dificuldades.

As eleições parlamentares e presidenciais do Haiti estão marcadas para o próximo dia 28 de novembro. O país é o mais pobre do hemisfério ocidental.

Publicado na BBC Brasil, 14 nov 2010

Vodou Haitiano: O poder do que se vê e do que não se vê

“Eu sou haitiano. Eu saí do ventre da África Guiné. Eu fui transportado para o Haiti. Eu misturei meu sangue com o sangue dos índios, que foram os primeiros donos desta terra. Eu misturei meu sangue com o sangue dos brancos, que me escravizaram. Eu sou haitiano. Ser que é feito de corpo, ser que é feito de alma. O poder de Olowoun me deu a responsabilidade de conduzir, respeitar e aproveitar tudo aquilo que eu posso ver e tudo aquilo que eu não posso ver sobre esta terra.”

Assim começa a oração entoada por centenas de camponeses e camponesas que participaram nos dias 11 a 14 de agosto, nas montanhas de Mawotyè no Noroeste do Haiti, do Encontro de Vodouizantes, em homenagem aos 219 anos da celebração vodou mais famosa da história: a Cerimônia de Bwa Kayiman.

Na noite de 14 de Agosto de 1791, cerca de duzentos escravos e escravas se reuniram nas matas de Bwa Kayiman, extremo norte do país. Cada uma dessas pessoas havia sido convocada pessoalmente em diferentes rincões da ilha. O homem que deu origem a essa convocatória se chama Boukmann. Ele é um Hougan, sacerdote principal do Vodou. Dentre os presentes estão todos os futuros comandantes da Revolução Haitiana, como Jean Jacques Dessalines, Toussaint Louverture e Capois La Mort. Boukmann explica que foram os Lwas, espíritos do vodou, que decidiram reunir todos eles. Não para pedir-lhes algo, mas sim para comunicar-lhes da decisão dos Lwas: iniciar a batalha pela libertação do Haiti.

Com o sangue proveniente do sacrifício de um porco, um pacto secreto e sagrado é selado entre os presentes na cerimônia. Uma pacto que transcende a vida e a morte, entre eles e os espíritos, que garantiria o triunfo sobre o inimigo europeu. 13 anos depois da Cerimônia de Bwa Kayiman, derrotando os três maiores exércitos europeus da época – Espanha, Inglaterra e França -, os negros e negras haitianos levam a cabo em 1804 a primeira revolução de escravos vitoriosa da história e declaram o Haiti território livre e independente.

“Passados 219 anos desde que nossos ancestrais decidiram se levantar contra o mal que assolava nossa nação, nós vivemos hoje em dia sob o jugo da mesma exploração, da mesma miséria da época colonial”, afirma o hougan Monmus Ervilus Tibos aos participantes do Encontro Vodouizante em Mawotyè. “Nós precisamos construir um novo Bwa Kayiman. Nós precisamos de um novo Boukmann, de um novo Dessalines entre nós”, conclama Tibos, entre palmas e gritos de Ayibobo! (aleluia) dos camponeses e camponesas presentes.

Mas, afinal, que religião é essa na qual os vivos e os espíritos caminham juntos em busca da liberdade de seu povo?

Lwas libertadores

Com sua origem entre os escravos do antigo Egito, cultivada por distintas etnias africanas, o vodou, nas palavras da pesquisadora venezuelana Jenny Gonzalez Muñoz, “é um viajante que acompanhou os escravos africanos na longa travessia a bordo dos navios negreiros”. Muñoz acrescenta que “ao chegar às terras que constituem atualmente o Haiti, esta crença ou prática religiosa se enriquece com os aportes nativos e europeus. Seu culto se focaliza em gênios e deuses como uma homenagem aos Lwas, que transcendem a forma material humana ou animal, em um ato de fé onde os Hougan e os Bòkò, quer dizer, os sacerdotes e os médiuns, se convertem em verdadeiros canais de comunicação entre os seres transcendentais e os terrenos”.

Ao trazer o sobrenatural para a realidade cotidiana, colocando os espíritos dos ancestrais lado a lado com os viventes, o vodou se configura numa ferramenta de união e identidade entre os escravos haitianos, criando assim uma solidariedade possível somente quando se compartilha algo que os une desde o além. É por essa razão que o vodou ganha força crescente na ilha como uma forma de organização que aglutina as tendências emancipatórias e revolucionárias. Esclarece González Muñoz, em seu artigo Vaudou: herencia africana en la sangre americana, que “sob a figura do vodou e do kreyòl, o primeiro como fé que tem como denominador comum a procedência e as condições de seus fiéis, e o segundo como idioma único não compreensível para os europeus, se cria uma espécie de cumplicidade entre os escravos”. Essa cumplicidade incompreensível se converterá num poder que se lançará contra o inimigo para imprimir-lhe o temor e a derrota.

Não seria errado afirmar, dessa forma, que as palavras e sons sagrados do vodou foram o ponto crucial da libertação do povo haitiano.

Represália ocidental

Tamanha ousadia não sairia impune, pelo menos aos olhos dos brancos. Não tardou muito para que as elites ocidentais lançassem sua represália contra o vodou e seu rebento, a revolução haitiana.

Se o Haiti sofreu com embargos econômicos, pagamento compulsório da dívida da independência, sucessivas ocupações militares estrangeiras e a ingerência constante das potências norteamericanos e européias -que o transformaram da colônia mais próspera do século XVIII à nação mais pobre do continente americano no século XXI-, o vodou foi rapidamente identificado pela civilização branca ocidental como uma crença selvagem e primitiva, que cultuava forças satânicas e praticava a magia negra.

Essa tentativa de deslegitimação do vodou foi reforçada pelas autoridades católicas e protestantes, em aliança com as elites locais. Não custa lembrar que a entrada das igrejas protestantes no Haiti ocorreu justamente no período da primeira ocupação militar estadunidense, entre 1915 e 1934. E que são as organizações católicas e protestantes que dominam o ensino no país. Atualmente, 60% das instituições de ensino haitianas estão nas mãos de entidades cristãs.

O resultado dessa empreitada foi o fortalecimento do preconceito e perseguição contra o vodou e seus praticantes. Dezenas de hougan foram presos e assassinados e as celebrações vodou se tornaram cada vez mais clandestinas. Foi somente em 1987 que essa perseguição começou a perder parte de seu ímpeto, quando a atual Constituição Haitiana foi promulgada, dando plenos direitos de culto aos vodouizantes.

As estatíticas oficiais indicam que 80% dos haitianos se declaram católicos, 16% protestantes e apenas 3% vodouizantes. Esses dados, entretanto, não indicam a verdadeira força do vodou entre o povo haitiano. Lidando com o forte preconceito que ainda persiste contra os vodouizantes declarados, não é raro encontrar um haitiano ou haitiana que se proclama cristão, frequenta missas e cultos pela manhã, e no calar da noite busca os tambores vodou no meio das matas para dançar e cultuar os Lwas.

Mais do que uma religião

Mas não é só por essa razão que se pode medir a força do vodou. Presente principalmente no meio camponês, que representa 66% da população haitiana, o vodou se expressa por outras formas além do culto aos Lwas. Uma dessas expressões é o Rara, que engloba danças, ritmos e instrumentos musicais nascidos da junção entre as celebrações vodouizantes e os mutirões de trabalho nas roças camponesas. Com presença garantida em todas as festividades no meio rural, o Rara tem no mês de abril o seu momento de ápice, quando concursos e festas de rua se espalham por todo o campo haitiano, com bandas e grupos Raras que arrastam milhares de seguidores, naquele que é conhecido como o carnaval camponês do Haiti.

Outra função importante desempenhada pelo vodou é na área da saúde. Num país que possui apenas um hospital para cada 200.000 habitantes, os Hougan e Mambò – sacerdotes e sacerdotisas – jogam um papel fundamental no tratamento das famílias camponesas. Detentores do ‘segredo das folhas’, com seu conhecimento ancestral em medicina natural e alternativa, são eles que costumam curar boa parte das enfermidades que assolam os camponeses e camponesas haitianos.

De fato, sendo o Estado no Haiti praticamente inexistente e incapaz de estender seus serviços básicos à grande maioria do campo haitiano, o vodou se configura como uma poderosa organização social capaz de articular dentro de si atividades religiosas, culturais, sociais e políticas.

O vodou e a reconstrução

Entretanto, apesar de toda essa representatividade e experiência, que poderiam ajudar o país a superar o atual momento de ocupação militar das tropas da MINUSTAH e de refundação da nação após o terremoto de 12 de Janeiro de 2010, o vodou e seus representantes não estão inseridos nos debates e espaços públicos de reconstrução do Haiti.

Um exemplo dessa segregação é o CIRH -Comitê Provisório para a Reconstrução do Haiti-, criado em março deste ano com a responsabilidade de definir e gerir os recursos e projetos para a reconstrução pós-terremoto. Com a participação de diversos estrangeiros e presidida pelo estadunidense Bill Clinton, o CIRH não conta com a presença de nenhum hougan ou representante vodouizante.

“Por que os vodouizantes não estão participando do processo de reconstrução do país?” indaga Dyo Fenne Lendi, hougan porta-voz da Zantray (Zanfan Tradiksyon Ayisyen), organização nacional que congrega hougans e vodouizantes de todo o país e que convocou o Encontro de Mawotyè. “Boukman não construiu o Bwa Kayiman para nós servimos ao estrangeiro. Não podemos nos tornar uma mercadoria nas mãos dos políticos e poderosos. Foi através do vodou que nossos ancestrais derrotaram a exploração escravista e será a partir dele que nós vamos tirar nossa nação da situação em que ela se encontra”, assegura Dyo Fenne.

É neste sentido que a Zantray está construindo, junto com outros 600 centros Vodou, a Confederação Nacional dos Vodouizantes Haitianos (KNVA). Mais do que reivindicar sua inclusão na atual sociedade haitiana, os vodouizantes da Zantray buscam a construção de uma novo Haiti, que resgate os principios de solidariedade e soberania de Boukman, Dessalines, Toussaint e Capois La Mort.

Ópio do povo?

Quando afirmou que a religião era o ópio do povo, Karl Marx provavelmente não conhecia o Vodou haitiano. Tivesse entrado em contato com a religião construída pelos escravos e escravas desta ilha, o autor de O Capital talvez mudasse sua afirmação. Sem esconder certa malícia dialética, diria que, neste caso, o Vodou é e não é o ópio do povo.

Ao conjugar o transcendental e o terreno, a fé e a prática, a mística e a política, o Vodou vai mais além de uma simples religião e se transforma num instrumento original de união e poder do povo haitiano na sua luta por libertação.

Thalles Gomes é cineasta, jornalista e membro da Brigada da Vía Campesina Brasileira, no Haiti
Fonte: Adital, 27 ago 2010

Médicos de Cuba no Haiti: a solidariedade silenciada

José Manzaneda, para Adital

Os aproximadamente 400 cooperantes da Brigada médica cubana no Haiti foram a mais importante assistência sanitária ao povo haitiano durante as primeiras 72 horas após o recente terremoto. Essa informação foi censurada pelos grandes meios de comunicação internacionais.

A ajuda de Cuba ao povo haitiano não começou por ocasião do terremoto. Cuba atua no Haiti desde 1998 desenvolvendo um Plano Integral de Saúde(1), através do qual já passaram mais de 6.000 cooperantes cubanos da saúde. Horas depois da catástrofe, no dia 13 de janeiro, somavam-se à brigada cubana 60 especialistas em catástrofes, componentes do Contingente “Henry Reeve”, que voaram de Cuba com medicamentos, soro, plasma e alimentos(2). Os médicos cubanos transformaram o local onde viviam em hospital de campanha, atendendo a milhares de pessoas por dia e realizando centenas de operações cirúrgicas em 5 pontos assistenciais de Porto Príncipe. Além disso, ao redor de 400 jovens do Haiti formados como médicos em Cuba se uniam como reforço à brigada cubana(3).

Os grandes meios silenciaram tudo isso. O diário El País, em 15 de janeiro, publicava uma infografia sobre a “Ajuda financeira e equipamentos de assistência”, na qual Cuba nem sequer aparecia dentre os 23 Estados que havia colaborado(4). A cadeia estadunidense Fox News chegava a afirmar que Cuba é dos poucos países vizinhos do Caribe que não prestaram ajuda.

Vozes críticas dos próprios Estados Unidos denunciaram esse tratamento informativo, apesar de que sempre em limitados espaços de difusão.

Sarah Stevens, diretora do Center for Democracy in the Americas(5) dizia no blog The Huffington Post: Se Cuba está disposta a cooperar com os EUA deixando seu espaço aéreo liberado, não deveríamos cooperar com Cuba em iniciativas terrestres que atingem a ambas nações e os interesses comuns de ajudar ao povo haitiano?(6)

Laurence Korb, ex-subsecretário de Defesa e agora vinculado ao Center for American Progress(7), pedia ao governo de Obama “aproveitar a experiência de um vizinho como Cuba” que “tem alguns dos melhores corpos médicos do mundo” e com quem “temos muito o que aprender”(8).

Gary Maybarduk, ex-funcionário do Departamento de Estado propôs entregar às brigadas médicas equipamento duradouro médico com o uso de helicópteros militares dos EUA, para que possam deslocar-se para localidades pouco accessíveis do Haiti(9).

E Steve Clemons, da New America Foudation(10) e editor do blog político The Washington Note(11), afirmava que a colaboração médica entre Cuba e EUA no Haiti poderia gerar a confiança necessária para romper, inclusive, o estancamento que existe nas relações entre Estados Unidos e Cuba durante décadas(12)

Porém, a informação sobre o terremoto do Haiti, procedente de grandes agências de imprensa e de corporações midiáticas situadas nas grandes potências, parece mais a uma campanha de propaganda sobre os donativos dos países e cidadãos mais ricos do mundo. Apesar de que a vulnerabilidade diante da catástrofe por causa da miséria é repetida uma e outra vez pelos grandes meios, nenhum quis se debruçar para analisar o papel das economias da Europa ou dos EUA no empobrecimento do Haiti. O drama desse país está demonstrando uma vez mais a verdadeira natureza dos grandes meios de comunicação: ser o gabinete de imagem dos poderosos do mundo, convertidos em doadores salvadores do povo haitiano quando foram e são, sem paliativos, seus verdadeiros verdugos.

Quadro Informativo 1. Dados da cooperação de Cuba com o Haiti desde 1998:

– Desde dezembro de 1998, Cuba oferece cooperação médica ao povo haitiano através do Programa Integral de Saúde;

– Até hoje trabalharam no setor saúde no Haiti 6.094 colaboradores que realizaram mais de 14 milhões de consultas médicas, mais de 225.000 cirurgias, atendido a mais de 100.000 partos e salvado mais de 230.000 vidas

– Em 2004, após a passagem da tormenta tropical Jeanne pela cidade de Gonaives, Cuba ofereceu sua ajuda com uma brigada de 64 médicos e 12 toneladas de medicamentos.

– 5 Centros de Diagnóstico Integral, construídos por Cuba e pela Venezuela, prestavam serviços ao povo haitiano antes do terremoto.

– Desde 2004 é realizada a Operação Milagre no Haiti e até 31 de dezembro de 2009 haviam sido operados um total de 47.273 haitianos.

– Atualmente, estudam em Cuba um total de 660 jovens haitianos; destes, 541 serão diplomados como médicos.

– Em Cuba já foram formados 917 profissionais, dos quais 570 como médicos. Cuba coopera com o Haiti em setores tais como a agricultura, a energia, a pesca, em comunicações, além de saúde e educação.

– Como resultado da cooperação de Cuba na esfera da educação, foram alfabetizados 160.030 haitianos.

Quadro 2. Dados das atuações do Contingente Internacional de Médicos Cubanos Especializados em Situações de Desastres e Graves Epidemias, Brigada “Henry Reeve”, anteriores à cooperação no Haiti:

– Desde sua constituição, a Brigada Henry Reeve cumpriu missões em 7 países, com a presença de 4.156 colaboradores, dos quais 2.840 são médicos.

– Guatemala (Furacão Stan): 8 de outubro de 2005, 687 colaboradores; destes 600 médicos.

– Paquistão (Terremoto): 14 de outubro de 2005, 2 564 colaboradores; destes 1 463 médicos.

– Bolívia (inundações): 3 de fevereiro de 2006-22 de maio, 602 colaboradores; destes, 601 médicos.

– Indonésia (Terremoto): 16 de maio 2006, 135 colaboradores; destes, 78 médicos.

– Peru (Terremoto): 15 de agosto 2007-25 de março 2008, 79 colaboradores; destes, 41 médicos.

– México (inundações): 6 de novembro de 2007 – 26 de dezembro, 54 colaboradores; destes, 39 médicos.

– China (terremoto): 23 de maio 2008-9 de junho, 35 colaboradores; destes, 18 médicos.

– Foram salvas 4 619 pessoas.

– Foram atendidos em consultas médicas 3.083.158 pacientes.

– Operaram (cirurgia) a 18 898 pacientes.

– Foram instalados 36 hospitales de campanha completamente equipados, que foram doados por Cuba (32 ao Paquistão, 2 a Indonésia e 2 a Peru).

– Foram beneficiados com próteses de membros em Cuba 30 pacientes atingidos pelo terremoto do paquistão.

Notas:

(1) http://cubacoop.com
2) http://www.prensa-latina.cu/index.php?option=com_content&task=view&id=153705&Itemid=1
(3) http://www.ain.cu/2010/enero/19cv-cuba-haiti-terremoto.htm
(4) http://www.pascualserrano.net/noticias/el-pais-oculta-344-sanitarios-cubanos-en-haiti
(5) http://democracyinamericas.org
(6) http://www.huffingtonpost.com/sarah-stephens/to-increase-help-for-hait_b_425224.html
(7) http://www.americanprogress.org/
(8) http://www.csmonitor.com/USA/Military/2010/0114/Marines-to-aid-Haitian-earthquake-relief.-But-who-s-in-command
(9) http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2010/01/14/AR2010011404417_2.html
(10) http://www.newamerica.net/
(11) http://www.thewashingtonnote.com/
(12) http://www.thewashingtonnote.com/archives/2010/01/american_diplom/

El terremoto en Haití y los “señales de la venida del Señor”

Por Juan Stam, teólogo y biblista

Hace unos años, el día después del espantoso terremoto de México, escuché por casualidad la conversación entre dos señoras obviamente evangélicas. “Pues hermana, ¿cómo te pareció el terremoto en México ayer?” La respuesta me dejó atónito: “¡Qué maravilla! Me alegré mucho. ¡Cristo viene ya!”

Un día, cuando Jesús y sus discípulos estaban admirando el templo de Jerusalén, el Señor les anunció que no quedaría piedra sobre piedra de esa majestuosa arquitectura, porque Israel había rechazado a su Mesías. En eso le preguntaron, “¿Cuándo serán estas cosas? ¿Y qué señal habrá cuando todas estas cosas hayan de cumplirse?” Y Jesús respondió “Mirad que nadie os engañe” (Mr 13:2-5; Lc 21:6-8). Es claro que según Marcos y Lucas, todo el tema de la conversación era el futuro del templo, y que lo que le pedían a Jesús, según esos dos evangelios, era la señal de la futura destrucción de Jerusalén. El evangelio de Mateo reformula la misma pregunta: “¿Cuándo serán estas cosas [destrucción de Jerusalén], y qué señal habrá de tu venida y del fin del siglo?” (Mat 24:2-5). Esa diferencia es importante, pero en Mateo también el tema central es la destrucción de Jerusalén como anticipo de la venida de Cristo. Mi compatriota tica, cuando comentó el terremoto de México, sin duda estaba pensando en este pasaje de San Mateo, aunque olvidando su contexto histórico de un suceso que ocurrió unos cuarenta años después, hace casi diecinueve siglos.

Creo que se malinterpreta muy seriamente este sermón de Jesús. Para comenzar, se habla de “las señales del fin del mundo”, cuando el texto habla de “la señal” (singular) de la destrucción de Jerusalén y, relacionada con ella, según Mateo, “de tu venida y del fin del siglo” (no “del mundo”). La pregunta es triple: la señal de la destrucción del templo, de la venida de Cristo y del fin del siglo. Como respuesta Jesús menciona muchos fenómenos, entre ellos guerras, hambrunas, terremotos, persecuciones y la predicación del evangelio (24:5-14).

Tres cosas me llaman la atención: (1) Jesús no dice que ninguno de estos fenómenos es señal de su venida, (2) Jesús dice precisamente lo contrario, que estas tragedias no son el fin del siglo (24:6,14, cf. 14.:8); (3) Jesús advierte que habrá falsos profetas y falsos “cristos” que vendrán a agitar al pueblo con especulaciones sobre su venida y dirán que está cerca (24:4-5; 11; 23-27 y paralelos en Marcos y Lucas; cf. 2 Tes 2:2-3). (4) En su respuesta, Jesús emplea la palabra “señal” por primera vez cuando advierte contra las falsas señales en 24:24 y después cuando anuncia “la señal del Hijo del hombre en el cielo” (24:30). En otras palabras: “Vendrán guerras y terremotos y otros fenómenos, pero ninguno de esos es la señal que me piden, y tengan cuidado con falsos maestros que harán señales falsas. La única señal del fin del siglo la seré yo mismo, cuando venga con las nubes”.

En ese tiempo, como hoy, era muy popular especular sobre “señales” sensacionales del fin del mundo: que el sol se levantaría a medianoche, que las mujeres engendrarían monstruos, que aparecerá una caballería armada en el cielo y mucho más. Jesús era muy enemigo de esas calenturas. “La generación mala y adúltera demanda señal; pero señal no le será dada, sino la señal del profeta Jonás”, la de Nínive y la señal de la reina de Sabá” (Mt 12:38-42; Mr 8:12 dice sólo “no se dará señal a esta generación”, punto). Ésas no eran las señales que buscaba esa generación adúltera. Jonás, Nínive y la reina de Sabá no tenían nada que ver con el fin del mundo; eran llamadas al arrepentimiento y el cambio de vida conforme al ejemplo de ellos. Es la única manera de entender la referencia a Nínive y Sabá. A diferencia de Marcos y Lucas, el relato de Mateo incluye una referencia a la resurrección de Jesús, pero eso tampoco tiene que ver con el fin del mundo.

La frase “las señales de los tiempos” aparece también en Mateo 16:1-3 y tampoco tiene nada que ver con la venida de Cristo. El pasaje paralelo en Lc 12:54-56 no tiene dicha frase, sino reza: “Cuando veis la nube que sale del poniente, luego decís, ‘Agua viene’; y así sucede. Y cuando sopla el viento del sur, decís, ‘Hará calor’; y lo hace. ¡Hipócritas! Sabeís distinguir el aspecto del cielo y de la tierra; ¿y cómo no distinguís este tiempo?” Jesús compara “las señales de los tiempos” con los métodos que empleaban los campesinos todos los días para anticipar los cambios en las condiciones climáticas. En otras palabras, Jesús les dice: “¡No sean tan perversos e irresponsables. Si quieren entender el tiempo en que viven, no esperen señales del cielo sino analizan bien las condiciones históricas para entender lo que está pasando y anticipar lo que está por pasar “.

¡Con esa actitud tan vehemente, Jesús jamás iba a responder a sus discípulos con una lista de “señales”. ¡Qué torpe la pregunta de los discípulos! (Cf. Hch 1:6. ¡Como nos parecemos a ellos!). Jesús les describe inevitables sucesos históricos, que siempre han ocurrido, pero les exhorta a no confundirlos con señales ni escuchar a la voz hipócrita y adúltera de los falsos maestros con sus falsas señales. Dios quiere hablarnos por las guerras y terremotos que ocurren, pero no para revelarnos “los tiempos o las sazones” que sólo a él corresponden (Hch 1:7; Mat 24:36).

Algunos apelan a ciertos pasajes en las epístolas que describen los vicios y abominaciones de “los postreros tiempos” (1 Tim 4:1-3; 2 Tim 3:1-5; 4:3; 2 Pedro 3.3) y concluyen que esos mismos pecados hoy son señales de la venida de Cristo. Sin embargo, los autores bíblicos nunca los llaman “señales” ni los tratan como tales. Esta enseñanza equivocada viene por no tomar en cuenta la perspectiva bíblica sobre el “ya” de la salvación y el “todavía” no como aspecto aún futuro. Para ellos, los “postreros tiempos” no estaban a dos mil años de tiempo sino que comenzaron con la resurrección de Cristo (ver 1 Jn 2:18, un texto realmente sorprendente: “muchos anticristos antes de 95 d.C., “el último tiempo” comenzó hace dos mil años!). Pablo enseña lo mismo en 1 Cor 10:11 (cf. 2 Tes 2:7) y Pedro en 1 P 1:20. Según el autor de Hebreos, Dios envió a Cristo “en estos postreros días” (Heb 1:2).

Es muy poco probable que Pablo hubiera estado pensando en condiciones morales y sociales del mundo dos mil años después de su época. Primera Timoteo es una “carta pastoral”, para sus lectores, y no un tratado de especulación profética. Todos los malos que describe corresponden perfectamente a su propia época, en tiempos de la decadencia del imperio romano. Es claro que Pablo aplica estas enseñanzas a su propia época (p.ej. 2 Tm 3:6-10); algunos de los pecados denunciados, que existían en tiempos de Pablo, ya no tienen ningún sentido (como prohibir matrimonio, 1Tim 4:3, o meterse en casas para engañar a mujercillas, 2 Tim 3:6). Eso indica que Pablo estaba hablando de su propia época.

Es claro que ni Mateo 24 ni estos pasajes de las epístolas tienen la menor intención de revelarnos “señales de la venida del Señor”. El Espíritu Santo inspiró muchas verdades futuras a los autores bíblicos, pero nunca, que yo sepa, “señales” de esta índole. “No os toca a vosotros”, dijo el Señor, “saber los tiempos o las sazones, que el Padre puso en su sola potestad” (Hech 1:7). En vez de especular sobre supuestas “señales”, dediquémonos a entender el tiempo que vivimos y servir al Señor y su reino en la coyuntura histórica que nos corresponde.

Juan Stam, Costa Rica, 25 de enero de 2010
Do Portal CREE

A história do Haiti é a história do racismo

close up shot of an Evil Skull...

Por Eduardo Galeano, para o portal Ecodebate

A democracia haitiana nasceu há um instante. No seu breve tempo de vida, esta criatura faminta e doentia não recebeu senão bofetadas. Era uma recém-nascida, nos dias de festa de 1991, quando foi assassinada pela quartelada do general Raoul Cedras. Três anos mais tarde, ressuscitou. Depois de haver posto e retirado tantos ditadores militares, os Estados Unidos retiraram e puseram o presidente Jean-Bertrand Aristide, que havia sido o primeiro governante eleito por voto popular em toda a história do Haiti e que tivera a louca ideia de querer um país menos injusto.

O voto e o veto

Para apagar as pegadas da participação estadunidense na ditadura sangrenta do general Cedras, os fuzileiros navais levaram 160 mil páginas dos arquivos secretos. Aristide regressou acorrentado. Deram-lhe permissão para recuperar o governo, mas proibiram-lhe o poder. O seu sucessor, René Préval, obteve quase 90 por cento dos votos, mas mais poder do que Préval tem qualquer chefete de quarta categoria do Fundo Monetário ou do Banco Mundial, ainda que o povo haitiano não o tenha eleito nem sequer com um voto.

Mais do que o voto, pode o veto. Veto às reformas: cada vez que Préval, ou algum dos seus ministros, pede créditos internacionais para dar pão aos famintos, letras aos analfabetos ou terra aos camponeses, não recebe resposta, ou respondem ordenando-lhe:

– Recite a lição. E como o governo haitiano não acaba de aprender que é preciso desmantelar os poucos serviços públicos que restam, últimos pobres amparos para um dos povos mais desamparados do mundo, os professores dão o exame por perdido. Continue lendo